14 de janeiro, 20:40 - Iris

—Jayden, estou aqui! Oh meu Deus, não vai acreditar no que vi no metrô esta manhã. 

Eu guinchei, balançando a porta do apartamento do meu namorado, aberta com a facilidade da mulher-Hulk.

Uma explosão de calor envolveu-me no seu abraço aconchegante enquanto saltava sobre a soleira, deixando para trás a fria noite de Boston. O meu nariz vermelho mais do que saudou a sua carícia ardente.

Arranquei com zelo meus Chucks vermelhos e as minhas meias escritas com "Livros transformam Trouxas em Bruxos" e saltei descalça à volta do apartamento do meu namorado.

Onde é que ele estava?

O jazz ligeiro saía de um quarto fora de vista.

Olhei para a esquerda e para a direita, acolhendo um ambiente familiar.

Uma pilha confusa de roupa suja decorava o tapete grosso da sala de estar.

Talvez as suas coisas estivessem simplesmente dispostas de forma abstrata como parte da sua sede insaciável de expressão criativa?

A seguir vi uma montanha de pratos na cozinha.

Não era expressão criativa, então, mas apenas a moça da limpeza sendo muito esperada.

A sua colônia fez cócegas no meu nariz, por isso ele não podia estar longe.

—Saia, saia, onde quer que esteja! Saia, saia e venha brincar! Isso me cheira a surpresa de aniversário!— Gritei para ninguém em particular, sorrindo de orelha a orelha.

—Detecto outro cheiro.

Uma voz gritou da cortina de chão ao teto, ao lado da janela panorâmica. Depois mexeu-se, e Jayden apareceu. Os seus abdominais esculpidos de aço ocupavam agora todo o meu campo de visão.

Delicioso.

O meu perfeito namorado Deus grego.

*Suspiros*.

Aquele homem tinha abdominais como Leonardo, Michelangelo, Donatello, e Rafael juntos.

Devagar, acolhi os seus exuberantes caracóis loiros, a camisa azul clara desabotoada, e um nó descuidado na sua gravata.

Quanto esforço foi necessário para conseguir aquele visual desleixado?

Seguindo o rastro de pelos em "T" do seu peito, as minhas bochechas coraram numa poderosa mistura de timidez e fome.

Jayden estava nu da cintura para baixo. E o Joãozinho coberto com um fofo chapéu de festa!

—Minha querida, eu morreria por você, mas o chulé dos seus pés vai me matar imediatamente.

O meu finíssimo namorado enrugou o nariz e nós rimos juntos, o seu aconchego substituindo o meu casaco agora descartado.

—E o que vai fazer quanto a isso, bobinho?

—Eu... Vou...— Jayden grunhiu e tomou-me nos seus braços quando os meus dedos começaram a trançar-lhe o cabelo. —Vou te levar para o banho e nós...— Ele estava agora a plantar beijos em toda a minha clavícula. —...vamos ter uma diversão quente, molhada e escorregadia.

Momentos mais tarde, dei por mim no referido chuveiro com as mãos de Jayden por todo lado. Deixei-o a me mimar enquanto ele gentilmente me molhava a pele pálida e lavava o cabelo frisado.

Logo todos os meus pensamentos e o meu cansaço foram destronados pelo redemoinho de sensações.

Só pude saborear o toque de Jayden nas minhas coxas, seios e todo o resto, os nossos pequenos suspiros de prazer misturados sob o vapor.

***

Quando aquele aríete de guerra finalmente parou, tive de utilizar a parede molhada do box do chuveiro como suporte.

Apenas um de nós podia desfrutar de água quente de cada vez, e no nosso caso, tinha sido e continuava a ser Jayden.

Eu estava a congelar.

E ainda por cima, tive de espirrar.

Aaaa... Aaaaa...

"Caro espirro, se vai vir, venha logo. Não ponha um olhar estúpido na minha cara e depois vá embora!"

Aaaaa-tchim!

Rapidamente me afastei de Jayden, certa de que havia uma meleca pendurada no meu nariz.

Agora compreendia perfeitamente como o pobre homem da barba sexy por fazer devia ter-se sentido no metrô, com a sua mão melecada e comprometida esta manhã.

— Ei. Estava prestes a te dizer para

virar e se inclinar, mas você já fez isso por mim.

Jayden mordiscou gentilmente o meu lóbulo da orelha. A minha respiração acelerou e eu enxaguei rapidamente a minha cara.

— Quem, eu? Está falando comigo?— Puxei a minha melhor voz de Robert de Niro.

Depois, dei um giro e me apoiei nas pontas dos pés para o beijar bem na bochecha.

— Sim, você, sua coisinha sexy. Feliz aniversário, Iris. — Ele pegou novamente a minha forma fatigada nos braços, enquanto fugíamos do local do crime e nos dirigíamos ao quarto principal.

— Obrigada, querido. E que possamos celebrar muitos mais juntos. — Eu respondi enquanto as nossas pontas do nariz tocavam suavemente, e ele começou a esfregar-me com uma enorme e fofa toalha.

Eu o repreendi quando ele começou a dispensar especial atenção aos meus pontos sensíveis.

—Rrrrrrr... —, eu ronronei baixinho. —Ã-ã. Chega de travessura.

Ele olhou para mim com olhos de cachorrinho, levantando dois dedos no ar.

—Não. Não. Segundo round. É quarta-feira e fazer aniversário no meio da semana pede dois rounds: um para cada metade.

Saltei para a cama king-size e me escondi debaixo dos confortáveis lençóis pretos de cetim. O meu sorriso feliz sorriu-me de volta, do espelho do teto.

Ele pressionou os lábios na minha testa e mergulhou ao meu lado, em total desilusão. Aninhei-me naquele lugar tão familiar, entre o seu queixo e o seu peito.

—Então, a aniversariante está pronta para outra surpresa?— Jayden beijou a pele sensível em cima do meu ombro nu, o que me deu arrepios agradáveis na espinha. —Afinal de contas, não se faz vinte e cinco anos todos os dias.

Outra surpresa? Oh meu Deus! estou surtando neste momento. Será um corgi? Por favor, por favor, me diz que é um corgi!

Os meus olhos devem ter parecido OVNIs a piscar, da perspectiva de Jayden. O bastardo sabia o quanto eu queria um corgi. Devo tê-lo importunado desde que começamos a namorar, há cinco anos.

O meu apartamento não permitia animais.

— Não, Iris. Não é um corgi. Reservei-nos uma mesa de jantar no Menton. — Ele sorriu.

A minha desilusão por ele ainda não estar pronto para partilharmos um animal de estimação juntos foi substituída por espanto.

—Men... Menton?— murmurei em incredulidade.

Aquele restaurante oferecia um menu de degustação de oito pratos, mas o preço era diabolicamente elevado.

—Jay-Jay. Eles são ridiculamente caros. Não era preciso... Fazer isso.

— Sei o quanto gosta de sopa cremosa com mariscos. E, bem, eles servem a melhor sopa cremosa de toda a Boston. Caviar, leite e mel incluído. Apenas o melhor para a minha garota. — Ele sorriu para mim. — Quanto ao preço, não é motivo de preocupação. Ah, e a minha mãe também irá.

Um arrepio frio passou por mim. A mãe de Jayden não gostava nada de mim e o sentimento tinha começado a tornar-se mútuo, por muito que eu tentasse controlar.

Eu era uma pessoa do povo. Eu queria me dar bem com ela, mas havia uma enorme lacuna entre eu e Cecília. Uma lacuna que talvez nunca fosse superada. Não conseguia ficar à vontade com ela por perto, e a razão era o seu olhar de julgamento.

Sempre que estávamos na mesma sala, era como se Cecília me segurasse sob uma lupa mamute desaprovadora.

A minha cor de cabelo, o meu aparelho, a minha escolha de estilo.

Os meus desenhos de Boston, a minha paixão pela ilustração, o meu trabalho na banca de quadrinhos.

Ela nunca tentou compreender ou aceitar as minhas escolhas. Ela simplesmente as desaprovava, desejando que eu... Me tornasse outra pessoa.

Será que eu alguma vez iria ser suficientemente boa para o seu filho?

Por vezes, perguntava-me se Cecilia era em parte a razão pela qual Jayden ainda não tinha se comprometido comigo.

—Ei, vai correr tudo bem. — Jayden parecia nervoso com o meu súbito silêncio. —Ela telefonou-me esta tarde para ver quais eram os nossos planos. Ela também parecia um pouco solitária, por isso a convidei para juntar-se a nós. Espero que não se importe. Prometo que te compenso. O que acha? Talvez seja uma oportunidade para vocês duas se unirem mais um pouco também! Olha, ela até te comprou uma lembrancinha! — Ele exibiu um presente em forma de quadrado, cuidadosamente envolto num papel de cor fúcsia com uma fita cor-de-rosa.

—Um... presente? Para mim? Oh, uau!— As minhas mãos foram parar na minha boca.

—Sei que queria um corgi, mas posso garantir que não é um, infelizmente. Eles não vêm em formas quadradas. — Ele sorriu.

—Pergunto-me o que será! Aaah, espero que seja um livro! — A criança impaciente em mim rasgou o embrulho de presente em pedaços. Nunca consegui esperar para descobrir o mistério que o papel brilhante escondia no seu interior.

O que encontrei foi um quadrado de papelão com cor de casca de ovo.

—"Vale de Oferta: válido para uma visita ao salão Eva Michelle"—. Li o texto escrito.

—Diz mais alguma coisa?— Jayden esticou o pescoço para um olhar mais atento.

Virei o cartão. A caligrafia precisa de Cecilia o cobria.

"Cara Iris

Este é um vale de oferta para o melhor salão de cabeleireiro em Boston. Marque um horário com Michelle Lee. Ela é uma feiticeira com um par de tesouras. Os seus cortes são nada menos que impecáveis.

Com amor,

Cecilia"

Pude ouvir a sua voz no meu ouvido interno e contemplar o bordão florido do voucher, suprimindo a vontade de o amassar.

—E então... Gostou?

—Gostei, Jay-Jay. É... Muito atencioso da parte dela.

Quem poderia resistir ao seu olhar doce?

Ele aproximou-se e beijou minha testa.

—Ótimo! Pronta para ir ao restaurante, então?

Pude ver o quanto isso significava para ele. Ele queria desesperadamente que eu e Cecília nos conectássemos, que nos déssemos bem. Eu desejava que este fosse o nosso dia especial, mas...

—Ok—. Adotei o meu melhor sorriso falso. —Porque é que nós três não vamos nos empanturrar sem culpa com aquela sopa de manteiga? 

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