𝐏𝐑𝐎𝐋𝐎𝐆𝐔𝐄

- Ah, Liam, se você a tivesse visto... - A voz grave de meu pai, Aldric Alexander Eldritch, o rei de Aethyria, ecoava pelo salão como um trovão com toque de orgulho. - Ela era magnífica, impressionante de um jeito que aqueles idiotas do Parlamento jamais poderiam aspirar a ser.

Meu pai tinha esse jeito peculiar de falar de mim como se eu fosse um quadro pendurado na parede. Minha mãe costuma chamar isso de "hábito lamentável", mas eu não me importava. Não quando ele usava aquele tom, carregado de admiração. Era a maneira dele de dizer que estava orgulhoso, mesmo sem olhar diretamente para mim.

- E os conselheiros... - ele resmungou, cuspindo a palavra como um veneno. - Não entendem nada. Um bando de tolos, todos eles.

Os conselheiros também tinham suas opiniões sobre mim. Eles sussurravam frases que acreditavam estar além do alcance dos meus ouvidos:

- Oito anos é jovem demais.
- Vai ser um fiasco.
- Afinal, é apenas uma garota.

Mas, quando a guerra terminou no mês passado, fui eu quem liderou o desfile. Marchamos pela cidade sob uma chuva dourada de confetes. Havia música, doces e balões que dançavam no vento. As multidões acenavam e aplaudiam com alegria sincera, dando as boas-vindas aos soldados que finalmente voltavam para casa, suas medalhas brilhando como pequenas estrelas.

Hoje, porém, o cenário era outro. Os que retornaram não estavam vivos para ouvir os aplausos. Os caixões chegavam cobertos de bandeiras, acompanhados por gaitas de foles melancólicas. A tristeza pairava no ar como uma névoa densa, envolvendo mães, pais e irmãos que seguravam as lágrimas... alguns, sem sucesso.

Eu também queria chorar. Meu coração estava pesado como chumbo, o estômago apertado pelo peso das perdas. Mas mantive a postura. Fiz o que meu pai me ensinou: cabeça erguida, olhos secos, voz firme. Prometi às famílias que nunca esqueceríamos seus heróis. E, de algum modo, percebi que minha presença ajudava - não a curar, mas a tornar a dor um pouco mais suportável.

- Funcionou, não foi, Alteza? - disse Liam Flynn, afundado em uma cadeira de couro perto da lareira. Ele era o melhor amigo do meu pai, grande e sorridente como um Papai Noel fora de temporada.

Antes que eu pudesse responder, um servo apareceu silenciosamente à porta.

- Majestade, uma chamada para o senhor.

Meu pai saiu, e a sala ficou em silêncio. Através da janela, vi o vasto gramado verde do quintal iluminado pelo sol. No centro, um balanço pendia de um grosso galho negro de uma árvore que parecia saída de um conto de fadas - o tipo de monstro amigável que apenas queria brincar. Aquela árvore e seu balanço eram minha parte favorita das visitas à casa de Liam. No palácio, com suas centenas de salas e jardins impecáveis, não havia um único balanço. Não era algo que se considerasse digno de uma futura rainha.

Liam aproximou-se, também olhando pela janela.

- Quer balançar, minha estrela real? - ele perguntou, com um sorriso caloroso.
Sorri e assenti. Momentos depois, lá estava eu, voando para o alto, o sol aquecendo meu rosto e o vento bagunçando meus cabelos. Meu vestido azul-marinho estava cuidadosamente enfiado sob as pernas para evitar qualquer constrangimento, enquanto eu gargalhava com o entusiasmo infantil que raramente podia demonstrar.

- Foi você quem pendurou esse balanço, Liam? - perguntei, curiosa.

Ele riu. - Sim, foi para meus filhos.
Filhos? Fiquei boquiaberta

- Você tem filhos?

- Tenho, sim. Dois meninos e uma menina.

Fiquei pensativa, balançando mais devagar.

- Eu acho que não gosto de crianças. Elas são confusas.

- Ah, é mesmo? - Ele arqueou uma sobrancelha.

- Mas tenho certeza de que gostaria de conhecer os seus - acrescentei rapidamente. - Eles estão aqui?

- Não. Eles moram na Irlanda, com a avó - explicou ele, sua voz assumindo um tom nostálgico.

- Por que não moram aqui com você?
Liam hesitou antes de responder. - Bem, às vezes a vida nos leva a caminhos inesperados...

Eu olhei para ele, percebendo que havia algo em seus olhos que não estava lá antes: saudade.

- Você sente falta deles?

- Todos os dias. Mas eles estão felizes lá. Isso é o que importa.

Eu fiquei em silêncio, refletindo sobre suas palavras. A vida era mesmo cheia de complicações, mesmo para alguém como Liam, sempre tão alegre.

- Você é especial, Estrela Real - disse ele de repente.

- Especial porque serei rainha - murmurei.

- Não, Esther. Especial porque você brilha, como a estrela que vi na noite em que nasceu.

Franzi a testa.

- Espero que isso não seja literal.
Ele riu, sua barriga tremendo como gelatina. - Não se preocupe. É só um apelido. Toda criança merece um.

- Criança? - repeti, quase ofendida.
Ele me olhou com ternura. - Sim, Alteza. Criança. Deus sabe que alguém precisa tratá-la como uma.

E enquanto ele ria, empurrando o balanço mais uma vez, percebi que, naquele momento, eu não era princesa nem futura rainha. Era apenas uma menina em um balanço, tocando o céu.

Palácio da Aurora, 2019

A cor da roupa é como um cartão de visita. Antes mesmo que as palavras sejam ditas, ela já revela parte de quem você é, ou pelo menos, quem deseja parecer ser. Preto carrega um peso sombrio, um tom de mistério quase teatral. Branco? Ah, ele se veste de pureza, mas com frequência soa hipócrita. Fúcsia explode como uma melodia fora de tom, vibrante demais, enquanto os tons pastéis tropeçam em sua doçura feminina excessiva. E os padrões? Bolinhas brincam com a frivolidade, florais flertam com a superficialidade, e listras ou xadrez... bem, esses funcionam, mas precisam de cautela.

E para o dia a dia, cinza.

- Cinza é a cor perfeita, - afirma a Srta. Carvalho, minha secretária pessoal, com a solenidade de quem está ditando um mandamento. - Nem pesado, nem ousado. Suave sem ser insosso. Elegante, mas sem pretensão.

Ela provavelmente tem razão. O cinza parece entender o equilíbrio entre o ser e o parecer. Talvez eu morra vestindo cinza, penso. Meu corpo adornado em tweed e seda, vagando como um espectro silencioso, eternamente embrulhado na neutralidade que escolhi em vida.

- Aquele ali, Margareth. - A voz da Srta. Carvalho corta meus devaneios, apontando para o conjunto que Margareth segura na mão esquerda: um vestido rodado de tweed, mangas curtas e anáguas bufantes, acompanhado de uma jaqueta impecável.

Cinza. Claro.

Depois de vestir-me, sento-me na penteadeira. Margareth começa a arrumar meu cabelo com a destreza de quem faz isso desde sempre. O coque alto ganha forma, a franja é puxada suavemente para o lado, e algumas mechas caem estrategicamente para emoldurar meu rosto. É um ritual que me acalma, ainda que eu saiba que tudo ali é calculado.

- Boa tarde, senhoras.

Minha mãe entra na sala como uma brisa perfumada de lavanda, elegante em seu vestido de seda azul-escuro com delicados florais brancos. Atrás dela, Olívia, minha irmã mais nova, surge em um vestido verde-claro, seus cachos dourados presos por uma fita combinando.

- Obrigada, Margareth. Eu termino aqui. - Mamãe assume o lugar da empregada atrás de mim, com a confiança de quem sabe exatamente como cuidar de cada detalhe. A Srta. Carvalho e Margareth saem em silêncio, curvando-se antes de desaparecer pela porta.

- Está tão bela, Esther.

Minha mãe tem um dom raro. Quando me elogia, cada palavra parece mágica, como se ela pudesse transformar minha insegurança em algo belo, sólido. Encantador, até. Ela ajusta meu cabelo enquanto nossos olhares se encontram no espelho.

- A Srta. Carvalho escolheu cinza novamente?

Solto um suspiro melodramático. - Cinzento como o céu sombrio de Aethyria... e minha alma.

Ela ri, uma risada suave, cheia de ternura. - Garota atrevida.

Então, sua atenção se volta para o vestido reluzente pendurado fora do meu camarim. Um prata cintilante, quase metálico.

- Pelo menos você vai poder fugir do cinza no seu baile de aniversário esta noite.

Caminho até ela, observando o vestido com olhos críticos. - Sim, porque o prata é totalmente diferente do cinza.
Ela acaricia minha bochecha com um toque que aquece meu coração. - Ele complementa seus olhos. Você será a mais bela entre todas.

Antes que eu possa responder, Olivia interrompe, sua voz vibrando com a energia de seus catorze anos.

- No meu aniversário, quero um baile preto e branco. Todos de preto e branco, menos eu, de azul elétrico. Vou encontrar o amor da minha vida e dançaremos a noite inteira. - Ela faz uma pausa teatral antes de acrescentar: - E ninguém olhará para Esther.

Ela me mostra a língua, debochada, e eu reviro os olhos. Mamãe, sempre diplomática, lança um olhar de advertência, mas há um sorriso escondido no canto de seus lábios.

Ah, irmãs. E cinza. Sempre cinza.

Ela estava encantadora, como sempre, irradiando uma beleza que parecia despretensiosa, mas era impossível de ignorar. Cada detalhe nela parecia deliberado, como uma obra de arte cuidadosamente esculpida.

- Você pode ter todos os olhares do mundo, Esther - murmurei, com um sorriso sutil. - Se ninguém mais me dirigisse um olhar, ainda assim eu estaria perfeitamente feliz.

O ar ficou pesado por um momento, até que a voz firme da minha mãe cortou o silêncio. Ela consultou o relógio com um leve franzir de sobrancelhas.

- Vamos, queridas. Seu pai já está lá embaixo, e vocês sabem como ele detesta esperar.

Descemos a escadaria em um ritmo controlado, como se cada degrau fosse uma pequena apresentação. Meu pai nos esperava no rodapé da escada, sua postura impecavelmente ereta, as mãos cruzadas às costas. A diferença de idade entre ele e minha mãe parecia evidente em seus cabelos predominantemente brancos e nas linhas profundas que marcavam seu rosto. Ainda assim, havia algo magnético nele. Quando seus olhos verde-acinzentados se fixavam nela, era como se o tempo recuasse décadas. Juntos, eles formavam um casal tão imponente quanto encantador.

Era o Rei, afinal. E dele, não se esperavam nem se recebiam elogios - sua reserva era uma constante. Sem uma palavra, ele ofereceu o braço à minha mãe, um gesto que carregava mais solenidade do que afeto. Nós quatro atravessamos o grande saguão de mármore, os passos ecoando no espaço grandioso, rumo ao carro que nos aguardava para o almoço no Parlamento. Era meu aniversário, mas a comemoração parecia menos uma festa e mais um evento cuidadosamente coreografado.

Quando já estávamos quase saindo, seu tom grave ressoou, cortante como o som de um gongo.

- Lembre-se, Esther: nada de dançar esta noite.

Nem sequer olhou para mim. Sua atenção estava fixa no horizonte, como se a ordem fosse algo natural e inquestionável.

Minha mãe soltou um suspiro exasperado, mas sua voz permaneceu doce, carregada com uma ponta de provocação.

- Ah, querido, por favor. É o aniversário de dezessete anos dela.
Ele virou apenas o suficiente para lançar um olhar que parecia ter o peso de uma sentença final.

- Justamente por isso. Não permitirei que boatos se espalhem sobre minha filha. Tudo o que é necessário é que a vejam dançando perto demais de algum filho de um senhor qualquer.

Minha mãe tentou suavizar as coisas, como sempre fazia, mas sua paciência também tinha limites.

- Meu Deus, não estamos em 1800!

O Rei deu um meio sorriso, mas suas palavras vieram com uma gravidade que fez meu peito apertar.

- Dentro destas paredes, ainda é.

E ali estava ele, o verdadeiro soberano não apenas do reino, mas de tudo o que nos envolvia. Em sua mente, o mundo lá fora podia mudar, mas dentro daqueles muros de pedra fria, o tempo seguia suas próprias regras, inabalável e imutável.

O avanço da discussão no Parlamento é exatamente o que eu esperava de um salão cheio de homens mais velhos, todos apaixonados pelo som de suas próprias vozes monocórdicas. Meu olhar vagueia até o teto, onde pinturas ornamentadas se espalham como uma tentativa fracassada de embelezar a monotonia deste lugar. Por dentro, rezo silenciosamente por um milagre - qualquer coisa que me resgate deste tédio devastador.

E então, como uma piada cósmica, ouço:

- Verrugas.

Ah, sim. Quando você acha que não pode piorar, o universo sempre encontra um jeito.

- Perdão? - pergunto, não completamente certa se ouvi direito.

À minha frente está o Marquês de Valença, um homem cuja barba grisalha atingiu tal estado de negligência que quase obscurece sua boca. Quase. Porque, infelizmente, ela não esconde os restos de seu almoço, pendurados nos fios crespos como enfeites grotescos.
Eu não reajo. Não ruborizo, não engasgo. Meu autocontrole é lendário. Poderia me condecorar por isso.

- Eu era o melhor cavaleiro do Parlamento - ele começa a divagar, com a pompa de alguém que acredita sinceramente que essa informação é valiosa. - Mas tive que reduzir por causa das verrugas nos meus pés...

E lá se vai minha serenidade. O reflexo da náusea começa a ameaçar.

- Você gostaria de ver, Alteza? - ele pergunta com toda a seriedade de um homem apresentando uma obra-prima.

- Ver? - Eu repito, incrédula, porque, sinceramente, não pode ser isso que ele está dizendo.

- É fascinante - ele afirma, já inclinando-se para descalçar sua bota esquerda.

- Uh, eu...

E então, como se o destino tivesse ouvido minhas preces, uma figura radiante surge ao meu lado.

- Boa tarde, Marquês de Valença! - É Olivia, minha salvadora de última hora e, inegavelmente, minha irmã favorita. Com um sorriso ensaiado, ela se aproxima e entrelaça o braço no meu. - Preciso roubar minha irmã. Tenho certeza de que o senhor entende.

O marquês hesita, mas, por fim, curva-se com certa dificuldade.

- Ah, claro. E feliz aniversário, Princesa Esther.

- Obrigada - respondo, já sendo guiada para longe.

Caminhamos juntas pelos corredores do palácio, e Olivia inclina-se para mim, o tom conspiratório de sua voz carregado de diversão.

- Você me deve. Quero usar seu colar de safiras no baile hoje à noite.

- Pegue o colar, os brincos, e, se quiser, até a tiara. Você salvou minha vida.

Ela ri, aquele som leve que sempre faz tudo parecer menos terrível.

- Ele estava tentando lhe mostrar sua magnífica verruga, não estava?

Eu paro e a encaro, abismada.

- Como você sabia?

Ela sorri de um jeito malicioso.

- Você sabia que ele tentou a mesma coisa com Grace Serenita no mês passado, na cerimônia de nomeação de cavaleiro do tio dela? - A voz de Olívia estava carregada daquele tom melodramático que ela reservava para suas melhores fofocas. - Aposto que é algum tipo estranho de ritual de acasalamento.

Eu arqueei uma sobrancelha, contendo um sorriso. - O que isso quer dizer, afinal? - perguntei, fingindo desinteresse, mas incapaz de esconder completamente minha curiosidade.

Olivia inclinou-se para mais perto, como se o simples ato de compartilhar o segredo fosse uma aventura conspiratória. - Primeiro, ele mostra o dedo do pé. Mas isso é só o começo, claro. Depois... bom, você sabe o que vem a seguir. - Ela arqueou as sobrancelhas de forma tão sugestiva que eu não consegui me segurar e ri, cobrindo a boca para tentar abafar o som. Em segundos, estávamos ambas gargalhando, o som ecoando pela sala como bolhas de champanhe estourando.

Às vezes, momentos como esse me faziam questionar a surrealidade da minha própria vida. Era estranha, mas de um jeito que eu não sabia explicar. De pé junto à janela do palácio, olhei para a cidade ao longe, suas luzes cintilando como estrelas derramadas sobre o chão. Perguntei-me se todos achavam suas vidas estranhas, ou se a minha era peculiar de forma especial.

Minhas reflexões foram interrompidas por um jovem que entrou na sala com uma energia que imediatamente captou minha atenção. Ele era magro e pálido, com cabelos negros bem aparados e óculos de armação quadrada que destacavam os traços quase infantis de seu rosto. Havia algo nele, uma mistura de hesitação e curiosidade, como um filhote explorando um mundo novo.

- Olivia, quem é aquele? - perguntei, baixando o tom de voz enquanto o observava se mover pela sala com passos inseguros, mas encantadoramente determinados.

Olivia, claro, já tinha a resposta na ponta da língua. - Ele é o novo Duque de Veridom - murmurou, como se estivesse compartilhando o segredo mais suculento do reino.

Minha surpresa deve ter sido óbvia. O título era parte de uma linhagem tão antiga e respeitável quanto a própria Eldritch. - Ele parece... tão jovem.
Olivia assentiu, satisfeita com minha reação. - É só um ano mais velho que você, acredita? - ela disse, abaixando ainda mais o tom. - Seu pai teve que pedir uma dispensa especial para que ele pudesse ocupar o lugar da família na Câmara dos Lordes. Isso não te contaram?

Eu neguei com a cabeça, mais intrigada do que gostaria de admitir.

Olivia adorava uma boa história, e quando percebeu minha curiosidade, lançou-se com entusiasmo. - Ah, essa é a melhor parte. Ele nem deveria ser o duque. Era para o irmão mais velho assumir. Mas... houve um desentendimento. - Ela fez uma pausa dramática, como se saboreasse o momento. - O irmão dele se alistou na guerra contra a vontade do pai. Quando voltou, o velho duque ofereceu o título, mas ele recusou! Simplesmente foi embora.

Recusar um título? Um dever? A ideia parecia tão absurda quanto andar descalça pelas ruas da cidade. - Ele foi para onde?

Olivia suspirou como se estivesse narrando uma balada épica. - Para onde o coração dele desejasse. Dizem que viajou o mundo escalando montanhas, explorando selvas e até estabelecendo um recorde de mergulho em alto-mar. Pode imaginar?

Não, eu não podia. Mas enquanto observava o jovem duque, perdido em meio aos dignitários da sala, perguntei-me se havia um pedaço desse espírito aventureiro nele também, escondido sob aquela fachada séria.

- O velho duque, aquele que há tempos parecia destinado a reinar sobre tudo e todos, finalmente deu o pontapé inicial há alguns meses. - Olivia estala os dedos, um som sutil, mas carregado de significados não ditos. - Dizem que o irmão mais velho simplesmente desapareceu, não voltou mais para a casa de sua família, para a antiga rotina de serviços religiosos e reuniões de elite. Parece que ele se cansou, ou talvez tenha sucumbido ao peso de sua própria arrogância. Mas o que realmente chama a atenção é que os dois irmãos, embora tão diferentes, sempre foram muito próximos. E agora, quem ocupa o posto de Duque de Veridom é o irmão mais novo.

Fico ali, observando o rapaz à distância, sem que ele perceba meu olhar. O menino - ou talvez eu devesse chamá-lo de homem, pois sua postura já é mais de quem carrega responsabilidades do que de quem ainda busca identidade - sorri com facilidade. Ele conversa com os mais velhos que se agrupam ao seu redor, uma multidão que parece se alimentar da energia e juventude dele, como vampiros disfarçados de senhores de idade. No entanto, há algo sobre ele que me chama atenção, uma expressão que parece pedir algo mais do que simples distração. Em seu rosto, há uma abertura, uma vulnerabilidade que poucos teriam coragem de mostrar neste mundo implacável. Ele não está tentando esconder nada. O que me faz pensar que ele pode ser mais genuíno do que qualquer outra pessoa aqui.

É difícil acreditar que alguém com esse sorriso tão puro possa sobreviver ao brutal Parlamento. Ele será devorado, engolido sem piedade pelas intrigas, pela falta de escrúpulos. Eles irão destruir cada vestígio de sua inocência.

- Qual é o nome dele? - pergunto, minha voz quase perdida na multidão.
Olivia não hesita, como se já esperasse a pergunta. Ela responde com a suavidade de quem conhece os segredos de um mundo que ainda me é desconhecido.

- Nathaniel.

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