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23 de outubro de 2010

𝘿𝙖𝙧𝙮𝙡 𝘿𝙞𝙭𝙤𝙣.

O mundo acabou. Agora mortos andam sobre a terra e nosso único lugar "seguro" foi bombardeado. Eu estava na roda com aquelas pessoas estranhas enquanto ouvia um homem falar sobre acampar na pedreira quando avistei Hannah.

Seus olhos azuis e cabelo loiro roubaram toda a minha atenção. Fico reparando em cada detalhe seu enquanto ela ouve a conversa. Ela parece perceber e levanta o olhar para mim, olhando em meus olhos. Parecia enxergar o fundo da minha alma.

A visão do paraíso não dura muito, pois o policial metido a besta fala algo sobre subir em alguns minutos e todos se espalham. Continuo seguindo Hannah com meu olhar quando sinto o tapa arder em minhas costas.

— pensei que tinha superado - ele debocha, me fazendo rolar os olhos.

— não fode, Merle. - falo, caminhando em direção a caminhonete.

Ele me segue, continua debochando. Meu irmão é a pessoa mais insuportável em muitas coisas, mas quando se trata de mim e Hannah, ele se supera.

— ela tá um pitelzinho, não é? - assobia. Me viro para ele bruscamente, ele dá risada — ainda não superou.

— vi a Bárbara no mercado outro dia, ela ficou bem gostosa nesses últimos anos - provoco, vendo sua expressão mudar de engraçado para bravo rapidamente. — não me provoque, eu também sei o seu ponto fraco.

Ao invés de se calar, um sorriso maroto aparece em seus lábios. Só então me dou conta do que acabei de dizer.

— então Hannah é o seu ponto fraco? - debocha, rolo os olhos outra vez — não tente mentir para mim, sabe que não rola.

Merle consegue ser insuportável quando o assunto é o meu antigo relacionamento com a Hannah. Outra vez, ele se supera nisso.

Hannah e eu somos caso antigo, me encantei por ela quando ela ainda tinha dezenove anos, mas ela namorava um babaca e nunca me deu a devida atenção, então eu esqueci. Um certo dia, eu estava enchendo a cara em um barzinho local quando sua beleza extraordinária invadiu o imóvel. Estava com lágrimas no olhos e pediu uma dose de tequila. O garçom questionou O porquê das lágrimas e ela contou.

Foi algo rápido e o que era para ser só um desabafo em um bar, se tornou um "romance". Hannah era diferente, ela me olhava diferente, me tocava diferente, me tratava diferente. Sabia que um dia iríamos acabar, que ela notaria que merecia mais do que um mero caçador. Terminamos há três anos atrás.

Assisto ela abraçando dois garotos asiáticos, vejo ele beijar a bochecha dela. E aquilo me trás uma sensação que não sentia há muito tempo.

— ciúmes mandou lembrança - Merle sussurra.

— não cansa de me encher, cara?

Ele ri e levanta as mãos em rendição.

Entro no carro, buscando anular quaisquer resquício de sentimento dentro de mim. Ficar com a Hannah foi o mais perto da felicidade que um Dixon já chegou, voltei a estaca zero outra vez e isso doeu.

Subimos a pedreira, Hannah estava no carro da frente. Tento não pensar muito nela, mas vem sendo impossível desde o dia em que esbarrei com ela no supermercado. Por um breve momento, eu pensei que o garoto fosse filho dela, mas logo ouvi ele a chamar de tia e isso me fez lembrar que ela tem dois sobrinhos.

Encaro ela, está há quatro ou cinco metros de distância. Continua com o asiático.

— pare de olhar, Daryl. - Merle manda — ela também está olhando.

Volto à realidade e percebo que ela também me encara, viro de costas.

— não sei do que está falando - digo, voltando a montar minha barraca.

— deve ser amigo dela, ele me parece um moleque, deve ter vinte e dois ou menos. Ela jamais se envolveria com ele, é muito novo.

— e o que isso tem a ver? - pergunto sem perceber. Ele sorri malandro, mas me responde.

— Hannah costuma ficar com os mais velhos, tipo você.

— por que estamos falando sobre ela? - pergunto bravo, ele faz sinal de rendição

— foi você quem perguntou.

- eu não perguntei coisa alguma.

Volto a montar minha barraca. Quando Merle me disse que o mundo acabou e precisávamos sair, a primeira coisa que fizemos foi pegar nossas ferramentas de acampamento. Privilégios de ser um caçador.

— hey, Darlynda - Merle chama, me arrancando dos pensamentos. Olho para ele e ele indica o outro lado com a cabeça — é filha dela?

Olho para a direção que Merle indicou, avistando Hannah e uma garotinha em seus braços. Nego com a cabeça, mas balanço os ombros.

— deve ser a sobrinha. Vem cá, vai ficar de papo furado ou vai armar essa barraca logo?

— a docinho tem irmã, é? - ele pergunta, o sorriso saliente nascendo. — ela é tão bonita quanto a Hannah?

Rolo os olhos outra vez e o ignoro. Merle tem o dom de ser um grande babaca quando quer.

— tô te achando meio de mal humor. Esse lance de rever a loirinha mexeu contigo, em?

Mostro meu dedo do meio a ele e ouço sua risada.

Termino com a barraca e pego minha besta, a colocando nas costas.

— vou dar uma volta pela floresta, se eu não voltar é porque eu morri.

Merle solta um riso anasalado, debochando de minha fala.

— se um morto-vivo ver você, ele corre 'pra bem longe.

Antes de sair, dou uma olhada pelo acampamento outra vez, mas não consigo encontrar a quem eu queria, então eu dou as costas e caminho em direção a floresta.

Sei que aqui em cima é calmo. Conheço essa floresta como a palma da minha mão. Vou andando sem preocupação alguma floresta a dentro, me embrenhando na mata cada vez mais. Ouço passos pesados e arrastados, me fazendo ficar em alerta. Me viro abruptamente ao escutar os passos vindo do outro lado e aponto minha besta. Estava pronto para disparar quando uma voz doce e calma alcançou meus ouvidos.

— não sabia que matava suas ex's namoradas - ouço a voz familiar dizer.

Avisto Hannah. Ela está ajeitando o cinto de sua calça jeans. Abaixo a besta e suspiro aliviado, voltando minha atenção para a mata.

— não sabia que era idiota ao ponto de sair por ai sem proteção.

Não posso ver seu rosto, mas tenho certeza de que ela me fuzila com o olhar.

— estou protegida - retrucou — eu tenho uma arma

Me viro para ela, vendo a pistola em sua mão. Assopro os lábios em ironia, continuando a andar.

— não deveria usar, o som atrairia mais.

Ela guarda a pistola na cintura outra vez e balança os ombros.

— o que faz aqui sozinho? - pergunta, está me seguindo.

Não a respondo, mas ela insiste.

— não sabia que ainda não nos falávamos - murmura, mas eu posso escutá-la.

— não sabia que tínhamos voltado a nos falar - rebato, continuando meu trajeto.

Não ouço mais seus passos, o que me obriga a olhar para trás. A vejo parada, me encarando com os braços cruzados.

— o que foi agora, Isabel?

Ela me olha confusa, mas não responde.

— não deveria ir tão longe só para tirar a água do joelho.

— dá próxima vez eu abaixo as calças atrás do meu carro, não se preocupe, Dixon. – ela debochou.

Deus, como essa mulher consegue ser tão irritante e extremamente atraente ao mesmo tempo. Bufo irritado e a encaro deixando isso bem claro em minha expressão facial, para que ela pare de ser dramática.

— vai ficar ai parada, vai continuar me seguindo ou vai voltar para o acampamento?

Ela olha em volta e me encara outra vez, suspirando pesado.

— não me lembro por onde eu vim.

Seguro a risada e ela rola os olhos.

— oque aconteceria se eu não tivesse passado por aqui? Ia ficar perdida na mata no primeiro dia de acampamento?

— sou experiente em acampamentos, sou uma Grimes.

— e eu um Dixon. - rebato, ela rola os olhos. — passa na frente, antes que eu te deixe aqui e você seja devorada.

Acho que ela não se lembrava de mortos-vivos. Hannah apertou os passos e ficou em minha frente, mas não sabia que direção seguir, então eu a virei para o outro lado. Assim que meus dedos tocaram a pele de seu braço, uma energia elétrica percorreu todo o meu corpo. Me limito a isso, a soltando de imediato e a deixando ir na frente. Hannah parece perceber meu incômodo e segue caminho.

— não me deixaria para morrer - ela diz, faço um barulho com a boca — não é tão cruel.

— estou me arrependendo - murmuro

Ela para e se vira para mim, as mãos pequenas estão pousadas em sua cintura e ela faz uma cara que claramente dizia "você realmente disse isso?".

Passo em sua frente, a deixando para trás. Ela murmura palavrões e me alcança outra vez, acompanhando meus passos.

— ainda está longe? - pergunta, quebrando o silêncio outra vez.

Hannah consegue ser irritante quando quer. Quando tínhamos algo, sua pressa e impaciência me gerava grandes problemas.

— porque se afastou tanto do acampamento, garota?

— não queria nenhum pervertido me vendo fazer xixi, sabe? Mas tem razão, da próxima vez eu procuro um lugar mais perto.

— ou chama seu namorado para vir com você - sussurro apenas para mim.

— achei que tivesse escutado minha conversa com a senhora Davis no mercado - ela rebate, vira o rosto para me olhar rapidamente — pensei que eu tivesse deixado claro que não tenho isso.

Desvio meu olhar.

— não ouço conversa alheia - digo rapidamente

— então como chegou a conclusão de que eu tenho um namorado? - pergunta se fazendo de desentedida.

Hannah é esperta, ela sabe disfarçar melhor do que qualquer pessoa e eu tenho certeza de que me viu observar ela e o asiático.

Dou um riso nasal e passo em sua frente outra vez.

— deveria ter te deixado perdida.

— dexaria três crianças sem tia - ela diz e balança os ombros.

— são crianças, iriam se acostumar - revido, ela exclama meu nome, me fazendo rir internamente.

— Merle chega a ser mais agradável que você nesse momento - murmura

— pode pedir a ele para te levar de volta ao acampamento da próxima vez que se perder, o que acha? - ela bufa.

Finalmente saímos da floresta, ainda estamos afastados do acampamento, mas já estamos em campo aberto. Ela rola os olhos.

— você está insuportável como sempre.

— digo o mesmo sobre você - ela me olha feio — é só seguir em frente, chega em menos de dois minutos - indico o caminho com a cabeça — vê se não sai sozinha por ai, pode acabar como prato principal de zumbi.

Ela não responde, só dá as costas e continua caminhando. Tento não olhar o que tem de sua cintura para baixo, mas é quase impossível. Balanço a cabeça, abandonando os meus pensamentos obscenos com a minha ex idiota que me abandonou.

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