Capítulo 6

Cada passo que dava parecia que meus pés estavam grudando no chão, me fazendo suar levemente com o esforço.

Quando vi a escadaria e olhei para baixo tive que tomar muito cuidado ao descer, pois estava com medo de cair.

Havia guardas posicionados em cada canto, no qual presumi ser os mais estratégicos. Estavam sérios e não prestavam atenção aos convidados do rei que escapavam do salão do trono para admirar o máximo possível do castelo. Salão no qual podia ser acessado pelos dois corredores, ao lado da escadaria.

Segui pelo da direita que estava menos movimentado, eles não disseram por qual deveria entrar.

As portas grandes estavam abertas e era possível ver a massa de vestidos e cascas bonitas se movimentando com elegância pelo grande espaço. Fiquei maravilhada com a elegância e beleza das pessoas e do ambiente conforme me aproximava.

O salão possuía um teto grande e oval no qual pinturas em dourada percorriam cada centímetro do azul claro, era um mapa com alguns desenhos de seres antigos e bestas aterrorizantes, teria ficado com medo se o ambiente estivesse mórbido, mas agora até aquelas criaturas desenhadas estavam bonitas.

Havia quatro colunas em cada canto do salão com linhas esculpidas de cima para baixo com a base anexada ao chão de mármore. Possuía o topo com múltiplos entalhes de flores e folhas.

As janelas em frente as colunas me lembravam os paralelepípedos da rua comercial da minha aldeia, longas, quase do tamanho das colunas e estavam abertas exibindo o céu com estrelas e uma meia lua.

Na parte de trás do salão, algumas escadas davam acesso ao monstruoso trono negro que para meu horror era feito inteiramente de ossos, pelas lendas que circulavam Mountsin era o trono no qual os deuses comandavam a Cìlia, antes de abandonarem os humanos a própria sorte.

Desviando meus olhos do trono percebi que o rei não estava sentado lá e ninguém da família real aparentemente estava por perto. Era um trono vazio com guardas o vigiando.

Fiquei nervosa, não vi nenhuma das candidatas e era preciso me manter longe do meio do salão onde as pessoas dançavam e rodopiavam ao som de violinos que não sabia onde se encontravam.

Parei de andar para tentar encontrar Marcta ou Ivna, mas foi um erro, pois fui empurrada com força para o meio do salão e acabei esbarrando em um homem que usava uma casaca azul escura.

Quando evitei de cair, achando o equilíbrio que havia perdido me virei para pedir desculpas ao homem e travei ao ver seu rosto.

— Nos encontramos novamente, acho que o destino está conspirando ao meu favor — disse levantando a sobrancelha com um ar de satisfação.

Seus cabelos estavam molhados e totalmente puxados para trás com apenas uma mecha rebelde caindo por cima da testa.

— Quem é você? — perguntei temendo a resposta.

Ele abriu a boca para responder, mas um senhor com barba branca longa e uma túnica da cor verde com um animal bordado na lapela fez uma reverência e sorriu para o estranho.

— Alteza, estou extremamente feliz que minha sobrinha conseguiu participar da Competição da Coroa de seu irmão. Meu rei está em êxtase, seria incrível se ele a escolhesse. Nossos laços comerciais ficariam mais fortes — a intenção não era escondida em suas palavras.

Em completo choque encarei o estranho, que nada mais era que o príncipe herdeiro.

— Bom, está decisão não é minha. Mas tenho certeza que Edward escolherá com sabedoria. O amor é imprevisível, assim como o destino e o desejo.

O homem visivelmente tentou sorrir constrangido pela sua atitude.

— De fato, sua alteza tem razão. Deixem que se conheçam e com sorte se apaixonem — ele fez outra reverência e saiu rapidamente.

— Surpresa? — perguntou para mim e seus olhos cobalto estavam mais intensos na luz do salão.

Reprimindo minha surpresa inicial o analisei. Com roupas mais sofisticadas ele parecia ser da realeza, mas antes sob a luz da lua da biblioteca ele quase não parecia humano.

— Não, decepcionada. Esperava uma coroa.

— Não gosto de usar a minha. Denúncia quem sou muito rapidamente.

— O que eu disse ontem... — comecei e parei. O que diria? Desculpas por não saber quem ele é? — Não quero mais participar disso. Você é o príncipe herdeiro. Não poderia persuadir seu irmão a me deixar ir? — ousei perguntar. Afinal eu já tinha burlado qualquer regra de etiqueta com ele.

— Como eu disse ao Afonsy, essa decisão não é minha. E se fosse seria um não. Será divertido ver o que você fará para fazer meu irmão te eliminar.

— Estava o procurando, Leon — falou outro homem com roupas na cor azul clara e com um sorriso com covinhas nas duas bochechas. Ele me notou e seu sorriso aumentou. — Deve ser a Srta.Swan.

Leon observou minha reação de surpresa por ele saber meu sobrenome e soltou uma risada fazendo o homem das covinhas o olhar de forma estranha, quase incrédula.

— A irmão você tem aqui uma participante muito, muito interessante. Se me dão licença eu devo ir cumprimentar a minha noiva — ele saiu dando um tapinha no ombro do príncipe Edward.

Merda.

— Eu sinto muito, venho de uma aldeia isolada e nunca os vi — falei de forma ríspida. Talvez se fosse rude com ele finalmente iria me expulsar.

— Não se preocupe, isso não me incomoda. Tenho certeza que você tinha preocupações maiores que descobrir como é a família real — porcaria. — Vamos começar de novo. Eu sou Edward Pwerus e é um prazer conhecê-la.

Ele estendeu a mão e a peguei chateada com o fato dele ser muito educado. Desse jeito não irei embora tão cedo.

— Eu sou Rosemary Swan, a plebéia — enfatizando o plebéia e torci para que ele me visse como algo indigno de seu tempo.

Porém ele soltou um risinho.

— Eu sei. A única dentre várias princesas e devo dizer, você é a mais bela — ele falou de um jeito pausado e com muita cautela.

Erguendo meu cenho o encarei.

— Você treinou essas palavras antes de vir aqui?

Seu rosto ficou vermelho de imediato. Eu acertei?

Não consegui segurar a risada.

— Ao menos isso a fez rir. Reserve uma dança para mim, sim?

— Vai se arrepender, alteza. Eu danço muito mal.

— Não tanto quanto eu — pegando minha mão em um movimento rápido ele depositou um beijo na parte de cima. — Até breve.

Me afastando tentei sorrir quando ele se virou para ir.

— Como conseguiu chamar a atenção dos dois príncipes? — questionou Nala surgindo ao meu lado. — O que você fez?

— Eu não sei, mas não queria — me afastei antes que ela pudesse me fazer mais perguntas.

Fui até uma mesa longa com várias bebidas e comidas.

Peguei uma taça e bebi o vinho, era de amoras silvestres e era muito melhor que as cervejas aguadas que estava acostumada.

Experimentei uma fatia de bolo em formato de flor e quase soltei um gemido. Estava delicioso.

— Típico. Preferem a comida ao príncipe — disse Nala em tom sarcástico.

Frustrada percebi que era seu novo alvo.

— O príncipe não é tão bom quanto esse bolo.

— Me admira que ainda esteja aqui.

Eu também.

— Não se preocupe querida Nala. Não tenho a intenção de ganhar essa competição.

— Ora! Mesmo que quisesse não ganharia. E é princesa Nala — ela se aproximou e sussurrou: — Vai ser uma das primeiras a ir embora.

Por favor, sim. Que o destino te ouça.

— Mas nada me impede de aproveitar ao máximo antes de ser eliminada, não? — disse de modo provocativo. — Talvez aproveite até a cama do príncipe.

— Não teria coragem — falou, ficando vermelha.

Não pude me conter e lhe lancei um sorriso grande.

Você não teria — sai rapidamente de perto dela e achei Ivna perto de uma das colunas.

— Cansada? — perguntou quando me aproximei. Ela olhava para o salão com atenção.

— Sim.

— E elas sequer começaram.

— Não era para eu ser um alvo.

— Bom, você foi uma das primeiras a falar com o príncipe e não só ele. Veja — ela indica uma mulher com o queixo. Ela possuía um cabelo loiro com franja cortada rente a testa e olhos azuis que me fitavam a distância. — Alba, a noiva do príncipe herdeiro. Não acho que você deva se preocupar só com as candidatas a coroa.

— Vou tentar ficar mais invisível — falei não encarando Alba que falava com falso interesse com Pietra e Yanna.

— Você? Mesmo que tentasse seria impossível. Você tem aquele olhar do "sou frágil e preciso que me salvem." Homens amam esse olhar.

— Não preciso que me salvem — disse na defensiva.

Ivna deu de ombros.

— Não, mas isso é uma competição Rosemary. Se quiser ganhar use qualquer jogada que tiver ao seu alcance.

— Eu só quero o dinheiro de consolação e ir para casa — falei honestamente.

Seus olhos castanhos grudaram nos meus.

— Então você é pior que elas com seus jogos sujos e mentes maliciosas. Os que aceitam a derrota sem tentar são patéticos.

Marcta surgiu puxando Ivna para uma conversa calorosa sobre os vestidos dos convidado e sou deixada de lado totalmente chocada com suas palavras.

Eu sou realmente patética por não tentar?

Mas eu não queria me envolver em nada disso, só queria ir embora e fugir.

Apertando o punho caminhei para fora do salão, queria respirar e pensar já que o barulho da musica e conversas estavam me distraindo.

No corredor coloquei as mãos na testa e fiquei massageando até aliviar o estresse.

Se eu era considerada patética e covarde que se dane. Afinal nenhum deles importava, não são meus amigos e nem queria que fossem.

— Aproveitando o luxo do castelo, plebéia? — disse uma voz fina e autoritária atrás de mim. Quando virei vi Alba com uma taça na mão e um olhar frio. Seu vestido azul escuro combinava com os olhos de Leon, ela parecia o oposto perfeito para ele. Menos o colar que usava, com uma pedra verde envolta em várias conchas negras e vermelhas. — Não vai ter outra oportunidade, se não hoje.

Meu limite para aguentar tudo isso já estava transbordando. Eu teria que passar por tudo isso todos os dias? Palavras cruéis, insultos e insinuações? Apenas pelo quê?

Mas eu não queria chamar atenção, não queria intrigas e nem ser um alvo. Obedecer e aceitar calada era a melhor solução.

Engolindo meu orgulho fiz meu melhor para sorrir.

— Vossa alteza está certa. Com sua licença — passei por ela, porém ela segurou meu braço e suas unhas arranham minha pele me fazendo arrepiar.

— Não sei o que você pretende, mas não faça nada tolo — ela me soltou e encarou o local do meu braço onde estava ficando vermelho. — E não ache que isso é uma briga fútil pelo príncipe herdeiro. A mais em jogo do que o amor de um homem. Reinos, potências grandiosas das quais sua limitada experiência de vida jamais terá total conhecimento. Então até que eu esteja com um anel no dedo e uma coroa na cabeça você se manterá longe dele.

A ameaça me fez hesitar e perceber que eu não fazia ideia do quanto ser aliado de Mountsin era importante.

Havia um fogo nos olhos de Alba, uma vontade e desejo pelo poder.

— E se eu não o fizer? — perguntei e me arrependi.

Sem intrigas, Rose.

Mas a forma que ela me olhava era irritante.

Ela levantou a mão e achei que fosse me bater, mas ao sentir o vinho descer pelas minhas costas e busto a encarei surpresa. Metade da taça de vinho agora estava no meu vestido.

— Não vai gostar de saber. Essa competição é um jogo no qual você não tem estratégias ou movimentos, plebéia. Você entrou aqui e já perdeu — tentando normalizar a respiração tenho vontade de voltar para o quarto ou chorar. Mas isso não a faria me deixar em paz, nenhuma delas.

Era mais fácil fingir que eu estava querendo ganhar.

Peguei sua taça e bebi o resto de seu vinho. Alba finalmente deixou aquela máscara fria cair e ela me olhou surpresa.

— Se eu já perdi não precisa ficar com medo, sou uma plebéia afinal. Que poder eu tenho aqui? — sai antes que ela pudesse retrucar.

Caminhei com raiva até ver duas portas abertas no corredor que davam direto para um jardim sem convidados a vista.

Possuía vários bancos azuis espalhados, uma fonte grande no centro e a muitos metros de distância um enorme labirinto com rosas e outras flores emaranhadas nos arbustos.

Fui até um dos bancos e me sentei soltando um suspiro longo e profundo.

— A festa está tão ruim para uma bela jovem como você preferir admirar o luar ao príncipe? — pergunta alguém atrás de mim e não me viro.

— Não gosto de festas, alteza. Nem de príncipes.

Leon se sentou ao meu lado e franzino o nariz perguntou:

— Você bebeu quantas taças de vinho?

— O suficiente para me dar dor de cabeça. Se me dá licença — levantei para ir embora, mas ele segurou meu braço.

— Espera... — olhei para sua mão e ele a soltou de meu braço. Me virei para olha-lo — Aqui. — Ele pegou um pano branco do casaco e cuidadosamente começou a secar o vinho do meu cabelo. Não o impedi chocada com seu atrevimento e com o toque suave de suas mãos. — Sinto muito. Mulheres podem ser seres cruéis quando querem.

Fiquei nervosa. Será que sabia que foi sua noiva quem fez isso? Ou apenas achava que foi qualquer uma das concorrentes?

— Obrigada — falei me afastando de sua mão.

— Desculpe pelo meu atrevimento. Mas creio que acabamos com qualquer regra de etiqueta a essa altura — ele se sentou e apoiou a cabeça na mão.

Eu deveria ir embora. Voltar para o quarto e me limpar, porem não o fiz e me surpreendi quando o questionei:

— Porque não está aproveitando a festa?

Leon sorriu como se esperasse essa pergunta e isso me incomodou.

— Pessoas barulhentas e bêbadas. Não é meu tipo de divertimento.

— E qual seria seu tipo de divertimento?

— Adivinhe.

— Ler no escuro?

Ele soltou uma risada baixa.

— Sim — Leon ficou em silêncio me observando. — Porque veio para a competição se não tem a intenção de ganhar?

Sua pergunta me deixou inquieta.

— Pelo dinheiro.

Ele balançou a cabeça sorrindo.

— Você realmente é interessante, Rosemary.

— Não pode me julgar, afinal elas estão atrás de poder. Essa não é uma competição pelo amor.

— Não é — disse se levantando e olhando para o céu. — Se quer tanto ir embora eu posso te oferecer uma saída. Façamos um trato.

Hesitei.

— Que tipo de trato? — perguntei, receosa.

— Não é nada do tipo que você está pensando. Fique aqui até o baile de inverno e te darei uma recompensa maior que a de consolação. Suficiente para você comprar um título de princesa.

Abri e fechei a boca, estupefata. Pôr que ele estava oferecendo tal trato?

— E o que você quer em troca?

— Apenas sua companhia.

Dei um passo para trás e ele sorriu.

— Não nesse sentido... pode chamar de amizade. Estou querendo comprar sua amizade e sua ajuda em alguns serviços.

— Você já não tem amigos o bastante?

— Acha mesmo que tenho amigos? Não à ninguém lá dentro que não me apunhalaria pelas costas só para ter o título de herdeiro. E não estou pedindo uma resposta agora. Pense nisso. Você seria a mais beneficiada.

— Mas a que custo? E quais são os serviços?

— O custo? Sua lealdade a mim.

— Eu não entendo — balançei a cabeça.

Minha cabeça fervia com tantos pensamentos e motivos para o qual ele estaria me oferecendo tal acordo.

— Claro que não, mas vai entender. E quando este dia chegar terá que escolher um lado e verá que o meu é a melhor escolha.

— Eu vou embora antes de me envolver com qualquer disputa de poder — antes de me envolver com qualquer um deles.

— Então não tem com o que se preocupar. Apenas pense na minha oferta.

Ele passou por mim e voltou para o baile.

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