Capítulo 46

Me perdoem por esse capítulo, juro

"Eles me dizem que essas dificuldades
São uma chuva passageira
Se quiser sucesso, mesmo com medo
Preciso de armadilhas chamadas falhas
Então sim, eu mordo as iscas que são chamadas dor
Com as minhas exaustas asas de paixões temporariamente dobradas,
Estou vagando."
— Hellevator, Stray Kids.

2020.

Meu corpo estava uma mistura de peso e leveza quando cheguei ao apartamento de Charlie, que ainda estava com a chave no tapete, indicando que ele não chegara do trabalho.

Conversei por horas com minha mãe no que parecia ser uma reconciliação tardia. Ela me fez relembrar de vários momentos da minha infância que eu não entendia bem, e também contou detalhes sobre seu casamento que havia me poupado em todos aqueles anos. Foi uma conversa aberta e sincera, do tipo que eu não estava acostumade a ter com ela e me deixou leve.

Mas o peso de ter me aberto de forma tão profunda ainda me corroía. Era estranho me expor, mas eu precisava me acostumar com isso, principalmente por conta do que estava por vir. Contei à Andressa sobre o plano de Charlie na internet para meu caso ir à tona e ela concordou com a ideia, disse que ajudaria a compartilhar também.

Eu parecia o menos "de acordo" com aquilo tudo, por falta de costume. Eu mal usava redes sociais.

Tomei um banho e peguei o celular depois de vestir uma calça de algodão e uma blusa de manga preta e gola alta, que cobria todo o meu pescoço e aliviava o frio naquela região. Conferi as notificações e limpei todas de uma vez, que eram praticamente todas graças ao Charlie: desde que ele começou a me marcar nas suas postagens, eu ganhava seguidores o tempo todo.

Eu não gostava muito disso, pois eu ainda recebia comentários de ódio que eu suspeitava serem de pessoas próximas ao meu pai. Felizmente, os seguidores do guri eram legais comigo e isso compensava um pouco.

Me sentei na mesa da cozinha e fiquei rolando a tela com o dedo, distraído. Estava acontecendo um debate no último post de Charlie, em que ele postou uma foto com sua blusa nova de um grupo chamado Ateez e perguntou na legenda quem era o maior grupo da quarta geração de kpop. Eu não entendia o que aquilo significava, mas aparentemente várias pessoas sim, pois haviam muitos comentários de fãs fervorosos competindo para falar qual grupo era o melhor.

Eu mal conhecia BTS.

Percebi que a conta do guri estava conectada no meu celular, o que era comum há um tempo por ele me pedir para gravá-lo direto do seu perfil; então também era por isso que meu celular recebia tantas notificações. Silenciei tudo para não ser incomodade, cliquei duas vezes e abri a tela da sua página inicial.

Ele não se importaria se eu bagunçasse um pouco o perfil dele, só para me distrair enquanto ele não chegava em casa.

Fui no comentário mais recente do último post e respondi o de uma pessoa sem nem ter visto o que ela havia dito:

"Vocês tinham que ver o quarto do Charlie, acho que ele é obcecado pelo Jimin... #JasonAqui."

Charlie iria me matar quando visse isso.

Automaticamente recebi a resposta da pessoa.

"MEU DEEEEEUS O JASON TÁ NO PERFIL DO CHARLIE STEWART!!! FIXA MEU COMENTÁRIO POR FAVOOOOOR!!! EU SHIPPO MUITO VOCÊS!!!"

Comecei a rir sozinho com o desespero do comentário em caixa alta. Aproveitei para curtir várias mensagens e postar um story fazendo um sinal de V, mostrando apenas a parte de cima do meu rosto, com a câmera mais para baixo.

Coloquei na legenda:

"Entendendo nada desses assuntos de kpop. Vou deixar uma música aqui pra vocês."

Procurei a ferramenta de musicas e inseri um trecho de "Stand by me", de Ben E. King. Postei nas histórias de 24 horas de duração e não demorou muito para surgir algumas respostas.

Charlie era famoso demais, tá doido.

"VOCÊ É LINDO, JASON!"

"Recomenda mais músicas!"

"Torcendo pra você me responder! Amo quando você aparece nos vídeos do Charlie, são lindos juntos!"

"Me nota, Jason!"

"Esse V foi pra falar que você é Taehyung-utted né? Porque eu também sou, amo!"

Minha cabeça já estava girando com tantas mensagens, então era por isso que Charlie ignorava tanta gente, nem ele dava conta.

Resolvi responder todo mundo de uma só vez, com a ideia mais besta possível e que faria Charlie pirar por eu estar fazendo isso no seu perfil, mas eu não tinha culpa por estar com tanto tédio.

Abri a aba de lives e comecei a gravar.

Eu estava sentado na mesa, com as mãos apoiadas no tampo de vidro enquanto o celular ficara em pé, apoiado no pote grande de biscoitos que Charlie sempre deixava lá. Fiquei mexendo nos lábios enquanto via as pessoas começando a entrar.

— Era mensagem demais, não consegui ler tudo. Alguém tá me ouvindo? — falei baixo, atento aos ícones de perfis que apareciam a cada segundo. Várias pessoas começaram a mandar "oi" e lotaram a tela com corações, outras responderam que estavam me ouvindo.

Era uma sensação estranha, mas muito legal. Entendi por que Charlie ficava preso naquilo o dia todo.

— Eu vi que tava rolando uma briga pra saber que grupo é melhor de kpop, mas eu não entendo dessas coisas. — Esfreguei minhas mãos uma na outra para afastar o frio. — Eu gosto de rock clássico, R&B, às vezes Pop também. É, eu escutava muito pop quando eu era mais novo.

Algumas perguntas surgiram na caixa de mensagens e aproximei meu rosto para conseguir ler alguma.

— "Gosta de que artistas pop?" — Falei em voz alta a pergunta que uma pessoa fez. — Bruno Mars é meu favorito. Jason Derulo também. Harry Styles é pop, né? Eu também escuto. "Muito bissexual ele!" — Li outro comentário e comecei a rir. — Eu tenho estereótipo de bissexual pra você? Bom saber.

Uma pessoa perguntou qual era minha música favorita do Bruno Mars. Comecei a tocar na tela, em busca de alguma coisa que me fizesse abrir o player de música sem sair da transmissão ao vivo.

— Eu não sou bom com essas coisas, mas eu queria mostrar a música agora. Peraí... — Consegui reduzir o tamanho da minha tela e abri o player. — É essa aqui.

O som do piano inconfundível de Grenade começou a tocar e vi vários corações surgindo na tela — os seguidores de Charlie eram muito emocionados.

— Ah, eu amo Adele também. Mas faz tempo que eu não escuto. Alguém aqui gosta?

Aumentei a tela para ver os comentários e vi um recado interessante de uma pessoa que tinha Kim Taehyung como foto de perfil.

— "Eu sei que você é Tae utted... — Comecei a rir enquanto lia. — Já ouviu o cover dele de Someone like you?". Não sabia disso, ele cantou Adele? Caramba. Peraí então.

Abri o player com mais facilidade do que antes e procurei pelo cover, feliz por ter encontrado rapidamente.

— E eu queria dizer que não sou Tae essa coisa aí que tu falou... Bah, eu só gosto dele. — Fiz uma careta e recebi vários comentários imitando o meu "bah". — "Seu sotaque é fofo." Mas eu não tenho sotaque!

Eu me sentia completamente maluco por estar rindo na frente de uma câmera, ouvindo Kim Taehyung cantando Adele — e realmente era um cover muito bonito — enquanto conversava com pessoas que eu não fazia ideia de quem eram.

— Essa música ficou boa na voz dele... — Coloquei a mão na frente da boca e mexi de novo nos lábios, começando a cantarolar mais baixo para não me perder do ritmo. — I had hoped you'd see my face and that you'd be reminded, that for me, it isn't over...

Parei de cantar na hora do refrão porque eu nunca conseguiria alcançar o tom do cantor. Contudo, não foi o suficiente para os seguidores de Charlie se acalmarem.

— "Você canta muito bem." Sério? Não acho. — Ri sem graça e li um comentário em caps lock que dizia "Alguém entrega o perfil do Charlie pro Jason definitivamente porque ele serve tudo!". — Mas bah, tchê, tu quer me deixar numa situação complicada falando isso! Charlie vai me matar!

Fiquei rindo com vários comentários aleatórios das pessoas, surpreso com minha desenvoltura para falar em "público". Eu estava levando isso como um teste para minha audiência no futuro.

Até que um comentário chamou minha atenção e o li em voz alta.

— "Jason, quais são seus pronomes?" Nossa, ninguém nunca me perguntou isso. Tu pode usar ele e elu, o que for mais fácil pra ti.

Minha resposta saiu tão natural que eu não notei o impacto que isso teria.

Porque, afinal de contas, as pessoas não me conheciam de verdade.

"Ué, mas você não é cis? Você usa elu?"

"Meu Deus você é não-binário! Não parece! Tá zoando, né?"

"Mentira que você usa elu!!!"

"Ai gente, eu nunca pergunto essas coisas não, às vezes fica óbvio né que é um garoto."

"Jason usa pronome neutro igual eu, nunca fui triste!"

"Gente cis usando pronome neutro, nunca vi isso."

Soltei uma risada nervosa, não conseguia responder os comentários que vieram aos montes e fiquei parado, olhando para a tela.

"Seus idiotas, Jason tá sem graça agora! É só um pronome, gente, que que tem? Se elu quer usar pronome neutro, deixa! Seus fiscais de pronome! E daí que uma pessoa cis tá usando? Bom que fica mais acessível!"

Eu não sabia quem era aquela pessoa com uma foto de um anime no perfil, mas eu queria agradecer a ela por me defender. Ao mesmo tempo, eu queria dizer a ela uma única frase para eu também ter minha defesa, mas que naquela hora não conseguiu sair da minha boca:

"Eu sou trans."

Porque a verdade era que ninguém sabia, exceto Charlie, Gael, Paloma e minha família.

Eu não devia ter falado dos meus pronomes, não naquela hora. Eu precisava me planejar e saber exatamente o que falar aos outros, na hora certa, do jeito que Charlie e eu combinamos antes.

— Bah, relaxa, eu tô legal. — Tentei rir para quebrar o clima e ajeitei a gola da blusa, estava me preparando para me despedir ou até tentar trocar de assunto, mas um comentário me fez perder completamente o rumo dos meus pensamentos.

"Conta pra eles, vai! Tu não tem coragem!"

Minha respiração falhou e apertei no botão de encerrar transmissão o mais rápido possível.

Poderia ter sido meu pai ou algum colega dele, eu me lembrava do seu perfil. Tentei pesquisar o nome, com dificuldade pois meus dedos tremiam, e achei o perfil sem foto, anônimo.

Quando eu cliquei para enviar uma mensagem, uma outra havia acabado de ser enviada por ele naquele mesmo minuto.

"Vai achando que tu tá livre de mim saindo da cidade e que pode sair falando do que não deve, te orienta no que vai contar e te lembra que quem te deu tudo o que tu tem fui eu. Prefiro um filho morto do que um filho assumindo que é mulher por aí, feito sapatão."

Um gosto amargo preencheu minha garganta e tive vontade de vomitar.

Meu pai literalmente havia dito que me preferia morto.

Levantei tão rápido da cadeira que me provocou uma sensação de tontura, mas me mantive firme nos passos para chegar até a pia da cozinha e lavar meu rosto para me acalmar. Meu corpo estava tremendo e eu queria que Charlie chegasse logo, mas ainda faltava mais de meia hora para as sete da noite.

Tateei os armários do guri em busca de alguma coisa, mas como ainda não havíamos ido ao supermercado — apenas padaria — só havia alguns biscoitos. A única coisa que sobreviveu ao tempo de Charlie longe foram as garrafas de bebida.

"Vai ter que ser isso aí."

Procurei um copo de vidro e li o rótulo da vodka extremamente cara por ser uma Absolut rara, ornamentada com flores neon. Despejei até metade do copo e virei a cabeça para beber tudo de uma vez, estava tão absorto na minha confusão mental que nem careta fiz pelo álcool puro machucando minha garganta.

Foda-se se eu era viciado em beber quando estava mal, pelo menos isso me acalmava.

Eu não conseguia explicar direito o efeito que causava em meu corpo, mas sempre era bom; o pânico que tomava conta de mim começava a sair e dar lugar a uma euforia, mesmo sendo a curto prazo. Só em momentos de extrema tristeza que a bebida potencializava meu sofrimento, e eu esperava que não surtisse esse efeito dessa vez.

Não percebi que a playlist ainda estava rodando no meu celular, e como eu havia pesquisado o nome de Kim Taehyung para procurar o cover, começou a tocar outra música dele.

— Mas que filho da puta! — Xinguei o artista sem motivo algum e enchi o copo até a metade de novo. Andei a pisadas duras até a mesa e peguei o celular, nervoso. Meu inconsciente me fez procurar a música que eu menos gostava.

"Still with you." Em repetição, para me deixar mais triste.

Eu iria extravasar toda a minha tristeza de uma vez só para depois me sentir leve e agir como se nada tivesse acontecido — que meu pai não estava me vigiando, que não me ameaçava e nem me preferia morto.

"Prefiro um filho morto", aquilo não saía da minha cabeça.

— Morrer porra nenhuma... — Ri comigo mesme e me sentei na cadeira, com a nuca apoiada no estofado e olhando para o teto. — Quero viver pra esse infeliz ficar sofrendo.

Abaixei a cabeça para tomar mais um gole da vodka e fiz uma careta. Isso era um bom sinal, meu corpo estava recobrando os sentidos.

Peguei o celular e procurei pelo contato de Charlie, me lembrei de repente que havia silenciado as notificações por causa da quantidade e me esqueci de reativar, já estava perto das sete horas e eu queria notícias dele.

Haviam mensagens com horários de vinte minutos atrás não lidas, e isso me deixou mais ansioso.

Eram três mensagens, no total. Fui para o topo e comecei a ler.

"Tu tava usando meu Instagram, é? Seu ridículo!". Haviam vários emojis rindo, então ele não estava irritado.

Mas a próxima mensagem já estava em um tom diferente.

"Tem uns comentários estranhos aqui, Jay, o que aconteceu? Preciso entender quando eu chegar em casa, tem que tomar cuidado com o que fala na internet!"

E poderia ter parado por aí.

Eu teria ficado tão, mas tão grato se parasse por aí.

"Jason, eu não vou conseguir voltar pra casa ainda. Não posso te explicar muito agora, mas os pais da Sammy morreram na Santa Casa e ela tá sozinha aqui em PA, tava acompanhando eles. Tô indo pra lá. Eu te explico tudo depois, mas ela tá precisando de ajuda agora, eu tô me protegendo, relaxa, eu juro que te explico depois."

Eu não queria acreditar nisso. Não, não mesmo.

Samantha. Charlie.

Era tudo o que eu NÃO precisava no momento.

Meu estômago se revirou e fiquei parado encarando o celular, com a mensagem na tela. Não sabia o que responder, não podia responder. Eu não tinha condição alguma de raciocinar e só conseguia imaginar Charlie perto daquela guria, em um hospital, e meu pensamento arrogante e desesperado tacou o foda-se para o que havia acontecido com ela, eu só queria que Charlie NÃO estivesse lá com ela.

Tive que respirar rápido pela boca para manter a calma, nem eu sabia o que estava acontecendo comigo para ter ficado tão transtornade.

"Lógico que sabe, porra. Tu tá com ciúmes."

Uma droga de ciúmes que eu sentia desde que Charlie me contou, logo antes de viajar para Esplendor, que precisava se resolver com a Samantha.

E agora a droga da guria estava perto dele. E eu não.

Aquilo não era ciúmes puro e simples. Era medo.

Ignorei o álcool querendo tomar conta do meu cérebro e peguei as chaves do carro, decidido a descobrir aonde era o Hospital Santa Casa.

Abri o GPS do celular irritado e peguei as chaves do Fusca, iria precisar dele na maior potência possível para chegar no endereço que constava vinte minutos de distância no mapa. Eu queria fazê-lo na metade do tempo.

Desci as escadas com pressa e corri até a calçada, em poucos segundos já estava dando a partida no carro.

Eu não sabia andar no centro de Porto Alegre, então me agarrei às instruções do comando de voz e acabei pegando um pequeno engarrafamento por não conhecer o um atalho.

Bati as mãos no volante, em fúria total. Charlie já devia estar no hospital àquela altura. Analisando friamente, eu nem sabia por que eu estava indo para lá, não era da minha conta, eu só queria estar por perto.

Perto do Charlie.

Voltei a dirigir com pressa, ainda tentando tomar cuidado porque meu cérebro não estava totalmente sóbrio — não era a primeira vez que eu dirigia bêbado também.

Quando encontrei uma das entradas do hospital, dirigi mais rápido até a entrada do estacionamento e perguntei afoito por onde entrar na recepção. O porteiro, nada apressado, me entregou um ticket para pagar no final e me mostrou o local mais próximo para estacionar perto de lá, e ainda olhou feio para o meu carro barulhento.

Quase esqueci de fechar a porta do carro por sair tão desesperado dele, assim que estacionei. Subi um lance de degraus branco e extenso para chegar ao interior do hospital, me deparando com diversas pessoas ao redor, todas de máscaras, algumas de pano e outras descartáveis igual a minha. Comecei a percorrer o local com os olhos em busca de um guri de sobretudo marrom e calça.

E o encontrei. Mas aquilo partiu meu coração.

Ele havia acabado de chegar, e por poucos segundos de diferença teria entrado comigo — mas ele estava adiantado, em uma corrida que só existia na minha cabeça. Já estava com seu crachá de visitante e eu paralisei ao vê-lo andar, de costas para mim, em direção a uma garota devastada em uma das cadeiras azuis do corredor.

Charlie se aproximou dela com pressa e chamou por seu nome, tão alto que eu podia ouvir de onde estava.

A guria ergueu a cabeça e sua expressão de desespero — os olhos inchados e o rosto completamente molhado — tomou o lugar para alívio por um intervalo curtíssimo, que talvez nem Charlie tenha notado, mas eu notei.

Porque eu entendia aquele olhar.

Ela gritou seu nome antes de abraçá-lo e cair os prantos, as pernas bambas pelo esforço de ficar em pé. Não se parecia com a aluna de Jornalismo da faculdade que eu conhecia: estava pálida, magra e com os cabelos completamente caóticos.

Charlie a segurava forte como um protetor enquanto ela gritava, tão forte era seu choro. Algumas pessoas o olhavam com estranheza, mas eles não se importavam.

E eu não conseguia me mexer, um centímetro nem nada. A cena ocorrendo há metros de mim me deixava sem reação.

Tive uma das piores sensações do mundo no peito, mas não podia fazer nada.

Charlie sempre havia dito que tinha coisas para resolver do passado e eu sempre soube que elas envolviam Samantha.

Talvez fosse a hora dele resolvê-las, e eu não estava sendo nada além de um intruso ficando ali.

Mas a pior parte não era sentir ciúmes daquilo tudo: e sim o motivo para estarmos ali.

Só me dei conta disso porque Sammy começou a gritar no peito de Charlie, desesperada.

"EU NÃO POSSO FICAR SEM ELES!"

Aquela frase ecoou pela recepção e fez várias pessoas a encararem. Algumas, que entenderam o que aconteceu sem precisar de explicação, murmuraram alguma coisa e balançaram a cabeça.

Uma enfermeira se aproximou dos dois.

— Senhorita, precisa se acalmar para...

— NÃO ME PEDE PRA TER CALMA!!! — Samantha se soltou de Charlie e parecia prestes a voar em cima da mulher, mas ele conseguiu segurá-la a tempo e começou a dizer algo em seu ouvido.

Então Charlie disse algo para a mulher que não pude compreender, e nem queria. Ela se afastou e ele foi com Samantha para além do corredor.

Só percebi que estava chorando quando os dois sumiram da minha visão.

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