Prólogo

Belo Horizonte
Junho, 2016

Já estou chegando. Esperem só mais alguns minutos.

    Ela encerra a ligação e anda com passos apressados em direção à próxima avenida, onde combinou de encontrar com seus pais numa lanchonete. Cristina olha que horas são no celular e repreende a si própria que em casos de compromissos não é pertinente parar em algum lugar antes. Ela sabe disso, sabe principalmente que seu pai não tolera atrasos. Não tem o que fazer, era importante ir até à biblioteca.

     Tina está quinze minutos atrasada e se não correr irá ficar mais uns cinco. Rosana marcou que os três se encontrassem naquele local, pois não é distante de onde sua filha estuda.

     Ela dobra à direita correndo discretamente evitando esbarrar nos outros pedestres, o peso da mochila que ela carrega não colabora. Ao chegar em frente à lanchonete, Tina suspira levemente, ela está exausta como se acabasse de percorrer uma maratona de cinco quilômetros. Prende o cabelo em um coque frouxo e apoia as mãos nos joelhos. Concluiu que precisa urgentemente praticar atividades físicas para deixar de ser sedentária.

     Respira fundo, levanta o corpo e entra na lanchonete. Ela desvia o olhar pelo estabelecimento e vê que o movimento está mais fraco se comparado a última vez que esteve ali, nota um grupo de adolescentes sentados na mesa perto da porta dando risadas exageradas, provavelmente ouviram a piada mais engraçada do mundo. "Será que estão rindo de mim?" — ela pensou. Perto do balcão há um casal de jovens sorrindo trocando olhares apaixonados. Lá no fundo estão seus pais sentados numa mesa para quatro pessoas, obviamente sobrará um lugar. Ela ajeita a alça da mochila no ombro e caminha até lá forçando um sorriso.

— Desculpem o atraso. Eu tive que passar na biblioteca antes de vir, precisava devolver um livro.

— Tudo bem, Tina. Você chegou e é o que importa. — Rosana se pronuncia.

— Sente-se, filha. — o pai lhe ordena.

     Cristina tira a mochila das costas e põe no chão sem importar com o estado do mesmo. Senta de frente para à mãe e repara que seus pais estão com semblantes fechados.

— Qual o motivo do encontro? Vamos comemorar algo?

— Tina, eu e seu pai precisamos conversar seriamente com você. — Rosana bebe um gole do suco de laranja que pediu alguns minutos atrás. — Nós deveríamos ter contado antes.

— Adiamos porque tínhamos medo da sua reação. Mas agora não dá mais para esperar. — Carlos continua.

    Rosana abaixa a cabeça e suspira tão alto que atrai a atenção da sua filha, conta de um até cinco em pensamento e depois olha para o relógio em seu pulso.

— O que vocês querem falar? É algo grave, papai? Não estou gostando da cara de vocês.

— Uma pergunta de cada vez, Tina. Respira. E não, não é nada grave. Faz o pedido, vou chamar a garçonete, você deve estar com fome. — ele pega o cardápio e vira na direção de Cristina.

— Não estou com fome. A mamãe está doente? Ah não, alguém da nossa família faleceu? Meu Deus, eu sinto muito!

— Não é nada disso, Tina. Acalme-se. O que acontece é que...

— Eu vou me mudar — Carlos interrompe a esposa. — Sua mãe e eu estamos nos divorciando.

     A reação de Cristina não foi um escândalo ou fazer várias perguntas uma atrás da outra como seus pais pensaram. Ela apenas colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha como sempre faz quando está nervosa, a maioria das vezes é um gesto que realiza inconscientemente. Em seguida, buscou na memória motivos para tal ação. Sempre teve a visão que seus pais são felizes juntos, é claro que ela reparou que ultimamente eles estavam meio distantes; os filhos sabem quando o casamento dos pais não vai bem. Contudo, achou que era só uma fase. E realmente é uma nova fase agora na vida deles. Cristina murmurou um sinto muito e tentou segurar uma lágrima que estava quase descendo, ela simplesmente só queria tentar ser forte na frente deles.

— Filha, é um momento difícil. É um choque para seu pai para mim também, eu nunca imaginei que a situação chegaria a esse ponto. —Rosana toca o polegar na bochecha de sua filha — Vinte anos de casamento é muito tempo, e chega uma hora que tudo muda, e nada volta a ser como era antes, e às vezes quando percebe já passou tanto tempo. Eu só não quero passar o resto da minha vida competindo com o trabalho do Carlos a atenção dele. Infelizmente, seu pai não aprendeu conciliar os dois. Você sabe que ele nem passa mais tempo com nós duas. E fica tranquila, ok? Independentemente das circunstâncias nós amamos você.

— Tina, eu não vou fugir da minha responsabilidade de pai. Quando você precisar eu estarei aqui. Você é mais que bem-vinda na minha nova casa, sua mãe também apesar dos pesares. — ele deu um sorriso sem mostrar os dentes, na expectativa de passar verdade e conforto para ela.

— Eu sei, papai. Eu amo vocês também. O senhor vai morar no mesmo prédio?

— É mais longe. Eu vou ir para São Paulo, eu recebi uma proposta de emprego em um escritório bastante renomado e não tem como eu recusar. Mas você sabe que pode contar comigo para sempre.

    Cristina viu que ele enfatizou bem a palavra "sempre". E sempre é muito tempo. O momento tenso chegou ao fim, ela compreende que é a melhor decisão e apoia seus pais, ela os ama. E o amor não força absolutamente nada. Se eles estão satisfeitos com a escolha, ela tentará ficar por eles. Tina tem certeza que no decorrer da noite quando estiver sozinha no seu quarto, lágrimas vão cair.

                                  ♡


Beijinhos e até o próximo capítulo. 😚
Se tudo der certo, as postagens vão começar a partir de setembro. 😌
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