𝟬𝟬𝟬 ، THE CALM BEFORE THE STORM.
PRÓLOGO : A CALMARIA
ANTES DA TEMPESTADE.
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤOHIO, 1983.
O rangido da cadeira do oficial no outro lado da sala poderia ser o suficiente para fazer Andrea levantar e, com educação ── e um sorriso forçado no rosto ── pedir que o policial parasse de se balançar, mas o choque dos acontecimentos daquela noite e a presença das duas outras pessoas próximas da porta da sala estavam fazendo com que os pensamentos acelerados dela a mantivessem distraída o suficiente para não se importar com o barulho.
─── Eu não aguento mais. ─── ela ouviu uma das pessoas falar, mas não fez menção alguma de desviar o olhar do pôster na parede, sabendo não era o tipo de discussão que ela deveria estar ouvindo.
Além do mais, sua mãe odiava quando ela escutava a conversa dos outros.
─── Os policiais disseram que tem testemunhas que viram quando-
─── Não é disso que eu tô falando, eu não me importo com quem começou o quê... não é a primeira vez que isso acontece e nós dois sabemos que não é a última porquê a pestinha não sabe passar longe de confusão.
Um suspiro foi ouvido e segundos de silêncio se seguiram após isso.
A cadeira continuava balançando, preenchendo o silêncio, enquanto as vozes ── que não estavam tão baixas quanto o esperado ── paravam e consideravam os próximos movimentos. Usando a unha, ela tentou tirar as manchas na manga de seu moletom azul em movimentos quase obcecados, sentindo a pressão da unha contra seu pulso.
Andy não percebeu estar balançando a perna até sentir um leve empurrão em seu joelho, fazendo-a virar rapidamente a cabeça para o lado, percebendo que alguém havia ocupado o assento ao seu lado.
Quando ele sentou aqui?
─── Você sabe que foi um acidente, não é? ─── quando ela não respondeu, ele respirou fundo, cruzando os braços. ─── Como você tá?
Ela deu de ombros, repetindo o movimento com os braços e, voltando seu olhar para o pôster novamente, ela mordeu o lábio. Parando para analisar com um pouco mais de atenção, Andy percebeu que era de alguma campanha velha contra o cigarro, já que as bordas do papel estavam desgastadas e havia alguns desenhos estranhos feitos à caneta.
─── É engraçada a ironia. ─── ela falou quando percebeu que ele também observava o papel, mexendo no cordão de seu moletom. ─── Delegacias provavelmente tem o maior número de fumantes por metro quadrado que eu já vi. Não acho que isso adianta muita coisa.
─── Talvez seja por isso que colocaram aqui. ─── o homem respondeu com um tom divertido, como se quisesse a entreter.
Ela fez uma careta, encolhendo os ombros e balançando a cabeça em discordância, não conseguindo conter a necessidade de se expressar; Andy tinha um hábito de falar demais, principalmente quando nervosa, algo que normalmente deixava sua mãe sem paciência.
─── Tem praticamente o mesmo efeito que colocar nas escolas um pôster contra o bullying. O pessoal vai passar, ver e no fim, continua a mesma merda de sempre...
Ela arregalou os olhos ao perceber o palavrão que escapou, agradecendo quando notou que sua mãe não estava ao redor. A mulher tinha um jeito clássico de fazer com que Andy parasse de xingar.
─── É... É uma merda. ─── ele sussurrou, pegando um cigarro do bolso da camisa e o acendendo. ─── Adolescentes são-
─── Onde tá minha mãe? ─── questionou, o interrompendo.
Ele passou a mão pela barba, olhando em direção à porta por um momento, como se esperasse que Alisson passasse por lá e lhe dissesse que estava brincando. Andy o fitou enquanto esperava por uma resposta, mas antes que ele pudesse lhe explicar o que estava acontecendo, ela voltou para a mesma posição em que estava antes dele se sentar, mas dessa vez, com lágrimas acumuladas no canto dos olhos ao entender a situação.
─── Ela foi embora, não foi?
─── É complicado...
Ela limpou a garganta e balançou levemente a cabeça e, respirando fundo, apertou os lábios em um sorriso que mal chegou aos olhos. ─── Não posso dizer que tô surpresa. Ela sempre dizia que iria me mandar embora ou pra sua casa.
Hopper soltou a fumaça, sem saber como consolar a garota. Que Allison era uma mãe terrível ele tinha noção, mas chegar a mandar a própria filha embora por causa de algo fora de controle da adolescente era algo que ele não entendia.
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ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤHAWKINS, 1983.
Fazia pouco mais de uma semana desde que Andy havia chegado em Hawkins, parte desse tempo sendo passado em casa ou, quando queria ter alguma companhia, ia para a delegacia, aproveitando do passeio de bicicleta para conhecer um pouco mais da pequena cidade. Muita coisa havia mudado desde a última vez que ela esteve ali.
─── Ei.
Ela ouviu alguém falar no corredor logo quando saiu da secretaria da escola e, curiosa, olhou por cima do ombro, vendo um rapaz, seguido de um casal, se aproximar de onde ela estava.
Suspirando, ela imaginou que agora era o tão esperado momento que a secretária de seu pai tanto falou: onde os holofotes se virariam para a nova aluna, que, curiosamente, também era a filha do chefe de polícia.
─── Você é nova aqui, não é? ─── o rapaz com um topete perguntou enquanto se aproximava dela, que logo o reconheceu.
Quem não lembraria desse cabelo?
─── Steve Harrington.
Ele franziu as sobrancelhas mas deu um sorriso, olhando brevemente para o casal ao seu lado. ─── É... esse é o Tommy e ela é a Carol. Como você sabe meu nome?
─── É um pouco difícil esquecer o cara que fez bullying comigo durante o terceiro ano por causa dos meus dentes e cabelo.
Ele a fitou com um olhar esquisito, como se estivesse lembrando-se aos poucos.
─── Ah, Andrea! É, eu lembro de você. Uau, você tá... diferente.
─── E você continua o mesmo. ─── ela sussurrou, forçando um sorriso para ele e os amigos antes de se afastar, revirando os olhos.
─── Meu Deus, esse aparelho é horrível! ─── ela lembra dele dizer uma vez, quando seu dentista concordou com a idéia de sua mãe de pôr o aparelho quando ela tinha apenas nove anos.
Ela também lembra de ter passado os dois últimos horários no banheiro, chorando e esperando que os corredores ficassem vazios antes de ir para casa. Havia sido seu último ano ali, antes de sua mãe se cansar e ir embora, levando Andy.
Ela virou no corredor, balançando levemente a cabeça para tirar aquelas velhas memórias de foco, e, vendo Nancy e Barbara próximas dos armários, foi em direção à elas, mostrando o horário com um sorriso fechado nos lábios.
─── Eu tenho artes agora, e vocês?
─── Literatura. ─── Nancy respondeu, rindo ao ver a careta de Andy.
─── Eu tenho física, desculpa.
─── O sinal nem tocou e meu dia já tá indo mal... acho que isso diz muito sobre como minha vida vai ser daqui pra frente.
─── São dois anos, Andy. ─── Barb disse com um sorriso, apertando o ombro da morena. ─── O que poderia dar errado?
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