three
porém se perguntam constantemente
Há muito tempo Sukuna não sentia-se assim, constrangido e confuso. Geralmente, as certezas vinham rapidamente para ele e o sentimento de vergonha não fazia parte de seu corpo. Contudo, naquele momento em que Ren desceu a montanha e o deixou sozinho novamente, foi quando o homem reparou que uma simples mulher o deixou com muitas incertezas a soltas na mente. Ele estava envergonhado por não entender o que eram aquelas sensações e perguntas que não tinham respostas. Sukuna cedia tão facilmente por Ren e se amaldiçoava tanto por ser flexível com ela, que repetia a si mesmo que não esperaria por ela e suas geleias de amora.
Encarou a maldição em sua frente, vendo o ser inferior a ele se arrastar sedento até o Rei venenoso. Sukuna estava cansado da perseguição contínua que sofria, sempre tendo que lidar com os comedores de gente que o seguia em busca de seu poder grandioso e infinito. Mesmo que fosse simples lidar com aquelas energias ruins, era repetitivo e tediante, já que não existia nenhum ser forte como ele para entretê-lo. Após 400 anos vivo, Ryomen buscava o motivo de sua existência, tentando a todo custo chegar o mais próximo possível de sua versão humana, tão antiga e nostálgica.
Exorcizou a maldição nível médio que serpenteava em sua volta, tentando chamar atenção do xamã negro que apenas divagava por entre tantas dúvidas que Ren trazia a ele. Novamente, xingou-se por permitir a bela moça permanecer em seus pensamentos, embora não conseguisse expulsa-la de sua mente maldosa e perversa. Sukuna realmente estava encantado pela forma inocente da garota, confuso pela bondade que tinha por alguém desconhecido. Precisava urgentemente esquecer dela, decidindo então ir para o bordel mais frequentado por si, ignorando o fato de ainda não ser noite.
O rosado era aceito em qualquer estabelecimento que houvesse mulheres, sempre exalando beleza e malícia por onde passava, fazendo assim com que as moças sedentas e vagabundas lhe dessem passe livre para qualquer coisa. Se fossem donas de cabarés, Sukuna não pagava pela noite e nem mesmo precisava vir no horário em que era aberto, apenas chegava e era bem recebido. Aproveitava bem daquela 'cortesia', constantemente aparecendo em lugares que chamava sua atenção.
Andou pelas ruas da aldeia, sendo encarado pelas garotas que ainda não eram casadas, não que as comprometidas não fossem atraídas por ele. Ryomen observava com suas orbes vermelhas o caminho que deveria seguir até seu objetivo, se questionando se encontraria a morena de olhos bicolores por aquelas bandas. Era impossível não se deixar levar em pensamentos até o rosto angelical que Ren tinha, que infelizmente o rosado gravara por ser tão belo.
Ele realmente precisava esquecer dela, as atitudes singelas da garota mexeram tão profundamente com o Rei das Maldições que o mesmo começava a delirar em querer vê-la novamente.
- Oh, Sukuna-san! - foi surpreendido pela voz doce de Ren, que vinha correndo em sua direção com um sorriso aberto e brilhoso.
Na visão da morena, Ryomen continuava com a mesma expressão rancorosa, os braços cruzados e as sobrancelhas cerradas. Apesar de tudo, a mais baixa sabia que o homem era uma pessoa gentil e honesta, acreditando fielmente que Sukuna um dia falaria consigo com intimidade. Estava feliz por o encontrar na aldeia, suas orbes azul e marrom se fechando enquanto sorria em pura satisfação por o ver pela segunda vez no mesmo dia. Talvez Ren fosse dependente de contato social, sempre indo trás do mesmo.
- Como o senhor está? - parou na frente do homem, sendo fuzilada pelas garotas ciumentas que rondavam Sukuna.
Escutou um suspiro pesado sair dos lábios secos do rosado, os olhos do mesmo se fechando enquanto pensava no que dizer.
- Prefiro não dizer - voltou a andar, rezando para que a morena entendesse que não queria vê-la.
- Hm... Perdão ser enxerida - respondeu, acompanhando os passos do maior - Estou fazendo mais dois pães para o senhor, tenho bastante geleias também!
Disse animada, preenchendo seu peito de energias boas e inconscientemente, transmitindo aquela boa sensação para ele também. Começou a tagarelar, como sempre, nem mesmo prestando atenção para que lado da cidade aquela caminhada levava, apenas acompanhava o andar do homem mais alto e de estrutura malhada.
- É melhor você parar de vir comigo - Sukuna interrompeu a fala de Ren, vendo de soslaio a garota o encarar curiosa.
- Por quê? - fez um bico.
- Não é um lugar para pessoas como você - Ryomen realmente se surpreendia por estar dizendo algo do tipo, não interessava se algo faria bem ou mal à alguém.
Ren parou, questionando-se quais eram as pessoas como ela que existia naquele mundo. Provavelmente nenhuma, já que era totalmente fora dos padrões que a sociedade aceitava. Quando virou o rosto novamente para Sukuna, percebeu que o homem havia lhe deixado sozinha pelas ruas barrentas da aldeia. Ficou furiosa pelo comportamento nada educado do mesmo, decidindo que o procuraria no dia seguinte na floresta.
Porém este dia não chegou, infelizmente a mulher havia ficado doente, pegou um resfriado pesado em consequência da noite dormida no bosque. Sentia fortes dores de cabeça, febre alta e corpo cansado, vivia de chá de algumas plantas que pegara na montanha e tentava a todo custo melhorar. Ficou dois dias assim, percebendo no terceiro dia que as ervas faltavam e que teria que subir o morro atrás de novas. Sua casa pequena, de poucos cômodos, contudo bem aconchegante, era bem perto da floresta, sendo construída no pé da montanha e no final da aldeia.
Ren era basicamente excluída da cidade, uma belíssima moça jovial que era odiada por todos apenas por seus olhos heterocromaticos. Os cidadãos japoneses nunca haviam visto algo do tipo, orbes de duas cores, então aquele motivo já grande o suficiente para taxarem a morena de demônio. Ao nascer, Ren fora abandonada na beirada da floresta, sendo acolhida logo depois pela dona da casa onde morava atualmente. Seu nome foi dado pela velha simpática que adotou a garota, ensinando para mesma como se vivia e como deveria se comportar em lugares públicos. Todavia, a criadora de Ren morrera há alguns anos atrás por uma doença desconhecida. Desde então, morava sozinha e vivia das coisas que plantava e vez ou outra convencia um vendedor a trocar algo com ela.
Caminhava por um campo vasto onde sabia que poderia encontrar das flores de que fazia o chá, observando o gramado baixo em busca das pétalas roxas que tanto conhecia. Às vezes sua mente levava a garota até a lembrança que tinha de Sukuna, questionando-se se por coincidência o encontraria por ali, porém preferia preservar sua saúde do que o procurar por aquelas bandas. Ouviu passos e imaginou que fosse um veado esfomeado que procurava um
pasto aberto para deliciar-se com capim, mas foi surpreendida pela presença de Ryomen, que chamou seu nome um pouco preocupado.
- Ren? - ficou aliviado por ver ela.
- Olá - sorriu, sentando cansada no chão por tanto procurar as flores roxas - Como está, Sukuna-san? Faz alguns dias que não nos vemos.
Era verdade, quase cinco dias sem se verem, Ryomen realmente ficou preocupado com o sumiço que a morena dera. Percebeu o nariz e olhos inchados, vendo a menor fungar vez ou outra enquanto respirava fundo e com dificuldade. Não queria ter que se sentir assim, contudo, era impossível para ele não se sentir mal ao vez que ela estava tão para baixo e desanimada. Observou o familiar cesto brincar em seus braços cobertos por um novo kimono, dessa vez uma estampa florida brincava pelo tecido.
- Você está bem? - se agachou, tomando as orbes bicolores dela para si.
- O senhor está preocupado! - sorriu minimamente.
Não estava escrito como Ryomen se sentia constrangido ao demonstrar tantas emoções.
- Estou apenas resfriada, não se preocupe comigo - levantou, alongando a coluna enquanto procurava com os olhos as flores que ajudariam em sua melhora.
- O que tanto procura? - apesar de querer saber o que ela tinha, não permitia-se expressar a curiosidade.
- Ervas, para que eu faça um chá - suspirou, caminhando até uma vegetação rasteira que conhecia.
- Você deveria descansar, por que não pediu para que alguém fizesse isso por ti? - foi junto com Ren, observando os mínimos gestos que fazia ao pegar uma das ervas.
- Bom, eu realmente não tenho ninguém, apenas eu mesma - foi simplista, guardando no cesto as folhas cheirosas que tanto gostava.
Encontrou as flores roxas ao lado da vegetação rasteira, pegando as mesmas e guardando cuidadosamente entre as outras que havia pego. Sukuna ficou em silêncio, pensando entre acompanhar a moça e cuidar dela até que seu resfriado passasse, ou se apenas deixava que ela mesma cuidasse de si. Suspirou, envolvendo os braços fortes por entre o corpo de baixa estrutura de Ren, carregando-a por todo o caminho até que chegassem no pé da montanha. Recebeu como agradecimento alguns tapas genuínos, as bochechas gordinhas dela estavam tão vermelhas e quentes que Ryomen achou agradável sua frustração.
Foram até a moradia da menina, Sukuna olhando com cuidado toda a decoração de pequena e aconchegante casa. Assim que adentraram, Ren não tardou em preparar um chá, ligando as velas logo após o ato pelo fato de estar escurecendo. O frio tomava conta do vale e se não fosse pela lareira que tinha, a morena com certeza já teria morrido de tão gélida que a noite estava. Ela e Ryomen tomavam o líquido com essência de flores, um do lado do outro enquanto o fogo esquentava o ambiente e iluminava a escuridão da casa. O rosado sentia que deveria dizer algo, porém nada saía de sua boca e sentia-se desconfortável com a garota quieta.
- Ren - chamou - Quantos anos tem?
Sentia-se estupido por perguntar algo tão simples.
- Vinte e o senhor? - bebericou do chá.
- Sou mais velho.
[06/06/21]
sem revisão
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