𝟬𝟬𝟳 ، UPSIDE DOWN.

CAPÍTULO SETE :
MUNDO INVERTIDO.

aviso : menção à abuso
sexual. caso não queria
ler, basta⠀⠀ pular até a
divisória ⠀ ⠀⠀ e poderá
continuar⠀⠀⠀ a leitura
sem muitas ⠀⠀ perdas.
haverá um⠀ resumo ao
fim do ⠀⠀⠀⠀capítulo.


ESPERAR PODERIA FACILMENTE ESTAR NO TOPO DA LISTA DE COISAS QUE ANDREA ODIAVA. O motivo era simples: ela tinha tempo para pensar. Sua mente começava a vagar e a fazia lembrar de coisas tão antigas e vergonhosas que a fazia querer rir por ser tão imatura na época. Também lhe lembrar de certas memórias que adoraria esquecer, como a noite do dia 24 de agosto daquele mesmo ano.

Por algum motivo desconhecido, as lembranças e detalhes de alguns acontecimentos daquela noite ainda estavam um pouco embaçadas ── mesmo já tendo se passado meses ── porém, Andy lembrava claramente de como estava animada para ver alguns de seus amigos ── que haviam viajado no início das férias e voltaram apenas algumas semanas antes das aulas começarem. Ela nunca havia dito em voz alta, mas sentia inveja deles. Foram poucas às vezes em que sua mãe e Gabriel planejaram uma viagem em família ── foram duas, para ser exata ── e, como esperado, haviam sido nada relaxantes; o casal sempre ficava estressado com algo e deixava um clima estranho entre os menores.

Ela nem tinha planos de sair naquela noite, ainda estava cansada depois de voltar da casa da amiga e havia combinado ver seus amigos que retornaram apenas no dia seguinte, mas depois de buscar Jeff no clube, aceitar o convite de Walter parecia ser uma boa idéia pra ela se distrair. Andy queria evitar a mãe e o padrasto, sabendo muito bem que teria uma discussão naquela noite ── ele estava bêbado e ela estressada, ficar em casa era como andar em uma corda bamba e tudo que Andrea queria era evitar conflitos com eles, pelos resto das férias.

Mas mesmo assim, a Hopper estava hesitante, seu corpo em alerta máximo. Ela não sabia se era porque o céu escuro estava escuro naquela noite, indicando que provavelmente iria chover de novo ou o peso no peito a deixando angustiada com o pensamento de ir. Andrea já havia escapado de casa diversas vezes para sair com seus amigos e passear na oficina, mas era a primeira vez em que ela ia acompanhada de Walter. Talvez esse fosse o motivo... ela era a filha mais velha de sua mãe e seu pai, talvez ela estivesse receosa porque alguém estaria cuidando dela e não o contrário.

Durante a viagem de carro, a música que tocava no rádio era a única coisa que preenchia o silêncio, juntamente de algumas perguntas do Montgomery. Questionamentos sobre o namorado de Andrea, o motivo de terem terminado. Desconfortável com a direção que aquilo tomava, a morena respondia vagamente, usando a jaqueta jeans que comprou em um bazar de garagem para cobrir suas pernas nuas por conta da saia.

Ela não queria ter vestido em uma noite fria como aquela, mas Lizzie, uma de suas melhores amigas, havia dito que seu ex-namorado provavelmente estaria lá e usar aquela saia seria uma boa maneira de esfregar na cara dele o que havia perdido depois de toda a confusão que ele causou. Andy não gostava da idéia, mas concordou apenas porquê Lizzie parecia saber o que dizia ── não era a primeira vez que Andy fazia algo que a outra adolescente mandava, afinal, ela começou a namorar o rapaz porquê Elizabeth disse que eles faziam um bom casal.

A Hopper não gostava muito da maneira que Lizzie usava sua influência com tudo e todos, mas quando o seu ex espalhou para todos na escola sobre sua recusa a ir para a cama com ele, Elizabeth havia sido a primeira a ficar ao seu lado e lhe defender.

Buscando na memória, ela não lembrava de qual estrada Walter havia pegado, mas ela lembra dele falar que estacionar do outro lado do parque era uma idéia melhor por conta do barulho do motor, já que alguns dos moradores próximos dali ameaçavam chamar a polícia por causa da algazarra. Andy quis perguntar a ele porque não estacionar um pouco mais perto, mas Walter havia saído do veículo antes mesmo que ela pudesse formar a pergunta.

A caminhada seria um pouco mais longa. A estrada em que estavam era atrás de uma pequena floresta que, por sua vez, era atrás da oficina e ela não conhecia muito daquele caminho, já que sempre usava a bicicleta para ir até o local, mas era possível o visualizar do escritório que havia na oficina. Nas últimas semanas, estavam discutindo sobre o que fariam com o terreno; era abandonado e o único uso que tinha era abrigar alguns carros velhos que ninguém se importava em consertar e servir de ponto de encontro de alguns adolescentes, além de residência para alguns pequenos animais.

Andrea gostava de lá, era calmo, espaçoso e, mesmo quando tinha um bando de gente entre 15 e 18 anos bebendo cerveja e fumando maconha, parecia mais divertido que em casa.

A Hopper, que caminhava um pouco mais atrás do rapaz, amarrou a jaqueta na cintura ao mesmo tempo em que tentava se equilibrar na escuridão da floresta. Aquele momento ali, quando Walter se aproximou com a lanterna para ajuda-lá a não se perder... Andy com certeza o definiria como "quando tudo deu errado".

Em algum momento, a mão dele a segurou pela nuca, pressionando seu rosto contra uma árvore. Ela tentou não pensar em como sua pressão caiu as poucos diante do susto ou nas lágrimas se formando em seus olhos; ela estava nervosa demais para pensar em qualquer coisa que não fosse a possibilidade de morrer naquela noite, o medo crescente lhe impedindo até mesmo de falar.

Andrea foi jogada ao chão e aproveitando a oportunidade, chutou a canela dele e se levantou, correndo na direção da oficina. Ela o ouviu correndo mais atrás, indo ao chão novamente segundos depois, tendo o peso do corpo lhe prendendo.

Ela tentou se debater mas parecia não ter efeito algum, sendo virada com a barriga pra cima. Segurando o braço da Hopper com uma mão, ele abriu o zíper com a outra, fazendo-a chorar em pânico, pedidos desesperados saindo de sua boca enquanto ele apenas a ignorava. Ele apertou sua mandíbula, virando o rosto da morena e sussurrando em seu ouvido para ficar quieta.

O choro preso em sua garganta e os sons que Walter fazia eram eram os únicos barulhos que ela conseguia ouvir, mesmo que tentasse focar sua atenção em qualquer outro lugar. Com o braço que estava livre, ela fez mais uma tentativa de afastá-lo, mas ele era muito mais forte que ela. A morena ainda tentou se arrastar para longe, mas o aperto em sua cintura a prendia no lugar. A terra molhada sujava suas mãos e ela tentou procurar por algo em seu alcance para se defender.

Foi então que seus dedos tocaram o que parecia ser um graveto.

Ela ficou parada, tentando ver se ele havia percebido, mas Walter parecia tão focado em seu próprio prazer que simplesmente não prestava atenção alguma nela. Andy então puxou o pedaço de madeira, percebendo que não era tão grande como o esperado ── talvez um pouco maior que sua mão ── mas a ponta afiada lhe deu alguma esperança.

Quando a mão alheia subiu para seu pescoço, cortando seu ar, ela sabia que não teria muito tempo. Antes que a falta de ar se tornasse ainda pior, a Hopper segurou o graveto com força entre os dedos, o enfiando na lateral do corpo do Montgomery. O aperto em sua garganta afrouxou aos poucos e ela notou, nos olhos dele, o medo que ele sentia.

Walter tentou se levantar enquanto pedia por ajuda, mas a Hopper, com a mandíbula travada, apenas afundou ainda mais o pedaço de madeira na carne do rapaz, sentindo o sangue sujar suas mãos e descer pela extensão de seu braço aos poucos, fazendo-a querer vomitar enquanto o olhar estático dele se fixava em seu rosto.

Ela tentou não pensar em como o corpo parecia mais pesado ou no pequeno graveto que machucava suas costas. Em vez disso, a adolescente tentou focar nas gotas de água que caíam em seu rosto por conta da fraca chuva que teve mais cedo, mas aos poucos, o cheiro de terra molhada e sangue que subiu por suas narinas a fez morder a língua para conter a ânsia de vômito que sentia, empurrando o corpo dele para o lado com desespero, tendo sucesso após algumas tentativas. Andrea se levantou rapidamente, mantendo o máximo de espaço possível entre os dois, evitando olhar para ele.

Ela se sentia suja, como se aquilo fosse sua culpa, por algum motivo. A adolescente cobriu a boca com as costas da mão, deixando um soluço escapar enquanto arrumava sua roupa da melhor forma que podia. Olhando para os lados, ela deu alguns passos incertos até a lanterna caída, a pegando e apontando na direção que achava ser a oficina. Com seu corpo ainda em choque, ela andou por alguns metros antes de parar.

Com o nariz sangrando, ela teve plena consciência do que aquela cena na floresta implicaria ── era como se ela soubesse exatamente o que aconteceria. Walter estava morto e ela era a causa, Andrea sabia exatamente como os policiais veriam aquilo, mesmo que ela explicasse o ocorrido.

Por que entrou no carro com ele?

Por que foi até a floresta com ele?

Por que não pediu por ajuda?

Por que você atacou ele quando poderia ter chamado por alguém?

Tem certeza de que foi isso que aconteceu?

Olhando por cima do ombro, havia apenas uma coisa que ela poderia fazer para evitar a prisão. Suas mãos tremiam enquanto ela lentamente se aproximava dele, sua mente acelerada a fazendo pensar no pior cenário possível: Walter acordando e a matando. A Hopper não queria tocar nele, todos os seus instintos gritando para sair dali, mas ela tinha receio do que sua mãe poderia dizer, como seu padrasto reagiria ou de como a polícia a trataria ── e bem no fundo, o medo de como seu pai a veria. Mas era tudo culpa dela, afinal. Ninguém iria acreditar que Andrea Hopper era a vítima quando era Walter que estava morto.

Após arrumar a roupa dele o melhor que pôde, ela se afastou subitamente e correu, tropeçando algumas vezes antes de chegar na oficina e entrar; a parte de trás do local era rodeada por placas de metal, onde os adolescentes conseguiram abrir um espaço para passar.

Elizabeth foi a primeira a vê-la.

A garota se levantou, indo em direção à Hopper, que mal conseguia falar, apenas gaguejando palavras sem sentido. Os outros adolescentes se viraram, testas franzidas ao ver o sangue no moletom da morena e os machucados em seu rosto.

─── O que houve, Andy?

─── Ti-tinha algum animal na floresta... ─── sussurrou, fitando a amiga com os olhos lacrimejando. ─── Eu não conseguia ver, mas gente correu e ele tropeçou... agora...

─── Quem tava com você?

Ela respirou fundo, fechando os olhos enquanto tentava apagar as memórias de sua cabeça. Seu peito doía, principalmente pelo medo e ansiedade; o que aconteceria nas próximas horas era algo desconhecido.

─── Walter.

Alguns dos adolescentes que estavam ali correram na direção da floresta enquanto um outro íam atrás de um telefone na vizinhança, deixando Andrea, Lizzie e mais duas adolescentes que faziam parte do grupo delas. Elizabeth a levou para uma das cadeiras dispostas ali fora, ajoelhando-se na frente dela e arrumando seu cabelo, notando o sangue que escorria de seu nariz.

─── Andy.... aconteceu mais alguma coisa?

Ela mordeu o lábio, encolhendo os ombros antes de cobrir o rosto e começar a chorar, fazendo Lizzie trocar um rápido olhar com as outras duas garotas. Elas poderiam não saber o que aconteceu, mas eram as melhores amigas de Andy, não iriam deixar nada acontecer com ela.

ㅤㅤㅤㅤ

FLORENCE HAVIA FALADO COM HOPPER através do rádio quando os policiais levaram Jonathan para a delegacia, agora Callahan estava sentado na cadeira atrás de Byers, o que tornou muito difícil para que Andy falasse com ele ou com Nancy, que, aparentemente, não poderia sair de vista dos policiais até o delegado chegar.

Ela se sentou perto da mesa com os donuts, comendo alguns tendo esperança de que seu nervosismo passasse; apenas resultou em lábios sujos, um pico de energia começando aos poucos e uma estranha visão que ela logo esqueceu ── alguma coisa envolvendo uma sala e algo parecido com um buraco na parede.

Quando Joyce e Jim adentraram a estação depois de quarenta minutos, Andy se viu respirando aliviada porquê aquilo significava duas coisas importantes: um, eles não haviam sido sequestrados por agentes do governo, assassinados e tendo seus corpos jogados no meio da floresta; e dois, se a viagem de carro havia sido longa, então também foi produtiva e ela mal podia esperar para saber o que eles haviam descoberto.

─── Jonathan? O que houve? ─── Joyce disse ao se aproximar da mesa onde o filho estava preso.

─── Eu tô bem. ─── o garoto falou baixo, aplicando gelo no machucado em sua mão.

─── Por que ele tá algemado? ─── a mais velha questionou, olhando para Callahan, que se levantou ao ver o delegado.

─── Seu filho agrediu um policial. ─── respondeu calmamente, dividindo seu olhar entre ela e seu chefe.

─── Tira as algemas! ─── ordenou, impaciente.

─── Receio que não posso fazer isso.

Andy estava quieta na cadeira, observava enquanto seu pai, Joyce, Callahan e Powell discutiam o assunto, usando as costas da mão para limpar a boca. Os três policiais saíram por um momento e ela se ajoelhou na cadeira em que estava, tendo uma visão clara do estacionamento.

Notando que eles foram até o carro de Jonathan e olhavam algo no porta-malas, ela fitou Nancy por cima do ombro, semicerrando levemente os olhos. ─── O que vocês fizeram? ─── ela sussurrou.

Vendo que os policiais voltavam, ela apenas apertou os lábios e se levantou ao notar que seu pai carregava uma caixa de papelão. Ficando na ponta dos pés para tentar ver o que havia ali dentro, ela se deparou com diversas ferramentas: pregos, armadilhas de urso, um revólver e algumas outras coisas que ela não conseguia ter uma boa visão.

─── O que é isso? ─── Joyce questionou, revirando a caixa.

─── Por que não pergunta ao seu filho? Achamos no carro dele.

─── Vocês revistaram meu carro?

─── É essa a pergunta que devia estar fazendo? Quero vê-lo na minha sala. ─── Jim ordenou, inclinando-se na mesa.

─── Não vai acreditar em mim.

─── Por que não me dá uma chance?

A Hopper mais nova fitou o pai, abaixando levemente o olhar e tentando não se importar muito com aquela sensação. Seguindo o grupo mais atrás com Nancy, as duas trocaram um rápido olhar; ambas estavam preocupadas com Barb e não ter noção do quanto a outra sabia sobre aquele assunto estava as corroendo.

Andy ficou parada perto da mesa do pai, ouvindo quieta enquanto Jonathan e Nancy falavam sobre o que haviam visto na noite anterior. A árvore, o cervo, aquele monstro. O coração da morena ficou apertado ao saber que sua amiga havia passado por aquilo enquanto ela estava na casa de Joyce, mas extremamente aliviada por saber que eles estão bem.

O Byers entregou para a mãe a foto que ele tirou na noite da festa, mostrando claramente o monstro na casa de Steve. Jim o pegou, o analisando por um momento antes de entregar a filha; ela preferiu não pegar a foto, já havia visto o suficiente daquela figura nos últimos dias.

─── Você disse que é atraído por sangue? ─── o delegado questionou.

─── Não sabemos.

─── É só... uma teoria. ─── Nancy falou, abaixando a cabeça.

Lembrando da noite em que Barb desapareceu, Andrea franziu a testa, concordando com Nancy. ─── Faz sentido. Barb tinha se cortado naquela noite e... até onde sabemos, o Will caiu, não foi?

Seu pai balançou levemente a cabeça, o grupo ficando em silêncio por um momento antes de Joyce e Jonathan saírem da sala, parando em frente à janela. A morena aproveitou para sentar-se ao lado da Wheeler, dando um aperto delicado em sua mão.

─── Por que você não me contou que viu aquela coisa? ─── Nancy questionou baixo.

─── Não parecia o tipo de coisa que eu te contaria antes do almoço. ─── brincou, suspirando baixo.

─── Andrea, me deixa ver aquele seu desenho de novo. ─── Jim pediu, sem desviar o olhar da fotografia em mãos.

Nancy fitou confusa quando Andy abriu levemente a boca, parecendo saber do que ele estava falando. Ela observou a Hopper se levantar e rapidamente tirar alguns papéis do bolso enquanto olhava para a foto, entregando para ele uma folha específica.

─── Mesmo local? ─── ela questionou. Pareciam similares, apesar de estar mais centralizado em seu desenho.

─── Talvez. ─── o delegado respondeu.

─── Do que vocês estão falando? ─── a Wheeler indagou, fitando os dois.

Andy hesitou por um momento, olhando para o pai em busca de aprovação antes de sentar e entregar para ela os desenhos feitos juntamente da fotografia, procurando em seu rosto qualquer sinal de rejeição, como aconteceu na outra noite, mas, ao invés disso, Nancy pareceu reconhecer o local.

─── Parece a casa do Steve... quando você fez isso?

─── Ahn... antes da prova de química... por que?

─── Essas coisas... ─── ela apontou na folha. ─── ...me fazem lembrar do outro lado.

A Hopper apertou os lábios, fitando o pai por um instante. Nancy parecia prestes a dizer algo mais quando gritos vindos do lado de fora fizeram os três olhar na direção da porta.

─── Fiquem aqui. ─── Jim pediu.

Elas concordaram, o observando sair. A morena não se importava com o que quer que estivesse acontecendo lá fora, provavelmente era apenas Callahan e Powell brigando.

─── Espera, como você fez esses desenhos se a Barb desapareceu à noite? ─── Nancy questionou assim que a porta foi fechada, sem desviar a atenção das folhas. Ela estava tão confusa quanto Andrea.

─── Eu não tenho a mínima idéia. ─── sussurrou, ficando quieta por alguns segundos. ─── Existem muitas coisas confusas no momento, Nance, é loucura. Eu ainda não consigo acreditar que você viu aquele bicho...

─── Você acha que vamos encontrar Barb a tempo?

Ela suspirou, concordando com um sorriso, mesmo que algo em seu peito pensasse o contrário. ─── Will ainda tá vivo e ele só tem onze anos. Eu tenho certeza de que ela tá bem.

A porta foi aberta de repente pelo delegado, com Joyce e Jonathan entrando logo em seguida. Andy se levantou, observando o pai pegar o chapéu e chaves. ─── O que foi?

─── Sabe a garota que estamos procurando? ─── ela acenou, vendo o pai apontar para Nancy. ─── Ela tá com Mike e Dustin.

─── Que garota? ─── a Wheeler questionou Andy enquanto saíam da sala, indo para o carro de Jonathan. ─── Do que vocês estão falando?

─── Uma garota que foi tirada da mãe quando ainda era bebê e mantida no laboratório durante uns onze, dozes anos. Ela foi usada em experimentos organizados pelo doutor Martin Brenner, um grande filho da puta. É tudo uma grande conspiração do governo, Nancy. Eu te disse, tá tudo uma loucura.

─── E como você sabe disso tudo? ─── O Byers indagou, abrindo a porta do carro.

─── Meu pai meio que invadiu o laboratório. É uma longa história.

ㅤㅤㅤㅤ

O CARRO FOI PARADO HÁ ALGUNS quilômetros da casa de Nancy, que estava rodeada de veículo e até alguns helicópteros que eles sabiam ser do governo. Andrea ficou dentro do carro com Jonathan enquanto seu pai usava o binóculos para ver o que estava acontecendo, observando dali a discussão entre o delegado e sua melhor amiga, que adentrou o veículo segundos depois e sentou ao lado da Hopper.

─── Precisamos achá-los antes deles. Tem idéia de onde ele possa ter ido? ─── Jim perguntou para Nancy.

─── Não!

─── Preciso que pense.

─── Eu não sei, não temos falado muito ultimamente.

─── Tem algum lugar que seus pais não conheçam que ele possa ir? ─── Joyce questionou, enquanto Jonathan parecia pensar em algo.

─── Não sei.

─── Talvez eu sabia. ─── o Byers interrompeu. ─── Não sei onde ele tá, mas acho que sei como perguntar a ele.

─── Como? ─── Andy perguntou.

─── O rádio do Will. Acho que ele deixou um em casa.

O delegado acenou, ligando o carro novamente e dirigindo para a casa dos Byers com pressa; um trajeto que normalmente levava trinta minutos foi feito na metade do tempo.

Eles saíram do veículo assim que o delegado estacionou, Joyce e Jonathan indo na frente até o quarto do Will. Nancy parou na sala por um momento ao ver a bagunça, seguindo os outros logo em seguida. Os Byers entraram no quarto de Will, procurando pelo rádio enquanto Andrea procurava dentro do armário.

─── Achei! ─── Joyce gritou, saindo de baixo da cama com o aparelho em mãos.

─── E agora? ─── Andrea perguntou para o pai, cruzando os braços.

─── Agora a Nancy tenta convencer ele.

A Wheeler respirou fundo, sentando-se na cama e pegando o rádio das mãos de Joyce, que sentou ao lado dela. Andrea ficou perto da janela enquanto observava sua amiga apertar o botão e chamar pelo irmão algumas vezes.

─── Mike, você tá aí? Mike, precisamos que você responda, isso é uma emergência! Está na escuta? Mike, você tá na escuta? ─── ela ficou em silêncio por alguns segundos esperando por alguma resposta. ─── Precisamos que você tá aí, Mike!

Jim se aborreceu com a falta de respostas, pegando o rádio da mão de Nancy e apertando o botão. ─── É o delegado. Se estiver aí, atenda. Sabemos que você tá encrencado e sabemos sobre a garota... podemos proteger vocês e ajudá-los, mas precisam atender. Vocês estão na escuta? Câmbio. ─── ele abaixou a antena e pôs o aparelho em cima da cômoda quando continuou sem resposta, fazendo todos respirarem fundo em frustração. ─── Alguém tem alguma outra idéia?

─── Eu poderia sugerir procurar pela cidade, mas não parece seguro e levaria muito tempo. ─── ela suspirou, levando as duas mãos para o rosto e apertando levemente os olhos tentando pensar em algo.

─── Sim, estou na escuta. ─── a voz de mike soou através do rádio, fazendo todos se virarem para a cômoda de Will. ─── É o Mike, estou aqui... estamos aqui.

Jim pegou o rádio, respondendo o garoto e perguntando onde eles estavam ── o ferro-velho, era um pouco longe de onde estavam, a menos que fosse de carro. Enquanto o delegado ia até lá buscar as crianças antes que os agentes do governo os encontrassem, os outros quatros ficaram na sala de estar esperando pela chegada deles.

Com Jonathan, Joyce e Nancy ocupando o sofá, Andrea se dirigiu para a poltrona, cruzando as pernas e apoiando no braço do estofado um pedaço de papel quadriculado que achou junto de um lápis, concentrada em sua tarefa. Ela pretendia apenas anotar uma pequena lista de coisas que precisaria fazer quando aquilo tudo acabasse em uma tentativa de se manter distraída, mas em algum ponto, as anotações foram cobertas por mais um rascunho. Andy franziu a testa quando percebeu o que estava fazendo, inclinando levemente a cabeça ao notar que aquilo era parecido com uma memória recente, mas que estava um pouco embaçada e precisava de um pouco de esforço para lembrar melhor.

A Hopper fechou os olhos, tentando silenciar os sons externos para ter uma melhor visualização da imagem. Era algo parecido com uma rachadura, como se a parede estivesse sendo dividida em dois, mas havia algo de estranho se mexendo no meio dele; algo que ela sentia já ter visto, mas não conseguia lembrar muito bem quando.

Perdendo o foco quando ouviu o som de um carro se aproximando logo seguido de luzes atravessando as cortinas, ela levantou um pouco tonta. Percebendo que algo escorria de seu nariz, a adolescente passou a manga do sobretudo, notando a mancha avermelhada atravessar o tecido e sujar seu pulso. Considerando que a última vez que aquilo aconteceu foi por causa do estresse ── de acordo com os paramédicos ── ela não se importou demais com aquilo, seguindo o grupo até a porta e vendo seu pai sair da caminhonete ao lado de quatro crianças ── Dustin Henderson, Mike Wheeler, Lucas Sinclair e uma outra que Andrea ainda não conhecia; pelos cabelos raspados que seu pai mencionou anteriormente, ela imaginou que aquela era a filha perdida de Terry Ives, Jane Ives.

Eles entraram novamente na casa após alguns segundos, vendo as crianças se acomodando no chão e tirarem algo de dentro das mochilas que carregavam. Andy ficou encostada na parede, próxima do sofá, enquanto observava Mike fazer um rápido desenho antes de virar para os outros verem.

─── Certo. Neste exemplo, somos o acrobata. Will, Barbara e aquele monstro, eles são a pulga. ─── ele explicou, apontando para as duas figuras separadas por uma linha reta. ─── E este é o Mundo Invertido, onde o Will tá escondido. O sr. Clarke disse que podemos ir lá por uma fenda no tempo e espaço.

─── Um portal. ─── Dustin explicou.

─── Que rastreamos ao laboratório. ─── Lucas prosseguiu.

─── Com nossas bússolas. ─── o Henderson disse novamente com um sorriso orgulhoso, vendo que todos o encaravam confusos. ─── Então, o portal tem um campo eletromagnético forte que pode muda a direção da agulha da bússola.

─── O portal fica no subsolo? ─── o Hopper questionou às crianças.

─── Sim. ─── Jane, que Andy descobriu também atender por Eleven, falou pela primeira vez desde que chegou ali.

─── Perto de um tanque de água?

─── Sim.

─── Como sabe de tudo isso? ─── Dustin perguntou ao delegado.

Andrea fitou o pai, que permaneceu calado como se a resposta fosse óbvia. Abrindo o papel que estava em seu bolso por um momento, ela franziu as sobrancelhas pensativa, desviando o olhar para a garota.

─── Ele viu. ─── Mike sussurrou, parecendo impressionado.

─── Tem alguma forma de entrar em contato com o Will? Consegue falar com ele nesse... ─── Joyce questionou Eleven.

─── Mundo Invertido.

─── Invertido. É. ─── a Byers repetiu, vendo a garota balançar levemente a cabeça em concordância.

─── E a nossa amiga Barbara? ─── Nancy questionou, olhando entre Andy e Eleven. ─── Pode achá-la também?

ㅤㅤㅤㅤ

❛ 𝗻𝗼𝘁𝗲𝘀. ㅤ ۪ ׂ ִֶָ ㅤ ᵎᵎ

para aqueles que
pularam o flashback
ou não entenderam
muito bem, aqui um
breve resumo: a andy
foi abusada pelo walter
(o filho do padrasto
dela) e nisso ela acabou
matando ele. o motivo
dela não ter ido pra
prisão como deveria foi
porquê lizzie - sua melhor
amiga em ohio - sabia
que tinha alguma coisa
errada e mesmo sem ter
noção do que rolou,
decidiu acobertar ela.
esse foi o motivo dela ter
ido pra hawkins: a mãe dela
simplesmente não comprou
a história do animal e
mandou ela embora - por
isso jeff (irmão dela) falou
sobre o pai dele ir embora
e etc. como haviam
"testemunhas", nenhuma
investigação foi realizada.

caso alguém não tenha se
sentido confortável lendo,
eu sinto muito mesmo.
tentei retratar da maneira
mais leve possível. não
tem nenhuma diálogo nessa
parte porquê eu simplesmente
não conseguiria colocar sem
ficar mal também - tanto que
a memória da andy nessa noite
é confusa. ela lembra do que
aconteceu e do que ela fez,
mas não lembra do abuso em
si.

enfim, espero que tenham
gostado do capítulo. perdão
por qualquer erro ortográfico.
caso não tenham visto a
notificação de mais cedo,
black out days agora faz parte
de uma saga criada por mim!

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