Capítulo 16 - Especial
Especial - Vou lembrar de você
16
NOVE ANOS
Cheguei em casa saltitante. O meu ônibus escolar sempre me deixa em frente de casa. Abro a porta e dou um grande sorriso.
Vovô!
Fecho a porta e fico parada esperando até que ele acabe de tocar sua melodia com mamãe. Que lindo. Sinto até vontade de chorar.
Quando terminaram, corri até vovô e o abracei.
—Minha pequena! —ele disse carinhosamente me dando um abraço. Sorri.
—Vovôzinho! —exclamo feliz.
—Filha! —minha mãe me chama indignada, mas quando a olho ela tem um olhar divertido— Esqueceu de mim?
—Pare, Louise! —vovô diz soltando uma risada— Deixa a minha neta abraçar o velho aqui.
Apenas ri baixinho e mandei um beijo para mamãe. Ela fingiu que o pegou no ar e pôs sobre seu coração. Sorri.
—Como você está, minha pequena? —vovô pergunta enquanto ainda estou agarrada nele.
—Estou bem. Vocês fizeram uma coisa linda! Podem me ensinar? —pedi, me referindo à música.
Ele arqueou uma sobrancelha com um sorriso.
—Quer aprender a tocar, neta?
—Quero! —eu disse empolgada e mamãe e vovô riram.
—E por quê? —mamãe perguntou.
A imagem de Caleb se acendeu em minha mente como uma fogueira.
Hoje ele respondeu a pergunta que a professora de biologia fez em sala. Ele era o único que sabia. Tão esperto...
Ele também sorriu para Jane King. Eu não gostei muito dessa parte, mas tenho certeza que se eu escrever uma música pra ele, ele também sorrirá para mim.
—Para compor para o garoto mais lindo do mundo. —eu disse com um suspiro apaixonado.
Mamãe e vovô se olharam e começaram a rir. Arregalei os olhos, me sentindo envergonhada. Eu sem querer soltei isso. Que vergonha!
—E quem é esse sujeito? —vovô perguntou sério, mas posso detectar o tom divertido em sua voz— Apenas eu e seu pai podemos ser os homens da sua vida!
—Pai! —minha mãe reclamou. Pulei envergonhada do colo de vovô e corri para os braços de mamãe— Não fala essas coisas para a menina! —ela se virou para mim e me deu um sorriso gentil— Filha, o amor é o sentimento mais lindo do mundo. Que bom que quer transformá-lo em música. A música também é um lindo sentimento.
Sorri com suas palavras. Mamãe é tão poética!
Vovô me pediu para sentar-me em frente ao teclado e me ensinou algumas coisas básicas. Deitei em seu ombro enquanto ele guiava meus dedos pelas teclas.
Papai chegou do trabalho e sorriu conosco. Vovô tocou uma linda música e eu até o ajudei! Claro, em um ritmo bem mais lento, mas consegui tocar algumas teclas do jeito que ele me ensinou.
E o resto do dia foi feito de música.
E a imagem de Caleb nunca saiu de minha mente. Eu vou conquistar o coração dele
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DEZ ANOS
Inebriante. Eletrizante.
É a sensação de estar em um palco.
Eu nunca tinha sentido isso antes. Até vovô me trazer para tocar com ele.
É a terceira vez que eu venho com ele. Estamos em um restaurante super aconchegante, e vovô disse que era o lugar perfeito para fazermos um dueto. Ele sempre me chama de talentosa.
Quando vovô termina de cantar a primeira parte da música, sei que é minha hora. Respiro fundo e vou rapidamente para frente do palco. Sorrio minimamente e sinto novamente a sensação inebriante de estar ali.
Começo meu dedilhado na guitarra com empolgação. Junto com o violão, mamãe também me ensinou a tocar um pouco desse instrumento. Porém, uma vez que aprendi a tocar violão, não foi tão difícil aprender a tocar a guitarra. E é um dos meus instrumentos preferidos.
Mordo os lábios e continuo com o som eletrizante. Sinto meu coração acelerado quando termino minha parte e vovô entra com o refrão, me lançando um sorriso aprovador.
Me sinto bem. Feliz. Encantada.
Quando a música terminou, os clientes explodiram em palmas. Sorri para vovô que me pegou no colo e também sorriu. Ele fez uma leve reverência ao público e saímos do palco.
Vovô recebeu seu cachê e ganhamos uma refeição grátis. Enquanto comíamos, alguns clientes se aproximaram, admirados por uma menina tão nova como eu conseguir fazer aquilo com a guitarra. Sim, eles usam essas palavras.
Eu agradeço e vovô concorda com os clientes. Sei que ele sente muito orgulho. Ainda deram alguns trocados generosos pra nós dois.
Me sinto feliz.
—É bom, não é, minha pequena? —vovô perguntou após mastigar um pedaço de seu bife. Sorrio.
—Muito! —digo empolgada— Eu amo música!
Vovô soltou uma gargalhada gostosa.
—E você já pensou o que quer ser quando crescer?
Esposa do Caleb, é a primeira coisa que vem à minha mente. Mas sei que vovô está falando de profissão.
Neguei com a cabeça.
—Não há pressa. —ele disse segurando minha mão carinhosamente— Mas você seria uma ótima musicista. Já pensou em ser cantora?
Fiz uma careta.
—Não... Minha voz é terrível.
Vovô sorri.
—Não há pressa. —ele repetiu— Seja lá o que escolha, vovô te apoia. —ele se debruçou levemente na mesa, se aproximando— Mas saiba que a música corre em suas veias. —ele disse sussurrando e eu sorrio.
Não seria ruim trabalhar com música.
—Eu vou pensar nisso. —respondi por fim, fazendo vovô sorrir satisfeito.
Terminamos de comer e fomos tomar sorvete. Sentamos em um banco em um parquinho para apreciar o doce.
—Você já compôs a música para aquele rapaz? —vovô perguntou.
Abaixei os olhos, envergonhada e triste.
—Ainda não... —eu disse— Não consigo. Eu travo.
—A melodia vai correr como um rio no seu coração. Mas pode demorar um pouco. Não se preocupe.
Sorrio, concordando com vovô, apesar de não ter entendido muito bem o que ele quis dizer.
Vovô e mamãe são poéticos demais para mim.
Termino meu sorvete, desejando que esse dia nunca acabe.
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ONZE ANOS
É difícil de descrever a vida.
As coisas mudam de repente. Um momento se torna apenas uma memória distante algum dia.
Temo que vovô se torne isso para mim.
Limpo mais uma de minhas lágrimas quando me sento no chão do cemitério, em frente à sua lápide.
—Oi, vovôzinho. —eu disse baixo e tentando controlar o bolo em minha garganta— Desculpa a demora em vir ver o senhor. Eu estive ocupada. —sinto as lágrimas descendo pelo meu rosto, mas minha voz não falha— O senhor se foi de repente e não tive tempo de me despedir. Eu sinto muito. —fechei os olhos fortemente, me sentindo cansada.
Olhei atentamente para sua lápide.
"George Carter.
A música mais bonita vinha de seu coração.
Amado pai e marido"
Logo abaixo vinha a data de nascimento e a de morte na sequência. Sinto meu peito doer e meus olhos inundarem com lágrimas.
—Você dizia que a melodia corre como rio em nossos corações. —sorri tristemente olhando para o céu cheio de nuvens escuras. Respirei fundo e abri um leve sorriso. Voltei meu olhar para a lápide— E hoje eu entendo o que quis dizer.
Pego o violão de mamãe que deixei no chão ao meu lado. Tiro da capa e repouso em meu colo, posicionando-o.
Lembro de correr para vovô, há alguns anos atrás, o pedindo para me ensinar música. Eu queria compor para Caleb. Como fui boba. A música é linda demais. Não é atoa que eu nunca consegui. Ela precisava vir carregada de muito amor. Do coração.
E, por isso, não foi para Caleb Conway que escrevi minha primeira canção;
Foi para vovô.
I don't know where you're going
(Não sei onde você está indo)
But I'll meet you there
(Mas vou encontrá-lo lá)
I can't blame you for leaving
(Não posso culpá-lo por ir embora)
But it's still not fair
(Mas ainda sim não é justo)
Não foi justo. A vida de vovô foi tirada de repente. Fulminante. Ele não merecia esse final.
A única coisa que me conforta, é que vovô não sofreu.
Mas, ainda assim, não é justo.
And when I don't know what to sing
(E quando eu não sei sobre o que compor)
I'd sing about you
(Componho sobre você)
Essa letra veio leve para mim. Como as águas fluidas de um rio. Sim, sim... Agora eu entendo.
Quando o sentimento é forte e verdadeiro, a melodia vem em meu coração.
Esse é o poder do amor.
Now I don't know what to do
(Agora não sei o que fazer)
Now that you're not here
(Agora que você não está aqui)
I don't know how to love, don't know how to feel
(Não sei como amar, não sei como sentir)
But I don't want to believe
(Mas não quero acreditar que você se foi)
É difícil. Ele realmente se foi.
I'll believe in you
(Vou acreditar em você)
I'll believe in you
(Vou acreditar em você)
Eu acredito nas palavras de vovô. Acredito na música. Estou feliz por ter conseguido compor. E foi tudo graças a ele.
I'll believe in you
(Vou acreditar em você)
Sinto as lágrimas escorrendo. E, de repente, me sinto aquecida. Sem parar de tocar, olho o céu.
O Sol apareceu parcialmente. Sorrio.
If all I can do
(Se cantar é tudo o que posso fazer)
To keep him here with me
(Para mantê-lo aqui comigo, eu farei)
I'll remember you
(Vou lembrar de você)
Won't you remember me?
(Você está orgulhoso de mim?)
If all I can do
(Se cantar é tudo que eu posso fazer)
To keep him here with me
(Para mantê-lo aqui comigo, eu farei)
I'll remember you
(Vou lembrar de você)
Won't you remember me?
(Você está orgulhoso de mim?)
And when I don't know what to think
(E quando não souber o que compor)
I'll think about you
(Pensarei em você)
Finalizei a canção e minha garganta está dolorida. Dessa vez, não seguro as lágrimas.
Encosto minha testa na lápide e sinto gotas na minha nuca. Olho para o céu novamente. Apenas uma garoa fina. Mesmo assim, guardo rapidamente o violão na capa.
Franzo as sobrancelhas. Chovendo tão cedo assim, e fora de época?
Mas não me incomodo. Imagino que seja um sinal de vovô.
—Você gostou? —perguntei com a voz falha, olhando para o céu. O Sol brilhou ainda mais, saindo completamente detrás de uma nuvem escura. Observei, ao longe, um arco-íris surgindo.
Sorri. Gargalhei.
Escuto mamãe me chamando ao longe, me pedindo para voltar pro carro.
Dou uma última olhada para a lápide e deixo ali uma orquídea.
Dessa vez, mesmo com lágrimas nos olhos e com o corpo parcialmente molhado, sorrio verdadeiramente.
Pois sinto que vovô aprovou minha canção e está orgulhoso de mim.
E tenho certeza que me lembrarei dele.
Pra sempre.
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DOZE ANOS
Sorrio enquanto me jogo no sofá, entre papai e mamãe.
Hoje é sexta-feira, ou seja, noite de filmes!
Tem um ano que mamãe teve essa ideia, e repetimos todas as sextas, sem falta. Ela surgiu pois todas as sextas eu ficava triste por conta de vovô... Então, para me distrair, vemos filmes.
Mamãe fez pipoca para todos nós. Comemos assistindo um filme muito bonito.
E eu já havia adormecido antes mesmo dele acabar. Acordei sobressaltada com papai me pondo na cama.
—Shh... Pode voltar a dormir, filhota. —papai disse me colocando na cama. Vejo, com a visão embaçada, mamãe nos olhando da porta com um sorriso mínimo.
—Podem cantar pra mim? —pedi com a voz sonolenta.
Papai sorriu e me aconchegou nas cobertas. Mamãe chegou por trás, já com o ukulele em mãos.
—O que quer que eu cante, amor? —mamãe perguntou acariciando meus cabelos.
Sorri.
—La Vie en Rose. —pedi baixinho.
Ela soltou uma risada baixa. Papai se sentou na cadeira ao lado da minha cama e mamãe se sentou ao meu lado, posicionando os dedos nas cordas, pronta para tocar.
Hold me close and hold me fast
(Me abrace forte e me abrace rápido)
The magic spell you cast
(A magia que você faz)
This is la vie en rose
(Essa é a vida em cor-de-rosa)
Me sinto sorrir.
Mamãe toca baixo e devagar, olhando para meu pai. Tem tanto amor neles.
When you kiss me, heaven sighs
(Quando você me beija, o céu suspira)
And though I close my eyes
(E mesmo que eu feche meus olhos)
I see la vie en rose
(Eu vejo a vida em cor-de-rosa)
Então é isso. O amor. Não entre uma neta e um avô, ou uma filha e seus pais.
Não...
Esse é o amor entre um homem e uma mulher. Será que um dia serei capaz de sentir isso? Será que isso que sinto sobre Caleb?
Acho que ele não me faz ver a vida em cor-de-rosa como papai faz com mamãe.
When you press me to your heart
(Quando você me aperta sobre seu coração)
I'm in a world apart
(Estou em um mundo à parte)
A world where roses bloom
(Um mundo onde as rosas florescem)
And when you speak
(E quando você fala)
Angels sing from above
(Anjos cantam dos céus)
Everyday words seems
(As palavras banais parecem)
To turn into love songs
(Se transformar em canções de amor)
—Meu amor... —mamãe se volta pra mim, sem parar de tocar— Lembre-se de nunca parar a música. De nunca parar a vida. —ela sorri minimamente e volta a olhar para meu pai— Mesmo que as vezes a vida saia do ritmo... Nunca pare a dança.
Não entendo o pesar que minha mãe fala isso. Papai desvia o olhar e a expressão de mamãe vacila, cintilando preocupação. Mas talvez seja apenas o meu sono.
Ela volta a tocar. Dessa vez, sinto meus olhos fechando.
Give your heart and soul to me
(Dê seu coração e alma para mim)
And life will always be
(E a vida sempre será)
La vie en rose
(A vida em cor-de-rosa)
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Estou absurdamente saltitante. Temo que não palavra melhor para descrever toda a minha empolgação.
Tudo começou há dois meses atrás quando eu dei meu primeiro beijo. Meu primeiro beijo! Com o garoto mais belo de todo o universo.
Foi no aniversário de Hanna Simon. Minha primeira festa!
Estava com meus amigos no chão da sala da casa da Hanna, jogando o verdade ou desafio. E, a garrafa parou justamente em Caleb!
Ele escolheu desafio e Maria Watson, minha amiga mais próxima, me lançou um sorriso discreto. Não entendi na hora, mas assim que ela falou o desafio, me senti feliz e um muito -muito- nervosa.
"—Eu desafio você e a Ally brincarem de sete minutos no céu."
Eu gelei. Parei. Todo falando um "uuuuh" e começaram a apoiar. Caleb me olhou com curiosidade um sorriso de canto estampado em seu rosto.
"—Se ela quiser..."
Foi tudo o que ele respondeu.
Era óbvio que eu queria. Nem havia discussão. Era como se muitos fogos de artifício tivessem explodindo em meu interior.
Nos colocaram em um armário e as regras eram bem simples: Não poderíamos sair antes dos sete minutos em hipótese alguma. As luzes deveriam se manter apagadas. E, por fim, ninguém poderia saber o que aconteceu ali.
E quando nos trancaram, ainda consegui ver o rosto bonito de Caleb pela luz que entra pelas bordas da porta. Ele sorriu e perguntou se podia me dar um beijo.
Nem preciso dizer que aceitei. Virei um tomate, claro, mas aceitei.
Meu primeiro beijo. Meu primeiro beijo foi o com meu primeiro amor.
E depois dos sete minutos, a festa se seguiu até meu pai ir me buscar.
E também nem preciso dizer que a última regra foi completamente quebrada, pois, na segunda-feira, todos da escola já estavam falando sobre isso.
Eu e o Caleb nos aproximamos. Ele começou a almoçar comigo, se sentar ao meu lado nas aulas e até fazer perguntas sobre minha vida. Não hesitei em responder nenhuma.
Ele foi a primeira pessoa que eu contei sobre minha paixão por música. Por fazer música, especificamente. Ele ficou impressionado quando toquei guitarra escondido na sala de música. Ele me deu mais um beijo lá.
E, certo dia, no intervalo entre as aulas, depois de eu ter cantado baixinho uma parte da música que fiz para vovô, Caleb subiu em uma mesa do refeitório. As atenções sempre estavam nele, naturalmente, mas dessa vez, até as conversas pararam quando ele perguntou em alto e bom tom:
"—Ally Carter, você quer ser minha namorada?"
Acho que, mais uma vez, não preciso dizer qual foi minha resposta.
Não acreditei que realmente haveria um namoro, pois Caleb Conway já foi visto namorando várias vezes.
Mas aparentemente, é real. Hoje, no baile de outono, ele segura minha mão. Dançou comigo e conheceu minha mãe. Eu corei com eles conversando.
Mas me sinto a garota mais sortuda desse colégio.
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TREZE ANOS
Me encolho em minha cama. Papai e mamãe estão brigando. De novo.
Eles não deveriam brigar tanto. Mamãe está grávida de Ann, eles deveriam estar se abraçando, não gritando palavras feias um para o outro!
Tapo meus ouvidos e sinto meus olhos transbordarem lágrimas.
Quando a vida fica ruim, preciso me perder em música.
Fecho a porta do meu quarto, dessa vez os gritos ficam abafados. Vou até o teclado de vovô, que está ao lado da minha cama, e me sento no banquinho.
Respiro fundo e coloco os dedos sobre as teclas, começando a tocar notas aleatórias. Não consigo ter inspiração!
Então eu choro. Ponho a mão sobre o peito e choro. Eu odeio quando meus pais brigam.
E quando os gritos sem sentido cessaram, houve silêncio pela casa.
Respirei fundo e após algum tempo saí de mansinho para a sala.
Papai não está aqui e nem mamãe, mas a avisto cozinhando.
—Mamãe? —chamei. Ela me olhou com um sorriso gentil. Mas sinto um pouco de tristeza no ar.
—Venha cá, amor. —ela diz com a voz acolhedora. Sorrio e me aproximo.
Uhul! Bolinhos!
Mamãe está pondo no forno.
—Pode fazer a cobertura? —pergunta secando as mãos.
Assenti rapidamente. Ela colocou um avental de cupcakes em mim e me deixou fazer a cobertura sozinha. Isso nunca havia acontecido.
Ela me lambuzou a ponta do meu nariz com o doce. Rimos e nos divertimos. Por um instante, me esqueci de toda a situação que ocorreu há pouco tempo.
Ela tirou os bolinhos do forno e cobrimos com a cobertura. Mamãe colocou os bolinhos em um prato e nos sentamos para comer.
—Você acertou o ponto, filha! —mamãe disse orgulhosa. Ela acariciou meu rosto com uma
mão e sua barriga com a outra. Estou tão feliz— Vamos comer!
—Estão deliciosos! —exclamei me lambuzando após pegar um. Mamãe deu um sorriso triste e vi seus olhos marejarem— Mamãe? —perguntei assustada e fui até ela, abraçando-a— Por que está chorando?
Ela se afastou e segurou meu rosto entre as mãos com carinho.
—Eu te amo, Ally Carter. Jamais se esqueça disso. Tenho certeza de que você já estava preparada para o que está por vir.
Assenti confusa.
—Também te amo, mamãe.
O resto do dia se passou tranquilamente. Papai voltou para casa em algum momento da tarde. Resolvi deixar de lado o que ela disse. Mamãe adora filosofar, mas vezes é difícil acompanhar sua sabedoria.
Fui para o meu quarto e encarei meu violão. Fiquei um pouco melhor ao me lembrar dele.
Sorri e fechei a porta devagar, trancando-a silenciosamente em seguida.
Abri o Skype no meu computador e mandei uma mensagem para o Caleb.
"Está aí?"
Ele não demorou para responder.
"Estou."
Sorri ainda mais e liguei para o menino de quem tanto gosto.
—Oi. —ele apareceu na tela com um sorriso largo. Me senti corando.
—Oi. —respondi suavemente— Eu te liguei porque quero te mostrar a música que eu aprendi a tocar.
—Estou feliz que está aproveitando seu presente. —ele diz parecendo ter notado o violão em meu colo.
Sorri timidamente.
—Quer ouvir?
Ele rolou os olhos com certo divertimento.
—Você sabe que sim, linda.
Senti meu rosto quente. Eu amo quando ele me chama de linda.
Posicionei o belo violão verde em meu colo e comecei a melodia.
And baby when you sleep, do you dream of me?
(E amor, quando você dorme, você sonha comigo?)
And when you're awake, do you think of me?
(E quando você está acordado, pensa em mim?)
I need to know how do you feel
(Eu preciso saber como você se sente)
Observei Caleb discretamente e vi que ele tem um sorriso chocado no rosto.
'Cause baby when I sleep, I dream of you
(Porque amor, quando eu durmo, sonho com você)
And when I'm awake, that's all I do
(E quando estou acordada, isso é tudo o que faço)
Think about every detail you have
(Penso em todos os detalhes que você tem)
Claro que não é uma música atoa. Eu mesma a escrevi para Caleb. E ele parece ter aprovado e até percebido, pois seu sorriso morreu lentamente.
Do you notice when I get mad, I clench my jaw?
(Você percebe que quando eu fico brava, aperto minha mandíbula?)
Do you notice when I get sad, I tend to fall?
(Você percebe que quando eu fico triste, eu tendo a guardar pra mim)
Look at my words I say to you
(Olhe para as palavras que eu te digo)
O olhei discretamente mais uma vez. Ele tem os olhos arregalados. Agora sim caiu sua ficha.
'Cause I notice when you get mad, you close your eyes
(Porque eu percebo que quando você fica bravo, você fecha os olhos)
And I notice when you are sad, you let out a sigh
(Que quando você está triste, você suspira)
I need to know, are those sighs ever over me?
(Eu preciso saber, esses suspiros são por mim?)
Fechei os olhos e comecei a parte mais rápida da música.
Do you know I'm in love with you? I am
(Você sabe que eu estou apaixonada por você? Eu estou)
Do you see how I'm in love with you I am?
(Você vê como eu estou apaixonado por você?)
Every thing that you do it makes my heart stop
(Tudo o que você faz, faz meu coração parar)
Oh it stops
(Ah, ele para)
And baby when you sleep, do you dream of me?
(E amor, quando você dorme, você sonha comigo?)
Houve um minuto de silêncio após eu finalizar a música. Olhei para a tela e vi o rosto de Caleb congelado. Me perguntei se a chamada havia travado, mas ele apenas sorriu aos poucos e aplaudiu.
—Você que escreveu, Ally? —ele perguntou emocionado e eu assenti. Ele sorriu minimamente— Eu nem sei o que dizer.
Olhei para baixo envergonhada.
—Ally. —ele me chamou e eu olhei seus olhos pela tela— Acho que eu te amo.
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Pela noite, fui com mamãe para o meu quarto. Antes de me deitar, olhei pela janela.
—Olha como a Lua brilha bonita! —eu disse apontando para a janela, me sentindo verdadeiramente encantada.
Mamãe pôs a mão nos meus ombros e observou a Lua também.
—Muito bonita. Mamãe sempre amou a Lua.
É claro que ama.
Por um momento, desejo nunca esquecer essa emoção que toma conta de mim enquanto observo a Lua. Sinto que toda vez que parar pra observá-la eu vou me emocionar de alguma forma.
Depois desse pequeno momento, me aconcheguei em minhas cobertas.
Não consigo tirar Caleb da minha cabeça. Eu fiquei em choque. Pânico total.
Ele disse que me ama. Que me ama!
Há um ano eu nem sabia direito o que era isso, agora ele havia dito com -quase- todas as letras.
Eu não consegui ter reação, então apenas disse que precisava ir e desliguei o computador.
Mas estou certa de que depois preciso dar explicações.
Mas não agora. Não hoje.
Mamãe cantou para mim antes que eu adormecesse.
Estava em um sonho bonito. Haviam flores.
Mas fui tirada dele com berros. Me levantei sobressaltada e ouvi um barulho alto, um estrondo. E depois, gritos.
Levantei correndo e olhei ao redor da casa. Os gritos vêm do quarto dos meus pais.
Corri até lá. Quando abri a porta, me deparei com uma cena...
Terrível.
Mamãe!
Mamãe caída. Sangrando. Se tremendo.
Olhei para papai que liga urgentemente para uma ambulância.
Nojo.
Ódio.
As lágrimas quentes escorrem pelo meu rosto.
Ódio.
Papai fez isso com mamãe.
—Monstro! —gritei chorando para papai, que me ignorou, pegando minha mãezinha no colo e colocando-a em cima da cama, de lado.
Ela não para de se tremer. O que é isso?!
—Louise! —meu pai chacoalha levemente minha mãe. Acho que estou gritando de medo. Eu não sei. Não consigo ouvir minha própria voz.
Papai chora. Seus ombros estão temendo. Ele soca um vaso, partindo-o em vários pedaços. Me encolho.
Papai é um monstro. O pior dos monstros. Mamãe está assim por culpa dele.
Cheguei furiosa atrás de papai e dei tapas em suas costas.
—Monstro! Monstro!
Dessa vez tenho total consciência de que estou gritando.
Papai me ignora. Parece que não estou aqui. Ele liga de novo para a ambulância.
Que. Pesadelo.
*
|oi!
esse capítulo foi um especial com o passado de Ally. tentei incluir todas as histórias que ela contou para os amigos no decorrer dos capítulos, mas com certeza eu esqueci de alguma -naturalmente, já que essa história tá escrita desde 2020.
•importante!! - as músicas do capítulo NÃO são de minha autoria. mas, vamos fingir que são da Ally. as traduções também sofreram pequenas modificações para se encaixarem direitinho na história, nada muito radical. ademais, vou deixar aqui um link da tradução da música que foi alterada, para quem quiser saber certinho.
Músicas:
-I'll Think About You - https://youtu.be/LClw675mkUw
-La Vie En Rose - https://youtu.be/9foKesji-Os
-Please Notice - https://youtu.be/9vMskIqWz5M
até o próximo! (que vai sair sexta-feira que vem) <3|
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