𝟬𝟭𝟯 ، STORM.
CAPÍTULO TREZE :
TEMPESTADE.
A TEMPESTADE E OS TROVÕES TORNAVAM A PEDALADA DIFÍCIL, o que causou em diversas quedas da adolescente; seu braço estava doendo e, além disso, suas roupas encharcadas junto da ventania não estava ajudando sua condição, principalmente com ela tremendo de frio. Sua visão estava embaçada por conta da água caindo em seu rosto e cada tentativa de limpar era inútil, a deixando frustrada.
Andrea não reconhecia aquele caminho e pela força da chuva, temia que não fosse acabar tão cedo. Ela respirou fundo, largando a bicicleta na beira da estrada e abraçou os braços pálidos ao redor do corpo enquanto adentrava a floresta em busca de algum lugar onde pudesse se esconder até que a tempestade parasse ou pelo menos diminuísse um pouco. Era arriscado tentar ir para casa sem saber onde estava, mas tendo quase certeza de que não havia pegado nenhum desvio, a Hopper imaginava que estava na estrada certa para chegar ao trailer, então não seria problema algum tentar cortar caminho pela floresta. Se ela estivesse errada, ainda tinha alguma confiança para conseguir retornar até onde a bicicleta estava sem se perder por ali.
Enquanto ela andava, protegida da tempestade pela copas das árvores, a morena tentou se aquecer esfregando as mãos nos braços, mas era inútil, principalmente com a fome que sentia.
O espaço ao seu redor parecia escurecer mais e os sons da chuva caindo ficavam mais abafados à medida que ela adentrava a floresta, o que estava lhe deixando nervosa. Ela fez questão de tirar seu canivete do bolso e procurar alguma árvore para marcar que esteve por ali, apenas por precaução. Caminhando mais alguns metros com cuidado, ela sentiu seu pé chutar algo e se abaixou com cuidado, o pegando e sentindo que, pela forma cilíndrica, parecia ser uma lanterna. Mesmo estranhando tal fato, o escuro estava lhe deixando assustada e ela não hesitou na hora de pressionar o botão, iluminando o caminho à frente.
Parecia familiar e ela não sabia como, até que notou a sombra de algo incomum próximo de uma árvore à sua frente. Foram necessários alguns segundos para que ela pudesse processar tal imagem.
E então ela congelou.
Caído ao chão, com as costas contra o tronco de madeira, Walter Montgomery estava sentado, com os olhos sem vida fixados na garota.
Ela levou a mão à boca para conter um grito, sentindo seu estômago se revirar em um misto de confusão e medo enquanto algo parecido com um tentáculo de polvo sair de dentro da boca dele e se balançar em sua direção. A garota conseguia sentir a bile se formando no fundo de sua garganta ao que dava passos para trás sem conseguir desviar o olhar, tentando pôr o máximo de distância possível entre ela e o adolescente morto. Sua pele estava mais pálida do que ela lembrava, com as veias se destacando em um tom de azul escuro. Talvez fosse parte do processo de decomposição, mas ela não tinha certeza. Inconscientemente, ela deixou seu olhar cair para onde deveria ter um ferimento de corte ou, pelo menos, uma mancha de sangue na camisa que ele usava, mas Walter estava limpo, como se alguém tivesse trocado suas roupas e tido a certeza de deixar ele apresentável para aquele show de horrores.
A Hopper deu meia-volta, querendo correr para longe dali e busca a ajuda de alguém ── Nancy, Joyce, Jim, qualquer um ── mas havia uma pessoa alta parada logo atrás dela, sua identidade sendo protegida pelo escuro e apesar de não conseguir descobrir quem era, Andy costumava supor que fosse Walter ── era o que fazia sentido. Uma das mãos dele foram contra a garganta da morena, apertando com força calculada enquanto a privava de ar levemente; sua outra mão subiu lentamente pelas bochechas pálidas, limpando a mistura de suor, chuva e lágrimas que ela vinha derramando sem saber desde que havia visto o corpo à alguns minutos atrás.
Ele aproximou seu rosto do dela e, como sempre, Andrea fechou os olhos, aterrorizada demais para fitar quem quer que fosse. Seu coração batia acelerado enquanto seu cérebro trabalhava para encontrar uma maneira de tirá-la dali viva, mesmo sabendo que tudo não se passava de um sonho. Normalmente, quando ela fechava os olhos, era o momento exato em que acordava, mas ela sentia que poderia não ser o mesmo naquela vez.
Alguma coisa estava diferente e ela sentia isso.
Enquanto o hálito quente batia contra o rosto dela, a jovem esperou ansiosamente pelo próximo movimento.
E quando ele sussurrou aquelas palavras em seu ouvido, ela sabia que algo lá fora estava errado.
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AINDA FALTAVA POUCO MAIS DE DUAS HORAS PARA ANOITECER e Jeffrey não chegaria em casa tão cedo já que, de acordo com ele, estaria no fliperama pelas próximas horas fazendo uma 'pesquisa de campo' com Dustin e Lucas sobre algo relacionado ao Mad Max. A Hopper não fazia idéia do que aquilo significava, mas tentou não fazer muitas perguntas e deixar ele ir se divertir, aliviada que teria um tempo sozinha em casa para poder fumar.
Não que ela não fizesse aquilo com o mais novo aquilo, mas fumar um baseado na frente de Jeffrey era um limite que Andrea se recusava a atravessar no momento.
A jovem deitou no deque do trailer, acendendo o maço enquanto refletia nas decisões feitas mais cedo naquele dia. Deixar sua inscrição da faculdade para 86 não parecia tão ruim, principalmente porque Nancy também terminaria o ensino médio naquele ano e, se as coisas estivessem melhores até lá, as duas até poderiam ir juntas, além de poder guardar dinheiro durante os próximos meses. Tentar ver o lado positivo daquilo parecia lhe deixar um pouco mais calma.
Ou talvez fosse a maconha roubada de seu amigo.
Mas de qualquer forma, ela estava muito mais relaxada, nem mesmo lembrando da criatura esquisita que viu mais cedo, um pouco mais preocupada em encontrar alguma nuvem que parecesse com o formato que ela tinha em mente, não notando o carro do delegado se aproximando. Ele bateu a porta do veículo, não muito surpreso por encontrá-la fumando. Nada que ele pudesse dizer iria fazer com que ela parasse, então ele apenas desistiu de se intrometer naquele assunto. Mas dando alguns passos na direção do deque, ele notou o que ela estava fumando, passando a mão pelo rosto em desaprovação.
─── Isso é maconha? ─── ele perguntou alto, assustando ela.
A morena tossiu enquanto jogava o maço, que estava quase no fim, no chão e sentou, estranhando a presença do mais velho ali.
─── Não... ─── sussurrou insegura, sabendo que nem mesmo sua melhor mentira funcionaria naquele momento. ─── É, talvez, mas- isso não importa, o que você tá fazendo aqui?
─── Eu preciso conversar com você. ─── ele falou, sem saber como trazer o assunto 'Will' à tona, principalmente quando havia dito no dia anterior que ele estava bem.
A mais nova balançou a cabeça, se levantando e abrindo a porta do trailer, sendo seguida pelo mais velho. Seu cachorro, que dormia na varanda de frente ao lago, acordou ao ouvir a movimentação e não demorou em ir atrás do delegado, para a insatisfação do mesmo.
Andrea conteve uma risada, ligando a máquina de café antes de ir se sentar na poltrona, enquanto Jim se acomodava no sofá.
─── Jeffrey tá aqui?
─── Não, ele tá no fliperama ou algo assim.
Ele acenou.
─── Sua mãe ligou?
─── Até parece... ela só ligaria se estivesse morrendo e, nesse caso, não seria para se despedir, acredite. Além do mais, eu não tenho como saber disso, eu não atendo nenhuma ligação. ─── ela deu de ombros, fazendo o homem franzir as sobrancelhas. ─── O quê? Eu não tenho paciência pra papo furado. Eu só deixo cair na secretária eletrônica e apenas se for importante, eu ligo de volta.
─── Pelo amor de Deus, Andy... ─── sussurrou, passando a mão pelos olhos e sem saber porquê estava tão surpreso se aquilo parecia exatamente o tipo de coisa que ela faria. ─── Não importa também, eu vim falar sobre outra coisa.
─── Hum, me deixa adivinhar... é o Will?
─── É... ─── murmurou, parecendo pensativo. ─── Ele tem tido essas visões e pesadelos ultimamente e o doutor Owens diz que é por conta do stress pós-traumático e do aniversário chegando, mas a Joyce não engole isso.
A adolescente acenou levemente, sem saber o ponto dele. Fazia sentido o que ele estava dizendo, mas ela também entendia a apreensão de Joyce em tomar o diagnóstico que vinha de alguém do laboratório ── ironicamente sendo os únicos que poderiam ajudá-los.
─── O que você quer que eu faça? Invada o laboratório à noite, mate cada um deles e deixe apenas o Owens pra ele ficar assustado e me contar a verdade? ─── ela brincou com um sorriso, levantando e indo até a cozinha, pondo café em uma xícara.
─── Não, andy, ─── falou com um tom irritado, querendo que ela levasse aquele assunto à sério assim como ele estava. ─── eu queria saber se, por acaso, você não fez mais nenhum daqueles desenhos sobre... você sabe.
Ela se virou para o mais velho com as sobrancelhas franzidas, mexendo o açúcar na xícara sem parar.
─── Como você sabe sobre os desenhos? ─── questionou baixo em confusão.
─── Você entregou eles pra Joyce e eu no ano passado, lembra? Depois do enterro do Will.
Ela levou alguns segundos para recordar, estalando os dedos enquanto acenava positivamente e retornava para a poltrona.
─── Verdade... é, eu meio que tento apagar essa época da minha mente por motivos óbvios, então... ─── sussurrou, tomando um gole da bebida e limpando a garganta. ─── Mas, uhm, não, nenhuma visão, nenhum sonho, nadica.
─── Nada? ─── ele insistiu, observando como ela parecia estar em outro mundo com seu olhar fixo no chão de madeira enquanto suas mãos continuavam mexendo a colher.
─── Nada importante. ─── sussurrou, voltando o olhar para ele. ─── Nada que vá ajudar Will.
O que não era exatamente verdade, mas dizer para ele que estava sendo perseguida por algo que apenas ela conseguia ver parecia ultrapassar o 'novo normal' em que eles estavam convivendo, então ela mentiu, sem hesitação e sem remorso. Além de poder não ter nada relacionado ao que Will estava passando, Andrea sabia que se dissesse qualquer coisa para o mais velho, ele apenas faria perguntas para tentar comprovar a autenticidade do que ela dizia e, é, ela não queria outra pessoa lhe chamando indiretamente de louca.
─── Você sabe que pode conversar comigo, não é?
Sem se conter, Andrea soltou uma risada amarga e negou levemente enquanto levantava, apertando a xícara entre as mãos inconscientemente.
─── Eu aprecio que você esteja tentando ser um bom tutor ou, sei lá, pai, por ela, mas é um pouco tarde demais pra tentar o mesmo comigo, sabe? Não depois que eu passei a minha vida inteira com a Allison e sem depender de você, Jim, então... uhm, só fecha a porta quando sair, tá? ─── ela disse com a voz um pouco calma demais.
Talvez fosse a maconha ou talvez ela só estivesse muito cansada de continuar com aquela sensação de bolo na garganta depois de passar todos aqueles meses vendo ele tratar aquela garota da maneira que ela queria ter sido tratada, não só durante sua infância, mas quando ela retornou para Hawkins depois de tudo que passou. Respirando fundo, Andrea seguiu para seu quarto, sabendo que, das duas maneiras que ela poderia ter respondido ele, aquela talvez era a mais coerente para a situação; de qualquer forma, se ela contasse sobre os pesadelos, Jim Hopper não iria acreditar nela.
Ele nunca acreditava.
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