57. PARAÍSO
Antes de nos juntarmos aos demais no salão em que foi montada a estrutura para a festa, Miranda vai para o meu antigo quarto no rancho com o intuito de alimentar Caeli e June e colocá-los para dormir outra vez. Enquanto isso, porque a minha presença no cômodo foi barrada pela minha sogra megera, fico esperando a minha esposa "se recompor" do lado de fora, como se vê-la alimentar nossos filhos não fosse algo presente na minha rotina diária. Era só o que me faltava!
"Se alguém acabar te vendo com essa cara, vai pensar que se casou por obrigação", Cepheus surge de repente no corredor em que estou, acompanhado de Amelia.
"Não vai demorar muito para a Miranda terminar de amamentar os bebês, Caellum", Mia acrescenta, provavelmente acreditando que essa é a minha razão para a cara feia e não a minha sogra intrometida.
"Eu sei. Está tudo bem", trato de tentar amenizar a minha expressão e substituo minha cara amuada por uma repleta de curiosidade sobre a presença dos dois aqui quando todos estão no andar de baixo, no salão. "Mas o que vocês estão fazendo aqui em cima? Vieram verificar se ainda vamos demorar muito?".
"Na verdade, nós estamos procurando pela Cassie. Você, por acaso, a viu?".
A resposta do meu irmão me pega de surpresa e me faz franzir o cenho em confusão.
"Não. Ela não está lá fora? É um lugar que faria mais sentido".
"A gente sabe, mas o Ren a viu subindo a escada para cá", explica Amelia. "E considerando todo o contexto sobre o tio Jun, ficamos preocupados de que ela estivesse se sentido mal ou algo assim".
"Bem, eu não a vejo desde o altar", respondo, começando a me preocupar.
É de se esperar que Cassiopeia esteja tramando algo, dado o seu histórico. Como ela foi completamente contra a ideia de voltar aqui para o casamento, mas está andando por todo o casarão agora?
Antes que eu possa levantar qualquer hipótese, a porta do quarto é aberta e Miranda sai de dentro dele com a mãe. Seja lá como fizeram para que ela alimentasse os gêmeos estando vestida com o vestido de quinhentos mil dólares e muitas camadas, se eu não soubesse que era o que estava fazendo, jamais desconfiaria, porque Mimi permanece impecável.
"Quanta gente", minha agora esposa diz, estudando as nossas expressões com desconfiança. "Por acaso aconteceu alguma coisa?".
"Nada com que a gente precise se preocupar agora", apresso-me em me colocar ao seu lado, oferecendo-lhe um sorriso nervoso.
Miranda não parece muito convencida – até porque eu sou um ator péssimo –, mas não acho justo que até no nosso casamento ela tenha que se preocupar com as complicações da minha família. Seja lá o que Cassiopeia estiver fazendo, isso pode esperar.
"Você tem certeza disso?" Miranda pergunta, olhando-me com atenção.
Eu assinto.
"Sim. Os gêmeos já dormiram?".
"Como os anjinhos que são".
"Então vamos para a festa agora?" Proponho. "Todos devem estar nos esperando lá embaixo".
"Só se lembre de marcar para virmos olhá-los a cada trinta minutos. Eu não confio totalmente na babá eletrônica".
"Pode deixar", eu respondo, e então me volto para os demais: "vocês vêm conosco?".
Por um momento, penso que meu irmão e minha prima negarão, mas eles assentem em concordância, bem como Juliana.
"Por favor, ajudem-me com o vestido, então", Miranda pede sem qualquer pudor. "Do contrário, vou levar um belo tombo".
Admito que é engraçado ver Cepheus e Mia erguendo a parte de trás da sua saia para que ela possa caminhar, enquanto Mimi ergue a parte da frente. Chego a me arrepender de não estar com o celular para gravar um vídeo, mas logo descubro que esse é apenas o primeiro de uma série de acontecimentos da festa que adoraria ter como registrar.
xXx
Durante a primeira hora no salão, Miranda e eu passamos pela difícil tarefa de cumprimentar a todos os presentes e receber as suas felicitações, o que considero uma cordialidade de extrema chatice. Fora o fato de que, a cada meia hora, um de nós tem que deixar o outro para verificar os gêmeos e voltar para esse martírio acaba sendo uma tarefa duas vezes mais difícil de fidelidade.
A maioria dos convidados são pessoas com as quais nós não temos nenhum vínculo e ter que forçar simpatia é desgastante e faz as bochechas doerem com o peso de um sorriso tão falso. Pergunto-me como serei duque, sendo essa uma das tarefas mais esperadas que eu faça: ser simpático o tempo todo, com todo mundo, não importando muito qual a situação.
De qualquer modo, quando enfim Miranda e eu nos sentamos na mesa designada a nós, é com suspiros de alívio que falamos um para o outro que acabou e conseguimos passar pela parte mais difícil.
"Por favor, pegue para mim a próxima bandeja de doces que passar por nós", Miranda fala, e o que é que ela não me pede sorrindo que eu não faço, mesmo ganhando um olhar fatal dos meus parentes?
Assim que um dos garçons do buffet passa por nós com uma sobremesa de chocolate salpicado de nozes, pego a bandeja de suas mãos, deixando-o com cara de bobo, e coloco na nossa mesa.
"Obrigada!".
Assisto Miranda se esbaldar com satisfação, pensando no quanto ela está linda e me fez ficar com cara de idiota ao longo da cerimônia inteira ao olhá-la.
"Uma parte minha ainda não acredita que a gente se casou", falo em tom de confissão, vendo-a sorrir de modo convencido.
"Logo você se acostuma com a ideia".
Estamos outra vez imersos na nossa bolha e só penso que quero me inclinar sobre a mesa e lamber o chocolate no canto da sua boca, mesmo que isso leve um dos meus avós a desmaiar de tanto desgosto pela falta de etiqueta em público.
Todavia, antes que possa fazer isso, mamãe se aproxima de nós com um sorriso.
"Ainda não consigo acreditar que vocês convenceram a Cassiopeia a se apresentar com o violoncelo", mamãe fala, como se esse fosse o grande acontecimento do dia e não o meu casamento. "Ela e Timotheo já vão se preparar para tocar a valsa dos noivos. Preparem-se para entrar no meio do salão".
Mamãe se afasta depois disso e acabo rindo quando vejo Miranda engolir o chocolate a seco depois de ouvir isso.
"Tinha esquecido completamente de mais essa humilhação", ela fala, olhando-me de modo atônito.
"Vai dar tudo certo, Mimi. A valsa moderna é bem fácil. Você só precisa me seguir".
Minha esposa não parece muito convencida disso, mas ela não fala mais nada. Até porque não há tempo para hesitações de sua parte.
Noto a sumida Cassiopeia aparecer com o case do violoncelo nas costas e fico olhando ela seguir para a lateral do salão, onde um piano de cauda foi colocado para Timotheo. Assim que a minha irmã começa a posicionar seu banquinho e o instrumento, Theo segue até o piano e os vejo trocarem farpas um com o outro. Porém, felizmente, seja lá o que dizem, é totalmente ofuscado por Tobias com uma taça de champanhe em uma mão e um microfone na outra. Uma combinação que prevê desastres:
"Boa noite a todos", ele diz com um largo sorriso. "Para quem não me conhece, o que eu acho difícil, meu nome é Tobias Durkheim e fui convidado para falar algumas palavras aos noivos. Espero que estejam à vontade e se divertindo com o momento de felicidade compartilhada. É sempre um prazer para mim ver tantos rostos conhecidos expressando uma enorme felicidade com a máxima celebração do amor, não é, Lorde Maximoff?" Ele faz com que todos olhemos para meu avô, que está sentando em uma das mesas da frente do salão com vovó, tia Irene e o rei. Diante da afronta, quase vejo uma veia na testa de Patrick saltando, e admiro Tobias por sua falta de noção. "É tanta alegria que milorde nem tem palavras em nosso vocabulário para se expressar".
Algumas pessoas riem, o que me faz pensar que, em uma realidade alternativa em que Tobias não é filho de George Durkheim, meu amigo deve ser comediante de Stand-Up.
"Deve ter sido por isso que fui o convidado a estar aqui", Tobias continua. "Ou só porque o Caellum, que supostamente é meu melhor amigo, convidou todos os outros do grupo para ser seu padrinho, menos eu".
"Eu falei que ele nunca iria superar isso", Miranda me fala, o que não consigo contestar. Tobias é dramático a esse ponto.
"De qualquer forma", meu amigo diz. "Cabe recordar o quanto Caellum e Miranda foram persistentes para chegar até este momento. Há não muito tempo atrás, o meu amigo era só um admirador distante da garota do cachecol vermelho e, de uma hora para outra, ele surge nos dizendo que vai ser pai e casar com ela. Francamente, eu sou só um telespectador e sofri com tantos acontecimentos. Não consigo conceber a ideia do quanto eles amam um ao outro e passam por cima de tantos obstáculos para ficarem juntos... Merecidamente juntos, pois se amam daqui até a lua e qualquer um pode ver. É por isso que, em nome de todos que lhes querem bem, venho aqui desejar o máximo de felicidade possível nesse novo caminho que trilharão juntos. Viva os noivos!" Tobias ergue a taça de champanhe que vinha segurando, como se propusesse um brinde.
"Viva!".
Pego a mão de Miranda por cima do tampo da mesa enquanto o salão vibra com palmas dos convidados e, assim que o barulho cessa, Tobias conclui:
"Agora, finalizando o momento sentimental, eu convido os noivos em questão para abrirem a pista de dança. Eles são tão especiais que, para a valsa dos noivos, conseguiram juntar sua alteza real, o príncipe Timotheo Greenhunter, e a senhorita Cassiopeia Maximoff, os quais estão responsáveis pela música... que eu espero do fundo do meu coração que não seja mórbida".
Tobias sai de cena e eu fico de pé para conduzir Miranda até o meio do salão, onde um espaço foi deixado por entre as mesas para que pudéssemos dançar.
"Peço desculpas de antemão, se eu pisar nos seus pés", Mimi me diz, ainda nervosa com a ideia de valsar comigo. "Está todo mundo olhando e isso não contribui muito para que eu fique menos nervosa...".
"Está tudo bem", tento acalmá-la com um sorriso.
As luzes laterais do salão são desligadas, de modo a apenas nós dois sermos iluminados no centro. Tomando isso como partida, eu pego a mão esquerda de Miranda e a coloco em meu ombro, depois junto as nossas mãos direitas e, por fim, coloco a minha mão esquerda na sua cintura.
"Olhos nos meus olhos, senhora Maximoff", eu peço.
Antes da música começar, aguardo por qualquer composição clássica clichê que só o gosto musical duvidoso dos padrinhos me faria ouvir. No entanto, quando Timotheo e Cassiopeia começam a tocar juntos, não é uma música de Beethoven, Mozart ou qualquer outro sujeito desse meio... É Bryan Adams. A porra do meu cantor favorito. Mais especificamente, sua música Heaven.
Não poderia haver uma trilha sonora melhor e deixo isso claro ao sorrir plenamente pela primeira vez desde que entramos no salão.
"Agora eu entendi porque a Cassie pegou tanto no pé do Theo para não errar a música", digo para Miranda, sem esconder a minha surpresa. "É o melhor presente de casamento do mundo".
Começo a conduzir minha esposa no básico de dois pés para lá e dois pés para cá enquanto murmuro a letra em seu ouvido, a qual apaixonadamente declara que estar nos braços da pessoa que ama é o paraíso. Exatamente como me sinto quando se trata de Miranda.
Estou tão imerso nas memórias de tudo o que vivemos e na ansiedade do que ainda temos para construir que não noto quando outros casais se juntam a nós até a versão melodramática de uma das minhas músicas favoritas ser encerrada.
"Você também é o próprio paraíso para mim", Miranda sussurra no meu ouvido antes de se afastar e bater palmas com os outros.
As luzes do salão são acesas e noto Cassiopeia e Timotheo meio deslocados com a atenção, o que quase me faz rir.
Felizmente, tal martírio para eles não dura muito. Uma nova música ambiente soa pelo sistema de som e os convidados passam a se dispersar de volta aos seus lugares.
"Viu que os seus pais dançaram juntos?" Miranda me pergunta quando estamos voltando para nossa mesa, deixando-me mais espantado que a surpresa da música.
"O quê?" Procuro por Katherine e Elio pelo centro do salão, como se eles ainda fossem estar dançando, mas só encontro a minha mãe falando com Cassie e Elio próximo da mesa em que está o gigantesco bolo de casamento. "Tem certeza disso?".
"Eu podia estar muito concentrada na tarefa de não pisar nos seus pés ou tropeçar no vestido, mas meus olhos sabem bem o que viram".
E acho que o fato se comprova quando percebo meus avós Maximoff olhando para os dois como se quisessem exterminá-los da face da Terra.
"Não quero cultivar grandes esperanças de que eles vão se acertar", comento ao ocupar meu lugar na mesa, quando enfim a alcançamos.
"A quem você quer enganar?" Miranda rebate, irônica. "Já está cultivando, Caellum".
Abro a boca para protestar, mas, antes que consiga formular algo, Aeryn aparece ao lado de Miranda feito um fantasma.
"A Elisabeth acha que é uma boa hora para você jogar o buquê".
"Eu nem sequer sei onde ele está", somente ao ouvir isso é que Miranda dá por falta do objeto.
"Com a sua mãe, é claro. Vamos?".
Fico olhando a melhor amiga da minha esposa cometer seu sequestro e, quando elas se afastam, é quando Cassiopeia se aproxima.
"Eu posso falar com você um minuto no escritório do papai?".
"Você não vai tentar pegar o buquê?".
A simples cogitação parece insultá-la, porque Cassie franze os lábios em óbvia repulsa.
"Eu prefiro gastar meu tempo com coisas mais frutíferas".
"Nesse caso, espero que essa conversa seja uma explicação sobre o seu sumiço mais cedo".
Se minha fala a pega de surpresa, Cassiopeia não demonstra. Ela fica me olhando até que eu levante e a siga rumo à saída, passando pelo aglomerado de pessoas que se juntaram para tentar pegar o buquê.
Fora do salão, os outros ambientes da casa parecem sem vida. Nós passamos por alguns funcionários avulsos do cerimonial, mas eles não nos dão bola e também fingimos não os notar.
Em completo silêncio, sigo Cassie até o escritório no outro lado do andar térreo, o qual nos saúda com várias lembranças, cheiro de velharia e muita poeira. O escritório era o cômodo favorito do papai e ele poderia ficar enfurnado nele durante horas intermináveis, o que sempre me intrigou. Para o meu eu criança, era o lugar mais chato da casa inteira, sendo uma sala pequena, com as paredes laterais repletas de livros, janelas grandes atrás da mesa de carvalho com cadeiras de escritório e nada mais.
"Por que isso parece tão bagunçado?".
"Porque era aqui que eu estava antes de ir para o salão", Cassie responde, sem cerimônias.
"E eu posso saber o porquê?".
"Foi para isso que eu o trouxe, Caellum", minha irmã soa como se me achasse estúpido por não deduzir que, pela primeira vez na vida, ela vai abrir o jogo comigo sem ser forçada a isso.
Eu acabo revirando os olhos.
"Fale sem rodeios".
"Eu estava procurando por sinais de Stella que pudessem me ajudar a encontrar a sua família em Taiwan. Dado o fato de que achei as cartas no escritório do papai que ficava na casa dos nossos avós, deduzi que haveria muito mais coisas escondida em seu precioso rancho", Cassie fala isso enquanto junta uma pilha de livros no chão e coloca sobre a mesa no centro do cômodo..
"E?".
"Encontrei algumas fotos dos dois, mas nada que fosse me ajudar muito no que eu queria. Todavia, enquanto mexia, acabei encontrando isso aqui", Cassie segue até a estante do lado esquerdo do escritório e puxa um livro específico, de lombada preta e dourada, causando um barulho que, definitivamente, um livro normal não faria.
"É uma alavanca".
Cassie não fala nada a respeito da minha constatação, apenas me mostra: minha irmã empurra uma das cadeiras, puxa o tapete de debaixo dela e revela um compartimento quadrado no chão.
"Como nunca descobrimos isso?" Sinto-me uma criança e me lembro imediatamente da nossa infância em que procurávamos por compartimentos assim no palácio, até que teve um dia em que Kyle trancou Cassie dentro de um deles e o resto disso é história. "Tinha alguma coisa escondida dentro?".
"Uns cadernos", Cassie puxa vários exemplares do mesmo modelo de caderneta com capa de couro marrom. "Dei uma olhada e são diários do papai. O último me fez pensar coisas muito interessantes, porque o último registro foi no dia anterior a sua morte".
"E sobre o que ele escreveu?".
"Você já ouviu falar em Crisântemo Vermelho?".
"Você não está falando da flor, está?".
A cara decepcionada que Cassie faz me revela que não. Com um suspiro um tanto dramático, minha irmã fica de pé com os cadernos nos braços e diz:
"Considerando a sua ignorância, acredito que é cedo demais para compartilhar o que sei", sua declaração, obviamente, me faz fechar a cara em desagrado. "Mas saiba que, se o que tem aqui for o que penso que é, quando eu voltar para Orion, as coisas vão ficar seriamente perigosas, Caellum".
"Do que você está falando?".
"Que é melhor torcer para eu nunca mais voltar", ela me dá um inesperado beijo na bochecha, sendo esse o seu gesto mais fraternal em todos os nossos vinte e dois anos de vida. "Enquanto isso, cuide-se. Vou mandar e-mails de vez em quando e quero que me responda com textos detalhados. Nada de mensagens ou ligações, já passei as mesmas condições para Cepheus e a mamãe".
"Por que de repente parece que você está se despedindo?".
"Porque eu estou", Cassie diz, simplesmente. "Viajarei para Taiwan de madrugada. Eu disse que iria logo após o casamento".
"Ainda assim... Por que tão rápido?" Eu não escondo a minha frustração com os seus planos. "E por que você me trouxe aqui, se não me esclareceria nada, como sempre?".
"Porque você me detestaria ainda mais se eu fosse embora sem falar adeus, que era o meu plano inicial".
Ela é inacreditável, penso, e sem conseguir conter minha reação ao pensamento, bufo com certo sarcasmo.
"Para você seria tão ruim assim ser um pouco mais sentimental?".
"Eu poderia equiparar à morte".
O modo como ela fala, por algum motivo, me faz perder a pose. Ela é mesmo inacreditável.
"Eu ainda acho que você vai se tornar uma manteiga derretida".
"Pare de me desejar o mal. Eu estava cogitando deixar que me abraçasse, mas agora...".
Não permito que ela mude de ideia. Apenas a envolvo com o máximo de força e saudade antecipada que sinto.
"Não faço ideia do que a faz pensar que as coisas ficarão perigosas, mas, se esse é o preço para tê-la de volta, posso pagá-lo. Por favor, não demore para voltar, minha irmã".
Cassiopeia não fala nada, o que deve ver como melhor opção a contrapor o que digo. Só queria que ela fosse um pouco menos teimosa e me dissesse o que se passa por sua cabeça e aceitasse minha ajuda uma vez na vida, mas conheço a irmã que tenho e sei que algo assim não é de seu feitio.
Assim que se dá por satisfeita, Cassie se afasta do abraço e me olha com um sorriso mínimo na boca.
"Volte para o salão", ela me diz. "A essa altura, a Miranda já deve ter notado que você saiu e pode estar preocupada".
"E quanto a você?".
"Vou arrumar tudo isso", ela indica a bagunça ao redor. "E depois vou embora".
"Cas...".
"Só se mantenha longe de problemas, Cal. Está na hora de eu parar de cuidar de você. É um homem casado e crescido o suficiente para ser pai".
"Isso não me faz desejar menos que esteja de volta em breve".
Cassiopeia apenas dá de ombros.
"Prometo responder aos e-mails, está bem? Agora, vá. Até logo, irmãozinho".
A visível contragosto, eu digo:
"Até logo, Cas".
Para minha alegria de quem vai amar tirar sarro deles daqui pra frente, quem pega o buquê é Kyle, o qual nem sequer estava tentando. Todavia, para azar dele e sorte a minha, o meu arremesso foi mais forte do que o pretendido, passou por cima do mar de mulheres se descabelando e aterrissou certinho na cabeça dele. Aeryn não pegou, mas o príncipe sim.
"Agora já sabem, não é? Vão ser os próximos!".
A ideia não parece assustar muito Kyle, mas minha amiga se esquiva e murmura algo sobre sua prioridade ser a carreira acadêmica. Ela só se esquece que, tomando a minha história como exemplo, as imprevisibilidades da vida são infinitas vezes maiores do que os nossos planos. Quem sabe não sai um noivado bem antes do que ela pensa? Eu que não vou colocar a minha mão no fogo.
Ainda assim, deixo os dois quietos após a provocação e volto para a minha mesa apenas para encontrá-la vazia.
Olho ao redor em busca de Caellum, mas meu noivo não está pelo salão e só dá as caras alguns minutos depois, visivelmente cabisbaixo.
"Aconteceu alguma coisa com os gêmeos?" É a primeira coisa que passa pela minha cabeça e que poderia explicar a sua ausência.
"Não, eu estava com a Cassiopeia", ele me diz. "Nós fomos nos despedir".
"Ela já vai?".
"Viaja para Taiwan nessa madrugada, sem data para retorno".
Isso explica muita coisa sobre a sua expressão.
"Ah, Caellum", abraço meu marido a fim de consolá-lo, sabendo que, apesar de não ser a primeira vez que ele fica longe da irmã, a falta de uma data para retorno o angustia profundamente. "Eu sinto muito. Ela não disse o motivo de estar indo embora tão abruptamente?".
"É a Cassiopeia", Cal parece achar que isso explica tudo. "Quando foi que a minha irmã não me deixou no escuro?".
Ele tem um bom ponto.
"O restante da sua família já sabe disso?".
"Acho que ela só avisou ao Cepheus e a mamãe, além de mim. Não é do feitio da Cassie fazer alarde", Caellum se afasta do abraço e tenta sorrir. "De qualquer forma, não é para ficarmos pensando nisso. É o nosso dia".
"Mas eu vou entender se quiser servir o jantar agora, partir o bolo e ir embora mais cedo".
"É por isso que eu casei com você", seu sorriso ganha um pouco de força. "Eu vou aceitar a proposta".
xXx
Nós partimos o bolo e deixamos a festa para os convidados após agradecermos pela presença de todos.
Enquanto eu subo ao andar de cima para trocar o vestido por outro mais simples antes de sairmos, noto Caellum conversar com a mãe e sei que o assunto diz respeito a sua irmã pelas expressões cabisbaixas.
No entanto, não faço perguntas a respeito. Sigo para o quarto com a minha mãe e a deixo me ajudar a tirar a roupa elaborada para colocar a outra.
"Agora é hora de vocês dois acertarem e errarem juntos", mamãe me fala antes de sairmos. "Como prometido, sairei do apartamento de vocês. Por favor, cuide-se, Mimi".
"Obrigada por tudo, mamãe".
Abraço-a com o máximo de força que consigo e acho que só neste momento compreendo o que a nova etapa depois do casamento significa: é esperado de mim um pouco mais de responsabilidade; ser menos garota e um pouco mais mulher, agora mãe e esposa.
Esse foi, definitivamente, um longo ano de viradas.
"Vamos", mamãe quebra o abraço e não consigo evitar um sorriso quando a vejo desviar o olhar para secar as lágrimas do rosto.
Em silêncio, ela pega June em sua cadeirinha e eu a imito ao pegar Caeli antes de segui-la para fora do quarto.
Quando volto a encontrar meu esposo, ele ainda está com a mãe, mas suas expressões são um pouco menos tristes agora.
"Vamos?" Sorrio para Caellum, fingindo não perceber os resquícios da atmosfera pesada entre ele e a duquesa, que sorri para mim.
"É uma pena que não possam ter uma lua de mel", Katherine comenta.
"Faremos isso quando os gêmeos forem um pouco maiores. Não estamos chateados", meu marido responde.
Estamos na sala de entrada do casarão e é nele que nos despedimos de nossos parentes mais próximos antes de seguirmos para o estacionamento.
Apesar de não termos como viajar em lua de mel por causa dos bebês, Caellum e eu estamos radiantes quando entramos em nossa casa com a família completa e podemos nos recolher depois de um exaustivo dia.
Enquanto ele toma banho, eu dou de mamar aos nossos filhos e narro para eles os acontecimentos do dia, mesmo sabendo que não lembrarão de absolutamente nada.
"Mas não se preocupem, Tico e Teco, eu vou lembrar para vocês no futuro".
Coloco June em seu berço e beijo seu rostinho, repetindo o gesto com Caeli.
Assim que entro no quarto, penso que, se Caellum estiver tão cansado quanto eu, ele vai estar dormindo. No entanto, encontro-o muito bem acordado e encarando o teto.
"Esperando por mim?" Chamo a sua atenção e me esgueiro para dentro do cômodo, fechando a porta.
Caellum abre um sorrisinho e se senta.
"Em partes", meu esposo me puxa pela cintura e acabo sentada na cama. "É nossa noite de núpcias, apesar da falta de lua de mel".
"Eu só preciso de um banho".
"Isso é um convite?" O seu olhar muda completamente para um repleto de malícia.
Eu abro um sorrisinho.
"Você não acabou de tomar banho?".
"Eu sempre posso tomar mais um, se for com você".
Não escondo o quanto acho graça disso.
"Ajude-me tirando os grampos do meu cabelo primeiro", fico de costas para Caellum e indico o coque bem elaborado na minha cabeça.
"Deve ter uns cinquenta grampos aí, Miranda", é óbvio que ele reclama.
"Então se apresse, ora".
Não posso ver a sua expressão, mas o que imagino me faz rir conforme Caellum vai puxando os grampos e soltando o meu cabelo.
"Ok, de alguma forma isso é sensual".
"Os homens do século XVII deviam pensar exatamente isso quando viam uma mulher de cabelo solto", não escondo o meu tom de piada.
Mas Caellum não parece se incomodar, porque está concentrado na sua tarefa.
"Ainda está chateado sobre a partida da Cassiopeia?" Resolvo trazer o assunto à tona de novo, visto o fato de que ele ficou inerte na cama até que eu aparecesse.
"Não vamos falar sobre isso agora", Caellum pede, puxando mais um grampo.
Sinto-me contrariada, mas também não vou forçá-lo a algo que não quer, então só murmuro que tudo bem e o deixo mexendo no meu cabelo.
"Pronto, foi o último!" Assim que diz isso, meu esposo fica de pé. "Agora vamos".
"Por que você não me leva?" Abro os braços com um sorriso zombeteiro e o vejo revirar os olhos.
Todavia, Caellum está animado demais com a ideia do banho e acaba simplesmente me pegando nos braços e levando para o banheiro, onde nos despimos e entramos debaixo do chuveiro.
De alguma forma, penso, há uma intimidade muito maior na ideia de tomar banho com alguém do que em fazer sexo.
Mas não que não façamos os dois, é claro.
Assim que saímos do banho, Caellum e eu voltamos aos beijos para o quarto, vestindo apenas roupões.
"Continuo sem conseguir acreditar que nos casamos, sabia?" Ele me pergunta em meio a um beijo.
Eu não o respondo. Uma hora ou outra a ficha cai, assim como eu, quando ele me faz deitar de costas na cama e fica por cima de mim.
"Você estava um noivo de tirar o fôlego mais cedo, naquele smoking. Devia ter me deixado tirá-lo".
"Posso vesti-lo outro dia, se isso significar que estará de noiva de novo".
Seus beijos vagam da minha boca para o pescoço e o colo enquanto os meus dedos afundam em seu cabelo.
Nossos roupões rapidamente se perdem e nossas peles se encontram em uma troca intensa de carícias, calor e muito amor. Agora sem medo ou culpa, da forma mais libertadora possível. Do jeito que deveria ter sido desde o início, quando nos descobrimos apaixonados um pelo outro. Ah, se a vida fosse menos complicada e tivéssemos chegado aqui mais rápido...
Enfim nos braços um do outro, transamos e nos perdemos um no outro até a madrugada, quando, cansados, deito a cabeça no peito de Caellum e o deixo me abraçar pelo resto da noite enquanto admiro os anéis em nossos dedos.
"Por um momento, tive medo daquele maldito cordão arrebentar, sabia?".
Caellum ri.
"Acho que, depois de tudo, se os Ancestrais nos dissessem que não somos um para o outro, iríamos pessoalmente perturbá-los na vida eterna".
"Eu faria questão".
"Ainda bem que não é o caso, então", ele me beija a testa da forma mais terna possível e acaricia meu cabelo repleto de nós, já que não me preocupei em secá-lo e penteá-lo antes de cairmos na cama. "Sou finalmente um lorde com a garota que ele ama em seus braços. Não deixaria nenhuma superstição destruir isso depois de tanto tempo lutando para conquistar meu paraíso particular".
Suas palavras me aquecem o coração e despertam dentro de mim a única resposta possível enquanto olho dentro de seus olhos castanhos dourados, que tanto gosto:
"Eu amo você, Caellum Maximoff".
"Amo você, Miranda Miller".
Feliz Natal <3
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