𝐏𝐫𝐨́𝐥𝐨𝐠𝐨

Nikitta Sokolovski

Quando descobri meus poderes, eu tinha dois anos. E nunca incendiei um prédio inteiro por causa de uma bola de futebol. Mas Andrey, meu irmão mais novo, parece não ter aprendido o suficiente com a vovó antes que ela partisse e deixasse seu legado para trás. Não posso culpá-lo por isso considerando o fato de que eu deveria estar de olho nele aquela manhã.

Mas, do que adiantaria reclamar quando já estamos na estrada outra vez? Nada. Já tem alguns anos que fugimos de caçadores de recompensas que querem as cabeças dos descendentes Sokolovski. Em 1979, quando Andrey e eu estávamos dormindo na casa de amigos confiáveis, papai me disse que precisaria resolver algumas coisas, e que se caso não conseguisse nos buscar à tempo para o almoço, eu deveria cuidar do meu irmão como ele me ensinou. Eu deveria saber que aquela seria a última vez que o veria com vida.

O carro estaciona em frente a uma casa padrão dos Estados Unidos. A placa de vendida em frente ao terreno, a grama verdinha e a casa com cores amarelo pastel e branco. Tia Anastasya bate a porta do carro, suspirando.

— vamos lá, meninos, dêem uma boa olhada nesta belezura. – ergue os braços, contemplando nossa nova moradia. — ela não é linda?

Tia Anastasya é irmã mais nova do meu pai, a única a conseguir fugir dos caçadores. Papai morreu por ela, é o que os irmãos mais velho fazem. Ela também é a única familiar que nos restou, somos tudo para ela. Então, quando se deu conta que precisaria criar e proteger duas crianças de quinze e nove anos, não hesitou em nos tirar do país e iniciar uma nova vida com a gente.

A casa era realmente muito bonita, e com certeza a maior que já tivemos desde a Rússia. Meu irmão desceu, me obrigando a fazer o mesmo. Ele para ao lado de tia Ana, sorrindo.

— tá brincando? Ela é perfeita. – disse ele, muito contente. Andrey mal se recorda da nossa vida antiga, nem deve se lembrar que a semelhança entre essa e a nossa primeira casa nos Estados Unidos, com a família inteira, é enorme.

— fez uma boa escolha desta vez, em. – comento, também observando o lugar. — um bom bairro, boa casa, bom quintal e sem prédios para o Drey incendiar.

O garoto rola os olhos e tia Anastasya reprime o riso, se lembrando que aqui ela é uma autoridade.

— Nikitta, não seja chata com o seu irmão. Vem, vamos entrar para que escolham seus quartos. Vou logo avisando, todos possuem o mesmo tamanho.

Antes que nossa tia termine sua frase, Andrey grita nossa palavra codificada para "correr" ou "corrida" neste caso. O garoto corre na frente, me tendo logo ao seu encalço. Não posso deixá-lo com a melhor vista, eu me mataria. Andrey puxa a maçaneta, adentrando a casa americana. Deslizo no piso amadeirado, o puxando pela camisa quando seus pés tocaram o primeiro degrau da escadaria cor de carvalho branco. Ele cai em meus pés e eu passo em sua frente, correndo escada a cima enquanto ele gargalha, gritando que foi trapaça. Corro para o melhor quarto, empurrando a porta com força e o adentrando, ofegante.

Levanto os braços para cima, os punhos fechados, dei um sorriso vitorioso.

eu sou a trapaça, bruxinho. – me viro, apreciando a bela vista dali. A janela quadriculada que mirava para a casa ao lado, mas que também me permitiria subir no telhado e beber quantas tequilas quisesse enquanto encarava o brilho das estrelas. — pode ficar com o quarto da frente, eu não me importo.

— ele é bem mais bonito mesmo. Fique com esse, eu não o queria. – ele berra, adentrando o outro quarto. — Espero que seu quarto seja assombrado.

— maldições sempre voltam para o que as lançou, Drey. Deveria tomar cuidado, eu não gostaria de acordar no meio da noite com os seus berros porque se assustou com algo dentro do guarda-roupas.

E para o meu azar, titia aparece em minha porta, me fitando com os olhos. Sorrio travessa.

— parem de se atormentar. O caminhão chegou, vão pelo ou menos supervisionar o trabalho.

Minha relação com Andrey não era das melhores, mas a gente realmente se amava. Podíamos brigar o dia inteiro, mas eu o resgataria se ele berrasse durante a noite. Eu e meu pai temos uma semelhança muito grande, mas ao contrário dele eu não morreria pelo Drey. Mataria por ele. Eu vivo por ele.

E se observarmos direito, isto é uma enorme prova de amor.

[....]

O sol estava prestes a sumir e nossos móveis já estavam em seus devidos lugares. Caixas por toda a casa, malas e muita bagunça. Ah, a magia da mudança. Suspiro ao voltar para buscar a última caixa que me pertencia na varanda, observando a movimentação tranquila do bairro. Uma garotinha, que agora não era tão pequena, de cabelos avermelhados e sardas no rosto me chamou a atenção. Deixo que o sorriso em meu rosto se alargue enquanto ainda tinha a caixa em minhas mãos. Seus olhos me encontram e a euforia em suas ações são muito perceptíveis.

— Andrey, você não vai acreditar. – chamei, um tom alto o suficiente para que ele pudesse me ouvir da cozinha.

Talvez Andrey tenha me respondido, mas toda a minha atenção foi roubada quando o carro barulhento passou na minha rua e estacionou na casa em frente a nossa. E eu conheço bem este carro. Meus olhos quase saltam para fora quando vejo ele abrir a porta e descer. Usava a mesma jaqueta jeans de sempre, o jeans surrado e o mesmo corte de cabelo. Não tinha corte de cabelo.

Seu nome escapou de meus lábios, assim como Andrey chamou pela melhor amiga. O chamado do meu irmão atrai a atenção de Billy, e ele me encherga. Tirou os óculos escuros,  tendo a mesma reação.

— NIKKI! – sua voz grave soou. Billy veio em passos rápidos, atravessando a rua sem ao menos olhar para os lados. Ri, deixando a caixa de lado e indo de encontro ao meu melhor amigo. Ele pula a cerca branca, se apressando quando parece perceber a verdade. Nossos corpos se chocam em um abraço nostálgico. — puta merda, Nikitta.

Dou risada, o coração pulsando forte enquanto o dele parece estar da mesma maneira. William Hargrove, o único que não me considerou estranha em todos os meus anos na estrada. Talvez porque ele seja mais estranho do que qualquer outra pessoa neste mundo. Eu falo sério, esse garoto é todo fudido.

— sabe que o portão estava aberto, não é? – questiono, ainda o abraçando.

— eu gosto de me aventurar. – responde.

Nos soltamos, então ele segura meu rosto entre suas mãos, dando uma boa risada.

— quais as chances que tínhamos de nos encontrar nesse fim de mundo?

A risada sai livre e o segundo abraço vem, apenas para ter certeza de que aquilo não era apenas mais um cenário falso da minha cabeça.

— qual é, você não sabe? Eu sinto o cheiro de garotos malvados e apareço para puni-los sempre que posso. – dou de ombros, visualizando Max e meu irmão ao lado de fora da cerca, sentados na calçada. — quando o dever nos chama, não dá para recusar.

Só então percebo o boné em sua cabeça. Estreito o olhar, tentando decifrar as palavras escritas ali.

— então...seremos vizinhos outra vez? – ele encurta a conversa, conseguindo tirar a atenção do boné.

Sorrio, enfiando as mãos no bolso traseiro da jeans clara.

— sorte ou azar? Destino ou perseguição? Nós nunca saberemos. – brinco, me inclinando para trás. — não sabia que tinham se mudado.

— e eu pensei que você já tinha morrido. – deu de ombros, me arrancando uma boa risada. — Suzan quis assim, então nós viemos. — o que trouxe uma família procurada para este fim de mundo?

Faço careta, pois sei do histórico familiar de meu amigo. Billy sabe do meu segredinho obscuro e familiar, descobriu por acaso em um dos nossos passeios noturnos, de bar em bar. Devo dizer, uma bruxa alcoolizada não toma boas decisões.

— meu irmão ferrou com a gente em Massachusetts. Outro dos surtos de raiva dele. – ele torce o lábio, fazendo outra careta. — deve ter aprendido com você.

— opa, me tira dessa. Eu odeio pirralhos e você sabe.

Meu olhar se franze sobre ele. Conheci Billy quando comecei a trabalhar de free-lancer na intenção de conseguir uma grana extra para as dispesas dentro de casa, e também para os meus gastos pessoais. O meu primeiro trabalho foi como babá para uma Mayfield, que curiosamente era da mesma idade do meu irmão e também nossa vizinha. Felizmente ele nunca foi um babaca comigo. Mas chegou a pensar que eu era lésbica por não o querer.

— prometeu que seria mais gentil com ela. – arqueio as sobrancelhas. — Billy, se você andou traumatizando a minha garotinha, eu te mato. 

— não traumatizei. Mas, eu posso sim ter sido meio Billy com ela.

— e com "meio Billy" você quer dizer chato, egoísta, egocêntrico e inconveniente? – ele não responde, o que já me é uma boa resposta. — foi o que pensei.

— sei que prometi, Nikki, maa temos que concordar que a mãe dela nos obrigar a se mudar da Califórnia 'pra Hawkins foi uma grande sacanagem.

— podemos travar uma briga aqui e agora e eu citaria mil e um motivos para você parar de odiar a sua irmã, mas nós dois sabemos que não seria um tempo gasto com sabedoria. Então, o que eu vou fazer é avisá-lo que, se caso eu souber que anda perturbando o juízo da garota, eu te transformo em um sapo verde e te coloco dentro de um aquário na minha escrivaninha.

Pelo tom de voz usado por mim, Billy sabia bem que eu não estava brincando. Por mais que eu nunca tenha transformado gente em animais, e também não faço a menor ideia de que isso seja possível ou não, Nikitta Sokolovski nunca brinca em serviço.

Max agarra minha cintura antes mesmo dele me responder e eu sorrio com seu ato repentino. Max é uma garota importante para mim, e eu faria loucuras para protegê-la de qualquer ser, seja ele humano ou não.

— que Deus ajude esta cidadezinha. – ouvi minha tia dizer na varanda de casa.

A verdade é que, onde tem Sokolovski, Hargrove e Mayfield, nunca haveria paz. Nós somos o próprio caos.

























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001: hey, lindinhos, it's me, Malu💋 trazendo a vocês mais um novo amor que me pertence.

Game Over é um misto de sentimentos pra mim, e eu já tenho pensado nessa fic há muito tempo, mas, hoje decidi publicá-la. Tudo nela já está decidido e é incrivelmente lindo e tenebroso.

Bem-vindos, acomodem-se e fiquem muito confortáveis, pois estamos iniciando uma nova saga.

Beijinhos da Malu!!!!💋

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