Prólogo

Suguru fechou os olhos e respirou profundamente, sentindo a sua cabeça dar pontadas em sua nuca, enquanto uma pressão se alastrava por sua tempora, o fazendo torcer para que aquilo fosse no mínimo um sintoma de um aneurisma. Porque cair duro naquele chão era muito melhor do que ter de lidar com a situação que se formava ao seu redor naquele momento.
Ele levou o copo com whisky até a boca e ingeriu dois goles bem generosos, antes de voltar a abrir suas pálpebras e encarar a mulher de longos cabelos vermelhos sentada ao seu lado.
Seu olhar o traiu, fazendo com que ele encarasse o enorme decote dela. Não de forma maliciosa, muito pelo contrário, aquilo era ridículo. Ela havia enfiado seu par de seios grandes em uma pequena peça do que parecia ser um vestido, se é que aquele cone ao redor da cintura dela pudesse ser chamado de vestido. E os peitos dela estavam praticamente saltando pra fora.
Ele a viu sorrir de forma sugestiva. Provavelmente achando que já o tivesse comprado com seu corpo.
Mas se ela soubesse o que se passava na mente de Geto naquele momento, ela nem estaria mais sentada ali. Provavelmente estaria trancada em uma das cabines do banheiro borrando toda sua maquiagem em lágrimas.
Mas ele tinha prometido ao seu melhor amigo que iria se comportar. E que não faria mais ninguém ir embora daquele cassino com uma carta de indicação para um psiquiatra. Não sem antes gastar todo o dinheiro nos jogos presentes do local.
— Então, grandão. — Ele segurou o ímpeto de revirar os olhos ao ouvir aquele apelido. Fora a forma como a ruiva forçava a voz para soar o mais sensual possível. Se ela fizesse isso por mais um período de tempo, ele poderia jurar que ela teria um dano severo em suas cordas vocais. — Do que você gosta?
Do que ele gostava? Que tipo de pergunta era aquela?
Geto parou para pensar em todas as coisas que ele apreciava em sua vida. Ele não tinha bem uma lista grande, tudo se resumia em apostas, carros, bebidas, pintura e... Enquanto ele refletia em uma forma melhor de responder sua companhia, seu olhar o traiu, se desviando para o outro lado do local, na direção das mesas de apostas. Mesmo estando há mais de quinhentos metros de distância e com diversas pessoas trafegando pra lá e pra cá. Seu olhar ainda encontrou o conjunto longo de cabelos platinados, tão brancos como a neve. Isso, neve, ele amava o clima gelado e quando estava nevando. Mas acima de qualquer coisa, ele também amava a dona daqueles cabelos cor de neve, que estava concentrada em mais uma de suas apostas. Provavelmente roubando mais um pobre coitado.
O simples pensamento de saber que ela estava faturando dinheiro fazendo algo no qual era a melhor, o fez sorrir de forma involuntária. Porque ele sabia que no segundo que aquele jogo terminasse, ela estaria sorrindo. Aquele largo sorriso com dentes brancos perfeitamente alinhados, junto daquele olhar azulado e estreito de uma pequena felina inofensiva. Uma falsa ingenuidade a qual era sua principal característica.
— Gosto de neve. — Geto se viu respondendo depois de longos segundos, sem realmente se importar em encarar a ruiva.
— Neve? Isso é ridículo. Quem gosta de frio? Não dá para colocar um vestido decente quando se está em climas assim.
Suguru novamente teve de resistir ao ímpeto de dar uma resposta ríspida nela. E dizer que a mulher nem ao menos sabia o que era decência e que o frio provavelmente seria uma boa solução para ela colocar uma roupa mais discreta, que talvez a deixasse atraente.
Mas ele se limitou a beber mais um gole de seu whisky e acenar de forma robótica.
Começando a se questionar em que momento da noite ele havia terminado naquela situação? Se lembrava só de ter sentado de frente para o balcão de bebidas, disposto a encher a cara até que o horário de fechar o cassino chegasse. Mas aquela ruiva havia surgido de não sei onde, quase esfregando os seios na cara dele e puxando um assunto ao qual ele não estava nem um pouco interessado.
— O que achar de ir jogar um pouco? — Ele tentou sugerir, na esperança de conseguir se livrar dela.
— Não gosto de jogos.
— Então o que está fazendo em um cassino como esse?
— Sei lá. — Ela balançou os ombros, se inclinando na direção dele enquanto abria um largo sorriso. — Talvez, buscando por um homem grande e atraente como você para passar a noite.
A mão dela pousou sobre o peitoral de Suguru, começando a descer pelo abdômen dele em direção a sua calça. Mas antes que a mesma alcançasse seu objetivo, ele agarrou o pulso dela, pressionando seus dedos com força considerável ao redor da pele dela.
A ruiva o encarou assustada, vendo a expressão do moreno se contorcer numa careta de desgosto.
— Lamento, mas eu não estou disponível.
Ele a liberou do aperto, vendo a moça piscar atônita pra ele, se mantendo na mesma posição como se estivesse processando aquele fora.
— O que? Você está me dispensando?
— Eu sou casado, caso não tenha notado. — Suguru pousou a mão com a aliança prateada ao redor do dedo anelar.
Ela encarou o objeto brilhantes como se fosse a primeira vez que o estivesse vendo. Depois voltou seus olhos castanhos para o rosto dele.
— Isso não me parece uma aliança de casamento.
— Não importa, ainda é um anel de compromisso.
— Você poderia ser mais criativo ao dispensar uma mulher. — Ele a viu se levantar rapidamente, agora, quase gritando com ele em sua voz original. — Não passa de um babaca.
— Você praticamente esfrega esses peitos cheios de silicone na minha cara e eu que sou o babaca? — O riso escapou por seus lábios, foi involuntário. Enquanto via a expressão da mulher se contorcer no mais puro ódio.
— Vá pro inferno! — Ela ralhou, dando as costas pra ele, saindo em passos firmes.
Suguru não pode deixar de apreciar a sensação de alívio que dominou todo seu corpo no instante em que se livrou daquela mulher. Era como se estivesse carregando um enorme fardo ter de fingir ser simpático com qualquer um que chegasse perto dele, por isso odiava tanto se socializar e preferia se isolar nos cantos do cassino.
Sorveu o restante de seu whisky e ergueu o copo vazio apontando para que o bartender o enchesse novamente. Algo que o rapaz de mechas róseas fez rapidamente, trazendo a garrafa em sua mão e enchendo o copo quase até a borda. Se afastando logo em seguida para atender outros clientes.
— Eu achei que tínhamos um acordo. — A voz de seu melhor amigo alcançou seus ouvidos, antes que Geto pudesse se virar para ver o platinado tomar o antigo lugar da mulher. — Você me prometeu que trataria bem os nossos clientes.
— Ela não era uma cliente. Só queria um cara rico pra passar a noite e provavelmente dar algum golpe na carteira.
— Entendo. — Um sorrisinho emoldurou os lábios finos de Satoru, enquanto o mesmo deslizava no assento de forma desleixada. — Então, ela descobriu que você é "casado"? — Ele fez aspas no ar, sem esconder o tom de escárnio.
— Elas nunca reparam no anel até que eu fale dele. Um bando de oferecidas.
Satoru riu, mesmo que não soasse nem um pouco surpreso com a resposta do anime. Ele ainda riu de forma sincera.
— Quando você vai tirar isso? — Suguru o encarou descrente, as íris azuis de Satoru o encararam de volta com certa firmeza, arqueando suas sobrancelhas claras, como se destacasse algo óbvio. — Já tem cinco anos que vocês terminaram, você acha mesmo que isso ainda tem salvação?
— Nós não terminamos, apenas demos um tempo.
— Suguru, eu estava lá quando você terminou com a minha irmã. Eu não sei exatamente que palavras você utilizou, mas sei que a deixou arrasada. E que agora ela te odeia. E sinceramente, às vezes eu também te odeio por tê-la feito sofrer num momento tão delicado. Mas isso é algo entre vocês e eu não vou me meter. Mas a Lilly já seguiu a vida dela. Quando você vai seguir a sua?
— Já estou seguindo. — Geto mostrou seu copo, antes de virar o whisky novo em sua boca, agora, ingerindo metade do copo de uma vez só. Já fazia tanto tempo que ele mantinha essa rotina de bebedeiras noturnas, que mal sentia o teor do álcool, por mais forte que ele fosse. — Estou perfeitamente bem, não tem com o que se preocupar.
— É exatamente isso que me preocupa.
Um grito fez com que ambos os amigos desviassem os olhos um do outro para olharem na direção das mesas de jogos. Havia um homem em pé, gritando de forma histérica enquanto apontava o dedo na direção da mulher de mechas brancas.
Foi quase instintivo. Em um instante Geto estava sentado de forma desleixada na cadeira e no outro, ele já caminhava em passos largos em direção ao centro de jogos, aos poucos começando a separar o som da música do ambiente, com os gritos cheios de palavrões que o homem direcionava a Princesa de Naipes.
— Você não passa de uma vagabunda, mentirosa e golpista. Todos aqui estão de provas que você roubou a partida inteira.
Enquanto o homem gritava apontando para todos os outros jogadores, Sugru pode ver que ninguém se moveu, nem ao menos fez menção em concordar com o indivíduo.
Lilly tinha os braços cruzados abaixo do busto coberto e uma expressão de indiferença quanto a tudo aquilo. Era como se nada no mundo a abalasse, e Geto as conhecia melhor do que ninguém, para saber que a mulher realmente não estava nem um pouco preocupada com aquele escândalo todo.
— Já terminou seu showzinho? — A Gojo mais nova perguntou quando o homem parou para respirar.
Geto subiu os dois degraus de escada em segundos já estava ao lado da platinada, parado como um guarda costas, pousando a mão no quadril para poder sentir o cano de sua arma presentes e ter a certeza de que poderia sacar e atirar a qualquer instante.
Lilly o encarou de canto, torcendo os lábios numa careta de desaprovação.
Era óbvio que ela não o queria ali. Mas querendo ou não, aquele era o trabalho dele. Ao menos, o trabalho que o próprio Suguru havia se prontificado em fazer.
O homem encarou Suguru e então desceu o olhar para o mão dele no quadril. Ele não era burro, sabia que o segundo dono do cassino andaria bem armado e se prontificar em agir. Por isso, ele apenas se limitou a puxar o ar e mais uma vez apontar o indicador na direção da platinada.
— Isso não vai ficar assim, você ainda vai me pagar por essa humilhação. — Destilou a ameaça pouco antes de se virar e sair da sessão de jogos, caminhando em direção a saída do local.
Um silêncio reinou por longos segundos em todas as mesas de jogos ao redor. Lilly pegou um punhado de cartas e passou a embaralhar calmamente, deslizando os dedos nas divisas e deixando as cartas escorrerem em cada brecha que ela abrira.
Haviam mais quatro homens e duas mulheres sentados naquela mesa redonda, ninguém ali parecia incomodado com o que acabara de acontecer, por isso, a Gojo estava espalhando as cartas sobre a mesa, dando início a uma nova aposta, como se em nenhum momento tivesse sido interrompida.
— O que está fazendo aqui? — Suguru levou um tempo para entender que a pergunta dela estava sendo dirigida a si. Ainda mais pelo fato da mulher não o ter encarado em nenhum momento.
— Achei que estava com problemas.
— Meu único problema aqui é você.
Suguru engoliu em seco com a resposta fria e ríspida dela. Era quase como se ele estivesse recebendo o mesmo método que utiliza com os outros, contra si. Mas também não era como se fosse a primeira vez lidando com ela, já estava mais que acostumado com os cortes secos e as indiferenças. Por mais que não gostasse.
— Só estou fazendo meu trabalho.
Ele a viu abrir seu leque de cartas na mão e organizar cada uma delas. Queria que a mulher o olhasse nos olhos com aquelas íris tão cristalinas que ele gostava de admirar, mas a mesma não lhe deu esse prazer, mantendo a conversa sem que ambos se encarassem.
— Seu único trabalho é gerenciar esse cassino com meu irmão, algo ao qual você anda fazendo muito porcamente nos últimos tempos. Inclusive, eu já tenho seguranças muito mais competentes que você espalhados pelas mesas. Acha mesmo que sou idiota de provocar alguém sem estar precavida?
Suguru desviou os olhos dela para observar as outras mesas de jogos, ele não tinha reparado antes. Mas em cada uma delas havia alguém conhecido. Yuta estava em uma mesa, Choso em outra, até mesmo Nanami também estava jogando em uma outra mesa mais distante.
Realmente ela não estava sozinha. Mas também não era como se isso fosse ser o suficiente para fazer Geto desistir de ir ao encontro dela em qualquer mínima oportunidade que tivesse.
— Ele ameaçou você. — O maior ressaltou, se lembrando perfeitamente das palavras daquele indivíduo e sentindo vontade de ir atrás dele e quebrar sua cara só pelo atrevimento de falar naquele tom com ela.
— Toji já deve ter dado um jeito nele nesse exato momento.
Um jeito?
O que Toji tinha a ver com aquilo? Desde quando eles matavam alguém por uma simples ameaça? Geralmente davam sustos, ou apenas uma surra para aprenderem.
A platinada ergueu a cabeça para encará-lo. E Suguru teve de engolir em seco novamente, percebendo que o par de cristais azuis não tinha mais o mesmo calor de antes, era algo frio, tão gelado e claro quanto a neve no inverno.
Em qual momento ela havia se tornado alguém tão desconhecido para ele?
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