𝟬𝟬𝟭 ، DONUTS AND A MISSING BOY.
CAPÍTULO UM : DONUTS E UM
GAROTO DESAPARECIDO
─── TEM CERTEZA DE QUE não tem problema você dormir aqui, né? ─── Bárbara perguntou de onde estava sentada, observando Andy girar na cadeira da escrivaninha com o livro de química no colo.
─── Você deveria se preocupar menos com o delegado e mais com o teste que vamos ter, senhorita Holland. ─── Andrea respondeu, parando de girar e cruzando as pernas.
─── É, eu sei, mas seu pai é um pouco...
─── Assustador? Esquisito? Sim, ele é, definitivamente, tudo isso e mais, mas acredite, ele deve ter bebido tanto que só vai notar minha falta amanhã de manhã, provavelmente quando estiver na delegacia. ─── a morena deu um sorriso para tentar tranquilizar a amiga, que ainda a encarava preocupada. ─── Eu deixei um recado na delegacia antes de vir, Barb. Sério, tá tudo bem.
A ruiva suspirou baixo e balançou levemente a cabeça, pegando o caderno que estava aos seus pés. As duas estudaram em silêncio por alguns minutos, apenas trocando dúvidas vez ou outra, mas Andy conseguia perceber que Barb queria falar algo.
─── Fala logo, Barb. ─── Andy disse, sem desviar sua atenção do livro.
─── Você sabe que eu e meus pais gostamos bastante quando você vem pra cá, não é?
Andrea parou então a leitura, olhando para a amiga e inclinando levemente a cabeça. ─── Mas... vocês não me querem mais aqui?
─── Não! Não é isso. É sobre seu pai. Minha mãe fica preocupada e eu também...
A morena suspirou, apertando a ponta do nariz ─── Ele não se importa se eu passar a noite fora, Barb. Sem brincadeira nenhuma, ele provavelmente deve tá roncando como um bêbado no sofá nesse momento, como sempre faz. ─── ela se levantou de onde estava e foi se sentar ao lado da amiga. ─── E se o problema for sobre o negócio que aconteceu semana passada, pode dizer à sua mãe que isso já foi resolvido e o castigo já acabou, finalmente.
A ruiva concordou, parecendo pensar por alguns segundos.
─── Por que você evita tanto ele? ─── Barbara perguntou em um sussurro.
─── É o contrário, na verdade. E eu não evito, apenas tento ficar fora do caminho dele e de problemas na escola, que é exatamente o que vai acontecer se minha nota for baixa de novo na matéria do Kaminsky.
Andy estava tão nervosa para esse teste! Ela nunca havia tido qualquer tipo de dificuldades em química na sua antiga escola, mas desde que começou as aulas ali, parecia loucura conseguir entender qualquer coisa que seu professor ensinasse. Ela tinha a impressão de que ele fazia de propósito, mas, como todas as vezes, ela apenas sentia que estava dando atenção demais para coisas tão fúteis.
Elas ouviram o telefone tocar na sala, mas como os pais de Barbara estavam em casa, não fizeram nenhuma menção de atender. As duas trocaram olhares curiosos ao ouvir passos do lado de fora e, logo em seguida, a mãe de Barb bateu na porta, abrindo-a.
─── É a Nancy. ─── ela falou e Barb levantou, pegando o telefone da mão da mãe e sentando-se novamente ao lado da Hopper.
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─── ESSA PROVAVELMENTE tá errada. ─── Andy resmungou com um gemido ao ler o papel em que havia feito o trabalho de matemática enquanto ia para seu armário, vendo Nancy e Barbara durante o caminho.
─── ...Andy me mataria se isso acontecesse. ─── a Wheeler respondeu à Barb, fazendo Andrea balançar levemente a cabeça.
─── Não até eu saber o todo contexto.
─── O contexto chamado Steve Harrington e seus amigos. ─── Barb disse e Nancy revirou os olhos.
─── Eu já falei, foi apenas uma vez... duas vezes.
─── Oh, Deus, o que vou fazer quando o Harrington arruinar minha amiga com todo aquele spray de cabelo e popularidade? ─── a Hopper brincou, recebendo um leve empurrão de Nancy.
Pela sua visão periférica, ela notou a garota pegar um pedaço de papel de seu armário, mas não conseguiu ler bem o que estava escrito nele, apenas notando os sorrisos nos rostos de Nancy e Barb.
─── O que você dizia?
Nancy fechou a porta do armário e se afastou das duas com pressa, fazendo Andy olhar curiosa para a Holland, em busca de respostas.
─── Steve?
─── Uhum. Aposto que esses dramas não te fazem sentir falta de Ohio.
─── É, os dramas são ainda melhores quando a cidade é pequena e todo mundo se conhece, como aqui. Acredite, eu não sinto falta nenhuma de casa... talvez um pouco, aqui não tem tanta coisa pra se divertir.
─── Desculpa por ser entediante, senhorita da cidade. ─── Barbara zombou, fazendo Andrea rir.
─── Ah, qual é, vai me dizer que você não acha um tédio sempre ir nas mesmas lojas, com as mesmas pessoas e ver as mesmas coisas o tempo todo?
Barb deu de ombros, arrumando os livros nos braços quando o sinal tocou. ─── Eu tenho minhas amigas comigo, então não é sempre um tédio. ─── ela comentou, se afastando.
─── Super clichê, meus parabéns! ─── Andy gritou por cima da multidão que ia para as salas, logo se juntando à eles.
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ELA SAIU PARA O ESTACIONAMENTO durante o intervalo, vendo algumas pessoas em seus carros ou nas mesas próximas dali, aproveitando do pequeno tempo livre que tinham antes de retornar para o resto das aulas.
Comendo o resto do sanduíche que a mãe de Barbara havia feito, ela suspirou baixo enquanto fazia seu pequeno caminho até sua bicicleta. A aula que teria logo após o intervalo ── geografia ── havia sido cancelada e ela definitivamente não iria esperar até o último horário, então decidiu, naquele momento, que apenas ir embora parecia uma boa idéia.
Olhando ao redor para ter certeza de que nenhum professor ou outro funcionário da escola estava vendo, ela pegou a bicicleta e tratou de sair dali o mais rápido possível.
Andy já havia passado do problema "sou nova na cidade" fazia pelo menos um mês, mas ela havia notado que ter um laço sanguíneo com o delegado poderia ser um problema recorrente. E não é como se ela não tivesse tentado esconder, mas durou apenas um dia; ficou difícil de disfarçar quando ele a buscou na saída da escola no primeiro dia com a caminhonete, a farda e tudo que tinha direito ── até a arma!
( naquele momento, a única coisa que passava pela cabeça dela era se jogar na frente de um dos carros ).
Mas ela não negaria que havia conseguido tirar proveito da situação. Prova disso era a mulher que trabalhava na biblioteca pública da cidade, que havia deixado que Andy pegasse mais livros que o permitido ── claro, desde que Andrea falasse bem dela para seu pai.
Ela sentia que poderia haver algo de errado naquele acordo, mas, sinceramente, ela não conseguia se importar, desde que pegasse os livros para passar o tempo.
─── Droga! ─── ela resmungou quando a bicicleta bateu em uma pedrinha no asfalto e quase a derrubou, chutando-a irritada e voltando para sua jornada até a delegacia.
Ela chegou na estação minutos mais tarde, com suor escorrendo por sua testa, cansada, com fome e com muito medo de que seu pai estivesse ali ── ela ainda não tinha idéia de como iria explicar o porque de estar ali tão cedo ─── mas tudo que encontrou foi Flo sozinha, sentada em sua mesa como de costume e com o telefone preso entre a orelha e ombro enquanto anotava algo em um papel. Parecia ser importante, dada concentração dela.
De qualquer forma, ela acenou para a mulher, indo para a mesa que Phil ── um dos policiais idiotas com quem ela tinha uma estranha amizade ── normalmente sentava e deslizou na cadeira até pegar um donuts na bancada do outro lado.
─── Você não deveria estar na escola, mocinha? ─── Flo perguntou após desligar o telefone, estreitando os olhos para a morena, que havia colocado o donuts inteiro na boca em uma tentativa falha de desviar da pergunta.
─── Onde... tá... todo... mundo...? ─── ela falou com um pouco de dificuldade, fazendo uma careta pela dificuldade que estava tendo para mastigar o maldito donuts. Ela arrastou a cadeira até a lixeira, cuspindo tudo. ─── Isso tá horrível, credo!
─── Passaram o dia inteiro aí. E, respondendo sua pergunta, Will Byers desapareceu. Seu pai e os outros foram até a casa do garoto.
─── Byers, Byers, Byers... ─── sussurrou, apoiando a mão no queixo e tentando relacionar o sobrenome conhecido com algum rosto. ─── Espera... Byers? O filho da Joyce? Tipo, Joyce Byers?
─── Esse mesmo. ─── a mulher falou sem a olhar, discando um número no telefone. ─── Eu preciso organizar um grupo de buscas pro seu pai, quer me ajudar?
A morena levantou e sorriu, acenando enquanto ia até a mesa da mais velha, sentando na borda e esticando o pescoço, tentando ver por cima dos papéis. ─── Você pode colocar meu nome aí... eu quero ir também!
─── Hopper não vai gostar disso.
─── Vamos deixar pra ele dizer à Joyce que não aceitou mais uma pessoa nas buscas por um motivo fútil.
A mais velha a fitou por alguns segundos, negando levemente. ─── Você fala com ele.
─── Sem problemas! ─── ela sorriu, arrastando-se para sentar ao lado de Flo, se preparando para anotar o que quer que ela pedisse. ─── Ei, você acha que eu conseguiria roubar o emprego do Phil algum dia?
─── Sem precisar se esforçar.
Andy riu, voltando ao que fazia.
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ESTAVA ESCURO E FRIO NA FLORESTA, fazendo Andy esfregar a mão no braço algumas vezes para tentar se esquentar um pouco. Fazia poucas horas que o grupo havia se reunido e entrado na mata ── local onde o delegado havia achado a bicicleta de Will ── e até agora não havia encontrado muita coisa além do óbvio. Ela tentava manter a luz da lanterna apontada para o chão, quem sabe poderia encontrar algo que ele havia deixado cair.
─── Will! ─── ela chamou. ─── Will Byers!
Sem respostas.
Atrás dela, era possível ouvir as outras pessoas do grupo o chamando, maioria sendo funcionários da escola em que ele estuda ou amigos de Joyce ── que ela aparentemente conhecia mais do que Will ou Jonathan, que tinha sua idade.
Ela havia visto o Byers mais novo apenas algumas vezes, na saída da escola, o vendo junto de Lucas, Dustin e o irmão mais novo de Nancy, Mike, ou na casa dos Wheeler. Tudo que ela sabia sobre eles se resumia aos conhecimentos de Nancy, que, pelo o que Andy havia notado, não era a maior fã dos pré-adolescentes ── ou mesmo de seu irmão.
─── O ponto de ter um grupo de buscas é pra todo mundo ficar junto e tentar não se perder enquanto procura. ─── ela ouviu a voz de seu pai reclamar ao seu lado, fazendo-a pular de susto.
─── Pelo amor de Deus! ─── ela reclamou, levando a mão ao peito. ─── Tenta ser mais sutil na próxima vez. ── zoou, voltando a caminhar.
─── Se continuar distraída assim, vamos ter que sair pra te procurar também.
─── Hm... isso foi uma ameaça ou você tá mesmo preocupado? ─── ela disse com um sorriso, erguendo a sobrancelha.
─── Não sei, você quer ficar mais uma semana de castigo?
Ela revirou os olhos, passando a mão pelo rosto quando sentiu um pouco de água cair nele. As árvores não permitiam uma boa visão do céu, mas ela notou o tempo nublado no caminho. ─── Se chover, vamos ter que parar as buscas?
─── Provavelmente. Não vai dá pra continuar se todo mundo ficar doente.
Ela acenou levemente, puxando o capuz de seu casaco pra cima para proteger a cabeça, distraída em sua mente conspiratória que, segundo sua mãe e amigos da antiga escola, beirava insanidade.
─── Você tá bem? ─── ele questionou, fazendo ela erguer a cabeça para o fitar.
─── É, eu só tô pensando aqui... você não acha muita coincidência tudo que tá rolando? A falta de energia, o desaparecimento dele... tudo na mesma noite! Pode ser um pensamento equivocado, mas-
─── Isso é mais alguma daquelas teorias esquisitas? ─── ele resmunga, interrompendo ela, que parecia animada com o que falava. ─── Jesus, eu sabia que não deveria ter deixado você ficar na mesma sala que o Murray por mais de um minuto. Foi o suficiente pra encher sua cabeça com besteiras.
─── Você pode não achar, mas ele é bem inteligente, ok?
─── Andy, ele é um solteirão que ganha a vida inventando histórias e vendendo pra jornais, não tem nada de inteligente nisso. Você não vivendo dizendo o quanto quer ir embora assim que terminar a escola? Ouvir as besteiras dele não vai te dar um passe livre pra vida adulta.
Andy então parou de andar, notando que a chuva havia aumentado. Ela tentou não se deixar levar pelo tom grosseiro que a voz dele exibiu e forçou um sorriso pequeno, apertando a unha do polegar contra o indicador. ─── Uau... meus parabéns, delegado! Você conseguiu falar igualzinho a ela. Vamos torcer pra que eu não pegue esse gene seu ou da mamãe.
A garota suspirou e se afastou dele, limpando o rosto mais uma vez. Ela percebeu que o resto do grupo estava retornando ── provavelmente por causa da chuva ── e decidiu se juntar à eles.
─── Pelo visto, você pegou o drama dela. ─── ele falou, suspirando baixo e passando a mão pelos olhos.
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