Capítulo Doze

* Dias depois... *

Otávio Miller

Estaciono meu carro em frente a grande casa, que é sede da fazenda, e sinto um pouco de nostalgia tomar conta de mim. Já faz mais de cinco anos que eu pisei meus pés aqui pela última vez e isso me faz lembrar do dia em que estive aqui pela última vez. Fecho meus olhos por alguns instantes e respiro fundo, buscando coragem dentro de mim.

- Tudo bem? Podemos voltar se não está confortável, Otávio. - Ouço Giovani dizer e nego com um aceno.

- Não vamos voltar, Gio. Vou fazer o que vim fazer, doa a quem doer. Eles merecem um pedido de desculpas. - Falo e olho para meu irmão, que assente.

Meus pais também queria vir junto, mas eu achei melhor não. Conheço meu padrinho e ele deve estar muito magoado com meu pai para sequer olhar na cara dele. Sei que também não sou a pessoa que ele mais deseja ver no momento, mas também sei que ele não me odeia e nem me quer mal.

- Só podemos ir logo? Quero ver o José Victor. - Ouço Cecília, que, infelizmente, também veio.

- Maninha, será que você pode deixar sua paixão um pouco de lado no momento? - Gio provoca e vejo pelo espelho retrovisor que minha irmã mostra o dedo médio para ele.

- Igual sua paixão por Leonardo, que não te nota porque ama o mesmo garoto desde os treze anos. - Cecília alfineta e reviro meus olhos.

- Paixão? Eu fiquei com ele uma vez, garota! Isso não quer dizer que eu ame ele. - Giovani diz, um pouco irritado.

- Ok! Parem vocês dois, preciso estar calmo e vocês estão me irritando. - Falo, calando os dois, que cruzam os braços.

Balanço minha cabeça em negação e respiro fundo, saindo do carro em seguida. Automaticamente o cheiro de campo, natureza, chega até mim e meus pulmões até agradece o ar tão limpo e refrescante.

Olho ao redor e vejo que quase nada mudou desde a última vez em que estive aqui. As árvores em que eu costumava sentar embaixo estão do mesmo modo, os animais no pasto, o campo de rosas, a casa. E, para meu martírio pessoal, o lugar de treino de Evan também, onde o mesmo está.

Dou alguns passos na direção do local, mas não me aproximo, principalmente por ver a pessoa que está junto a ele... Aquele tal de John.

E ainda me diz que eles não têm nada?

Evan e seu amigo estão conversando dentro da pequena arena, enquanto dão altas risadas. O loiro aguado (nada contra, meu pai e meu irmão são e amo eles) está segurando uma prancheta em mãos e aponta algumas coisas nela, explicando para Evan.

Não sei quanto tempo fico observando os dois juntos, conversando, mas sei que é hora de parar quando o olhar de Evan me encontra. Eu me arrepio dos pés à cabeça com seu olhar sobre mim e rapidamente desvio, me virando de costas para ele.

Cecília e Giovani estão me esperando ao lado do carro, com expressões de tédio, e eu solto um suspiro.

- Vamos! - Falo e sigo com eles até à casa, subindo os pequenos degraus da varanda. - Oh de casa! - Grito e bato palmas, rindo de mim mesmo nesse processo.

Não demora muito para que alguém venha nos atender e sorrio ao ver meu padrinho Adrian. Penso que ele pode me dizer algo não muito agradável, mas ao invés disso ele sorri para mim e abre seus braços.

- Garoto, quanto tempo! Vem aqui! - Ele diz e não perco tempo em praticamente correr para seus braços.

Ele me aperta em um abraço e me sinto acolhido com esse gesto. Me sinto bem. Meus padrinhos são como pais para mim e saber que pelo menos um ainda está me aceitando, é bom demais.

- Desculpa! - Peço quando me afasto dele e sinto meus olhos arderem, mas me recuso a chorar.

- Eu nunca fui pai aos dezenove anos, Otávio, então não posso te julgar. Apesar da mágoa, eu te amo, querido. - Ele diz, segurando meu rosto em suas mãos um pouco calejadas e isso me faz sorrir.

Sinto uma lágrima escorrer por meu rosto e me sinto grato por ele não me julgar. Eu sei que errei, mas eu não sou um monstro... Espero, pelo menos, que não.

- Obrigado! - Agradeço a ele e o abraço mais uma vez. - Meu padrinho Cas está aí? Preciso falar com ele, com todos, na verdade.

- Sim, estão todos aqui... Almoço de domingo. - Ele sorri e vai até meus irmãos, abraçando-os também. - Vem, vamos entrar!

Com um pouco de receio e um frio enorme na barriga, eu entro na casa em que já vivi bons momentos da minha vida. Há um falatório e ele vem da cozinha, lugar mais frequentado e tumultuado da casa.

Sinto um braço se entrelaçar ao meu, e sorrio ao ver Giovani ao meu lado. É bom ter o apoio dos meus irmãos nesse momento.

Assim que entramos na cozinha, vejo realmente todos reunidos... Castiel, bisa Clarisse e Oscar, Helena e José Victor.

- Temos visitas! - Meu padrinho anuncia e rapidamente a conversa cessa. Os olhares de todos vêm até mim e engulo em seco.

- Oi. - Falo em um tom baixo, sentindo meu estômago revirar de medo e ansiedade.

O silêncio prevalece na cozinha e isso é muito constrangedor. E agradeço aos céus quando José Victor coloca seus olhos na minha irmã e vai correndo abraçar ela.

- Faz tempo que não te vejo aqui, hein? - Vó Clarisse diz e se aproxima de mim e Giovani, tendo uma sobrancelha levantada.

- Me desculpa, bisa... Foram muitas coisas. - Falo a ele, e tento sorrir.

- Fiquei sabendo. - Ela diz e me analisa por um tempo, quase podendo ver minha alma nesse gesto. - Vem aqui, meu menino.

Ela abre seus braços para mim, em um convite, e eu não perco tempo em correr para eles. Já faz cerca de um ano que não a vejo e me arrependo por isso. Eu acabei me afastando de todos nós últimos anos e nos vimos pouquíssimas vezes. Eu não fazia questão de vir até à fazenda, e às vezes, quando eles iam até nós, eu dava um jeito de fugir. A culpa era muito grande para poder encarar eles, olhos nos olhos.

Assim que me afasto de vó Clarisse, Evan entra na cozinha, trazendo junto com ele seu "amigo".

Nossos olhares se encontram rapidamente, mas desvio meus olhos para meu padrinho, que está calado desde que chegamos.

- Ahn... Será que posso conversar um pouco com todos? Sei que devo explicações. - Falo, olhando diretamente para ele.

- Vamos para a sala, é melhor. - Vô Oscar diz e sorri para mim, passando seu braço por meu ombro. - Você está maior, estou me sentindo muito velho. - Ele brinca e isso me faz rir.

Poucos minutos depois já estão todos acomodados na sala, em silêncio, enquanto eu estou de pé, olhando para todos.

- Hum... Eu vou fazer algumas chamadas de trabalho. - O loiro, amigo de Evan, diz, se levantando em seguida do sofá.

- Não precisa sair, John, você também é da família. - Evan diz, pegando na mão do outro ser e eu tenho que desviar meus olhos para não surtar.

Aperto minhas mãos atrás do meu corpo e olho para o carpete, que possui uma cor desconhecida para mim.

- Eu prefiro assim, querido. - Ele responde e não vou negar, isso me deixa aliviado.

Assim que John sobe às escadas, deixando realmente somente a família, eu tomo fôlego para começar a falar. Ergo meu olhar para eles, mas não olho em ninguém especial.

- Eu sei que devo desculpas a todos e sei que errei muito ao esconder Luz de vocês. - Começo a dizer e solto um suspiro, é difícil. - Sei que nada que eu disser vai justificar o que eu fiz, mas eu preciso contar como eu me senti naquela época. O que eu vou dizer não é para colocar a culpa em ninguém, ok? Mas eu preciso.

Abaixo meu olhar, sentindo meus olhos arderem, pois ainda dói muito.

- Eu tinha dezenove anos, era imaturo e havia acabado de terminar com meu namorado, com quem eu achava que seria para a vida toda. Eu não estou te culpando, Evan, mas você sabe como é ruim saber que seu namorado não planeja um futuro junto com você? Naquele dia você simplesmente me disse que seguiria seu sonho longe daqui e minha única opção era aceitar. Eu aceitava e ficava com você, tendo um namoro a distância, ou eu aceitava e apenas isso. - Falo e olho para Evan, que presta total atenção em mim. - Então eu escolhi a segunda opção.

- Sei que errei naquele dia, mas o que isso tem a haver com Luz? Independente se eu planejava ou não um futuro, eu deveria saber dela. - Ele rebate e eu sei que está certo.

- Eu sei! Mas imagina se você descobre estar esperando um filho, poucos dias após terminar com o pai dele. A primeira coisa que você sente é medo e depois você lembra que o pai dessa criança está determinado a ir para longe, seguir um sonho. Na minha cabeça, seu eu contasse a você naquele momento, você largaria tudo por Luz, mas no futuro poderia culpar ela por essa decisão. Você poderia ser alguém frustrado e eu não queria aquilo. - Conto a eles e sinto as lágrimas já descendo por meu rosto.

- Você estava certo em pensar assim, Otávio, mas também estava errado. - Meu padrinho se manifesta pela primeira vez e eu o olho. - Não cabia a você decidir isso, você não poderia prever o futuro, tanto que não previu essa situação. A única coisa que você deveria ter feito era ter contado. Se Evan aceitaria ou não essa criança, se ele a culparia ou não, isso era um problema dele, mas você não o deu esse direito. - Ele diz e se levanta.

- Se a menina estivesse viva, ela teria sido escondida até hoje? - Ele pergunta e isso me deixa sem fôlego por um segundo.

- Não! - Praticamente grito e enxugo as lágrimas do meu rosto, mas não adianta muito, porque novas caem. - Eu tinha prometido a mim mesmo contar a Evan e todos quando ela nascesse, mas ela morreu! Ela morreu e mais nada me importou! Vocês podem me odiar agora, mas as coisas não podem mais ser mudadas. Eu só quero pedir perdão e também pedir que não crucifiquem meus pais por uma decisão que era minha. Eles podem ter me mimado o quanto for, mas o que eles fizeram ao concordar com isso foi me respeitar. A culpa no final é apenas minha e de mais ninguém. - Falo, totalmente já cansado de tudo isso.

Eu só quero ter paz por um momento e não ter que mentir para mais ninguém. E ajudaria muito também não ter pessoas com raiva de mim.

Um silêncio um pouco incômodo se forma ao nosso redor e eu respiro fundo, querendo apenas ir embora, mas me mantenho firme.

- A culpa não é só sua, me sinto culpado também. A mágoa está grande em meu peito, mas eu não te odeio, Otávio. Te disse isso naquele dia e torno a repetir. A única coisa que não consigo aceitar, é você ter escondido tudo de mim, mas aos poucos eu tenho que aceitar, já que não podemos voltar atrás. - Evan diz após um tempo.

- Acho que minha maior mágoa não é nem de você, Otávio. E se Evan te perdoa, não sou ninguém para não fazer o mesmo. Mas isso não quer dizer que a relação entre nossas famílias continue a mesma. Eu ainda te amo, mas preciso de um tempo para assimilar tudo isso. Pode até parecer drama da minha parte, mas só eu sei o quanto está doendo em mim. E eu sei que ainda dói em você também. - Meu padrinho diz e olho para ele.

- Dói sim, mas um dia vai ficar suportável. - Sorrio para ele.

Ele assente e me surpreendo quando ele vêm até mim e me abraça. E mais uma vez eu me sinto acolhido.

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゚・*:.。*:゚・♡

Evan D'Ávila

Observo Otávio interagindo novamente com minha família, dessa vez com um clima mais leve e eu me sinto feliz por isso. Por mais que ainda esteja doendo tudo, pois é algo recente, eu jamais quis uma situação como essa e vê-lo mal.

- Chama ele para conversar, mas dessa vez sobre vocês.

Meu corpo chega a pular ao ouvir a voz sussurrada em meu ouvido e me seguro para não xingar John.

- Acho que ele não quer isso. E tudo ainda está muito recente. - Falo e vejo John revirar os olhos.

Estou encostado no corrimão de madeira da escada e John está à minha frente, encostado do outro lado.

- Ok, as revelações são recentes, mas vocês já estão há cinco anos separados. Converse com ele de uma vez e veja se vale a pena tentar ou não. Veja se quer lutar por ele, ou apenas seguir em frente de vez. - John diz e isso me faz bufar.

- Por que está se metendo na minha vida, mesmo? - Pergunto a ele, que cruza seus braços e arqueia uma sobrancelha para mim.

- Porque sou seu melhor amigo e te quero feliz, agora para de ser um bundão. - Ele diz e isso me faz rir.

- Bundão? Quem te ensinou isso? - Pergunto, pois John não possui esse linguajar.

- Seu irmão, agora vai lá! - Ele diz e pega em meu braço, me empurrando logo depois.

- John! - Grito com ele, o que atrai a atenção de todos para mim.

Abro um sorriso sem graça e olho para Otávio, que tem uma expressão mais séria em seu rosto agora.

- Hum... Será que podemos conversar, Otávio? - Pergunto, tomando coragem.

Ele arqueia uma sobrancelha em dúvida, mas assente e se levanta em seguida. Começo a seguir para fora, para ter mais privacidade, mas sei que assim que sairmos, os fofoqueiros da minha família vão nos espiar.

Sei que Otávio está me seguindo, então ando para o mais longe possível, parando perto de uma cerca, que faz divisão com outra parte da fazenda.

- O que quer falar comigo? Aliás, você ouviu a mensagem de voz que deixei para você? - Ele pergunta, se colocando ao meu lado.

- Ouvi sim, vou cobrar que me leve até ela, mas não agora... Não me sinto pronto para isso. - Falo e só de lembrar, meu peito se aperta de uma maneira surreal. - Na verdade, te chamei porque quero te perguntar algo.

Me viro parcialmente para ele, e vejo ele me olhar com curiosidade.

- O quê?

- Ainda há uma chance para nós dois, Otávio? - Pergunto, sem rodeios.

Eu ainda amo o homem na minha frente e se ele disser que sim, eu quero fazer dar certo. Otávio é a única pessoa que eu sei que vou amar na vida, e eu queria começar novamente. Dessa vez sem mágoas, sem mentiras e sem afastamentos.

- Nós? Você estava há horas atrás falando que John pertence a família. - Ele diz, soltando uma risada nada humorada.

- Porra, eu já disse que, sim, John é da família, mas não porque estamos juntos. Nós não temos mais nada! Foi até ele quem me disse que eu deveria falar com você. - Falo a ele, frustrado.

- Ah, então se não fosse por ele, não teríamos essa conversa? - Ele pergunta e reviro meus olhos.

- Teríamos sim! Eu disse naquele dia que queria consertar as coisas, mas você não me deu brecha e depois me contou tudo. Eu só quero saber se posso lutar por você agora ou apenas seguir em frente. Me diga, Otávio. - Peço e aproximo um passo dele, nos deixando quase colados.

Seus olhos se fixam nos meus e minha vontade é apenas o abraçar de maneira forte. Quero sentir seu cheiro, seu toque e quero beijar ele, sentir novamente o sabor dos seus lábios.

- Me diz se ainda há uma chance. - Peço e abaixo um pouco minha cabeça, deixando minha testa colada na sua.

Nossas respirações se misturam e ele é como uma droga, que me incita para ele. E não aguentando suportar mais, eu avanço contra seus lábios, colando nossas bocas. Minhas mãos seguram firmemente em sua cintura, o trazendo para mais próximo de mim e aprofundou o beijo, percebendo que ele me dá essa brecha.

E é maravilhoso demais poder provar seu beijo novamente. O sabor do chiclete de melancia ainda está em sua boca e isso me traz tantas lembranças de anos atrás. É como se eu estivesse viajando no tempo por seus lábios.

Mas nem tudo é um conto de fadas e esse momento não dura muito. Otávio me empurra após alguns segundos e me olha ofegante, de olhos arregalados.

- Não, não há uma chance. Eu não posso fazer isso novamente. - Ele diz e vira as costas para mim, se afastando em seguida.

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Olha eu aqui!! Olá jujubas, espero que tenham gostado do capítulo.

, esse meu casal... difícil!

Bjus da Juh até a próxima 😘😘

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