Victoria: Parte IV
Arthur estava deitado de costas no chão de uma das tantas salas do palácio, com as mãos cruzadas sobre o peito, encarando o brilho das pedras do lustre acima de sua cabeça. Essa era a ironia da coisa: sumido dentro da própria casa.
Ele poderia ter sorrido ao pensar nisso, mas já fazia um bom tempo que não sabia mais o que era sorrir. Diferente da irmã, nunca teve saco pra fingir que a família deles era perfeita, quando estava óbvio que não era. Mas as pessoas escolhiam não ver.
O casamento que se fodesse. A linha de sucessão que se fodesse. Desde a morte do pai deles, há alguns anos, toda expectativa do mundo recaía sobre ele. Mas quem se importava se ele queria ser rei? Se ele queria se casar e ter filhos? Se Victoria queria tanto, ela que assumisse o trono.
"Você não tem que gostar, tem apenas que cumprir o seu dever", sua mãe sempre dizia aos dois. Casamento, para a família deles, nada tinha a ver com amor, como seus pais provaram tantas vezes, saindo por baixo dos panos com outros homens e mulheres, geralmente bem mais jovens e de caráter duvidoso.
Arthur não precisava gostar de mulheres para se casar com uma. Bastava cumprir seu dever, e sair com os homens que quisesse quando ninguém estivesse olhando, era isso.
Mal pensou na mãe, e já ouviu as portas da sala se abrirem com um grande eco, como se tivesse invocado a mulher.
- Você...! - Lisandra caminhou até o filho e apertou o salto agulha com força sobre o peito dele. - Como pode?
- O quê? - Ele perguntou, e em seguida riu, sarcástico.
- Você não tinha o direito de fazer isso com a sua irmã! Você não tinha! - Lisandra gritou.
Arthur tossiu teatralmente. A rainha tirou o pé de cima dele, e ele se sentou, tossindo, arfando e rindo ao mesmo tempo.
- Parece que a Victoria não é a Miss Perfeição afinal, hein?! - Ele disse, e riu ainda mais. - Que tipo de pessoa deixa o rosto aparecer em uma nude? Amadora!
A rainha puxou o filho pelo braço até colocá-lo de pé, e fitou seus olhos de forma gélida.
- Eu não estou nem surpresa. A Victoria ter deixado uma foto como aquela salva por aí, isso me surpreendeu. Agora, vindo de você, nada mais me abala. Eu sempre soube que você era um caso perdido.
A rainha soltou bruscamente o braço dele, que se desequilibrou para trás e quase caiu. Ela lhe deu as costas, e saiu rebolando para fora. Quando atravessou a porta, virou-se para trás e disse:
- Isso não vai ficar assim. Se você pensa que vai humilhar a sua irmã desse jeito e sair impune, você realmente não conhece a mãe que tem.
E saiu, seus sapatos batendo ritmadamente pelo corredor. Ao se ver sozinho outra vez, Arthur pegou uma garrafa de whisky de um aparador próximo, e virou o conteúdo de uma só vez.
Ele também não estava nada surpreso com a reação da mãe. A vida inteira sempre esteve claro quem era o favorito dela. Ele poderia muito bem jogar a garrafa vazia na parede, só pra fazer uma pequena cena, mas, que se fodesse tudo aquilo. Não valia o esforço.
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