04 - Caos e Consequências

— Você exagerou. — Harper diz enquanto caminhamos pelos corredores em direção a aula de Física.

Acabamos de sair da aula de ecologia e eu finalmente pude despejar tudo o que aconteceu pela manhã. Mal consegui explicar alguma coisa na sala, a senhora Jules não costuma permitir muita conversa entre os alunos.

Eu exagerei?

— É, exagerou. Primeiro com a Emma e depois com o Jack.

Ela beberica seu suco de caixinha sabor de uva e eu travo no meio do corredor a assistindo continuar andando.

Como ela pode me dizer uma coisa dessas?

— Você está de qual lado? — A alcanço.

— Não é uma questão de lado, porque eu estou do seu. Sempre. Mas não concordo com o jeito que tratou algumas pessoa. Eu disse o mesmo sobre a Gina Belina ou sobre os outros alunos que você aterrorizou. É você quem me pede sinceridade a respeito de tudo... — Jogou a caixinha de suco no lixo no qual passamos perto.

— Sim, eu peço.

— Você exagerou, não precisava ter sido tão grosseira com os minhocas. Já é difícil para eles entrarem numa escola nova no último ano, e você não facilitou. Foi bem rude e maquiavélica com a Emma Mirelo e com o Jack Ahren.

— Mas eu provavelmente teria feito isso com qualquer um. Não tem nada a ver com eles serem novatos! Harper, não provoquei ambas as circunstâncias, só reagi a elas.

— Da pior maneira possível. Por acaso seu discurso vai vir acompanhado de "Os fins justificam os meios"?

Paro de andar outra vez em frente as portas da sala de aula e ela faz o mesmo.

— Eu não controlo sempre, quando vejo já fiz. — Bato as mãos nas laterais do meu corpo. — E eu sei lá... As vezes é como se tivesse algum monstrinho dentro de mim que eu não consigo conter algumas vezes.

— Você pode ficar com raiva, mesmo que não acredite nisso e se recuse a agir como um na maioria do tempo você é humana. Vai acabar cometendo erros, faz parte, mas não pode tratar as pessoas como se elas não tivessem sentimentos. Sabe que não é certo.

Harper, deve ser o grilo falante, a voz da minha consciência.

— É, eu estou sabendo. — Afasto os fios de cabelo do meu rosto.

— Que bom que concordamos porque eu falei com a Emma Mirelo para tentar conter os burburinhos entre os alunos e a convidei para comer com a gente hoje no almoço. — Conta falando tão depressa que eu levo alguns instantes para processar a informação.

— Como é?

Meu problema com a Emma não é pessoal.
Se eu for analisar, só me irritei com ela porque fiquei incomodada com a dor da queda e com a sequência dos olhares alheios depois disso.

Ainda assim, não quero contato, especialmente sob essas circunstâncias.

— Isso mesmo, e você vai ser legal.

— Harp, eu não sou legal com ninguém. — A recordo e me recordo disso.

— Uma ótima oportunidade para começar a ser. — Leva o dedo indicador até a ponta do meu nariz. — Cruz credo, você está parecendo a Rosana.

— O quê? — Contorço todas as minhas feições. — Não. Isso não. Eu não sou como a Rosana, ela é uma bruxa!

— Sabe o que bruxas fazem? — Finge que vai me contar um segredo. — Atiram vitaminas em moços bonitos e derrubam livros de garotas inocentes.

— Engraçadinha. — Reviro os meus olhos, a empurrando para dentro da sala, após o sinal ressoar pelo colégio novamente.

"Segundo algumas fontes, rei Albert irá anunciar o baile de apresentação do príncipe herdeiro até o fim dessa semana".

É o que diz quase todos os sites de notícias do país. Estou tentando esquecer esse minucioso detalhe, mas as pessoas não falam em outra coisa.

Preciso conversar com o tio Albert a respeito disso. Sobre não querer me casar com o filho dele, por mais incrivelmente e absurda que isso seja a ideia.

Eu deveria fazer isso o quanto antes, certo? Sim, o quanto antes. Antes que ele anuncie o maldito baile, antes que maldito o baile aconteça.

Eu deveria fazer isso hoje. Deveria. Eu posso fazer isso hoje? Eu deveria ter feito isso ontem, e antes do semestre iniciar, no ano novo, no natal e no dia do meu aniversário de dezessete anos. 

Nesse minuto, estou na sala de espera em frente a diretoria, aguardando para conversar com a diretora Piper novamente.

Motivo? Eu não fiz nada, eu juro. Bom, na verdade isso tudo é culpa do Dylan. Ele me pediu para buscar os formulários para que os alunos novos com veículos possam preencher e para que possamos distribuir as vagas disponíveis no estacionamento.

Eu não faço ideia do que está acontecendo lá dentro, mas estou esperando tempo o bastante para as minhas costas terem escorregado pela parede e eu estar praticamente deitada no banco.

Dylan me paga.

O relógio de pêndulo a minha frente balança de um lado para o outro. Acho que ele está me provocando. Ele não está fazendo apenas "Tic-Tac" ele está sussurrando "covarde, fala logo com ele".

Arrumo minha postura, tiro o celular do bolso da minha saia e desbloqueio rapidamente para mandar mensagem para o Enoc, secretário do tio Albert.

Albert detesta a tecnologia, pelo menos, é o que ele diz, então não tem o hábito de mandar muitas mensagens.

"Enoc, poderia falar para o rei que..."

Digito e apago tudo.

"Enoc, por favor, poderia pedir para o Albert me ligar e..."

Digito e apago tudo de novo.

Eu sou patética. Ridícula. Uma mula. É o que eu sou. E, eu tenho algum problema chamado: "Tenho um problema mental da cor do marca texto verde florescente da Harper e esgoelante como um bebê com fome e cólica no meio de uma savana prestes a ser devorado por leões, ainda não nomeado, sequer identificado, mas que existe e quando for descoberto, com toda certeza levará a droga dos meus três nomes próprios!

— Você me deu uma camisa feminina?

Ah, é, tenho em vista agora mais um problema e esse tem nome, sobrenome e uma certa insistência em falar comigo, no qual, eu ainda não consigo entender.

Pardon? — Bloqueio o celular, olho para o garoto e finjo sorrir.

— Você me deu uma camisa feminina, Isla?

Ele não parece zangado, o que é uma droga já que eu tenho me esforçado muito para deixá-lo no mínimo desconfortável.

Para ser honesta, ele parece desacreditado, e eu não entendo bem o porquê, sendo que ele está fazendo essa pergunta para a mesma garota que derramou vitamina na cabeça dele.

— Eu dei? Ops. Acho que me enganei. — Agora estou sorrindo da maneira mais genuína possível.

Não está nada mal. A além de ter um corte um pouco diferente da masculina, ficou apenas um pouco mais apertada nele.

— Se me permite dizer o senhor está perfeitamente aceitável. Uma graça. Isso não afeta o seu ego, né? Espero que não.

— Meu ego? — Ele une as sobrancelhas.

— É, Rosana costuma dizer que todos os homens tem um de tamanho proporcional ao que gostariam ter nas partes... Bom... Deixa pra lá.

Jack sacode a cabeça e respira fundo, muito semelhante ao que a Rosana faz quando está contando até dez para não me esganar.

— O que fez agora? — Por algum motivo, ele senta ao meu lado e eu escorrego para a ponta do banco, ficando na beirada e quase caindo.

— Por incrível que pareça, ainda sou uma das lideres estudantis e preciso pegar uma coisa que não é da sua conta, claro.

Cala boca, Isla. Cala a boca.

— Apesar disso tudo? — Ele aponta para a camisa que está usando e para o cabelo duro de vitamina. — Realmente votaram em você?

— Não necessariamente, vivemos numa monarquia. O senhor não deveria esperar que a maioria das coisas funcionem por meio de eleição.

Ele ri baixo, negando com a cabeça. Seu sorriso é largo e com uma certa descrença.

— E, por acaso esse título é alguma herança do seu pai? — Questiona.

— Eu não faço ideia.

E não faço mesmo.

— Como conseguiu se tornar líder estudantil?

— Se não sabia antes não vou saber agora.

Embora eu suspeite que a Rosana tenha algum dedo nisso.

Ele assente bem lentamente com os olhos fixos nos meus.

— O que foi? — Pergunto, franzindo as sobrancelhas.

Não era para ter perguntado. Sem perguntas. Sem perguntas.

— Não vai nem se desculpar?

— Pelo o quê exatamente, Sr. Ahren?

É ele quem está franzindo as sobrancelhas agora.

— A senhorita é inacreditável, sabia? — Eu não faço ideia do que ele quer dizer com isso, mas senti o pesar em sua voz quando disse "senhorita".

— Sou estúpida, encapetada e também inacreditável. Estou ansiosa para saber qual será o próximo adjetivo que será atribuído a mim. É o terceiro e estamos no segundo dia de aula.

— Já estamos discutindo de novo... — Ele eleva as mãos ao rosto.

— Para que fique bem claro, eu não fiz nada!

— Não, claro que não. É só praticamente impossível ter qualquer tipo de conversa com você!

— Me permita tentar entender. — Umedeço meus lábios e inclino meu corpo corpo sua direção. — Eu deveria me desculpar por não agir da maneira que o senhor espera que eu aja? É isso? O que espera que eu faça? Que eu me desculpe por hoje de manhã? Talvez se eu fosse outra pessoa. Para eu me desculpar implicaria em eu me arrepender. E, eu não me arrependo, muito pelo contrário, eu gostei.

Jogo minhas palavras sem hesitar. E há verdade nelas. Em cada sílaba. Nem todo mundo gosta dela.

Os olhos dele brilham em função das luzes incandescentes penduradas no teto e da claridade transpassando as janelas, mas não me dizem nada, e se dizem, não sei o quê.

— É, isso deixa tudo muito claro. — Ele pressiona a mandíbula e passa encarar o relógio a nossa frente.

Uma das grandes portas da diretoria se abre, revelando a Sr. Piper que arregala os olhos quando nos vê.

— Lady Isla. — Ela diz em um sorriso, após alguns segundos. — A senhorita outra vez?





Emma está sentada em uma das mesas do refeitório, olhando fixamente para sua bandeja, um pouco alheia ao mundo todo.

No seu prato há um bocado do purê de batata doce do colégio, um negócio horroroso, e acho que ela esta descobrindo isso agora porque já comeu boa parte das suas cenourinhas e mal mexeu nele.

Alguns burburinhos se iniciam quando Harper e eu caminhamos em direção a ela com nosso almoço. É quando Emma repara na nossa aproximação e arregala os olhos surpresa, assustada ou alguma coisa.

— Olá! — Harper a cumprimenta sorridente e animada, tomando um lugar na cadeira a frente dela.

— Oi, Harper. — Emma retribui o sorriso, engole a comida e encolhe os ombros.

Coloco a minha bandeja em cima da mesa e me sento ao lado da garota. Emma assistiu cada gesto e mesmo assim se sobressaltou com a minha aproximação "repentina".

— Oi. — Digo. Não preciso mais do que isso para cumprimentar uma pessoa.

Não tenho um bom pressentimento sobre isso.

— Cadê o Dylan? — Pergunto para a Harp olhando ao nosso redor.

— Eu achei melhor almoçarmos apenas nós três.

— Dylan é aquele garoto alto e loiro? — Emma me pergunta.

Ela tem uma voz meiga, doce. Faz jus a sua aparência.

— É. — Respondo.

O grilo falante que é a minha amiga eleva os olhos até os meus e sem precisar dizer nada me pede um certo esforço. Ela ainda me paga.

— Então, Emma. — Coço a garganta. — Está gostando do colégio?

— É claro. — Ela sorri. — O colégio é lindo. — Olha para a arquitetura do teto. — Os professores são ótimos e os alunos parecem ser tão espertos e maduros. — Volta a olhar para mim e para a Harper.

— E você sempre morou aqui em Serina? — Harp questiona.

— Não. Eu morava em Diana... Com o meu pai e a minha madrasta, mas ele faleceu há um ano e nós decidimos nos mudar.

— Nossa, sinto muito. — Dá para ver que a Harper realmente sente.

— Obrigada, algumas vezes é mais fácil lidar com a falta dele.

— E você tem lembranças dele? — A pergunta escapole pela minha boca. — Quero dizer, vo-você tem boas recordações?

— Oh, sim! — Ela alarga o sorriso e relaxa os ombros. — Ele era confeiteiro e sempre que podia fazíamos biscoitos juntos. Os melhores! — De repente seus olhos cintilam. — Sinto tanta falta que... Bom, ao menos temos as lembranças, não é? São coisas que não dá pra tirar da gente.

Exceto se você tiver Alzheimer ou algum outro tipo de amnesia. 

Harper de repente olha para mim como se me perguntasse se estou bem. Apenas faço que sim com a cabeça.

— Você também tem uma madrasta. Né? — Emma me relembra como se eu tivesse a sorte de esquecer. — Eu li sobre ela na internet. Ela é tão legal quanto é bonita?

— Na maior parte do tempo. Se tiver alguma câmera por perto. — Resmungo e mordo um pedaço da cenoura. — E, a sua é legal com você?

Emma dá os ombros e não diz nada.

— Ela é. Tem sido difícil pra ela também, sente muita falta do meu pai. Ele iluminava algo nela e depois que se foi... Eu não sei explicar, as coisas ficaram meio preto no branco. Quando é bom é bom demais, e quando é ruim... Sabe, é bem ruim.

— Eu sinto muito pelo seu pai, Emma. — Falo de repente e acho que é verdade.

Todas as vezes que eu ouvi essa frase, durante toda a minha vida inteira, desejei que estivessem sendo sinceros comigo.

Emma sorri em resposta, me passando a leve sensação de entender como é.

Não que Harper e Dylan não sejam capazes disso. Me refiro ao fato de que eles têm suas famílias. Até mesmo a Harper, com os pais divorciados desde que ela tinha treze anos, quando o pai foi morar no condado de Giles, onde ela visita sempre que quiser.

E, apesar de não lembrar do meu pai como eu gostaria, saber que eu tive um e agora não tenho mais, pode ter aberto um buraco em algum lugar. Alguma coisa assim.

Sobrevivi a mais um dia no salgueiro e as pessoas me fazendo perguntas sobre quando o rei irá anunciar o maldito baile, e aos murmúrios sobre eu ser a Medusa.

Primeiramente, seria útil ser a Medusa. Quanto ao baile de apresentação eu não faço isso. Não é como se eu realmente fosse saber, e o tio Albert tem um país para se preocupar, além da festa de aniversário do filho dele.

Quando o ultimo sinal decretou o fim das aulas, estranhamente Harry já nos aguardava com a limusine dentro do estacionamento do colégio.

Espero que ninguém tenha morrido. Muito menos o tio Albert. Eu não vou conseguir dar conta da Rosana sem ele.

Desço a escadaria principal, cada degrau, carregando nas costas os olhares atônitos das pessoas.

É medonho. Parece que querem arrancar um pedaço de mim ou enxergar através da minha alma. Se é que eu ainda tenho alguma.

— Nossa, isso é estranho. — Megan diz para a Maya, enquanto nos aproximamos do carro.

Uma vez ou outra tínhamos problemas com os jornalistas. Eles costumam pular os portões do colégio ou até mesmo do condomínio, o Belleville onde eu moro.

Só que isso é uma vez ou outra no mês, e de onde estou, posso ouvir inúmeros gritarem o meu nome aos quatro ventos, sendo barrados pelo portão de ferro. Esgoelando algo inaudível, fazendo tantas perguntas ao mesmo tempo que eu não sou capaz de compreender uma sequer.

Parece mesmo que alguém morreu. Foi assim no enterro do meu pai. Foi assim a minha vida inteira.

Vovó Ophelia não apareceu ontem. Tomara que não seja ela.

Apresso os passos um pouco atordoada e o Harry abre a porta para que as gêmeas e eu possamos entrar.

Fred está sentado do lado da janela mexendo no seu celular e um pouco alheio a todo o caos.

— O que aconteceu? — Pergunto e ele que me encara.

— Eu vou precisar sair pelos fundos. — Harry alerta, dando partida no carro.

Nem estamos tão perto dos paparazzi, mas parte de dentro da limusine preta é invadida pelos flashes das câmeras que oscilam entre a claridade intensa e a ausência dela, mesmo que a janela de vidro escuro estivesse fechada.

— Parece que você andou aprontando, maninha. — Fred me entrega o celular.

"Killer Queen: Isla Grant, a futura princesa e rainha de Verena, humilha alunos no colégio Salgueiro".

** killer queen é referência a uma música do Queen. Para os não sabedores que agora sabem.


ROOI! CUMPADIS!!

Eu ainda tenho um problema com esse capítulo, não pelos acontecimentos, mas pela narrativa em si. Não vou surtar agora, por ora é isso aí. Aceitem.

O quê acham que vai rolar agora?

Hihi

Pra ficar bem claro, eu não compactuo com as ações e pensamentos dos meus personagens. Eles não sou eu, eu não sou eles. Até porque a minha vida é destrambelhada e eu não sou tão interessante assim para escrever sobre mim. Kkkkkkkkkkkkk

EU TO INDO, QUANDO EU VOLTAR, ESTAREI DE VOLTA.

ops, capslook desativado!

Beijos e salamandras para os Alfredos e Sandras! E para tu! Cara de tatu!

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