Após ter brigado, chorado e quase ter apanhado, Helena e suas amigas foram ao encontro literário na Livraria Shakespeare and Company, para o lançamento do livro de Thierry Beaumont. Ele a ajudou e muito quando precisou e seria uma ingratidão não ir.

Shakespeare and Company (Shakespeare e Companhia) é o nome de duas livrarias da zona sul da cidade de Paris. A primeira foi aberta por Sylvia Beach em dezenove de novembro de 1919 no número oito da rua Dupuytren e se mudou em 1922 para o número doze da rua do Odeão.

Durante os anos 20, tornou-se um ponto de encontro para vários escritores, fechou em 1940 devido à ocupação nazista na França e nunca mais reabriu.

A segunda livraria com esse nome se localiza no número 37 da rua da Bûcherie, tendo sido aberta em 1951 com o nome de Le Mistral. Em 1964, foi renomeada Shakespeare and Company em homenagem à livraria original de Sylvia Beach. Hoje funciona como livraria, sebo, biblioteca e ponto de encontro de leitura e eventos literários. É uma popular atração turística.

E o lançamento do livro de Thierry parecia uma festa do Oscar. Todos estavam trajados a rigor.

Quando Helena e suas amigas confirmaram que iriam ao evento, ele fez questão de enviar um chofer com uma limusine para buscá-las. Elas se sentiram verdadeiras estrelas de cinema, sendo levadas de limusine. E se sentiram muito mais quando foram muito bem recebidas por seu anfitrião... quer dizer, mais ou menos.

_ Oh mon Dieu, vocês estão divinas e isto não é justo. Todos os holofotes estarão apontados para vocês, principalmente os olhares masculinos. Assim ninguém vai olhar para mim, oh!

_ Mas você também está muito bonito Thierry. E não se preocupe, você ainda é a estrela da festa. _ elogiou Helena numa tentativa de consolar o amigo. Ela e suas amigas não aguentaram e deram risada.

Enquanto ele deixou as três para cumprimentar outros convidados, alguém se aproximou delas.

_ Boa noite senhoritas!

As três viraram para trás e deram de cara com o jornalista Mitchel Junqueira.

_ Como estão? _ Perguntou dando o seu melhor sorriso, mesmo com aquele olho vermelho.

As três não foram lá muito amáveis com ele, principalmente Dayane, que ainda estava chateada com ele. Foram caminhando até ele, o encurralando na parede. Elas pareciam um bando de lobas famintas querendo fazer picadinho do cordeiro.

E é claro que ele ficou com medo. Mitchel já havia enfrentado dezenas de bandidos de uma só vez. E escapou com vida, graças a Deus. Mas daquelas três mulheres enfurecidas, precisaria contar com várias intervenções divinas para sair dali com vida... pelo menos respirando.

_ Por favor senhoritas, vamos conversar...

_ O que está havendo aqui? _ Perguntou Thierry aparecendo do nada.

_ Oh monsieur Beaumont, socorro, elas querem me matar! _ Mitchel correu até ele, como um moleque perdido na rua. Thierry só o encarou, danando com as mãos na cintura.

_ Para elas estarem querendo te matar, alguma merda você deve ter feito para elas. _ Como já conhecia a história, virou-se para as meninas e perguntou: _ foi ele quem contou sobre o vídeo para vocês?

_ Sim! _ Disseram as três de uma vez.

_ Olhem queridas, tá certo que o bofe aqui é lindo! _ ele disse, fazendo carinho nas costas de Mitchel. Claro que ele não gostou, mas foi bem melhor do que levar uma surra das três. Continuou: _ mas têm que aprender a dividir o brinquedo! E além do mais, minhas sereias, tem outros peixes, ou melhor dizendo, outros tritões no mar, principalmente para você minha cara. _ Apontou para Helena e todos olharam para ela.

_ Você vem comigo. E quanto aos três, por favor se comportem, estamos em um encontro literário. Melhor ainda, no lançamento do meu livro. Me respeitem!

Os três somente ficaram olhando Thierry e Helena sumirem no meio da multidão.

*

_ Para onde está me levando? _ Perguntou curiosa.

_ Tem alguém aqui que quer te ver...

_ Ah não Thi. _ Pediu já dando meia volta: _ eu não tô a fim de conhecer ninguém.

_ Mas mon chéri, ele somente veio para te ver. Ele quer e muito falar com você. Faz o seguinte: converse com ele e se vê que não tem jeito, chispa com ele e siga com a sua vida!

Helena não gostou muito daquela conversa. Afinal já quebrou a cara duas vezes e não estava a fim de quebrar uma terceira. Só foi porque Thierry insistiu.

Chegando nos fundos da livraria, viu alguém de costas, olhando alguns livros de contabilidade. Ótimo, talvez seja contador como ela. Já era um progresso. Estava com um terno preto e um chapéu do Panamá da mesma cor.

_ Com licença... _ o chamou. Quando o desconhecido se virou, teve uma bela surpresa. Ou uma péssima surpresa... Depende. Era Ramón Enrique... ou melhor dizendo, Ray.

_ Buenas noches chica.

Helena ficou sem fala ao vê-lo.

_ O que está fazendo aqui? Não vai me dizer que foi convidado?

_ Bom eu vim te ver. E sim, eu fui... na verdade, pedi para ser convidado.

_ Como assim você pediu?

_ Seu amigo escritor me disse que você viria... e eu queria muito te ver. Queria falar com você.

_ Bom já viu. E se queria falar comigo, por que não me ligou ou me mandou uma mensagem no WhatsApp?

_ Eu liguei e mandei várias vezes..., mas você não me retornava.

Isso era verdade. Ray mandou inúmeras mensagens, tanto escritas quanto em áudio para Helena, porém ela visualizava, ouvia e nada de responder. A mesma coisa foi com as ligações. Até o momento em que ele não a procurou mais. Chegou a sentir remorso por não atendê-lo.

_ Eu fiquei muito mal com o que aconteceu...

_ É compreensível. Mas achei estranho você não ficar para tentar se explicar...

_ E por acaso você ia acreditar em mim?

Ele não respondeu. Ficou somente olhando para ela, sem saber o dizer. E Helena só imaginava o que significava aquele silêncio dele, que ele acreditou nas palavras de Núbia.

_ Você realmente achou que eu era aquilo? _ Perguntou magoada.

_ Bom, a gente ainda não se conhecia direito e...

_ Sim a gente não se conhecia direito. Mas bem que você queria dormir comigo. Olha, o que você pensa ou deixe de pensar sobre mim, não me interessa, não me importo, não influencia em nada na minha vida e não vai mudar quem eu sou.

_ Mas no vídeo... aquela moça disse que...

_ O que você viu naquele vídeo é tudo mentira, é coisa de gente de baixo nível, que está entediada com a própria vida e não faz nada para se melhorar, então precisa derrubar os outros. E aquela "moça" não passa de uma "recalcada"!

Vendo que aquela conversa não estava rendendo em nada, resolveu ir embora. Procurou por suas amigas, mas não as encontrou. O local estava cheio. Pegou seu celular para avisar que estava indo embora. De repente ele apareceu na frente dela como mágica.

_ Olha, eu não vim aqui para discutir...

_ Ah é, veio para que então, para ver se eu tava mesmo "rodando bolsinha"?

_ Não, vim porque eu quero me acertar com você. Porque me eu importo com você. Que a gente continuasse de onde paramos ou começar de novo, se for preciso. Não quero desistir de nós... a não ser que você já tenha desistido.

Ao ouvir que Ray não queria desistir dela, Helena se emocionou. Bem que lá no fundo do seu coração, ela também não queria desistir. Porém não estava disposta a abrir mão do seu orgulho. Ficaram se encarando no meio do salão. E mais uma vez, precisou Thierry intervir na situação.

_ Que é isso? Estamos em um encontro literário e no lançamento do meu livro, por favor mostrem um pouco de respeito! Agora, se vocês querem lavar a roupa suja de vocês, por favor, façam isso lá fora.

_ Desculpa Thierry, eu só vou procurar as meninas e ir para casa...

_ Eu acho que isso não será possível mon chéri. Suas amigas arrumaram "outros entretenimentos" e se mandaram.

_ Ah eu não acredito que aquelas duas me deixaram aqui?

Vendo que o clima entre o casal estava meio tenso, resolveu dar uma forcinha.

_ Olhem mes anges, por que vocês não vão dar uma voltinha pela cidade para clarear as ideias? Podem usar a minha limusine e meu chofer estará à disposição, o que acham?

_ Por mim tudo bem. _ Disse Ray, não deixando outra opção para Helena.

_ Oh la la, que ótimo! Então por favor, façam uma saída à francesa. E se tudo der certo no final, eu recomendo que passem no "Le Chardon de Belleville".

Os dois olharam para ele sem entender nada.

_ Divirtam-se crianças e por favor se comportem. À bientôt!