Você É A Minha Vida

    Observo, da janela do escritório, minha esposa caminhar ao lado do meu irmão. Já faz duas semanas desde aquele dia e uma semana que ela sai do quarto para caminhar com Liam, finalmente parecendo mais viva do que a dias atrás. E mesmo eu estando aliviado, algo se aperta em meu peito.

Eu sempre vou vê-la pela manhã, enquanto ela dorme, apesar de algumas vezes achar que ela está acordada e só não quer falar comigo. Isso dói, mas estou tentando dar o tempo que ela precisa, só tenho medo que demore muito e que ela me afaste mais.

Olho por cima do ombro quando ouço a porta abrir e encaro Beatrice.

— Oi. — diz, fechando a porta.

— Oi — volto a olhar pela janela, mas mudo de ideia e esfrego meu rosto, sentado-me na cadeira de couro. — O que faz aqui tão cedo?

Minha melhor amiga avalia a sala antes de sentar-se em minha frente, usando preto como sempre.

— Vim ver como você estava — arqueia a sobrancelha, esperando que eu fale. — Abby saiu do quarto finalmente.

— Sim. Sim, ela saiu. — franzo as sobrancelhas para a pilha de papéis em minha mesa.

— E você não está feliz com isso? — Beatrice imita minha expressão, confusa.

Pigarreio.

— Eu estou feliz. — isso não é uma mentira. Saber que a minha Abby está voltando aos poucos é o suficiente para me fazer não mandar tudo ir para merda.

— Certo... Há algo que não estou pegando aqui.

Suspiro, não sabendo como explicar a ela sem parecer um babaca.

— Você já deve saber que eu estou no quarto de hóspedes — digo para ela, que anue. — Ela meio que não quer ficar perto de mim agora e eu entendo que ela queira um tempo. Só que... eu vejo ela com Liam e...

Deixo a frase morrer, sentindo-me um pouco envergonhado pelos meus pensamentos. Falando em voz alta, parece ainda mais insano.

Beatrice parece entender. Não que eu me sinto envergonhado, mas para onde meus pensamentos levam.

— Pare com isso agora mesmo — diz, a voz severa. — Eu estou falando sério, Dom. Você só vai parecer um babaca assim.

— Acha que não sei, porra? — volto minha atenção para a janela, mas só consigo ver o céu nublado de Seattle. — Eu odeio que tenho pensado nisso, mas como não sentir ciúmes quando minha própria esposa nem mesmo aguenta olhar em meus olhos, mas sai de livre e espontânea vontade com meu irmão?

— Você está se ouvindo? Eu retiro o que eu disse, você é um babaca. Como pode pensar essas coisas depois de toda a merda que a Abby passou?

— Eu não quero uma lição de moral e sei muito bem o que a minha mulher passou.

— Então deve saber também que ela está se recuperando e não flertando por aí com o seu irmão.

Tensiono a mandíbula, fechando as mãos em punho. Eu confio em Abby, mesmo quando eu não devia nem estar pensando essas coisas, porque Trix tem razão e eu mesmo vi como minha esposa estava sofrendo, sei que meu ciúmes não tem fundamento.

— Merda. Merda. Merda — passo as mãos pelo cabelo, suspirando. — Eu preciso encontar Finn e matá-lo.

— É a primeira coisa sensata que você diz.

Sei que muitas pessoas acham que vingança não resolve nada, e de fato não trará o bebê de volta, mas pelo menos vou fazê-lo pagar pelo sofrimento que fez a Abby passar e tirar o medo que ela deve sentir em pensar que ele está solto. Além do mais, eu fiz uma promessa a Abby e eu irei cumprí-la.

Ouvimos uma batida na porta e segundos depois a cabeleira loira de Karen aparece. Seu rosto se ilumina quando ela nota a namorada.

— Ah, não sabia que você estava aqui. Posso voltar depois. — começa a fechar a porta, mas Beatrice fica de pé.

— Pode ficar, já acabamos aqui — ela vira para mim e abaixa a voz, para que apenas eu ouça. — Juízo, ok? E não estrague tudo.

Faço que sim e ela vai até minha irmã, que já entrou totalmente no escritório e a beija. Apesar de tudo, fico feliz que as duas se acertaram e estão bem.

Quando Beatrice sai, Karen e eu ficamos sozinhos. Minha irmã dá um sorriso hesitante ao ocupar o lugar que a namorada esteve.

— Estamos morando na mesma casa e parece que não vejo você há semanas. — diz, não parecendo muito feliz.

— Eu sinto muito. Tenho tentado repor todo o trabalho — aponto para os papéis. Karen anue. — Mas e você? Precisa de alguma coisa?

— Não exatamente.

— Explique. — recostando-me na cadeira, espero o que ela tem a dizer.

Karen pigarreia, ajeitando os ombros e apoiando as mãos no colo. É a postura séria dela, que sinceramente, eu só a vi usar algumas vezes.

— Eu quero que você assine uma procuração que me permita assumir a Davenport Company.

Eu apenas encaro minha irmã, esperando que eu tenha ouvido errado. Em outros dias, eu até daria risada.

Mas Karen continua me encarando.

— Por que eu faria isso? E desde quando você está interessada em trabalhar na empresa?

Karen relaxa um pouco, mas continua mantendo-se séria.

— Com tudo o que está acontecendo, você não tem condições de dirigir a empresa, cuidar da sua esposa e de si mesmo.

— Eu agradeço que você esteja preocupada comigo...

— Não foi um pedido, Dominic. Você me dará a procuração ou eu convenço os acionistas a tirar você da presidência. Aquela empresa é tão minha quanto sua e de Liam.

Confesso que estou um pouco surpreso, porque nunca vi minha irmã agir assim comigo. Quando ela bancava a séria estava sempre direcionado a nosso pai. Ela até mesmo parece mais madura.

— Eu não acho que os acionistas vão aceitar. Esqueceu que trancou sua faculdade de direito porque "enjoou"? Eu admiro sua iniciativa, irmã, de verdade, mas você não é alguém que saberia comandar uma empresa como a da nossa família. O que aconteceria um mês depois de você enjoar? Não posso correr esse risco.

— Eu aprendi o suficiente na faculdade e terei Charles para me auxiliar ou até mesmo você. E se acha que eu não tenho compromisso quando se trata da minha família, você claramente não me conhece.

Encaro seus olhos verdes, tão diferentes dos meus. Ela não vai ceder, eu vejo isso em seu olhar. Se tem uma coisa que nós três temos em comum, é nos sacrificar pela família e eu vejo o quanto Karen está disposta a fazer isso.

Percebendo que ainda estou hesitante, minha irmã diz:

— Chegou a minha vez de fazer alguma coisa pela nossa família.

E mesmo que não se trate de quem faz mais, eu cedo.

Depois da reunião com os acionistas, onde descobri que todos concordam com a minha retirada da direção da empresa, eu sinto um pequeno alívio. Não achei que eles fossem aceitar minha irmã, mas como eu não tenho estado concentrado ultimamente, ela foi a melhor escolha.

Tomei um banho demorado e até consegui engolir um pouco de comida, mas me encontro saindo do quarto meia hora depois.

Abby provavelmente deve estar dormindo, mas eu preciso vê-la, ter certeza que está bem e se precisa de algo, caso esteja acordada. Não quero que ela pense que está sozinha, mesmo quando dou o espaço que ela pediu.

Não bato na porta, mas sinto que deveria ter feito isso, porque assim que entro, me deparo com Abby sentada em uma poltrona e Liam em outra, um tabuleiro entre eles.

Estão jogando xadrez, eu percebo.

— Eu... Hum... Não achei que você estava ocupada. — digo, meus olhos focando em Liam, que parece visivelmente desconfortável agora, o que, mais uma vez, é algo incomum para o meu irmão.

— Eu já estava indo, na verdade — Liam se apressa em dizer, ficando de pé. Vira-se para Abby. Sorri para ela. — Vejo você amanhã.

As palavras de Beatrice ecoam em minha mente e tento relaxar o meu maxilar, aliviar a tensão em meus ombros, porque o que estou sentindo é algo infantil e sem sentido.

Liam passa por mim, mas não olha em meus olhos.

Tensiono rapidamente a mandíbula mais uma vez, mas relaxo ao olhar para Abby, que está de pé.

Parece que há um mundo de distância entre nós, quando na verdade são apenas alguns passos.

Indico o tabuleiro com o queixo.

— Você joga xadrez? — pergunto, não lembrando de ela já ter comentado isso.

— Liam está me ensinando. — responde e eu quase suspiro ao ouvir sua voz.

— Ah.

Eu quero gritar. Eu não sabia que era tão bom em mater o controle até agora quando quero dizer a ela o quanto sinto sua falta. Como eu não daria tudo para ouvir sua risada outra vez, para ver seu rosto se iluminando com algo. O seu sorriso todas as manhãs.

Eu quero gritar.

— Eu... — Abby começa, parecendo hesitante e eu me pergunto se realmente gritei algum dos meus pensamentos. — Quando você e Liam vão inaugurar a agência?

— O quê? — confuso, franzo as sobrancelhas.

— Eu sei que vocês – você – adiou o coquetel de inauguração por minha causa, mas eu quero dizer que não precisa. Você não quer sair de casa para ficar perto de mim, mas realmente não precisa. Não quero que você pare a sua vida por minha causa.

— Você é a minha vida — eu nem mesmo penso antes de dizer isso, porque é a mais pura verdade, mas Abby desvia dos meus olhos. Tento outro vez. — Nós estamos passando por um momento difícil e sim, eu não quero deixá-la sozinha, mas também não quero comparecer a esse coquetel enquanto você fica aqui.

— Eu sei, mas... é importante para o Liam.

— Liam? — eu tento, mas fica claro como a minha voz muda. Mais uma vez, aquele sentimento deixa um gosto estranho em minha boca.

Abby leva a mão a barriga, distraída quando volta seus olhos para mim.

— É muito importante para ele. Além do mais, vocês trabalharam muito para isso.

— Ele pediu a você que falasse comigo? — porque se for, eu vou matar aquele desgraçado por pressioná-la...

— Não — Abby balança a cabeça, os fios escuros caindo em seu rosto, do coque no topo de sua cabeça. — Mas me sinto culpada mesmo assim.

— Abby...

— Apenas remarque o coquetel e apareça, nem que por apenas meia hora. — eu vejo o quanto ela quer que eu concorde e eu nunca lhe neguei nada.

— Tudo bem. Mas estou fazendo isso porque você está me pedindo.

Abby cruza os braços, franzindo levemente as sobrancelhas.

— Está sendo injusto com o Liam, ele está sempre...

— Será que podemos não falar do Liam? — peço, mais uma vez sem esconder o meu... incômodo.

Aproximo-me de Abby, que pisca. Afasto sua franja dos olhos, deixando meus dedos descerem por seu rosto. Os lábios dela se separam e ela inspira.

— O que você veio fazer aqui? — pergunta baixinho, mas não se encolhe com o meu toque. Quero suspirar de alívio pela segunda vez.

— Ver você. Eu preciso fazer isso constantemente, ou enlouqueço. — confesso a ela, encaixando sua bochecha em minha mão e acariciando com o polegar.

— Apenas me ver? — arqueia a sobrancelha e eu sei que não é nenhum flerte, como seria em outra situação.

— Queria saber se estava bem e se precisava de alguma coisa — esclareço. — Talvez vê-la dormir. Lembra daquele dia, em Creta, quando observamos o sol nascer? Eu sinto aquele tipo de paz vendo-a dormindo.

Abby inspira mais uma vez, seus olhos marejados quando ela sussurra:

— Eu ainda não estou pronta... Eu... Eu sinto muito...

— Shiiii — beijo sua testa, trazendo-a para meus braços. — Não sinta, ok? Está tudo bem. Eu estou aqui com você e estarei quando estiver pronta. Está me ouvindo?

Ela balança a cabeça contra meu peito e eu beijo seu cabelo, esfregando suas costas até seu corpo ficar pesado contra o meu e ela deixar que eu a carregue até a cama.

— Nós vamos ficar bem — sussurro para ela, quando sei que já está dormindo. — Eu prometo.

PASSEI DE ANO, TÔ FORMADAAAAA🎉🎊

Enfim, KSKSKK

Hey, gostaram do Capítulo?

O que vocês acham do Dominic ter ciúmes do Liam?

Já foram ler o livro novo??

Por hoje é só <3

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2bjs, môres♥

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