A Farsa
24 de abril
Daiane POV
- E então? O que acha?
Ludmilla me pergunta com certo entusiasmo ao me mostrar a caixa de veludo azul marinho que continha um colar de diamantes dentro.
- É lindo!
- É o meu presente pra Bianca.
Fecho a cara no mesmo instante ao ouvir aquele nome.
- Não acho que ela mereça um presente desse.
- Daiane...
- Você pediu minha opinião!
Ela revira os olhos sorrindo levemente. Ludmilla me contou que havia pensado na hipótese de desistir do casamento e meu coração deu uma leve pontada de alegria mas aquele sentimento morreu quando confirmou sua decisão final.
Eu não conseguia entender porque minha amiga insistia em ser tão honesta com aquela mulher. Talvez o coração de Lud fosse puro demais ou ela era idiota demais pra acreditar em tudo que sua noivinha dizia.
- Pra quê o presente?
Ela se senta em sua cadeira presidencial novamente colocando a caixa em cima da mesa.
- Quero me redimir por quase ter arruinado tudo entre nós.
- Ainda acho que você deveria voltar atrás, ainda dá tempo.
- Não Daiane. Eu vou me casar, já está tudo certo!
Levanto as mãos em sinal de rendição.
- Okay... Se é isso o que você quer.
- É sim. E eu gostaria muito que você me apoiasse em minha decisão.
- Ai Ludmilla, já é pedir demais.
- Day, por favor! Eu sempre estive ao seu lado quando você precisou! Sempre te ajudei e te apoiei em tudo! Até mesmo quando quis insistir em namorar com aquele cara...
- Não me lembra disso!
Ela solta uma gargalhada divertida. Tentar namorar um homem tinha sido uma das coisas mais loucas e idiotas que fiz em toda minha vida.
- As vezes eu sinto saudade do Rafa, ele era legal.
- Ah, me poupe!
Tomo mais um gole do meu café enquanto ela ainda mantinha o sorriso.
- Mas sério Day, eu tô prestes a dar um passo gigantesco na minha vida, eu preciso da minha melhor amiga do meu lado.
- Você só precisa de mim do seu lado pra provar pra si mesma que está tomando a decisão certa.
- E eu estou.
- Não Ludmilla, você não está.
- Day, por favor!
Ela me encara com aquele olhar pidão. Ludmilla sabia muito bem persuadir alguém.
- Tá bom...
Ela da um gritinho de comemoração e vem em minha direção. Lud me abraça e lota meu rosto de beijos.
- Obrigada. Obrigada. Obrigada.
- É... O que eu não faço pra te ver feliz, não é mesmo.
Lud me solta e nós nos encaramos por alguns instantes.
Ela realmente parecia feliz com tudo aquilo e eu não poderia negar minha presença em um dia tão importante como aquele. Lud havia me convidado para ser sua madrinha de casamento, no começo rejeitei a proposta de todas as formas mas depois de continuar praticamente me implorando, não pude continuar e aceitei, com muito custo.
Eu nunca gostei de Bianca, desde a primeira vez que minha amiga nos apresentou meu sexto sentido gritou dentro de mim me alertando que aquela garota tinha algo de muito ruim dentro de si. Ela não aprecia ser uma má pessoa, pelo contrário, tinha boa aparência, modos e uma educação impecável, era carinhosa com Lud e fazia questão de sempre se mostrar inteiramente ao seu dispor. Mas seus olhos não negavam.
Quando alguém está apaixonado, o olhar entrega. A forma como a pessoa te olha, a forma como conversa com você, os gestos, tudo isso denuncia o sentimento. Bianca se esforçava ao máximo para passar isso a todos, mas seu olhar vazio entregava tudo. Não sei se sou a única pessoa que foi capaz de reparar naquilo, mas a verdade era que eu sabia que nela, poderia existir todo e qualquer sentimento em relação a minha amiga, menos amor.
- Minha reunião foi cancelada. - Lud fala tomando minha atenção. - Sendo assim, posso sair mais cedo. Quero fazer uma surpresa pra Bia.
Faço um som nasal concordando, Lud era boa demais para aquela mulher.
- E o que você tem em mente?
- Bom, primeiro vou entregar o presente e depois não sei, talvez saiamos pra jantar ou algo assim.
Ela guarda a caixa do colar na bolsa e pega o celular de cima da mesa. Me levanto e a acompanho até o elevador, entramos juntas e logo ela aperta o botão do térreo.
- Lud... - Ela me encara, curiosa. Eu estava pronta para começar meu discurso mas pude ver a felicidade em seus olhos, eu não queria ser o monstro que estragaria seu dia. - Só toma cuidado, okay?
Foram as únicas palavras que consegui dizer naquele momento. Ela franze o cenho, confusa.
- Okay...
O elevador apita e eu a abraço, forte. Queria eu que Deus me permitisse cuidar de minha amiga e protege-la de todo mal esse mundo.
Saímos do elevador juntas, eu voltei para meu escritório e ela para casa.
Pela primeira vez, eu realmente estava torcendo para que tudo aquilo que Lud falava sobre sua noiva fosse real.
Ludmilla POV
Entro no estacionamento e vejo um carro parado em minha vaga. Nunca havia visto aquele carro ali, talvez alguém estivesse visitando um parente que morava no prédio e acabou estacionando lá. Paro meu carro na vaga ao lado e vou em direção ao elevador.
Eu estava um tanto quanto ansiosa para entregar o presente á Bianca, queria me redimir por quase acabar com tudo o que tínhamos e aquele presente me parecia perfeito.
Estranho ao girar a chave e ver a porta abrir como se não tivesse sido trancada. Eram três da tarde, Bianca deveria estar no trabalho a essa hora o que me fez pensar que talvez ela tivesse saído atrasada e esquecido de trancar tudo.
Assim que entro na sala sinto um clima estranho, era como se alguma coisa errada estivesse acontecendo ali, como se algo estivesse fora do lugar mesmo que tudo dentro do apartamento estivesse como deixamos. Coloco minha bolsa no sofá e subo as escadas, pé por pé, será que alguém estava na casa?
Quando chego no corredor ouço uma conversa baixa e algumas gargalhadas familiares. Era a voz de Bia que ecoava e a outra, um pouco mais grossa, talvez de um homem, apesar de não saber quem era, poderia jurar que conhecia aquele tom.
Tiro os saldos no meio do caminho e os seguro nas mãos enquanto me aproximo mais do quarto fazendo com que as vozes soassem cada vez mais nítidas.
A porta estava encostada, havia uma pequena brecha que me deu a visão parcial do que estava acontecendo dentro do cômodo.
Sinto como se meu corpo tivesse acabado de receber uma descarga elétrica. A adrenalina corre solta em minhas veias. Minha vontade era de entrar naquele quarto e mata-los com minhas próprias mãos.
Bianca estava nua, esparramada no colchão, ela ria e observava o homem que estava á sua frente. Os dois conversavam sobre algo que não consigo entender. Logo o rapaz caminha para o seu lado e se deita junto a ela, ele usava somente uma cueca box preta. Somente quando os dois finalmente se ajeitam e Bianca se deita parcialmente sobre ele, jogando uma de suas pernas em cima do rapaz, que finalmente consigo ver seu rosto.
Era Rômulo.
Me encosto na parede e sinto minhas mãos tremerem e meu sangue ferver. Bianca estava me traindo. Os dois estavam juntos, na minha casa, na minha cama. A quanto tempo aquilo estava acontecendo? Eu não podia acreditar naquilo. Todo sempre estiveram certos sobre ela. Burra! Como eu pude me deixar enganar?
Os dois continuavam numa conversa animada e eu me limito a encostar meu ouvido da fresta da porta na tentativa de ouvir algum coisa.
- E assim que vocês finalmente assinarem os papéis e tudo for pro seu nome, ela finalmente morre, e nós poderemos ficar juntos, pra sempre!
- Eu ainda acho que mata-la é extremo demais.
- Você não tem que achar nada, só tem que seguir com a sua parte do plano.
Rômulo diz firme aquelas palavras enquanto Bianca brincava com seus dedos.
- Ao menos isso tudo está chegando ao fim. Não via a hora desse plano finalmente se concretizar.
- Logo ele vai, você só precisa a esperar mais algumas semanas.
- Pra quem espera por isso a três anos, algumas semanas não são nada.
- Essa é mina garota! - Ele segura seu queixo e a beija.
- Assim que vocês forem pra lua de mel, Ludmilla vai receber uma bela surpresa. Meu presente de casamento pra vocês.
Ele ri macabro e ela da somente um sorriso sem vontade.
- O que você vai fazer?
- Isso não é da sua conta. Somente garanta que sua esposinha dê uma volta de lancha, sozinha.
Ela somente concorda olhando nos fundos dos olhos dele. Bianca tinha uma expressão apaixonada em seu rosto, expressão essa que nunca a vi tendo quando me olhava.
- Quando ela menos esperar, vai estar vendo Deus de pertinho... Ou o diabo, quem sabe.
Os dois riem novamente. Ele a beija fazendo ela se sentar em seu colo e logo os dois começam a se atracar.
Eu não podia acreditar naquilo. Durante todo esse tempo pensei que Rômulo estivesse longe ou talvez nem existisse mais, mas durante todos esses anos Bianca estava tendo um caso com ele, bem debaixo do meu nariz e eu, burra demais, confiava em tudo o que ela dizia.
Sinto uma vontade enorme de chorar. Não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. A mulher que tanto jurava me amar estava me traindo e tramando minha morte. Como ela era capaz?
Um soluço engasgado sai sem querer e eu ouço um silêncio repentino dos dois.
- Você ouviu isso?
Assim que ouço passos trato de sair correndo de lá. Desço as escadas em um flash, pego minha bolsa e fecho a porta com cuidado depois de pegar novamente minhas chaves. Aperto o botão do elevador que já estava parado naquele andar e entro descendo para o estacionamento.
Torcia para que nenhum deles tivesse me visto enquanto calços os sapatos e entro no carro novamente saindo dali logo depois.
Dirijo sem rumo nenhum tentando inutilmente cessar as lágrimas que teimavam em rolar. Finalmente pego meu celular quando paro no sinal vermelho, disco o número de Daiane e assim que ouço sua voz do outro lado da linha, digo quase que em um surruo.
- Alô?!
- Você tinha razão!
[...]
- Como eu pude ser tão idiota?
Ela me entrega o copo de água e se senta ao meu lado.
- Você tava apaixonada.
- Como ela pôde fazer isso?
- Ela nunca te amou.
A encaro, sua expressão era imparcial, pela primeira vez minha amiga não desmontava absolutamente nada em seu rosto e gestos.
- E ele? O que eu fiz de tão mal pra esse cara, pra ele querer minha morte?
- Ele é louco.
Reviro os olhos e bebo a água que ela havia me entregue. Depois que liguei para Daiane ela me mandou ir direto para seu apartamento. Assim que cheguei, sem nem ao menos entrar direito, fui despejando tudo o que havia visto e ouvido tentando me lembrar de cada detalhe.
- Eu deveria acabar com tudo!
- Você não vai fazer isso!
A encaro incrédula e ela tinha uma expressão firma.
- Por que?
- Porque você tem a chance de revidar.
- Como assim?
- Pensa Lud! - Se senta na mesinha de centro a minha frente e pega o copo segurando minhas mãos em seguida. - Você pode se vingar deles.
- Não sei quero isso.
- Deixa de ser idiota!
- Daiane eu só quero acabar com isso logo e seguir minha vida!
- E você acha que eles vão deixar isso acontecer?
Como a boa advogada que era, Daiane sabia reconhecer pessoas ruins de longe.
- Pensa Ludmilla! Eles estavam juntos esse tempo todo de caso pensado! Você acha que se chegar lá e dizer que sabe de tudo eles simplesmente vão desistir?
Permaneço calado apenas a ouvindo falar.
- Ela pode tentar te matar ali mesmo! Você tem que agir de forma fria e calculista, assim como eles!
- Como eu posso fazer isso?
- Você vai agir como se não soubesse de nada. Vá pra casa, aja naturalmente. Faça ela acreditar que tudo está acontecendo conforme o plano deles.
- Daiane, eles querem me matar!
Me levanto irritada dando as costas para ela.
- Mas não vão!
A encaro confusa.
- Como assim?
- Você vai se casar com ela, vai agir conforme o plano dos dois, porém, você vai estar um passo a frente. - Suas palavras soavam completamente confusas pra mim. - No dia da sua morte, você vai fugir. Vai pra um lugar longe daqui, enquanto isso, eu mesma vou me encarregar de juntar provas pra colocar esses dois fudidos na cadeia até que apodreçam lá.
- Não é mais fácil dizer que eu já sei de tudo?
- Não! Ludmilla, esse plano foi arquitetado por anos! Olha quanto tempo eles esperaram pra que tudo finalmente saísse como queriam! Se eles souberem que você descobriu tudo, não vão desistir, só vão mudar de plano.
Me sentei novamento e ela faz o mesmo me encarando em silêncio. Eu tentava organizar meus pensamentos que estavam a mil por hora naquele momento. Nada daquilo fazia sentido pra mim. Eu me sentia traída, não só por Bianca ter um caso mas por ter se aproximado de mim com o intuito de fazer o tal plano acontecer. Como ela pode ficar comigo durante todo esse tempo, fingindo? Como ela pode me olhar nos olhos e dizer que me amava tantas vezes, mesmo sendo mentira? O quão baixa e macabra ela era?
- Lud. - Daiane me chama e eu a encaro. - Eu já tentei te alertar uma vez e você não me ouviu, você tem a chance de fazer diferente agora, me ouve!
Suspiro derrotada. Realmente a idéia dela era bem melhor que a minha, afinal, a única coisa que eu pensava era em acabar com a raça daquela cobra criada.
- Okay, você venceu. Vamos seguir seu plano.
Ela apenas assente e se levanta levando o copo para a cozinha.
- Eu só preciso avisar minha família que...
- Não! - Ela grita me assustando e logo vem em minha direção tirando o celular da minha mão. - Ninguém pode saber!
- Por que não?
- Porque isso pode colocá-los em risco! Além do mais, sua morte precisa ser real. Eles precisam acreditar.
- Daiane, eu não sei se isso é uma boa ideia.
- Você tem algo melhor em mente?
Me calo.
- Ludmilla, apenas faça o que eu digo. Vá pra casa, fique com Bianca, aja como se tudo estivesse bem, como se nada tivesse mudado. Você acha que consegue fazer isso?
Respiro fundo enquanto tento aceitar suas palavras.
- Sim.
- Ótimo!
Ela me devolve o celular e eu pego minha bolsa me preparando para sair.
- Mais tarde te mando mensagem e a gente conversa sobre nosso plano.
- Okay.
Day me leva até a porta e antes de entrar no elevador lhe dou um abraço apertado.
- Obrigado. E me desculpe.
Ela me encara surpresa, eu não era de dizer aquilo.
- Tá tudo bem, você sempre foi boa demais.
Me limito a apenas sorrir e então entro no elevador deixando minha amiga para trás.
[...]
- Amor?!
Entro no apartamento e escuto Bianca me chamar. Senti um forte enjôo quando ouço aquela voz.
- Chegou cedo...
Forço um sorriso que não queria aparecer.
- Queria te fazer uma surpresa.
- Oh, entendi.
Ela sorri e se aproxima me dando um selinho demorado. O nojo foi tão grande que quase vomitei ali mesmo. Me afasto lentamente e encaro seus olhos, falsos como sempre.
- Tenho uma coisa pra você. - Abro a bolsa e tiro a caixa de veludo entregando a ela.
Bianca me encara surpresa.
- Abre!
Ela prontamente o faz e assim que seus olhos vêem o conteúdo da caixa, me encara sorrindo.
- Amor... É lindo!
- É... É o meu pedido de desculpas por quase ter desistido do casamento.
Me encara sorrindo. Como pode ser tão dissimulada?
- Obrigado!
Devolvo o mesmo sorriso.
- Eu estava pensando, talvez nós pudéssemos adiantar um pouco a lua de mel. Ou ao menos o que iríamos fazer nela.
Meu tom de voz era totalmente malicioso o que fez com que eu sentisse nojo de mim mesma.
- E o que você tem em mente?
Assim que termina de falar acerto um tapa em seu rosto, tão forte que a fez dar uma passo para trás. Ela me encara, assustada, com a mão sobre o local e antes que pudesse dizer algo, avanço sobre seus lábios a beijando de forma violenta.
Agarro seus cabelos e puxo com força fazendo ela tombar a cabeça para trás e logo em seguida mordendo forte seu pescoço.
- Lud. - Ela diz entre suspiros agonizantes. - Tá me machucando, amor.
A encaro tentando não demonstrar meu contentamento com aquela informação.
- Desculpa... Só pensei que pudéssemos tentar algo diferente hoje.
Seu sorriso malicioso logo aparece e ela me beija mordendo meu lábio inferior em seguida.
- Okay... Acho que podemos tentar.
Sorrio de volta e dou outro tapa, ainda mais forte.
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