⫘⫘ㅤ ㅤㅤ| EPISODE XVII, A VERDADE ESTÁ AQUI, OU MELHOR, UMA PARTE DELA
𝐀 𝐕𝐄𝐑𝐃𝐀𝐃𝐄 𝐄𝐒𝐓𝐀 𝐀𝐐𝐔𝐈, 𝐎𝐔
𝐌𝐄𝐋𝐇𝐎𝐑, 𝐔𝐌𝐀 𝐏𝐀𝐑𝐓𝐄 𝐃𝐄𝐋𝐀.
⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘
"𝘥𝘦𝘤𝘪𝘥𝘪𝘥𝘢 𝘢 𝘱𝘦𝘨𝘢𝘳 𝘰 𝘱𝘢𝘱𝘦𝘭 𝘲𝘶𝘦 𝘧𝘪𝘤𝘰𝘶
𝘱𝘢𝘳𝘢 𝘵𝘳𝘢𝘴, 𝘴𝘬𝘺𝘭𝘢𝘳 𝘦𝘯𝘤𝘰𝘯𝘵𝘳𝘢 𝘶𝘮𝘢 𝘤𝘢𝘳𝘵𝘢."
O casal havia tomado uma decisão. Eles escolheram pelo procedimento de eliminar as memórias de Skylar, deixando somente informações que eles queriam que ficasse.
─── Filha. ─── Natasha se abaixou na altura da primogênita, segurando para não chorar na frente da mesma e a assustar. ─── Vamos te deixar na ala infantil por alguns minutos para que possamos resolver alguns assuntos pendentes, tudo bem?
Skylar sorriu.
─── Tudo bem, mamãe.
─── Vá com a senhorita Isabella. ─── E enfermeira apareceu na porta, estendendo sua mão para a criança.
─── Vai ficar tudo bem, mamãe?
─── Vai sim, meu amor. ─── Ela sorriu. ─── Serão somente alguns minutinhos, tudo bem?
─── Tá bom. ─── Skylar assentiu, caminhando até a enfermeira e segurando sua mão, saindo da sala em seguida.
Os corredores eram extremamente brancos, e aquilo chegava a machucar um pouco os olhos brilhantes da pequena garotinha. A doutora tentava transmitir confiança para Skylar, e parecia funcionar.
Skylar não conseguia sentir medo dela, então ela não era uma ameaça.
─── Chegamos. ─── Ela anunciou, parando na frente de uma sala. ─── Vou pegar alguns brinquedos para você, tudo bem? Logo eu volto.
─── Tá bom. ─── Skylar deu de ombros, ficando paradinha no lugar, enquanto a mulher deixava a ala infantil.
Era uma grande sala, porém vazia. As paredes continham um desenho de arco-íris, assim como sofás brancos e um enorme espelho colado na parede. Skylar até pensou em andar até o mesmo, entretanto parou no meio do caminho assim que ouviu o barulho da porta atrás de si.
─── Olá.
Quando ela virou-se, se deparou com um homem extremamente alto e de madeixas loiras. Sua face era angelical, mas tão angelical que chegava a ser assustador. Ele era apenas um enfermeiro comum.
Se não estivesse exalando tanto medo.
Skylar sentiu que ele estava com medo.
Aquilo era estranho.
─── Quem é você? ─── Ela perguntou, ficando na defensiva. ─── A tia Isabella já está vindo, você pode ir.
─── Mas você não quer dar um passeio comigo?
─── Não, eu não quero. ─── Respondeu curta e grossa.
Peter sorriu.
─── Você parece ser inteligente. ─── Ele sentou-se em um sofá, próximo a garota. ─── Qual seu nome?
─── Por que você está com medo?
─── O que?
─── Você está com medo. ─── Ela afirmou, e não deixou passar despercebido quando ele engoliu em seco. ─── Eu sinto o seu medo. Você fede a ele.
─── Que tal darmos uma volta?
─── Eu já disse que não quero.
─── Quer ver algo legal? ─── Ele arregaçou a manga de sua blusa, exibindo uma tatuagem do número um. ─── Essa tatuagem tem um significado muito forte, sabia?
─── Qual?
─── Ele representa que eu sou o primeiro de todos.
─── Primeiro do que?
─── Primeiro destruidor.
Ela ficou em silêncio, encarando a tatuagem.
─── Quer ter uma como essa?
─── Por que eu seria uma destruidora? Não quer seu mau
─── Você não se sente diferente de todos ao seu redor?
Ela parou para pensar.
─── Eu sou diferente.
─── Mas aqui não precisa ser.
Ela tombou a cabeça, exibindo um sorriso.
─── Eu gosto de ser diferente. ─── Skylar cruzou os braços. ─── Ele gosta que eu seja diferente.
─── Ele quem?
─── Ele. ─── Ela apontou para baixo. ─── Ele me fez entender que ser diferente não é ruim.
Peter a encarou.
─── Prometo só te mostrar outras crianças que são iguais a vo-
─── Qual é a parte que você não entendeu que eu sou diferente e isso para mim é uma qualidade, tio Peter? ─── Ele arregalou os olhos. ─── Não há ninguém igual a mim.
─── Você acha?
─── Eu tenho certeza.
Ele levantou-se, parando na frente da porta.
─── Vamos? Prometo ser rápido.
Mesmo desconfiada, Skylar segurou na mão do homem, seguindo-o pelos corredores daquele hospital branco. Peter ainda exalava medo, e ainda mais do que há poucos minutos atrás.
─── Como você sabe meu nome? ─── Ele perguntou, tentando puxar assunto.
─── Eu sempre sei. ─── A criança murmurou, com a cara fechada.
Ele forçou um sorriso, levando Skylar até a sala de Brenner. A garota, assim que cruzou um corredor menos movimentado, passou a sentir as emoções de Peter se alastrando por todo o ambiente. Naquele exato momento, Peter apertou a mão da criança com mais força.
─── Você mentiu. ─── Ela sussurrou assim que eles entraram em uma sala, assemelhando-se a um consultório qualquer. ─── Você mentiu para mim.
─── Eu não menti. ─── Ele murmurou, caminhando até uma gaveta que continha seringas com o calmante. ─── Você vai conhecer aquelas crianças com essa tatuagem legal e também terá uma.
─── Eu quero a minha mãe.
─── Você logo vai ver ela.
O loiro aproveitou a situação para pressionar um botão, chamando por outros seguranças.
─── Eu quero agora.
No mesmo momento, ele se virou na direção da criança, exibindo a seringa.
─── Eu prometo que não vai doer nada.
Skylar arregalou seus olhos, recuando para trás.
─── O que...
─── Me desculpe por isso, criança.
─── Você não vai encostar em mim de novo! ─── Ela exclamou assustada, e Peter travou no lugar.
─── O que você fez? ─── Ele gritou, travado no lugar. ─── Me tira daqui! Sua criança tola!
Skylar aproveitou o momento para correr até a porta, mas antes que alcançasse a maçaneta, a mesma se abriu e revelou quatro seguranças. Ele adentraram a sala, e a garota recuou novamente, assustada. Ela ficou ainda mais assustada quando um outro homem, usando terno, entrou na sala.
A esse momento, lágrimas já caiam de seus olhos. Ela somente queria seus pais.
─── Ei, não vou te machucar. ── O homem de terno, disse, arriscando dar um passo na direção de Skylar.
─── Não chega perto.
─── Vem aqui, pirralha! ─── Outro foi rápido e segurou o braço de Skylar com força.
Mas antes que algo acontecesse, a garota gritou.
Mas não foi somente um grito.
Todos os homens, incluindo Peter, foram jogados para longe. Os vidros da janela se quebraram, as luzes passaram a piscar repetitivamente até queimarem. Naquele momento, mesmo sentindo sua vida passar diante de seus olhos, o loiro acompanhou o momento em que o cabelo da garota atingiu uma coloração avermelhada e azulada, em mechas pequenas, assim como o olho esquerdo ficando esbranquiçado e o direito em uma cor roxa.
Quando Skylar parou de gritar, todos caíram desacordados no chão. Alguns com machucados abertos, e outros somente jogados no chão.
Antes que ela fosse correr até a porta, Skylar desabou no chão, sentindo sua vista escurecer aos poucos e seu corpo a convulsionar.
A última coisa que ela viu foram seus pais chegando correndo, antes de apagar por completo.
Naquele dia, não foi somente um grito que apagou a todos.
Foi uma explosão de habilidades desconhecidas e muito perigosas.
─── A porta está trancada! ─── Steve gritou, continuando a esmurrar a mesma com expectativas que pudesse sair. ─── Não abre, eu preciso ir lá fora pegar Skylar, droga!
─── Tem morcegos no teto. ─── Nancy murmurou, escutando as patas dos animais batendo contra o trailer de Eddie. ─── Precisamos sair daqui.
─── A gente não tem que sair daqui, a gente tem que ir atrás da Skylar. ─── Steve gritou, pausadamente, enquanto batia na porta com seu corpo. ─── Droga!
No mesmo momento, eles escutaram as criaturas rosnando e tentando entrar na casa de Eddie.
─── Steve! ─── Ela gritou. ─── Ela me salvou, nós também vamos salvar ela, mas nós precisamos sair daqui agora antes que essas coisas nos matem.
─── Eu não vou.
─── Vai sim. ─── Dustin murmurou, e quando menos esperavam, o garoto jogou um balde de metal na cabeça do adolescente, fazendo-o cair desmaiado no chão. ─── Desculpa amigo.
─── Desmaiar ele? É sério?
─── Você tinha opção melhor? ─── Eddie deu de ombros.
─── Por que vocês estão se recusando a ir salvar ela? ─── Max perguntou, de braços cruzados, enquanto encarava Nancy com um olhar gélido. ─── Você não disse que ela te salvou? Vocês simplesmente querem ignorar que ela pode estar sendo comida viva pelos morcegos nesse exato momento.
─── As criaturas do mundo invertido não atacam a Skylar. ─── Nancy soltou de uma vez, fazendo Max ficar confusa com a explicação.
─── Isso não faz sentido.
─── Na verdade, faz sim. ─── Eddie comentou. ─── Aqueles cipós bizarros no chão, saiam da frente dela quando ela passava, mas quando nós passávamos, eles sequer se mexiam. Queriam até matar a gente.
─── Fora que os morcegos realmente não tinham intenção de atacar ela. ─── Robin complementou. ─── Mas também não sabemos até quando isso. Ela sabe se virar lá por um tempo, mas precisamos ser rápidos em salvá-la.
─── Aconteceu algo bizarro enquanto eu estava em alucinação.
─── A Skylar também entrou.
─── Não, ela não entrou em alucinação.
Todos encararam Nancy, bastante confusos.
─── Ela entrou na minha mente para me salvar.
Skylar, mesmo ofegante, suspirou bastante aliviada assim que chegou em sua casa novamente. A garota largou a bicicleta de tudo quanto é jeito na calçada, correndo até dentro de sua residência, especificamente até o maldito cofre.
Quando eles saíram, minutos atrás, Skylar havia deixado o papel no chão, e felizmente ele ainda estava lá. A adolescente aproximou-se da folha, e a pegou em mãos, passando a ler todo conteúdo presente na mesma.
As letras estavam levemente borradas, dando a entender que aquele papel era extremamente antigo e que estava se desbotando aos poucos, principalmente na condição que ele vivia.
"Contrato de confirmação para eliminação de memórias."
"Ano de 1972."
Ela franziu a sobrancelha.
1972 foi quando ela acordou misteriosamente em um hospital sem saber como foi parar lá.
Aquilo era no mínimo bastante bizarro, e também confuso. Faltavam informações, as quais ela precisava saber para tirar a prova de uma vez por todas.
A morena decidiu caminhar pela casa, em busca de respostas, e o lugar que decidiu começar foi o escritório de seu pai. Skylar caminhou decidida até lá, ao menos ligando para as videiras ou pela sujeira predominando todo o ambiente. Ela só queria saber a resposta de todos aqueles acontecimentos bizarros que vinham a envolvendo.
A adolescente abriu todas as gavetas, tirou todos os livros da estante e até mesmo verificou a parede para ver se encontrava um outro cofre escondido.
E bem, ela achou.
Um cofre atrás de um quadro de Vincent Van Gogh. Ela amava aquele quadro quando criança, e sempre se recusou a tocar nele para não estragá-lo.
A morena encostou no cofre, sentindo a textura e a poeira grudar em suas mãos. Ela permaneceu naquela posição por alguns minutos, talvez pensando no que poderia fazer para descobrir a senha, e, quando menos esperou, uma certa combinação veio em sua cabeça.
Skylar não perdeu tempo e digitou os seis números no cofre, soltando o ar que nem havia percebido que estava prendendo, quando a caixa metálica abriu. Com uma lanterna, que estava guardada em seu casaco, ela iluminou lá dentro e encontrou um envelope bem no fundo.
Aquilo era no mínimo bastante suspeito.
Somente guardariam um documento em um cofre se fossem para esconder de alguém, ou para manter aquilo em segurança máxima.
E ela imaginava que fosse por ambas as questões.
A morena pegou o papel em mãos, e sentiu suas pernas falharem quando leu o que estava escrito do lado de fora.
"De Natasha, para Skylar".
"Tudo o que eu jamais deveria te contar".
A garota permaneceu em silêncio, segurando aquele envelope. Suas mãos tremiam, e ela sentiu seus olhos começarem a arder. Natasha sabia que esse dia chegaria, e não tardou em deixar tudo explicado para a filha.
Skylar caminhou até uma cadeira, em passos lentos e sem tirar os olhos do papel. A adolescente colocou o mesmo delicadamente na mesa, abrindo-o com cautela e dando de cara com diversas folhas.
Era uma carta.
Escrito a mão.
"Para minha linda Skylar.
Antes de tudo, peço desculpas por ser uma mãe tão imprudente com você. Cometi diversos erros, e mesmo após o seu nascimento, cometi outros que acabaram dando um início um enorme conflito em torno de sua vida. Como mãe, eu errei muito com você.
Eu sabia que em algum momento você descobriria a respeito de quem realmente é, e nessa carta eu quero que tente entender ao máximo como essa bola de neve iniciou.
À essa altura do campeonato, creio que já deve ter descoberto a respeito de minha verdadeira nacionalidade (o que não é tão importante) , e que deve ter algo de errado com você. Na verdade, de errado não há nada, você é linda é perfeita como é. Além do mais, uma das pessoas mais fortes que já fui capaz de ver neste vasto planeta.
Anos atrás, especificamente na década dos anos sessenta, tive o desprazer de descobrir ondas sonoras embaixo da nossa cidade. Foram três anos de estudo para ter uma certeza, e em 1964, eu finalmente consegui comprovar minha teoria. Entretanto, como toda ação tem reação, na abertura desse portal eu quase perdi seu pai para uma criatura horrível que habitava nesse mundo desconhecido.
Charles era um agente do governo americano. Nos conhecemos porque ele vivia constantemente no laboratório liderando equipes de segurança. Naquela época Charles disse que iria entrar nesse lugar para descobrir o que havia lá, e também para coletar material para pesquisa. Ele perdeu cerca de vinte amigos nessa burrada que eu o fiz passar, e além disso, perdemos o filho o qual eu estava esperando na época.
Seu nome era Théo, e eu já estava perto de completar trinta e três semanas de gestação quando tive um aborto acidental.
Eu entrei em uma depressão gravíssima, onde nada me alegrava ou me motivava a viver. Deixei nas mãos de um amigo o resto da criação do soro. Lewis Campbell. Ele foi encarregado de terminar a criação do Skyless Serum, um soro que na época era para aplicarmos em inimigos, especificamente em russos.
Mas, não mencionei a ele que o plano não era somente esse. Escondida, no meio de todos esses anos e projetos, criei uma nova droga nomeada como CPH4, que estimula e aumenta o funcionamento da capacidade cerebral de uma pessoa para até 50%.
Os humanos utilizam apenas 10%.
Aquilo era uma bomba relógio, e eu tinha noção disso.
Porém, quando Lewis me avisou que o soro estava pronto, eu não pensei e somente invadi o laboratório em uma noite, e tomei doses daquele maldito soro, esperando dar um fim em mim mesma e finalmente sentir a paz que eu tanto sonhava.
Mas não foi isso que aconteceu.
Fiquei extremamente confusa quando percebi que as doses não fizeram efeitos tão negativos no meu metabolismo. Ao contrário, tive um aumento significativo da minha capacidade cerebral e também do meu sistema imunológico.
Mas não era isso que me deixava confusa.
E sim que no soro, havia outra coisa. Uma espécie de fumaça arenosa que seu pai coletou no mundo inabitado. Aquilo parecia uma partícula viva e violenta, e quando tomei o soro, pensei que finalmente aquilo me destruiria.
Mas aquilo somente me causava arrepios e uma presença enrijecedora a qual eu não conseguia descobrir do que era.
Somente sabia que aquela coisa tentava se comunicar comigo, dentro de mim.
Quando Lewis descobriu meu ato desesperado, ele me examinou de emergência e acabamos descobrindo uma enorme surpresa.
Eu estava grávida de quatro meses.
De você.
Quando eu tomei tudo aquilo, você já existia em mim e isso era um grave problema.
Quando uma molécula adicionada percebe que o habitat dela não é favorável, sua decisão é a morte. Entretanto, quando o lugar é favorável, ela escolhe pela reprodução ou para um hospedeiro já existente no corpo.
A CPH4 é uma droga que somente na prática percebi que não faria efeito em mim, e sim em você. Eu e Charles conversamos durante semanas para ver se deveríamos interromper a gravidez para seu próprio bem, ou se seguiríamos até o final. Nós decidimos que iríamos até o fim, mesmo com todos esses riscos.
A gestação foi acompanhada por diversos médicos, e ficávamos cada vez mais chocados quando eles nos diziam que não havia nenhuma anomalia física em você. Era um bebê comum, e muito saudável.
Você nasceu com 9 meses completos, e trouxe para mim e Charles, a felicidade que havíamos perdido faz tempo. Depois de longos meses em profunda escuridão, fomos presenteados com uma garotinha tão linda e saudável que somente fazia nossos dias melhores.
O acompanhamento médico continuou até seu crescimento. Até os quatro anos de idade você era uma bebezinha "comum" como as outras.
Entretanto, aos cinco anos você mudou.
Você sempre costumava dizer que sentia uma presença de algo, ou que tentavam se comunicar com você. Diferente de mim, que não entendia o que aquela coisa dizia, você entendia. Você nos dizia que aquilo queria liberdade e dominância.
Aquilo nos preocupou, porque sabíamos que aquele monstro estava tentando contato com você de todas as maneiras possíveis.
Meses depois, você apresentou comportamentos suspeitos e que exigia uso de capacidade cerebral. De acordo com os meus cálculos, aos quatro anos de idade você já usava 16% dela.
Começamos a acompanhar de perto e percebemos que você sempre teve uma habilidade muito grande de sempre saber informações a qual nunca havíamos te contado. Você sabia coisas de uma pessoa que passava de bicicleta na rua, e até mesmo de uma atriz de televisão que aparecia em pouquíssimos segundos de tela. Iniciámos uma série de exercícios onde tentávamos a todo momento ver até onde você conseguia ir.
E percebemos que você ia longe, principalmente se suas habilidades fossem desenvolvidas com acompanhamento. Mas eu não queria que uma filha minha fosse um rato de laboratório. Como cientista, eu estava orgulhosa do que fui capaz, mas como mãe, e como uma pessoa sensata, me senti culpada e péssima pelo que te tornei.
A cada dia, Skylar, suas habilidades se desenvolviam, e você tratava aquilo como extrema naturalidade, como se já soubesse perfeitamente usar aquilo. Aquilo que me assustava.
Manipular o medo tornou-se outra coisa a qual também percebemos de mudança em seu comportamento. De alguma forma, você parecia sentir todas as nossas emoções e sentimentos, principalmente o medo em uma vantagem maior. Entretanto, você conseguia extrair aquele medo para você.
Extrair o medo te deixa forte.
Você transforma a culpa em medo.
E prefere sentir o medo porque já é familiarizada com ele.
Eu e Charles decidimos contatar Lewis e doutor Owens, um amigo próximo que acompanhou a abertura do portal. Em 1972, depois de muitos anos, fomos até o laboratório te examinar. Quando mencionamos sobre suas habilidades, você não sabia responder, mas percebemos que você ficava nervosa com essas perguntas. Você era somente uma criança de cinco anos, e entendemos essa informação.
Como estávamos desesperados, todos acabamos chegando a conclusão que apagar as suas memórias seria a opção viável. Porém, quando te deixamos na ala infantil para que pudéssemos acertar os últimos detalhes dessa escola maluca, algo aconteceu.
Um cientista, chamado Brenner, que tentava constantemente concorrer comigo a respeito de conquistas no laboratório, estava ouvindo nossa conversa e decidiu que te sequestraria para fazer experimentos com você. Seu ajudante, Peter, entrou em plano e te puxou para outra sala, mas como você sempre sabe o que está acontecendo, acabou percebendo muito rapidamente que aquelas pessoas eram más e queriam coisas ruins com você.
Peter tentou te apagar com uma injeção, mas naquele momento, você o fez parar apenas com uma frase.
"Você não vai encostar em mim novamente".
Peter ficou travado no lugar, surpreso e também muito chocado quando uma criança de cinco anos o enfrentou. Outros guardas tentaram te segurar, juntamente com doutor Brenner, mas naquele instante você reagiu em meio à suas emoções.
Você aparentemente misturou todas as suas habilidades ao mesmo tempo. O céu de Hawkins ficou em extrema escuridão, suas mãos atingiram uma coloração roxa, e seu cabelo estava dividido em mechas azuis e vermelhas. Além disso tudo, seu olho esquerdo ficou branco, passando a sangrar, enquanto o direito atingia uma cor roxa.
Através das gravações da camera de segurança, conseguimos identificar cerca de três ações ao mesmo tempo.
No grito para que todos ficassem longe, percebemos uma certa onda, a qual não sabíamos se era da telecinese, ou da persuasão. Todos voaram para longe, caindo desacordados.
As últimas memórias de todos presentes naquela sala foram apagadas, incluindo a sua. Todos os acontecimentos daquele dia sequer aconteceram na cabeça deles, e na sua cabeça, você conseguiu apagar perfeitamente somente as memórias onde você conseguiu usar suas habilidades.
Por conta desse soro, Skylar, tínhamos uma certa ligação com esse mundo inabitado. Tanto eu, quanto você. Entretanto, você sabia se comunicar com aquela coisa.
Mas após esse incidente, é como se sua ligação com aquele monstro sequer tivesse existido.
Eu sentia ele bravo por isso, porque acredito que você era a pessoa que ele escolheu para fazer algo que não identificamos. Por anos, eu sentia ele extremamente raivoso com essa situação, e eu pensava que quando ele tivesse a oportunidade de vir para o mundo real, ele com certeza me mataria.
Charles e eu concordamos que após o acidente, iríamos fingir o máximo de coisas possível. Aproveitamos que muitas coisas de sua mente foram apagadas, e aos poucos fomos inserindo informações para que você pudesse ter uma vivência comum em Hawkins.
Suas habilidades não sumiram, elas ainda apareciam, mas dessa vez você não sabia que aquilo era um poder.
A manipulação de memórias constantemente te deixava confusa, porque você ainda conseguia pegar a memória de outras pessoas e moldá-las para você, só que ao contrário de antigamente, você fazia isso sem perceber.
Por isso que você sempre foi boa em tudo.
Você sempre soube dirigir.
Você sempre soube desmontar e montar um computador.
Você sempre soube lidar com a tecnologia.
Um manipulador de memória consegue memorizar tudo instantaneamente.
Achávamos que nunca mais teríamos contato com aquela criatura, ou com aquele mundo novamente. Mas, 1983 chegou e aquele menino chamado Will Byers desapareceu. Nessa mesma noite, seu pai conseguiu avistar uma daquelas criaturas a qual quase o matou, só que era uma outra espécie.
Nós dois tentamos deixar a cidade para que você tivesse o mínimo de contato possível com aquelas coisas, mas nosso visto foi negado porque tanto eu, quanto Charles, fizemos coisa sem autorização do governo. Nossa punição foi continuar em Hawkins até o fim de nossas vidas.
Eu me lembro que você percebeu que ficamos superprotetores com você nessa época, e ao menos te deixavamos sair de casa. Nós tínhamos medo daquela coisa te querer, ou tentar vir atrás de você para estabelecer aquela conexão que tínhamos.
O fato de você ter Chrissy como sua melhor amiga, apenas ajudou a esconder nossos atos estranhos. Chrissy surgiu em um momento perfeito, e em 1983 vocês ficaram muito mais próximas.
Dias depois, em uma determinada noite, eu acabei sentindo uma dor absurda. Uma dor muito forte. Eu percebi que você sentiu desconforto também, entretanto não passava de um desconforto.
Aquilo era estranho, e eu logo montei uma teoria.
Aquela fumaça arenosa que corria no meu, e seu sangue, na verdade parecia ser uma espécie de partícula única. Se machucarmos aquele monstro, aquela fumaça, eu e você sentiriamos. A diferença é que você é resistente.
Eu não sou.
Então, se aquilo um dia morresse, eu tinha certeza que morreria junto.
No ano seguinte, em 1984, senti a mesma dor, entretanto de uma forma muito mais absurda a ponto que parei no hospital por não aguentar. Como Charles e eu sabíamos de tal situação, ficamos de olho em como você ia reagir.
Você ficou normal.
Você sentiu desconforto, mas não a dor que eu sentia.
Logo desconfiamos de mais outra coisa.
Manipulação da dor.
Um manipulador da dor, pega forças através da dor. Isso também explica porque você sempre sentiu um desconforto ao invés da dor. As partículas do soro podem sim ter criado uma certa resistência em você, mas como sua ligação com o mundo inabitado ainda existia, mesmo após o acidente, percebemos que a resistência contra a dor que você criou, funcionava com esse mundo em específico.
Eu percebi que à medida que os meses passavam, minha hora estava chegando. Era notável que haviam outras pessoas impedindo a vinda dessas criaturas do outro mundo para o nosso. Eu sentia aquela fumaça arenosa completamente irritada, mesmo que não fosse possível entendê-la. Além dela, eu sentia a dor de quando atacavam aquelas criaturas.
Eu fazia parte de uma mente coletiva.
Você também, mas você tinha resistência a ela.
Em 1985, nesse ano atual, eu comecei a notar algo estranho. Eu senti aquela fumaça arenosa cada vez mais perto de mim, e aquilo indicava o que eu já estava esperando há anos.
Eu iria morrer.
Eu vou morrer.
Eu passei a semana inteira atrás de vocês dois, e felizmente eu consegui ter a melhor e última semana da minha vida com as duas pessoas que eu mais amo nesse mundo. Você sempre foi o motivo da minha felicidade Skylar. Desde que você nasceu, até quando eu julgo ser o último dia da minha vida.
Você foi a luz que eu estava procurando quando a escuridão pairava na minha mente.
Você me salvou quando eu menos percebi.
Você foi sempre o motivo de eu continuar.
Skylar significa "sábia" e "intelectual". Coloquei esse nome porque você é as duas coisas.
Eu não sei quando você vai achar essa carta, mas eu creio que você estava buscando por respostas e provavelmente as encontrou. Perdão esconder tudo isso de você. Naquela época eu julguei ser o certo, mas não sei mais se realmente era.
Se algum dia você estiver diante do mundo inabitado, não faça a mesma besteira que eu e seu pai.
Não entre lá.
Eu tenho uma teoria que se você estiver lá, você recupera a conexão que perdeu anos atrás. Você vai conseguir ouvir tudo o que aquele monstro disser para você.
Eu não sei como eles vão te considerar lá naquele lugar.
Mas só pelo fato de você ter a manipulação de diversas coisas, isso já significa que ele pode te ver com outros olhos.
Caso queira respostas mais óbvias a respeito das suas habilidades, Lewis tem uma pasta cheia de documentos com poderes que ele acha que você tem.
Ele mora próximo ao centro, casa verde e cercada de orquídeas. Número 612.
Caso a mulher dele seja difícil e não queira te deixar falar com ele, seja persuasiva. Vanessa não gosta de mim porque tenho sangue soviético correndo em minhas veias. E tem medo de você porque ela desconfia do que você é capaz.
Você é forte, Skylar.
Você é mais forte do que imagina.
Absorva o medo.
Absorva a dor.
Eu te amo muito, meu amor. Eu espero que você fique bem. Você é a minha menininha, você sabe se virar, eu sei que sabe.
Eu espero ter você como filha novamente em outra vida.
Com amor, Natasha.
04 de julho de 1985."
Oie, se você chegou até aqui não esqueça de deixar um votinho e um comentário. Isso me motiva muito :)
Vocês não tem noção do quão chateada eu fiquei com o Wattpad no domingo. Eu havia postado o capítulo no mesmo horário que costumo postar, 15h da tarde, e não foi entregue para ninguém. Fiquei bem triste porque aquele era um capítulo importante, e por conta dessa putaria muita gente não viu e além disso os comentários despencaram. Tô puta de ódio, mas não tem o que fazer, já passou.
Enfim, queria avisar que entramos infelizmente na pré reta final da fanfic. Eu vou me despedir dela em breve porque restam somente 3 capítulos para eu terminar de escrever minha bebêzinha. MAS NÃO SURTEM, porque vocês ainda terão 11 capítulos para surtar. É reta final mas ainda tem muita desgraça para acontecer, aí que delícia.
E SIMMMM, É INSPIRADO EM LUCY!!
E como estou adiantada, já aviso que a partir de semana que vem terá atualização tripla fixa. Então venho pedir para que votem em quais dias devem ocorrer FIXAMENTE.
1 ─── TERÇA, QUINTA E DOMINGO ÀS 15H.
2 ─── SEGUNDA, QUINTA E DOMINGO ÀS 15H.
Vocês sabem que a personalidade da Skylar é bem forte, não é? Mas perceberam que quando criança era MUITO MAIS FORTE? Isso tem explicação...
Finalizando essa dissertação somente avisando que amanhã, sexta feira 19, postarei minha fanfic do Will Byers com oc masculino. Adivinha quem vai ser o namoradinho dele? O THEODORE ABRAHAM!!! Nessa fanfic é um universo paralelo onde o Théo existiu e a família Abraham não é uma desgraça total. Nossa bebê Skylar também vai aparecer e ela vai namorar com Steve lá também <333
Beijinhos até domingo!!
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