O paciente💍
— Nós conversamos bastante, praticamente o tempo todo, nunca cansamos. É meio louco, eu sei, até criamos nossa própria linguagem. É como... como comida chinesa!
Taehyung parou perto do meio fio esperando alguns carros passarem. Havia marcado o almoço no restaurante local com Jimin, como foi dito antes.
Nesse meio tempo em que foi buscá-lo na casa do lago, o loiro não parava de falar. Era impressionante como mal respirava entre as falas.
— Comida chinesa?
— Sim! Digamos que às quintas você já esteja cansado da rotina de acordar mais cedo, fazer comida e guardar tudo na geladeira, se quiser ter uma janta descente ao voltar pra casa. Nesse dia você está lá, sem forças para esquentar a marmita, mas sem vontade alguma de pegar o telefone e pedir comida gordurosa de fast food. E então alguém chega... Um anjo com uma sacola enorme assim... — Jimin abriu os braços mostrando o tamanho do saco. — Cheio de comida chinesa! — riu. — Pois é, Jungkook às vezes faz isso. E eu nem preciso dizer nada. É como se ele lesse minha mente... Por isso que sou apaixonado por ele, porque ele me ganha nesses pequenos detalhes.
— Impressionante.
— Pois é... comida chinesa! — deu risada, seguindo o acastanhado ao atravessar a rua.
[...]
— Oh, sim. Ele é maravilhoso!
As bochechas do loiro já doíam de tanto sorrir. Com certeza, lá na capital, as orelhas de Jungkook deveriam estar pegando fogo de tanto que seu nome foi invocado.
— Então... — Taehyung limpou o canto da boca com o guardanapo de um jeito elegante. O ex de Jungkook mantinha os cotovelos rente ao corpo, longe da mesa, seguindo a etiqueta. Ele também mastigava devagar e fazia pequenos comentários quando não estava de boca cheia. — Iria me dizer como se conheceram.
— Ah, certo! — Jimin deu uma boa golada do vinho e lambeu os lábios. Não era difícil criar histórias em sua cabecinha fantasiosa. — Eu estava atravessando a rua e um idiota ultrapassou o sinal vermelho, me pegando em cheio. Era um ciclista, mas ele veio com tudo e eu voei pela pista! Mas, para sorte dele e azar o meu, não tinham câmeras de segurança, nem conseguiram impedir que o atropelador de fugir. A polícia também nunca o pegou, porque foi tudo tão rápido... Nem lembrei de nada que pudesse identificar o cara.
— Que absurdo. — disse horrorizado. — Mas você se machucou muito?
— Bom... Meu nariz amassou, quebrei meus malares e a parte frontal da mandíbula. Também torci o tornozelo e meu pé teve que ser imobilizado. Passei muito tempo andando de moleta. — Taehyung prendeu a respiração imaginando a dor dilacerante do loiro enquanto a pessoa que o atropelou, fugia sem prestar socorro. — Obviamente desmaiei na hora. Quando acordei no hospital, eu já tinha sido operado e meu rosto estava todo enfaixado. Eu parecia uma múmia. Só dava para ver uma parte dos meus lábios e o branco dos olhos.
— Nossa... Eu sinto muito.
— Não, tudo bem. Foi o destino. — deu de ombros.— O caso é que, no quarto de hospital tinha uma arquiteta que trabalhava no mesmo escritório que Jungkook. A primeira vez que o vi, ele trouxe lindos balões para ela. Acho que ficou com pena de mim, por causa do meu estado lamentável. Ele foi sensível o suficiente para me dar um balão. — Jimin largou os talheres para levar a destra ao queixo. Por alguns segundos se manteve distante e pensativo, como se estivesse mesmo revivendo àquelas memórias. Taehyung o achou adorável. — No dia seguinte ele voltou ao hospital para visitar sua amiga, mas também para me ver. E aí voltou no dia sucessor a esse, depois outro dia e mais outro...
— Isso foi bem atencioso da parte dele.
— Sim, muito fofo. Mas não era nenhum tipo de paquera, nem nada, porque ele nunca tinha visto o meu rosto e aquelas roupas do hospital não ajudavam muito. Éramos só duas pessoas se conhecendo.
— Hum... — Taehyung assentiu, entendo o rumo da história. Seu ex poderia não demostrar, mas atrás daquela carcaça de durão existia alguém sensível, que não se encantava facilmente pelo superficial. Ele viu Jungkook dá muitos foras em jogadores no colegial, caras top de linha que qualquer um adoraria ter aos seus pés, mas não Jungkook. Ele sempre foi leal, um amigo presente, que mais tarde virou um namorado doce e devotado. Por isso, tudo o que Jimin falou, fazia sentido.
Ele olhou para o loiro à sua frente e estranhamente a saliva engrossou em sua garganta, então bebeu um pouco mais de vinho.
De repente só queria encerrar o almoço e sair dali.
— Eu estava desempregado e não sei como, mas Jungkook descobriu que meu plano de saúde não cobria a operação... Então ele quitou tudo antes que soubesse!
— Espera... Jungkook pagou? — o acastanhado franziu as sobrancelhas bem feitas quando Jimin não hesitou em balançar a cabeça, afirmando. Normalmente o ex-namorado não gastava o dinheiro com atos impulsos. Ao contrário, Jungkook juntou dinheiro por anos para fazer a casa e Taehyung ouviu dizer que ele até precisou fazer um empréstimo para cobrir os gastos extras na construção. — Mas como ele fez isso? Jungkook botou todo o dinheiro naquela casa.
— Ora bolas... Ele é arquiteto. — grunhiu.
— Sim, mas ele é só um funcionário. Não ganha tanto assim.
E ali estava aquele olhar de desdém que Jimin odiava sentir.
Ele mal conhecia Jungkook, mas doía na sua própria alma ver que seus país e agora o ex namorado, media com mesquinhez seu valor.
Foi nesse exato momento que resolveu alavancar, ainda mais, a moral de Jeon Jungkook, seu homem.
Mesmo que fosse seu marido de mentirinha.
— Você não soube? Jungkook foi promovido.
Taehyung arregalou os olhos.
— Mesmo?
— Hunrum. E agora todos o adoram na empresa!
— Adoram? — as feições do outro eram robotizadas entre um meio sorriso e sobrancelhas suspensas.
— Jungkook está se saindo super bem lá!
Taehyung não conseguia absorver aquilo. Jungkook promovido? Mas sempre ouvia as queixas do moreno sobre a péssima remuneração no trabalho. Podia até dizer que Jungkook odiava aquele lugar.
— Mas continuando... —
Jimin estalou a língua, satisfeito com o efeito que causou. — Ele me levou de volta para casa e passou vários dias lá comigo, enquanto me recuperava. Jungkook cuidou de mim.
— Isso tudo sem ver o seu rosto?
— Sim, porque estava todo enrolado, que nem uma múmia.
— Nossa... Isso é bem o Jungkook. Garçom, por gentileza, um pouco mais de vinho!
Jimin colocou os dois cotovelos na mesa, impulsionando o corpo para frente, pouco se importando se era falta de educação. Era hora de provocar o ex certinho, que dispensou o seu atual marido.
E não havia algo melhor do que tocar no ponto fraco de qualquer homem: sexo.
— E daí uma noite ele me beijou lentamente e começamos a... — mordeu os lábios, sugestivamente. — Você sabe.
— Ah, sim...
Taehyung foi o primeiro a quebrar o contato visual. Seu rosto ficou vermelho como tomate, mas não era efeito da bebida.
— Lá estava eu, horrível com aquela máscara de múmia. Embora tenha sido incrível porque eu poderia ser qualquer um. Nossa, nunca alguém me desejou tanto... — Jimin fechou o olhos propositalmente e gemeu. Quando abriu as pálpebras, viu que Taehyung mal piscava. — Oh, esse fato deixou tudo mais selvagem... Meu Deus, nem te conto as loucuras que fizemos naquela noite. Foi... — Jimim revirou os olhos, completando: — de outro mundo.
— Posso imaginar. — Taehyung se remexeu na cadeira, sentindo a calça repentinamente ficar apertada.
— Foi tão avassalador que ele não quis mais me largar. Aí pediu minha mão em casamento sem nunca ter visto meu rosto. Jungkook sequer tinha uma foto minha, nadinha. Ele já dizia que me amava, que queria casar comigo, então foi o que fizemos. Nos casamos no hospital quando fui tirar as ataduras e o gesso. Parecia uma boa ideia dizer nossos votos lá porque foi onde nos conhecemos. Existia também o fato de Jungkook estar muito ansioso para ir a uma igreja convencional. Apressadinho, não? — brincou, todo confiante. — E quando o capelão disse "Pode beijar o noivo", ao invés dele levantar o véu, o médico tirou a gaze. Jungkook, assim que me via sem aquelas ataduras, ele estendeu a mão para tocar meu rosto e... — Jimin fez uma pausa dramática, onde conseguiu prender Kim Taehyung. — ele sorriu.
— Ual... Nossa, o que é isso? Estou chorando?
O acastanhado puxou alguns lenços dentro da sua bolsa e enxugou as lágrimas, dando também alguns para Jimin que também chorava.
O loiro aceitou de bom grado, seus lábios até tremiam pelo choro inventado. Embora no fundo só se perguntava o motivo real de um ser humano trazer lenços perfumados dentro da bolsa.
[...]
Já era final de tarde quando Jungkook chegou em Dobb's Mill, com seu inconfundível Conversível preto.
O carro era um clássico, que ganhou do pai quando fez a maioridade. Jungkook tinha um imenso apresso pelo automóvel, na verdade ele se apega às coisas que o marcavam. Seu carro, por exemplo, era uma lembrança dos tempos bons, como no final do colegial quando estacionava o possante e todos os olhavam com inveja. Naquele tempo, seus sonhos aínda eram frescos, tinha amigos, pais que o apoiavam e um namorado lindo que dizia lhe amar. Então se livrar do Conversível para pegar um modelo novo não estava nos planos. Ele passaria aquele carro para seu filho como um legado...
"Se é que ainda terei um filho algum dia", pensou amargurado.
No banco detrás, uma placa grande, já acoplada com estaca para fincar na grama, estava escrito "Casa à venda", junto a uma mala abastecida com mudas de roupa.
Seria uma viagem curta, apenas para dar entrada na papelada e pegar o contato com alguma corretora, mas algo estava errado e ele percebeu isso assim que estacionou o Conversível no gramado aparado.
Jungkook desceu do carro, deixando a chave na ignição.
Ele estava duvidando dos seus olhos: havia uma caixinha de correio feita de madeira e pintada a mão, flores em jarros suspensos e um tapete na varanda escrito "seja bem-vindo". Também estranhou a falta da faixa vermelha. Era estranho como tudo parecia limpo, mesmo a casa estando inabitada há meses.
O moreno se apressou em pegar a chave no bolso, mas a porta se encontrava destrancada, só teve o trabalho de empurrar.
Quando viu a sala mobiliada, seus olhos dobraram de tamanho: sofá, televisão, estante, carpete, luminárias... e alguém cantalorando em sua cozinha.
Tinha um intruso em sua casa!
A primeira reação do arquiteto diante disso foi a que qualquer um teria: se esconder do ladrão. Contudo, seus ouvidos atentos reconheceram aquele timbre e Jungkook saiu detrás da coluna trincando os dentes.
Ele passou pela sala como um furacão, indo direto para a cozinha, onde uma bumbum redondo mexia enquanto o dono estava curvado tirando algo do forno.
— Que palhaçada é essa?!
Jimin ficou pálido. O sangue fugiu de seu rosto ao virar e dar de cara com a personificação do esposo perfeito que inventou.
— O que está fazendo aqui?
— O que estou fazendo aqui? — repetiu sarcástico, devolvendo a pergunta. — O que você está fazendo aqui?!
Jimin largou a fornada de biscoitos sobre o balcão, tirando as luvas. Após o choque de ver o arquiteto ali, o pânico começou a bater em seu calcanhar. Havia chegado longe demais, contudo esperava ter tempo de frear as coisas antes daquilo de fato acontecer.
— B-bem eu... fui despejado e não tinha para onde ir. Deveria ter ligado para você, mas não tinha seu número, sequer sabia onde trabalhava. E aí... — foi interrompido pelo arquiteto ao levantar a mão.
— Você é aquele garçom... Jimin, certo?
"Sério isso? Jungkook tem amnésia pós sexo e não lembra mais de mim?", pensou o loiro insultado.
O baixinho ajeitou a coluna, colocando as duas mãos na cintura.
— Oh, desculpa. Achei que tivéssemos sido apresentados.
— Não, não é isso. Eu reconheço você. É que... Você estava diferente com aquele uniforme e depois sem ele... — se enrolou, balançando a cabeça. — Enfim, o que está fazendo aqui?
Jimin precisou pensar rápido.
— Jacquin e eu discutimos. Ele fez... coisas.
— Coisas? — Jungkook tentou entender, porém nada fazia sentido.
— Ele entrou no meu apartamento sem anunciar e colocou as mãos onde... não deveria.
— Caramba. — Jungkook entendeu o motivo da fuga, só não concordava que sua casa era o refúgio para tal.
— E você não tinha um amigo ou amiga? Alguém que pudesse pedir ajuda? Ao menos deu queixa na polícia?
— Não, não... É complicado. Medo, vergonha... E eu não tenho amigos, só colegas que não arriscariam o emprego para depor contra o chefe. — murmurou, fazendo uma espiral com o dedo no balcão. Estava mentindo na cara dura, mas uma história triste talvez driblasse a fúria do homem. — Tudo o que eu tinha era aquele desenho. E claro, a informação de que a casa ficava aqui em Dobb's Mill. Que estava parada, sem ninguém usá-la...
— Geralmente casas ficam paradas. Elas não tem pés. — resmungou, cruzando os braços. — E de onde vieram esses móveis?
— Da loja.
— Não é hora de bancar o engraçadinho comigo, Jimin! — advertiu com o indicador, todavia o loiro não se intimidou.
Ele revirou os olhos, feito um adolescente.
— Da Bigelows.
— Eu quero saber c-como isso tudo veio p-parar aqui! P-por acaso teve uma c-chuva de móveis?! — as veias de seu pescoço saltitavam enquanto falava.
Observação importante:
Jungkook costumava gaguejar quando ficava extremamente irritado.
Jimin achou bonitinho.
— Foi emprestado. Eu pago de volta, ok?
— V-você o quê?!
— Bam, nãaaaao!
Jungkook nem teve tempo de saber quem era esse tal de Bam, porque logo foi empurrado como se fosse uma resma de papel quando duas patas enormes esmagou suas costas, o injetando para frente.
— Você comprou a porra de um cavalo?!
— Não fale assim dele, tadinho! Você não tem coração? — o loiro saiu puxando o cão enorme pela coleira, mas Bam saiu trotando, as patas longas escorregando no assoalho. O pior era que o cachorro realmente parecia um equino desengonçado. — Para seu conhecimento, o Bam é um doberman! Além do mais, o marceneiro ficou de fazer uma casinha pra ele amanhã. Jesus... Calma, garoto!
— O quê?!
— Por que está gritando, caramba?! Tem algum problema de audição? Vamos, Jungkook, não fique parado aí e me ajude a abrir a porta!
Jungkook não teve outra alternativa a não ser abrir a porta da cozinha para deixar o cachorro/cavalo ir ter acesso ao quintal.
Depois de muito empurra empurra, finalmente conseguiram fechar a porta. Bam ainda deu alguns latidos, choramingando, até se conformar em ficar lá fora.
— Pode me explicar... que merda toda é essa? — questionou sem fôlego, ainda escorado na porta, caso o cachorro fosse esperto o suficiente empurrá-la.
— Vai me escutar agora?
— Ok... — soltou o ar, assentindo. — Pode falar.
O loiro começou pelo óbvio:
— Eu estava com fome. Fui ao mercadinho pegar pão e manteiga de amendoim, quando ouvi a senhora Kennedy falando com...
— Espera, espera! Conheceu a senhora Kennedy?
— Sim, Wendy Kennedy, a esposa do Stuey, sua antiga professora de piano. Ela é ótima! — Jimin lavou as mãos na pia e foi falando com naturalidade, ao mesmo tempo que separava os biscoitos, agora em temperatura ambiente, dentro de um potinho de vidro. — Nem te conto, mas soube que o filho dela andou aprontando ultimamente. Tem haver com engravidar a filha da vizinha. Dá para acreditar? Ele só tem dezessete anos! — fofocou.
Jungkook balançou a cabeça
— Eu sei, babado fortíssimo! Estão querendo que ele case com a garota.
— Não, não, não é isso! V-volta para o mercadinho, onde disse que estava com fome.
— Oh, sim. Ela disse para Traves colocar na conta.
— V-você deixou as contas para eu p-pagar?!
Jimin franziu as sobrancelhas.
— Bom, eu estava faminto. Você tem que compreender isso.
Jungkook puxou os cabelos, desfazendo o topete em gel.
— Certeza que irei enlouquecer... — grunhiu baixo, tentando não infartar. — O que você disse a ele?
O loiro deu de ombros.
— Não sei. Acho que ele teve a impressão que eu era algo seu...
— Você é l-louco? — Jungkook voltou a se alterar e Jimin revirou os olhos, levando o pote de biscoito consigo ao sair da cozinha. Jungkook o acompanhou. — Você é c-completamente maluco!
— Não sou. Eu pedi a ele para colocar na nossa conta. — retrucou. — Como já disse, vou te pagar.
— "Nossa conta"? — repetiu pateticamente. Era isso. Ali foi montado um circo, sem seu conhecimento, e ele foi escalado como o palhaço principal. — Caramba, agora entendi! Você e eu...? — apontou para o loiro, depois para seu próprio peito. — Você d-disse que era meu marido?!
Jimin parou no meio da sala, abraçando forte o pote de biscoitos.
— Ora, o que eu podia fazer? Se tivesse no meu lugar, faria igual!
— C-com certeza, não! — bufou, desacreditado. A situação toda era tão absurda que Jungkook começou a rir por puro desespero. — E Traves acreditou?
O baixinho arqueou uma sobrancelha, empinando o queixo.
— E por que ele não acreditaria?
— B-bem, é que...
— Não sou bom o suficiente para você, Jeon Jungkook? — no segundo seguinte Jimin cutucava o peitoral alheio, fazendo Jungkook dar passos para trás. — Não estou no nível de ser seu esposo, hum?
— V-você inverte as coisas rápido d-demais! — o arquiteto segurou a mão pequena, se defendeu de outro cutucão. — Me deixa confuso!
— Pois Traves acha que sou! E a senhora Philippe da loja de ferragens, Lorraine da loja de ração... Benny, o florista.
— Oh, meu Deus! — Jungkook exclamou quando reconheceu a mesinha de centro. Era uma relíquia de família. — Me diz que essa mesinha não é minha mãe...
— Eu sei. Também não é do meu gosto. Mas tudo isso... — girou a mão livre no ar. — representa um compromisso. — Jungkook paralisou. — Você conhece o gênio da sua mãe, é difícil dizer não a ela.
— Você conheceu A MINHA MÃE?! Meus p-pais pensam que estou c-casado?! — esbravejou, voltando a gaguejar.
— Calma... Não é tão ruim assim.
— Ar, preciso de ar... — Jungkook sentou no sofá, afrouxando a gravata. Era novo demais para ter um enfarto, mas sentia que seu coração não era tão forte assim. Estava tendo uma crise de histeria, a visão até ficou turva. — Chama os paramédicos, eu vou ter um troço aqui!
— Não seja dramático... — debochou o loiro, ficando irritado ao ver que Jungkook sequer tirou os sapatos quando entrou em casa. — Se importa em tirar os pés sujos de cima do sofá?
— Jimin... — Jungkook fechou os olhos por um segundo. Quando abriu, o loiro já não estava mais lá. — Jimin? JIMIN VOCÊ NÃO PODE FICAR AQUI! —
gritou, vendo a sombra do mais novo desaparecer pelo corredor que levava a suíte.
— E POR QUE NÃO?! — gritou de volta.
Jungkook correu, lhe alcançando já dentro do quarto.
— Não sei, será que é pelo fato de mal nos conhecermos? — disse sarcástico.
— Ah, você não reclamou disso quando dormiu comigo.
— Então é isso? Ok. Você tem razão. E eu sinto muito, muito mesmo por ter agido daquela forma com você. — abaixou a guarda, reconhecendo. — Ual... o quarto ficou bonito.
Jungkook olhou ao redor fascinado pelo o que o outro fez ali: havia uma cama de casal toda em ferro, do tipo tenda, com um véu no teto. Uma mesinha em cada lado da cabeceira, abajures vintage, uma penteadeira adorável com uma toalha bordada delicada e flores de laranjeira no peitoral da janela coberta parcialmente por cortinas brancas. Tudo muito romântico, mas não de um jeito extravagante.
— Obrigado.
— Tudo bem... Olha, Jimin, eu fui um completo bacaca saindo daquele jeito, mas estou passando por uma fase difícil e essa situação incomum só complica as coisas. — Bam não parava de latir do quintal, como se estivesse querendo avisar algo. — Eu tenho aqui... — bateu nos bolsos procurando a carteira. — Tenho US$ 100,00. — estendeu as notas. — Não é muito, mas é só até você se recuperar. Tome, é todo seu.
Jimin continuava embolado nas cobertas, agarrado inutilmente ao pote de biscoitos como se sua vida dependesse disso. Dali ele mais parecia um gatinho indefeso, com os olhos brilhantes.
— É o pagamento por meus "serviços" prestados? — acusou magoado. — Não quero seu maldito dinheiro, Jungkook!
— Não, só minha maldita casa!
No meio da discussão acalorada a campainha tocou. Jungkook arregalou os olhos, assim como Jimin.
— Você não disse que o marceneiro viria só amanhã?
— Oláaaaa? — cantarolou alguém na porta.
— Taehyung! — disse os dois em uníssona.
Jimin bufou, franzindo mais a testa quando Jungkook saiu apressado para encontrar o ex.
— Oh, a porta estava encostada e eu... Eu estava louco pra ver como tinha ficado por dentro. — balbuciou envergonhado. Jungkook não sabia o que dizer, não via o Kim desde que romperam. Ele sentiu tanta saudade que muitas vezes desejou arrancar seu coração. — Então vi seu carro e... Estou tão feliz por você. Parabéns! — confessou o Kim avançando para dar um abraço apertado em um Jungkook confuso e sem reação.
Até que o arquiteto despertou do transe, quebrando o contato.
— Não, não precisa me parabenizar, Tae. Eu e o Jimin... — nesse minuto o loiro saiu do quarto pisando fundo e indo direto para a cozinha. O coitado tinha se entalado com os biscoitos. — QUER CONTAR OU EU CONTO, JIMIN?!
— NÃO AMOLA!
— "Não amola". — Jungkook o imitou com uma voz fina. — Que tipo de gíria é essa? Por acaso é um adolescente dos anos 90?!
— Jungkook, talvez eu deva voltar uma outra hora. Sinto muito...
— Taehyng, espera, por favor! — o arquiteto alcançou o Kim na varanda. Jungkook engoliu em seco e contemplou o traços perfeito do amado. O abraço que ganhou foi o bastante para o balançar, ascender algo, por isso precisava desesperadamente explicar aquela confusão, esclarecer as coisas. Por mais que tenha sido largado, ainda era loucamente apaixonado por ele. — Deixa eu contar o que aconteceu...
— Seja lá o que for, isso é entre você e o Jimin.
— Taehyung...
— Só quero dizer uma coisa. — interrompeu com sua voz profunda, segurando as mãos de Jungkook. Taehyung estava tão nervoso que sequer notou a ausência da aliança ali. — Ele é maravilhoso. Seu casamento é verdadeiramente único.
— Oh, se é... — murmurou.
— Casar com um homem cujo rosto só viu no dia do casamento no hospital, quando o médico retirou a gaze? Isso é especial, meu amigo! Saber disso amoleceu meu coração.
— Sério?
Taehyung balançou a cabeça, soltando as mãos do ex-namorado. Suas bochechas começaram a ficar rosadas e ele tentou disfarçar, então desceu os degraus da varanda com o arquiteto em seu encalço.
— Sabe porque não aceitei seu pedido? — Jungkook negou, esperando ansiosamente que o outro concluísse. Para ser sincero, esse tempo todo ficou às cegas, sem saber o real motivo. — Você me assustou construindo essa casa, colocando uma fita em volta dela. Eu não queria casar com um sonhador. Não teria essa coragem — admitiu. — Mas quando vejo você através dos olhos do Jimin... Você fica diferente.
Eles pararam em frente ao carro do Kim. Jungkook pensou que era muito improvável Taehyung ter passado ali por acaso e ver seu Conversível. Na certa, o ex- namorado ouviu dizer que voltou e correu até ali, propositalmente, para falar com ele.
— Diferente como?
Taehyung sorriu largamente, todavia não era felicidade que refletia nas pupilas castanhas em contraste com o Sol.
— Posso ver agora que um sonhador, se tiver alguém que acredite nele, pode fazer coisas grandiosas. — Jungkook, abriu a boca, mas não conseguiu falar nada. Taehyung se sentiu mal pelo rumo da conversa e resolveu mudar de assunto. — Soube da sua promoção!
— Hã? — grunhiu.
— Você virou sócio. Ual, parabéns! — Taehyung deu um soquinho do braço do moreno, se espantando. Ele apalpou o local sem segundas intenções... talvez só tirando uma casquinha. — Andou malhando? Parece mais forte.
— Ha, ha, ha, ha! Jimin contou sobre isso também?
— Sim. Ele tem muito orgulho de você. Mas tem tudo para ter... — encolheu os ombros. — Confesso que senti inveja.
— Mesmo? — o arquiteto riu, evidenciando os dentes salientes.
— Hum... Um pouquinho assim. — Taehyung estreitou o indicador com o polegar, mostrando.
Eles se olharam exatamente igual há quinze anos atrás, quando deram o primeiro beijo na casa da árvore que usavam como clube.
— Tae...
— O quê?
— Eu... eu preciso te contar uma coisa sobre o Jimin.
Taehyung prendeu o ar, apreensivo, mas ouviu tudo o que Jungkook tinha a falar.
[...]
— Eu dormi com o Vitão?
— É, mas não é que você seja promíscuo. Ele é seu ex. Você trombou com ele um dia, desde então começaram a conversar e daí... rolou.
— Você me criou um amante e o chamou ele de Vitão?
— Tudo bem, tudo bem! Eu sou tão bom em mentir... Mas aí que está a beleza da coisa toda, foi por isso que você veio de Boston para cá, para decidir com quem ficaria: Vitão ou eu! — explicou eufórico.
— Não acredito que inventou isso.
— Eu não acredito que você não acredita! — sibilou chateado. Estava tão contente com a ideia, por que Jimin não compactuava com aquela história? — Você também contou algumas mentirinhas?
— Contei umas bonitinhas!
— Jimin, por obséquio. —
Jungkook suspirou, juntando as mãos em súplica. — Eu amo Taehyung, sempre o amei, mas algo deu errado e ele não me imaginava como marido. Entretanto, agora, com o nosso casamento fake, finalmente ele me vê como um bom companheiro. — explicou com calma, sentando na beira da cama. Precisava ter paciência, Jimin parecia irredutível deitado ali, com o inseparável pote de biscoito, parcialmente vazio. — Então o plano é o seguinte: somos casados, mas estamos passando por uma crise. E todo final de semana venho para cá, para salvar nosso casamento.
— E eu fico aqui, nessa casa? — murmurou, bicudo.
— Claro! — Jungkook se animou. — Enquanto isso, Taehyung se apaixona novamente por mim, o casamento afunda cada vez mais e bum! Nos divorciamos e aí eu fico com ele! — silêncio. — O que me diz?
O loiro suspirou alto, ajeitando o travesseiro sob a cabeça.
— Por um momento nosso casamento foi incrível. — virou de costas, resmungando: — Até você entrar nele.
— Ok... Mas isso é um sim?
— É, Jungkook. — afirmou amuado. — Isso é um sim.
.
.
.
Aaaaaah como estou apaixonada por essa história. Hoje é terça, vou tentar att até domingo.
Gente, muito obrigada por ler e comentar. Dá trabalho escrever palavra por palavra com o celular bugando. Aqui faço de coração e meu pagamento é fazer vocês se divertirem.
Cheiro, até depois!
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