Traições
Jeon Jungkook
Sua noite havia sido um tormento, embora a presença de Taehyung junto a ele na cama tenha aplacado um pouco de seu sofrimento, não conseguiu eliminá-lo. Sentiu dor a noite inteira, a intensidade da dor variava, hora aumentava, hora diminuía, a febre não baixava de maneira alguma, mesmo quando o alfa deixava um pano úmido com água fria sobre sua testa, sempre que conseguia cochilar, pouco tempo depois a dor forte o despertava novamente. A tempestade durou a noite inteira, com direito a raios e trovões, era como se o céu fosse um espelho de seu corpo naquele momento, um caos completo, mas quando finalmente a chuva cessou em algum momento da madrugada e levou com ela as nuvens carregadas, foi quando Jungkook conseguiu dormir. O cheiro de café e o abraço quente de Taehyung não o deixou nem mesmo por um único minuto, ele de fato velou seu sono a noite inteira, duvidava que sequer havia conseguido dormir.
Quando despertou na manhã seguinte, Jungkook ainda sentia seu corpo um pouco pesado, porém de longe se comparava a noite anterior, onde sequer conseguia mover o pescoço sem ser atingido por uma dor paralisante que levou lágrimas ao seus olhos. Imaginava se seria sempre daquela maneira quando chovesse, se teria que suportar aquele sofrimento todas as noites que seu lobo enfraquecesse, pois o alfa havia dito que entrariam na temporada de chuvas, certamente aquela não seria a primeira e nem a última vez que sofreria com a rejeição da marca. Naquele momento em diante, mais do que nunca, seria grato a seu lobo por suportar aquela carga sozinho, graças a ele não tinha noites conturbadas como aquela e faria de tudo, para que, mesmo minimamente, o ajudasse a suportar aquela dor. Visitaria Yongok para que pudesse aprender a controlar suas visões, para enfim, pudesse pedir ajuda a Taehyung.
Quando abriu os olhos, notou que a luz do sol já banhava seu quarto e aquele brilho alaranjado trazia uma sensação gostosa de felicidade, mais um dia havia se passado onde ele estava em segurança. Notou que o cheiro de café ainda não havia sumido e assim que sentiu uma lufada de ar em seus cabelos, Jungkook se arrepiou da cabeça aos pés, pois sentiu a presença de Taehyung atrás dele, junto aos braços do alfa que o abraçavam enquanto ressonava baixinho contra seu pescoço. Com cuidado tentou se mover sem acordar o alfa, mas assim que fez o mínimo movimento, os braços dele o apertaram com mais força e Taehyung pareceu acordar de seu sono. Sem demora o alfa se sentou na cama e o encarou com preocupação, antes de suspirar em alívio ao notar que não estava em um de seus acessos de dores, aquilo fez a culpa tomar Jungkook completamente, pois haviam bolsas escuras embaixo dos olhos dele, o que mostrava que sua noite havia sido tão ruim quanto.
— Oi, se sente melhor? — Taehyung perguntou preocupado e Jungkook assentiu.
— Você conseguiu dormir, alfa? — Perguntou também preocupado e Taehyung assentiu. — Sabe que não consegue mentir pra mim não é? — Ergueu uma sobrancelha, pois podia sentir o cansaço dele.
— Eu estou bem, é sério — respondeu e Jungkook estreitou o olhar em direção a ele. Aparentemente Taehyung era um mentiroso compulsivo quando o assunto era a própria saúde. — Vou pedir a Dahyun para preparar seu desjejum e um banho morno.
Taehyung fez menção de que iria se levantar e Jungkook o impediu, segurou seu pulso o puxou para cama novamente, o que fez o alfa cair deitado sobre o travesseiro com os olhos arregalados, pois além das ações repentinas, eles estavam muito próximos, a centímetros um do outro. Mas sequer se importou com a proximidade, pois a preocupação não deu espaço para que sentisse qualquer outra coisa, era difícil que não se sentisse culpado quando a expressão do alfa estava tão abatida, ele parecia exausto de permanecer acordado a noite inteira. Jungkook aproveitou a proximidade e tocou o rosto de Taehyung, que tinha os olhos fixos aos seus e deixou que o tocasse como quisesse, pensou no quão bom ele era, pois aguentou todas as dores todo aquele tempo sem reclamar. Desde que entrou em sua vida, só trouxe-lhe problemas, sentiu-se péssimo por aquilo, pois o alfa certamente não merecia.
— Durma um pouco, precisa descansar apropriadamente — disse ao encará-lo, Taehyung permanecia quieto, apenas manteve o contato visual. Jungkook liberou seus feromônios como o alfa havia feito com ele durante a madrugada, esperava apenas que tivesse o mesmo efeito que os dele em seu corpo.
Taehyung respirou fundo e fechou os olhos, antes de abrir um pequeno sorriso.
— Seu cheiro é muito bom — ele disse de olhos fechados e Jungkook sorriu. — Mas não posso dormir, hoje temos uma reunião do conselho e preciso gerenciar as patrulhas.
— Você disse que esse anel me dá autonomia de tomar decisões em seu nome, certo? — Jungkook perguntou ao levantar a mão na altura dos olhos de Taehyung, que assentiu. — Pois então minha primeira ordem será que você descanse e se alguém contrariar, diga que foi seu ômega que mandou.
— Eu posso opinar? — Perguntou em meio a uma risada e Jungkook negou com um sorriso.
— Você realmente precisa descansar, o avisarei caso algo aconteça e o acordarei quando todos os membros do conselho chegarem — disse com um sorriso pequeno e Taehyung assentiu.
O alfa então fechou os olhos e Jungkook o observou dormir por alguns minutos, até que fechou seus olhos também e se entregou ao sono, apesar de ter cochilado, sua noite de sono havia sido bastante conturbada. Não soube por quanto tempo dormiu, mas foi acordado por Hyeri, que acariciava seus cabelos com delicadeza e possuía um sorriso em seus lábios, ela cochichou que estava na hora da reunião do conselho e pediu para que acordasse Taehyung. Jungkook bocejou e assentiu, a ômega então se levantou e caminhou até a porta, onde Taesu os observava de braços cruzados antes de acompanhar a esposa para longe. Quando seus olhos se voltaram ao alfa, notou que ele dormia agarrado a seu corpo como um coala, ele tinha o rosto afundado em seu peito e respirava baixinho, seu sono parecia tão pesado que sequer se moveu com a entrada de sua mãe no quarto.
Jungkook ficou parado por alguns minutos enquanto observava Taehyung dormir, ele parecia tão confortável em seu sono que ficou com dó de acordá-lo, daquele ângulo, ele parecia indefeso, sequer parecia um lobo negro enorme ou o líder de uma das maiores alcatéias do Sul. Ao observá-lo tão de perto, Jungkook se perguntou porque durante tantos anos ele permaneceu sozinho, na idade de Taehyung, a maioria das pessoas em Presa já estariam comprometidas — com um compromisso de verdade —, e se perguntava porque ele não. Aquilo o fez pensar que o privou de escolher um parceiro, ele foi incumbido a ajudá-lo porque era útil a Canis, o forçou a formar um laço de sangue para sobreviver e assumir um noivado para protegê-lo, Jungkook notou que o fez abdicar muitas coisas para que pudesse permanecer vivo. O quão egoísta aquilo era? Salvou sua vida ao sacrificar o direito de escolha dele.
E se Taehyung quisesse um relacionamento? Uma família?
Jungkook sentia seu corpo tremer somente em pensar na possibilidade de passar pelo horror que havia passado em Presa, acreditou por um tempo que teria tudo aquilo também, mas seus sonhos foram arrancados dele junto com a possibilidade de se abrir novamente. Tinha medo de que Taehyung fosse como o alfa que o marcou, sabia que eles não eram nem de longe parecidos, mas não conseguiu extinguir aquela insegurança de que, talvez, o alfa fosse tão bom com ele somente por conta de sua utilidade ou de seu laço, até porque, o que mais tinha a oferecer a um alfa que já tinha tudo? Jungkook era grato a ele por ter salvo sua vida, tinha uma dívida que seria extremamente difícil de pagar, por isso decidiu que se Taehyung quisesse ter algo com ele para compensar pelo seu direito de escolha roubado, ele faria. Engoliria seus medos e cumpriria o seu papel de esposo de Taehyung mesmo que tivesse que enfrentar seus medos novamente, se aquilo lhe garantir segurança, era capaz de suportar conviver com o medo de ser tomado por outro alfa.
Mesmo que tivesse que se forçar a aquilo.
— Taehyung… — Jungkook o chamou, mas o alfa realmente estava com um sono extremamente pesado, sequer se moveu um centímetro. Levou a mão até seu rosto, porém hesitou em tocá-lo por um momento, mas descansou sua palma sobre a bochecha quente dele. — Taehyung, acorde.
— Hm… — O alfa murmurou e se aconchegou ainda mais contra ele, o que fez seu coração disparar.
— Levante-se, precisamos ir para a reunião do conselho — afastou os cabelos dele do rosto e viu o momento em que ele abriu os olhos preguiçosamente. Assim que seus olhos se encontraram, um sorriso surgiu nos lábios de Taehyung e Jungkook sentiu sua respiração travar na garganta.
Taehyung era lindo demais para o próprio bem.
— Bom dia — ele o cumprimentou com a voz rouca e Jungkook engoliu em seco antes de responder.
— Bom dia — graças a Unàh não gaguejou e suspirou aliviado quando o alfa se afastou para que pudesse se levantar. Jungkook ainda com o coração acelerado se sentou na cama também e notou que ele parecia confuso.
— Eu dormi muito? — Perguntou ao encará-lo e Jungkook assentiu.
— Nós dormimos — explicou e Taehyung direcionou o olhar para a janela de seu quarto, o que o fez encará-la também, para constatar que o sol estava prestes a se pôr.
— Eu nunca dormi tão profundamente em minha vida… — Ele parecia incrédulo com aquilo e Jungkook se lembrou de sua visão, que Taehyung conseguiu evitar um ataque durante a madrugada por ter um sono leve.
— Isso mostra que apesar de sua boca negar, seu corpo precisava descansar — Jungkook disse ao se levantar e notou que Taehyung fez o mesmo. — Sua mãe nos chamou, estão à nossa espera.
Os dois caminharam até suas botas e as colocaram em um silêncio confortável, sequer haviam tomado café, apenas dormiram por quase um dia inteiro, juntos. Quando saíram do quarto e desceram as escadas, encontraram Dahyun, ela os aguardava na entrada da cozinha, disse que serviu um café aos convidados do conselho e que havia comida para eles na sala, para que assim pudessem discutir os assuntos importantes devidamente alimentados. Quando os dois entraram na sala de reuniões, todos já estavam sentados em seus respectivos lugares e — fora os Baek — todos os encararam com sorrisos nos rostos, principalmente Jimin e Hyeri, que faltavam apenas saltitar de felicidade ao vê-los. Notou que o pai de Jimin não estava ao lado dele e se perguntou se algo havia acontecido, pois normalmente ele era um alfa silencioso, mas deixava suas considerações finais a Taehyung sempre que a reunião se encerrava.
— Onde está Minho? — Taehyung perguntou a Jimin quando não o viu em seu lugar.
— Minha madrasta não está se sentindo bem e como ela está grávida, pediu a sua compreensão alfa — Jimin explicou e Taehyung assentiu.
— Diga a ele que não precisa se preocupar com isso, a saúde da esposa dele é mais importante — Taehyung continuou ao se sentar e Jimin assentiu com um sorriso. — Bom, então mãe, o que você planejou sobre a chegada dos refugiados de Delta?
— Primeiro, pensei onde seria um lugar ideal para realocá-los, conhecendo os aldeões, não irão se sentir seguros e acho que nem os refugiados se sentirão confortáveis estando no mesmo lugar que eles — Hyeri começou a explicar e todos sentados à mesa assentiram. — Nossos antigos galpões estão vazios, viraram apenas um depósito para juntar lixo e poeira, pensei que seria um bom lugar para servir de abrigo temporário. Podemos oferecer empregos em nossas plantações e guarda, para que possam pagar pela acomodação e terem como se manterem em Canis, com o tempo, conseguirão se estabelecer em nossa alcateia.
— Posso oferecer meus serviços para prestar ajuda médica caso necessitem, se estão vindo de Delta por causa da fome, tenho certeza que estão com a saúde fragilizada — Hoseok propôs e Taehyung assentiu com um sorriso.
— Temos que apresentá-los ao alfa da alcateia e fazer com que seus lobos aceitem a submissão a um novo líder — Namjoon disse a Taehyung. — Como são de uma matilha diferente, os lobos deles não reconhecerão o seu como um líder logo de cara. Seu alfa precisa aceitá-los.
— Farei isso — Taehyung respondeu. — E sobre as regras de convivência?
— Sobre esse tema eu planejei junto a Taesu — Hyeri respondeu e olhou para o marido, que tinha uma expressão neutra. — Como eles serão refugiados e logo serão membros ativos de Canis, precisavam seguir nossas tradições e cultura, serão apresentados a Najin Arik e receberão a benção de Salìk, as crianças serão apresentadas como deviam ter sido ao nascimento e os adultos farão uma promessa a divindade. Isso nos garantirá segurança também.
— Sobre os crimes — Taesu continuou por sua esposa. — Aplicaremos as mesmas punições a todos, caso infrinjam alguma lei de Canis, serão presos, exilados ou mortos, como sempre fizemos. Mas, isso também se aplicará aos aldeões, precisam estar cientes que abrigaremos pessoas, mesmo que sejam de uma alcatéia diferente.
— Os aldeões não ficarão felizes com isso — Yunji suspirou. Jungkook constatou que ela sabia bem daquilo, até porque era totalmente contra a chegada de forasteiros na alcatéia, a prova era Hyeri e ele próprio, que se não fosse o Najin Uruk, seria morto.
— Não iremos ignorar famílias que precisam de auxílio por conta do preconceito infundado de Canis, Yunji — Seokjin respondeu de braços cruzados. — Onde na história foi determinado que não poderíamos crescer e abrir as portas de nossa alcatéia? Somos todos filhos das divindades, pessoas e lobos.
— Vocês já pararam para pensar na maldição que poderíamos ter despertado a Canis com esse preconceito ridículo? — Yoongi perguntou com o cenho franzido, ele olhava diretamente para Yunji. — Se fizéssemos o que vocês queriam com a chegada de Jungkook, Unàh nos amaldiçoaria como fez com Presa.
— Salìk jamais permitiria Unàh manipular seus filhos dessa forma — Hoehyun respondeu pela esposa, ele tinha o cenho franzido e uma expressão endurecida.
— Salìk e Unàh não são divindades inimigas, Hoehyun — Taehyung respondeu e atraiu a atenção de todos. — Se fossem, não permitiriam meu laço de sangue com Jungkook ou orientaria que o mantivesse ao meu lado sem importar as consequências.
— E há uma incoerência em sua indagação — Jungkook chamou a atenção de todos e olhou em direção a Hoehyun, que não parecia feliz em ser contrariado. — As divindades protegem apenas seus escolhidos, eles auxiliam aqueles que precisam de sua intervenção, mas não irão tirá-lo da forca por exemplo. Acha que Salìk protegeria aqueles que mataram o escolhido de outra divindade? — Aquilo silenciou a sala e tanto Yunji quanto o marido o encararam quietos. — Haviam pessoas inocentes em Presa, mas a maldição caiu sobre todos, Unàh não poupou ninguém. Se me matassem, a maldição cairia sobre vocês também, assim como Salìk castigaria os filhos de Unàh caso matassem sua escolhida. Mas vocês nunca passaram por isso porque a família escolhida para receber a bênção da Najin Arik é boa, caso contrário, o destino de vocês seria o mesmo de Presa.
— Se formos puxar na história — Namjoon disse com o olhar fixo em uma parte específica da mesa. — Quem começou com a guerra entre os filhos da divindade foram nós, filhos de Salìk, os filhos de Unàh não tiveram escolha senão fugir para tentar sobreviver. Por isso hoje há tão poucos, fora Presa, sequer conheço outros filhos de Unàh, tudo porque nós decidimos por eles e pelas divindades que éramos melhores.
— Continuar com uma linhagem de morte e preconceito quando quase dizimamos os filhos de Unàh é repetir os erros de nossos antepassados — Jimin concordou com Namjoon. — Acham mesmo que Unàh não se revoltará?
— Mas não estamos falando do Jungkook ou dos filhos de Salìk, estamos falando de uma alcatéia inimiga! — Hoehyun ralhou.
— E eu não era considerado um inimigo por ser de Presa? — Jungkook perguntou e novamente Hoehyun foi silenciado. — Eles podem ser como eu, apenas pessoas em busca de um pouco de paz, longe das guerras e seus perigos, talvez só queiram manter suas famílias seguras. Se coloquem no lugar deles um pouco, não é possível que não há um único traço de empatia em vocês, não buscariam refúgio em uma alcatéia inimiga se isso significasse a sobrevivência de sua família? Estão tão cegos pelo preconceito que não vêem que são pessoas também?
— Só irão dissolver esse preconceito quando as consequências dele atingirem vocês não é? — Hoseok perguntou com um suspiro decepcionado.
— Mesmo assim, vocês não vão conseguir dissolver o preconceito cultivado há centenas de anos de um dia para o outro — Yunji respondeu e realmente não havia como negar, mas havia como contra argumentar.
— Por isso irão seguir com o preconceito porque será difícil combatê-lo? — Jungkook perguntou e todas as atenções se voltaram para ele novamente. — Para que haja uma mudança alguém precisa dar o primeiro passo.
— Iremos lidar com o preconceito da mesma forma que sempre lidamos — Taehyung disse de braços cruzados. — Criaremos Leis, meu dever é proteger minha alcatéia, todos que estiverem em Canis são de minha responsabilidade. Se os refugiados entrarem para a matilha, eles também não estarão isentos dessa regra.
— O apoiaremos no que decidir fazer, alfa — Hoehyun disse também de braços cruzados, estavam em desvantagem, dentre todos, eles eram os únicos opositores.
— Nós iremos então oferecer abrigo, comida e trabalho — Hyeri continuou com seus planejamentos. — Iremos ajudá-los a ingressar em uma nova alcatéia e buscar a melhor maneira de introduzi-los entre os aldeões sem causar qualquer tumulto, sabemos que muitos irão mostrar resistência, mas também haverão aqueles que os acolherão, como fizeram comigo e Jungkook.
— Eles não demorarão a chegar — Yoongi disse a Hyeri. — Precisamos começar os preparativos imediatamente.
— Certo — Hyeri assentiu.
— Soltem um comunicado aos aldeões — Taehyung pediu e todos o encararam com atenção. — Amanhã vamos reuni-los na praça principal ao meio-dia, irei anunciar a chegada dos refugiados de Delta e nossas novas regras.
— Sim, alfa — todos responderam e Taehyung sorriu.
— Por enquanto é só, alguma consideração? — Taehyung perguntou ao encarar a todos, mas ninguém parecia ter mais nada a acrescentar, por isso negaram. — Certo, nos encontraremos amanhã na praça então. — Ele disse ao se levantar.
Jungkook também se levantou, pronto para sair, porém sua visão foi tomada de repente por imagens e acabou por tropeçar, o que o fez se apoiar na mesa a sua frente e respirou fundo por causa do susto. Ouviu as vozes de Yoongi e Hoseok próximas a ele, perguntavam se ele estava bem, mas sequer conseguiu responder, pois as imagens passavam diante de seus olhos de maneira rápida, se perdesse a concentração por um instante, perderia algum detalhe importante. Viu pessoas em uma sala, eles discutiam sobre alguma coisa com seriedade, havia um mapa sobre a mesa e um homem de aparência mais velha apontou para um ponto específico do mapa, o que fez Jungkook memorizar o lugar com rapidez. Haviam ao todo doze pessoas na sala contando com o homem que apontava para o mapa, todos concentrados no que ele dizia, foi então que Jungkook viu ele apontar para um segundo lugar.
Não precisou de muito para entender que aquelas pessoas eram de Delta e provavelmente planejavam uma emboscada, memorizou os dois lugares e então as imagens mudaram, viu lobos, homens e mulheres armados correrem até os portões principais de Canis, onde os guardas de Taehyung acionaram o sino de emergência assim que notaram a chegada deles. A luta se desenrolou a favor de Canis, viu várias pessoas de Delta caírem sobre as espadas dos guardas e então Taehyung apareceu em sua forma lupina, ele matou todos que entraram em seu caminho enquanto flechas voavam em direção a cabeça dos invasores. A visão parecia favorável a Canis, porém quando os olhos vermelhos de Taehyung se viraram para trás repentinamente notou que havia algo errado, as imagens se distorceram e mostraram um misto de sangue e morte. Canis não parecia ter sido derrotada, mas Taehyung caminhava pela a aldeia com uma expressão entristecida.
Pois haviam diversos corpos espalhados pelas ruas, homens, mulheres, idosos e crianças mortas a seus pés. Foi então que a visão se desfez e Jungkook respirou fundo, de maneira atordoada antes de seu olhar se encontrar com o de Taehyung, que lhe encarava com o cenho franzido em preocupação, ele estava a seu lado e tocava seus ombros.
— Uma visão? — Ele perguntou e Jungkook assentiu.
— Preciso de um mapa — pediu e Namjoon rapidamente correu em direção a um dos armários. Assim que encontrou o que queria, caminhou rapidamente até a mesa e colocou um grande mapa a sua frente.
— Esse é o mapa de quase todo o sul — Namjoon explicou e Jungkook assentiu.
— Delta fará uma nova investida — Jungkook disse enquanto procurava o local que havia visto na visão.
— Fomos derrotados? — Taehyung perguntou e Jungkook negou.
— Não foram, mas foi um banho de sangue, pela quantidade de corpos que eu vi, o foco deles eram os aldeões — explicou e o encarou. — Criaram uma distração para que pudessem invadir pelo lado oposto.
— O intuito deles não era nos derrotar e sim nos desestabilizar — Seokjin constatou e os outros assentiram.
— Por onde virão? — Jimin perguntou e Jungkook voltou a encarar o mapa.
— Por aqui e… — Apontou um dos lugares indicados pelo aparente líder e procurou pelo segundo, quando o encontrou colocou seu indicador sobre ele. — Aqui!
— Eles virão pelo portão principal? — Hoseok franziu o cenho e Jungkook assentiu. — Como não desconfiamos que era uma armadilha em sua visão?
— Foram pegos de surpresa — Jungkook explicou e todos assentiram.
— Quando virão? — Taesu perguntou.
— Pela posição do sol… — Jungkook tentou puxar as imagens na memória. — Entre meio dia e uma hora de amanhã provavelmente.
— Nós temos tempo de bolar um plano e repassar aos outros — Taehyung constatou com um semblante banhado em seriedade e caminhou até sua cadeira novamente.
Todos então voltaram a seus lugares para que pudessem planejar sobre como lidar com a chegada e a armadilha de Delta, com as localizações marcadas no mapa, Taehyung decidiu dividir duas equipes, porém a equipe que interceptará a investida pelo lado oposto ao portão de entrada, seria maior e com guerreiros mais experientes. Com as informações que Jungkook deu a eles, estava óbvio que o principal objetivo deles era ferir o máximo de aldeões que pudessem para que pudessem fragilizar a confiança de Canis, era um golpe cruel e eficiente se fosse bem sucedido. Namjoon estaria na liderança dos guardas no portão da frente, enquanto Taehyung iria liderar os homens do lado oposto, Jimin recomendou usarem a mesma tática usada na emboscada anterior, onde os arqueiros iriam se camuflar entre as árvores para que pudessem matar o máximo de invasores antes que pudessem chegar perto. Além de usarem em suas flechas as drogas que conseguiram tomar de Delta ao invadir o acampamento deles.
— Irei com Jimin e os arqueiros dele — Jungkook disse com um tom decidido e Taehyung o encarou com o cenho franzido.
— Sem chances, não iremos te expor a nenhum perigo — o alfa descartou a ideia imediatamente.
— Eu não quero ser apenas um pombo correio das divindades Taehyung, eu quero lutar também! — Respondeu, mas o alfa não parecia nem um pouco aberto a ceder.
— Ele é um arqueiro brilhante, Tae — Jimin disse em sua defesa e Taehyung encarou o melhor amigo. — Eu vi o que ele é capaz de fazer no treinamento, ele seria uma força e tanto no meu esquadrão.
— Mas ele ainda não sabe combate corpo a corpo — Namjoon argumentou e Taehyung assentiu. — Se algo acontecer e chegarem até ele, não conseguirá se defender.
— Ele não precisa se aproximar — Jimin continuou e trouxe a atenção até ele novamente. — Com a mira e a eficiência dele, ele pode ficar a uma boa distância do combate e ainda assim nos ajudar.
— Eu posso protegê-lo — Taesu ofereceu e Jungkook ergueu as sobrancelhas em surpresa. Taehyung encarou o pai e parecia em um conflito interno sobre aceitar ou não sua proposta. — Posso ficar ao lado dele o tempo todo, cuidarei de qualquer ameaça que se aproximar.
— Tudo bem — Taehyung suspirou e encarou Taesu. — Deixo a segurança dele em suas mãos, pai.
Taesu assentiu com um sorriso e Jungkook tentou conter sua surpresa para que ela não ficasse muito evidente, pois não esperava que ele se oferecesse para ser sua escolta, já que estava tão contra a sua chegada, se perguntou se aquilo era por conta do laço de sangue com o filho dele. Quando o planejamento deu-se como concluído, Taehyung e Namjoon foram juntos conversar com os guardas de Canis, enquanto o restante iria conversar com os aldeões e pedir que se mantivessem em suas casas, iniciaram um toque de recolher para que mesmo com o planejamento, vidas não fossem perdidas. Jimin se ofereceu para ensiná-lo nas poucas horas que tinham, algumas maneiras de defender e fizeram o treinamento nos fundos da mansão de Taehyung mesmo, pois mesmo com escolta, se soubesse o básico de defesa, conseguiria sobreviver se algo desse errado.
Ficou horas treinando com Jimin, ele lhe ensinou a escapar de alguns golpes e prever os movimentos dos inimigos, notou que mesmo que pouco, o que ele havia lhe ensinado com o lenço foi muito útil, pois o ajudou a antecipar os movimentos e se defender. Graças a bênção de Unàh, Jungkook era um prodígio no aprendizado, ele tinha uma memória perfeita que conseguia gravar qualquer coisa e aprender com extrema facilidade tudo o que o ensinavam, por isso mesmo que de um dia para o outro, o treinamento certamente traria resultados. Quando anoiteceu, Taehyung e Namjoon foram chamá-los, pois precisavam estar descansados para o que enfrentariam no dia seguinte, por isso se despediram e seguiu Taehyung para dentro da mansão, porém antes que conseguisse ir em direção a seu quarto, o alfa segurou em sua mão, o que o fez encará-lo.
— Você é bom com facas? — O alfa perguntou e Jungkook franziu o cenho.
— Só as usei em animais — respondeu e Taehyung assentiu antes de colocar um punhal de Prata em sua mão.
— Sei que é bom com arcos, mas como não tive tempo de treiná-lo com a espada, espero que esse punhal sirva para protegê-lo também — ele fechou os dedos de Jungkook envolta do punhal e o encarou. — Existem três locais que você deve atingir para conseguir sobreviver, na coxa… — Taehyung levou sua mão com o pinhal em direção a própria coxa e o depois subiu em direção ao peito. — No coração e por último. — Jungkook sentiu o coração acelerar quando o alfa encostou o punhal em seu pescoço.
— Não sei se eu conseguiria, Taehyung — respondeu ao sentir suas mãos tremerem somente em segurar o punhal em direção ao pescoço dele.
— Você precisa — ele disse com o olhar fixo ao seu e ainda com o punhal direcionado a seu pescoço. — Um inimigo não terá a mesma hesitação, eles não pensarão duas vezes antes de matá-lo. Sei que matar um semelhante não é fácil, nunca esquecerei da primeira vida que tirei, mas era ele ou eu, você não estará matando por diversão, é uma defesa.
— E-eu… vou tentar incapacitá-los e facilitar que vocês façam o que tenham que fazer, mas irei evitar a todo custo tirar uma vida — engoliu em seco e o encarou com temor.
— Enquanto fugia de Delta não pensou em matar seus inimigos para sobreviver? — Taehyung perguntou e Jungkook sentiu a realidade bater contra seu rosto, porque sim, ele estava disposto a tudo para sobreviver. — Quando enfiou os dentes em meu braço, não passou pela sua cabeça que morder meu pescoço seria a melhor defesa?
— É claro que sim, mas…
— É exatamente esse o ponto — Taehyung afastou o punhal do próprio pescoço e com uma agilidade que sequer conseguiu acompanhar, a lâmina foi colocada sobre seu pescoço, podia sentir a lâmina fria contra sua pele enquanto o alfa forçava-a em direção a ele. E mesmo que o punhal estivesse em sua mão, os dedos dele não o deixavam soltar o punhal ou se afastar, o que fez seu coração acelerar e o encarou com os olhos arregalados. — Não pode pensar demais, deixe o impulso de sobreviver pensar por você. É melhor viver com o peso de ter matado alguém ao se defender, do que não viver.
— Tudo bem… — Jungkook sentiu seu peito se apertar com a frase dele, pois sabia que o ímpeto de seu subconsciente sempre seria buscar a sobrevivência, mesmo que não a quisesse.
Jungkook notou que Taehyung realmente temia pela própria vida se fazia aquele apelo para que não morresse, pois se aquilo acontecer, o Laço de Sangue o levará também.
— Descanse, teremos um dia e tanto amanhã — Taehyung pediu e soltou sua mão, que formigava ao sentir o metal gelado contra sua palma.
— Certo, tenha um bom descanso, alfa — desejou e Taehyung abriu um sorriso, antes de se afastar e caminhar para o próprio quarto.
Jungkook caminhou em direção ao quarto com o que ele havia dito em mente, já era uma coisa extremamente difícil matar um animal quando se tinha uma conexão com eles, mas buscava sempre pedir a Unàh que os acolhesse em seu abraço e não permitia que sofressem, sua mira precisa lhes proporcionava uma morte rápida e indolor. Mas com seres humanos era diferente, era um peso muito maior, principalmente quando seus pais foram assassinados, não sabia se conseguiria cometer o mesmo crime que levou seus pais para longe dele. Quando retirou suas roupas e se deitou, não conseguiu dormir de imediato, esperava que não tivesse que recorrer a métodos tão bárbaros para sobreviver, estava seguro e apenas iria ajudar sem se envolver demais. Depois de adormecer, as imagens de seus pais caídos no chão de sua antiga casa o impediram de ter um sono tranquilo, por isso quando acordou na manhã seguinte, não se sentia descansado.
— Você está bem? — Taehyung perguntou enquanto comia o café da manhã. Eles estavam na cozinha, sequer se sentaram para comer, como não tinham muito tempo, otimizavam qualquer minuto livre. — Parece abatido.
— Tive pesadelos, fisicamente estou descansado, mas minha cabeça está exausta — Jungkook suspirou enquanto comia um pedaço de bolo feito por Dahyun. — Mas ficarei melhor, preciso apenas me distrair.
— Ainda há tempo de desistir de ir conosco — Taehyung ofereceu e Jungkook negou com a cabeça.
— Ficarei agoniado em só ficar sendo protegido, quero ser útil também — bebeu um copo de suco a goladas longas e colocou mais um pedaço de bolo na boca.
— Você é o mais útil entre nós — Taehyung riu e deu de ombros. — Mas se realmente sente que está pronto, não irei impedi-lo. Vamos?
Jungkook assentiu e colocou o restante do pedaço que faltava do bolo em sua boca, os dois caminharam para fora da mansão após se despedirem de Dahyun, que desejou boa sorte na luta e trancou a porta da mansão. Quando saíram os cavalos já estavam posicionados para onde tinham que ir, Taesu estava sobre seu próprio cavalo, ele segurava a rédea dos outros dois e então caminharam até eles. Jungkook acariciou o pêlo do cavalo caramelo e sorriu quando ele relinchou, como já havia montado antes, conseguiu subir no cavalo sozinho e segurou as rédeas com força, antes de seguir os outros dois. Taehyung iria para o portão principal enquanto Taesu e Jungkook iriam para o campo de treinamento, tanto para se armar, quanto para se posicionarem, pois os dois ficariam no segundo ponto da invasão. Taehyung voltaria assim que conversasse com Namjoon, pois ele era o responsável pelo portão da frente, iria apenas repassar o plano a todos antes de se posicionar do lado oposto também.
Quando se separaram, Taesu e Jungkook cavalgavam até o campo de treinamento, como estavam com pressa, não demoraram a chegar em seus destinos, ao descer do cavalo, o ômega notou que todos andavam de um lado para o outro de maneira apressada, enquanto Jimin os coordenava. Quando se aproximou, informou que Taehyung havia ido ao portão principal para repassar o plano e checar se tudo estava nos conformes antes de retornar, Jimin assentiu e pediu que fosse buscar um arco e uma aljava de flechas da tenda principal, Jungkook assentiu e Taesu caminhou para outro baú, para que pudesse pegar alguma outra arma fora sua espada. Quando entrou na tenda, Jungkook procurou por uma aljava disponível, quando a encontrou procurou também por flechas e a encheu para colocá-la em suas costas. O punhal que Taehyung lhe deu estava escondido em sua bota, para que tivesse fácil acesso se precisasse.
Antes que conseguisse colocar a aljava em suas costas, sua visão foi tomada por imagens de um homem mascarado que caminhava sorrateiramente por trás dele, viu o momento em que ele atingiu sua cabeça com o cabo da espada e Jungkook caiu inconsciente em seus braços. A visão acabou naquele momento, não vira mais nada, foi apenas poucos segundos de imagens onde ele seria atingido, desmaiado e provavelmente sequestrado, por isso olhou para trás de maneira aflita e suspirou aliviado quando não viu ninguém atrás dele. Sem demora, Jungkook pegou o arco disposto sobre uma mesa de madeira e o colocou nas costas junto a aljava, antes de correr para trás de um armário para se esconder. Ficou parado por alguns segundos, até que viu o momento em que o homem da visão apareceu na entrada da tenda e entrou de maneira sorrateira, mas estranhou quando não o viu lá dentro.
Jungkook não conseguia ver o rosto dele e por conta das roupas escuras, não o reconhecia, mas era provável que era algum infiltrado de Delta, mas franziu o cenho, pois não tinha visto aquele momento na visão que teve no dia anterior. Para evitar que fosse encontrado, Jungkook aproveitou-se que estava encostado no pesado tecido da tenda e a levantou para que pudesse se arrastar por debaixo e escapar para a parte de trás sem que fosse visto pelo sequestrador. Assim que estava fora, arrumou a aljava sobre suas costas e se preparou para correr em direção ao centro do campo de treinamento, pois assim conseguiria avisar aos outros da invasão, porém antes que conseguisse sequer dar um passo, outra pessoa o pegou por trás e tapou sua boca. Seu coração acelerou e suas mãos começaram a tremer por conta da adrenalina, mas lembrou-se das aulas de defesa de Jimin no dia anterior e não demorou a reagir.
Jungkook conseguiu afastar minimamente a mão da pessoa que o segurava e aproveitou a oportunidade para mordê-lo sem conter sua força, a pessoa guinchou de dor e o soltou, pois suas presas afiadas afundaram na mão dele. Assim que se afastou, Jungkook virou-se para trás, para encarar a pessoa, que se recuperou rápido demais da dor e partiu para cima dele novamente, o sangue pingava da mão dele enquanto ele tentava pegá-lo novamente, mas conseguiu desviar a tempo. O grande problema, era que ele parecia ser bem mais habilidoso, não era páreo para ele com o pouco treinamento que recebeu e teve certeza daquilo quando o homem conseguiu derrubá-lo contra o chão, as mãos dele se direcionaram a seu pescoço e seu coração deu mais um salto no peito. O homem também estava mascarado e não poupou forças ao tentar sufocá-lo, Jungkook balançou as pernas para tentar se soltar e segurou os pulsos dele, mas não tinha força suficiente para tirá-lo de cima de seu corpo.
Quando notou que seu fôlego estava prestes a acabar e que seu sangue se acumulava de maneira dolorosa em sua cabeça, tomado pelo desespero, Jungkook abaixou a mão em direção a sua bota e tocou no cabo do punhal. Seu pescoço doía como o inferno e tinha medo que fosse quebrado pela força do alfa a sua frente, sabia que por ele ser um filho de Salìk, aquilo provavelmente não era uma dificuldade para ele, por isso antes que ele pudesse fazer aquilo, Jungkook conseguiu pegar o punhal e sem hesitar, afundou a lâmina na coxa dele. O homem gemeu de maneira dolorosa e se afastou às pressas quando retirou a lâmina de seu músculo, pois tinha medo de perder sua única defesa, assim que as mãos dele foram para longe de seu pescoço, Jungkook tossiu de maneira dolorosa. Ainda com o punhal na mão, se arrastou para longe enquanto tentava respirar fundo entre as tosses, o homem à sua frente estava caído de joelhos por conta de seu golpe.
— Filho da puta! — O homem gemeu de dor e Jungkook franziu o cenho, pois tinha certeza que já havia escutado aquela voz. — Você vai pagar por isso!
Jungkook se levantou às pressas, pronto para correr, porém foi impedido quando seu rosto foi atingido por um pó amarelo, o cheiro nauseante o tomou como da primeira vez que foi vítima dele. Quase que instantaneamente suas vias áreas foram restringidas e se antes já estava difícil de respirar por conta do estrangulamento, aquela tarefa se tornou quase impossível por conta da droga, pois sempre que tentava respirar, uma tosse irrompia por sua garganta. Jungkook cambaleou quando uma tontura extrema o atingiu e não sabia dizer se era uma alucinação da droga ou seus sentidos torpes, mas sentiu alguém o empurrar e sem conseguir manter seu corpo estabilizado, foi ao chão sem qualquer delicadeza. Sabia que iriam tentar levá-lo, por isso agarrou o punhal com mais força e balançou a lâmina em direção a qualquer movimentação próxima a ele, mesmo que não conseguisse enxergar com exatidão, pois sua visão estava totalmente turva.
Sua garganta doía como o inferno e não sabia dizer se a tontura era por conta da droga ou do estrangulamento, mas não podia desmaiar ou se entregar às diversas sensações ruins, porque Taehyung estava ligado por um laço de sangue com ele e se desmaiasse ou morresse, ele também seria afetado. Ouviu os passos próximos a ele e balançou a lâmina, sua audição estava tão afetada quanto a sua visão, seu olfato quase não existia, sequer conseguia respirar direito, quem dirá se guiar pelo cheiro dos homens que tentavam levá-lo. Sentiu seu punhal ser chutado para longe e gemeu com a dor que atingiu seu pulso, mas sequer teve tempo de tentar se afastar, pôde ver o vulto se aproximar e então um golpe foi desferido em seu rosto, forte o suficiente para derrubá-lo. Quando caiu no chão, Jungkook rezou a Unàh, para que ela o deixasse acordado, para não o deixasse cair na inconsciência, pois tinha medo de deixar Taehyung desacordado também.
— Está muito ferido? — Perguntou uma voz próxima a ele, que também parecia familiar.
— Estou perdendo muito sangue — o homem que Jungkook golpeou praguejou. — Preciso de tratamento rápido ou vou morrer!
— Como pôde deixar um ômega te ferir desse jeito?! — Jungkook abriu os olhos e tentou forçar suas vistas, para que pudesse vê-los.
— Como eu ia saber que ele tinha uma faca?! Porra! — Ele gemeu novamente e parecia frustrado.
— Precisamos levá-lo antes que… ugh! — Ouviu o homem gemeu de dor e mesmo com a visão turva, pôde ver algo atravessar o peito dele.
— Não vai levá-lo a lugar nenhum — a voz de Taesu ecoou de maneira grave e em seguida ouviu o corpo do homem cair no chão. — Jimin!
— Já estou aqui — ouviu o ômega se pronunciar e então seu corpo foi virado. — Jungkook? Consegue me ouvir?
— Sim… — Jungkook respondeu em um sussurro.
— Ele foi drogado — reconheceu a voz de Hoseok e então se encolheu quando sentiu um toque delicado em seu pescoço. — Isso aqui vai ficar feio.
— O que faremos com ele? — Jimin perguntou e Jungkook fechou os olhos, pois o sol irritava suas vistas.
— Vamos levá-lo para interrogatório — Taesu respondeu e ouviu os passos dele sobre a terra. — Mas antes, vamos revelar a identidade dos nossos visitantes de Delta.
— E-espera! — O homem que tentou sequestrá-lo pediu em desespero e um coro de suspiros de surpresa chamaram a atenção de Jungkook. Foi então que lembrou-se de onde conhecia aquelas vozes.
Eles eram soldados de Canis, da guarda de Taehyung.
~🐺~
Esses aí vão virar camisa de saudades.
O sogrão defendendo ele🥹🤏🏻
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