Capítulo Vinte e Oito
Connor Wessex:
No final das contas, consegui sair da empresa mais cedo do que esperava. Aproveitei para passar em casa e pegar algumas roupas antes de ir para a casa do Pedro. Ao abrir a porta, levei um susto daqueles. Ali, bem na minha sala, estavam Oleg e George. E, para minha surpresa, Oleg estava seminu, com George praticamente embaixo dele no sofá.
Ambos me olharam, e George, que já estava com o rosto tão vermelho quanto um tomate, empurrou Oleg de cima dele como se isso fosse resolver alguma coisa.
— George, quem diria que eu pegaria você quase indo para os finalmente no nosso sofá — balancei a cabeça em negação, fechando a porta atrás de mim. — Se me lembro bem, temos um quarto muito bem-arrumado pra isso, sabe?
Quanto mais eu falava, mais o rosto de George ganhava aquele tom vermelho escarlate que eu já conhecia bem.
— Como se você nunca tivesse feito algo assim — ele retrucou, levantando-se às pressas, tentando parecer indignado. — Achei que você não chegaria tão cedo.
— Só vim pegar algumas roupas, vou passar a noite na casa do Pedro. — George me lançou um olhar cético, mas o rubor finalmente começou a desaparecer do rosto dele.
— Então leva logo uma mala — ele disse, cruzando os braços. — Dois dias na casa do ficante já é praticamente namoro.
— E você? Tá namorando o Oleg? Porque, pelo que me lembro, toda vez que estou em casa nos últimos dias, ele também está aqui. E, claro, vocês estão sempre se beijando por aí. — Cruzei os braços, arqueando as sobrancelhas, enquanto provocava.
George, obviamente pronto para discutir ou brigar, deu um passo à frente, mas Oleg entrou no meio, tentando acalmar a situação.
— Não precisam discutir por minha causa — disse Oleg, com um olhar quase inocente, o que nos fez rir. — Sei que estão só se provocando pra ver como eu reagiria.
— Sim, é isso mesmo. E, aliás, adoro ver a sua reação — George comentou com um sorriso, inclinando-se para beijar a bochecha de Oleg. — Mas, amigo, Connor vai dormir na casa do Pedro de novo... as coisas estão andando rápido por lá, hein?
Suspirei, sem muita paciência para continuar a provocação.
— Não vou discutir esse assunto. Pedro e eu estamos vendo para onde essa relação vai. — Subi as escadas, pegando algumas roupas enquanto os dois me seguiam. — E, mais cedo ou mais tarde, a decisão de mudar de cidade ou de planos estará nas mãos dele... ou nas minhas.
— Você acha que ele, que já tem uma vida estabelecida e um filho, vai mudar tudo assim tão fácil? — Oleg perguntou, tentando soar razoável. — Quero dizer, claro que os dois estão apegados a você desde o começo, mas ainda assim...
— Sério que vai usar essa desculpa? — George revirou os olhos. — Alguém aqui precisa ser o amigo sensato dessa situação. Deixa as ideias românticas pra Zahra ou pro Reggie.
— E o que o Mariano seria nesse caso? — perguntei, curioso, enquanto colocava as roupas na bolsa.
George fez uma pausa, pensativo.
— Ah, ele é o tipo de amigo que diria "não ao amor" pra focar só na carreira.
Ri da resposta dele, achando graça na simplicidade.
— George, ele vai adorar saber que você acha isso dele. — Virei-me para encará-los. — E já vou avisando, nada de usar meu quarto pra... as aventuras de vocês dois.
George ficou vermelho novamente, quase imediatamente.
— Eu nunca faria isso! — exclamou, indignado, antes de me lançar um olhar que misturava vergonha e frustração. — Para de me provocar!
Oleg, como sempre, aproveitou o momento para abraçar George por trás e beijar sua nuca com carinho. George tentou manter a pose de bravo, mas não conseguiu esconder o leve sorriso que surgiu em seus lábios.
— Agora pronto, tenho que ficar assistindo essa melação na minha frente. Onde foi parar aquele meu doce amigo tímido? — falei, balançando a cabeça em fingida decepção. — Oleg, você claramente desviou o George do caminho da fofura!
Os dois reviraram os olhos ao mesmo tempo, e, em resposta sincronizada, ambos me mostraram o dedo do meio.
— Idiota — George resmungou, ainda colado a Oleg, mas com um brilho divertido nos olhos.
Enquanto saía, com minha bolsa pronta, não pude deixar de rir de toda a cena. Havia algo estranhamente reconfortante em ver meus amigos felizes e, mesmo com as provocações, eu sabia que a amizade e o amor deles eram sólidos.
Saí de casa rindo sozinho, balançando a cabeça enquanto ainda me recuperava da cena que acabei de presenciar. Era quase impossível não me divertir com a relação caótica, mas cheia de carinho, entre George e Oleg. Eles tinham aquela química que, de certa forma, me fazia pensar no que estava construindo com Pedro. Com a bolsa no ombro, fui até o carro, destranquei as portas e joguei a bolsa no banco do passageiro.
Sentei-me, respirei fundo e girei a chave na ignição. O motor rugiu suavemente, e o som familiar me trouxe um pouco de paz. Sempre gostei de dirigir, não apenas pela sensação de controle, mas pelo tempo que isso me dava para pensar.
Enquanto dirigia pelas ruas, os pensamentos flutuavam em minha mente. O que Oleg havia dito, sobre Pedro já ter uma vida estabilizada, ressoava comigo. Será que eu estava me jogando de cabeça em algo grande demais? Pedro tem Samuel, uma vida estruturada, e eu... bom, eu estava meio que em transição. Ainda assim, toda vez que estou com ele, parece certo, como se cada peça estivesse no lugar. E Samuel? Ele me acolheu como se eu fosse parte natural da vida dele. Não era comum uma criança se apegar tão rápido, mas lá estava Samuel, sempre pronto para me envolver em seus planos, me fazendo sentir parte de algo maior.
O trânsito estava tranquilo, o que me deu ainda mais tempo para mergulhar nos meus pensamentos. As folhas de outono caíam lentamente das árvores, pintando as ruas com tons dourados e avermelhados. Havia algo nostálgico naquele cenário, algo que combinava com o que eu estava sentindo no fundo do peito: aquela mistura de excitação e receio que vem quando você está prestes a dar um grande passo na vida.
De repente, meu celular vibrou no console. Uma rápida olhada me mostrou que era uma mensagem de Pedro. Um sorriso surgiu no meu rosto automaticamente, enquanto estendi a mão para pegar o aparelho e o trouxe para perto.
Pedro ☺️: [Já estou me preparando pra quando você chegar. Samuel está super animado pra te ver de novo, mal consigo fazer ele parar de falar! 😄]
Aquele sorriso que eu já conhecia bem se formou nos meus lábios novamente. Samuel sempre tinha esse efeito, e Pedro... bom, Pedro conseguia me fazer sentir algo ainda mais profundo.
Respondi rapidamente enquanto esperava o semáforo abrir:
Eu: [Estou a caminho. Diz pra ele que vou ajudar com o frango e que vamos fazer o melhor jantar de todos!]
Voltei a colocar o celular no console, e o semáforo finalmente ficou verde. Acelerei suavemente, focando de novo na estrada. Enquanto o carro avançava pelas ruas, não pude evitar uma última reflexão. Mariano e George, sempre tão diretos com suas opiniões, me fizeram pensar em como estava lidando com essa relação. Mas, ao contrário do que eles sugeriam, não era apenas sobre o que Pedro ou eu estávamos dispostos a mudar. Era sobre o que já tínhamos construído juntos, o que estávamos cultivando dia após dia, rindo juntos, cozinhando, cuidando de Samuel.
De repente, o rádio começou a tocar uma música tranquila, algo melódico e calmo, que combinava perfeitamente com o final de tarde que se desenhava. E ali, com o som da música preenchendo o carro, me permiti relaxar um pouco, deixar os pensamentos fluírem sem tanta pressão.
Pedro e Samuel. Oleg e George. Zahra e sua animação incontrolável... Eu tinha pessoas importantes ao meu redor, e isso, de alguma forma, me dava forças. À medida que me aproximava da casa do Pedro, percebi que não era apenas sobre onde a relação iria, mas sobre como eu estava vivendo cada momento. E, até agora, todos os momentos me diziam que estava no caminho certo.
O carro parou suavemente na frente da casa de Pedro. Lá estava ele, à porta, com Samuel correndo ao seu lado. Antes mesmo de desligar o motor, já sabia que aquela noite seria mais um passo em nossa jornada, não importava para onde ela nos levasse.
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— Oh? Tio Connor! — Samuel gritou assim que entrei na sala de estar, correndo em minha direção e me abraçando pela cintura com toda a energia do mundo. O contraste com o que vi de manhã era adorável. Agora, ele estava todo decorado com uma roupa fofa de coelhinho, completa com orelhas, algo que imaginei ter sido ideia da Alice. Eu definitivamente precisava tirar uma foto – ele estava fofo demais com aquele traje.
Pedro apareceu logo em seguida, sorrindo, e pegou minha bolsa, jogando-a no sofá com aquele ar despreocupado que sempre me fazia sentir em casa.
— Acabo de sair do trabalho, e tenho que admitir, essa recepção já me fez sentir muito melhor — falei, bagunçando o cabelo de Samuel, que riu em resposta.
— Então vai passar mais uma noite em nossa companhia? — Pedro perguntou, aproximando-se com aquele sorriso brincalhão no rosto. — Mas devo dizer, estou esperando algum tipo de carinho para mim também.
Ele tentou fazer uma expressão fofa, mas logo seus ombros caíram como se estivesse desistindo de ser "fofinho". Eu soltei uma risada, achando graça da tentativa falha. No entanto, não demorou muito para ele levantar a cabeça de novo com um brilho no olhar e, antes que eu pudesse reagir, Pedro me deu um selinho rápido. Samuel, que estava no meio de nós dois, soltou um pequeno resmungo de indignação.
— Desculpa, Sam — Pedro disse com um sorriso arrependido.
— Sem problemas, mas nunca façam isso de novo — Samuel respondeu, cruzando os braços e fazendo cara de sério. — Quase me amassaram!
— Nunca faríamos isso com o coelhinho mais fofo do mundo! — brinquei, olhando para Samuel, que sorriu, agora todo convencido. — Mas e aí, estão prontos para ir ao mercado?
— Na verdade, você não quer tomar um banho antes? — Pedro perguntou, olhando-me de cima a baixo, brincando com a ideia de me ver mais relaxado.
— Tomo na volta — respondi, pegando a mão de ambos. — Vamos logo, está na hora das compras.
Saímos de casa com Pedro abrindo a porta do passageiro para mim. Samuel, sempre cheio de energia, pulou para o banco de trás, animado com a ideia de irmos ao mercado juntos. Quando Pedro assumiu o volante, liguei o rádio e começamos a conversa, o clima leve e descontraído, como sempre era quando estávamos juntos. Pedro entrelaçou seus dedos aos meus enquanto dirigia, e começamos a falar sobre as compras, sobre o jantar e... roupas.
Samuel, em sua costumeira energia, não demorou a soltar uma nova ideia maluca:
— Papai, você precisa usar aquela roupa que a Alice comprou pra você!
Pedro soltou uma risada nervosa, mantendo os olhos na estrada.
— Nunca vou vestir uma daquelas coisas de novo! — disse com firmeza, mas eu podia perceber a pontada de humor na sua voz.
— Puxa, pai, vai ser muito bom se fizermos isso juntos! — Samuel insistiu, fazendo uma expressão fofa e piscando os olhos de um jeito que sabia ser impossível resistir.
Os olhos de Samuel brilharam ao se virar para mim, claramente pedindo ajuda com seu olhar cúmplice. Não consegui resistir.
— Ele está certo, Pedro. Você iria ficar muito bem usando uma dessas roupas. — Falei, provocando, enquanto Pedro parava no semáforo e me lançava um olhar cético.
— Então vocês dois se juntaram contra mim, né? — Ele respondeu, um sorriso surgindo nos seus lábios. — Acho que tenho um longo caminho pela frente, hein?
Eu ri, sem conseguir me conter.
— Bem, você já devia ter se acostumado, com Samuel e eu juntos, sempre estamos planejando algo — respondi, dando-lhe uma piscadela.
Pedro suspirou dramaticamente, mas o sorriso em seu rosto mostrava que ele estava gostando do momento tanto quanto eu. Samuel, no banco de trás, ria, satisfeito por ter plantado a semente da ideia de ver o pai em outra roupa maluca. O clima no carro era leve, cheio de pequenas provocações e risadas, exatamente como eu gostava.
Enquanto o carro seguia pelas ruas em direção ao mercado, não pude evitar o pensamento de que esses pequenos momentos, essas conversas e brincadeiras, eram o que faziam tudo valer a pena.
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Quando chegamos ao supermercado para comprar os preparativos para o jantar, percebi uma barraca logo na entrada que vendia castanhas fritas. Não pude resistir. Eu adorava comê-las, e sempre que passava por ali, acabava comprando algumas. Samuel, como sempre, estava grudado ao meu lado, os olhos brilhando de curiosidade. Resolvi pegar um pacote para ele também, afinal, era nosso pequeno ritual quando íamos juntos ao mercado.
A mulher que vendia as castanhas era uma senhora de meia-idade, com uma personalidade calorosa e uma voz notavelmente alta. Ela sempre estava por ali, e com o tempo, tínhamos criado uma espécie de amizade feita de trocas de sorrisos e pequenas fofocas. Hoje não foi diferente. Ela nos cumprimentou com um sorriso acolhedor e acenou discretamente para Pedro, que estava um pouco atrás de nós, empurrando o carrinho de compras.
— Vejo que tem um rapaz muito radiante hoje — disse ela, abaixando a voz e lançando um olhar malicioso na minha direção.
Ela, como as outras vendedoras ali, adorava uma boa fofoca. E, como eu frequentava esse mercado há tempos, sempre acabávamos trocando algumas palavras e risadas. Era uma espécie de pequeno segredo entre nós, e eu não podia deixar de me sentir parte daquela rede de confidências. Especialmente agora, quando era impossível não notar que eu estava acompanhando Pedro e Samuel nas compras. Não demorou muito para os olhos da vendedora captarem o que estava acontecendo, e foi claro que ela queria saber mais.
Involuntariamente, ao ouvir o comentário dela, me virei para olhar para Pedro e Samuel. Os dois estavam me encarando, curiosos, como se soubessem que algo estava acontecendo, mas sem querer interromper. Pedro, sempre calmo, segurava o carrinho de compras, e Samuel, ao lado dele, não demonstrava o menor sinal de impaciência, mesmo esperando por mim. Aquele momento, vendo pai e filho lado a lado, quase espelhados, me fez sorrir ainda mais.
— Eles são adoráveis, não são? — a vendedora murmurou com um sorriso, enquanto eu pegava o troco.
Olhei para Pedro novamente, que devolveu o olhar com um sorriso calmo e acolhedor. Samuel, claro, estava mais interessado nas castanhas, mas também exibia aquela expressão satisfeita que sempre me desarmava.
Me voltei para a senhora e sorri amplamente, sentindo uma onda de calor invadir meu peito.
— Estou muito radiante, sim — falei com orgulho, estalando a língua de leve, como se aquele pequeno gesto pudesse enfatizar o quanto eu estava feliz. E a verdade é que eu estava. Estar ao lado daqueles dois me fazia sentir como se eu tivesse um mundo inteiro, algo que antes parecia tão distante. — Não tem como não estar com esses dois ao meu lado.
Ela sorriu, seus olhos brilhando com compreensão, e me entregou as castanhas.
— Aproveite, rapaz — disse ela, com um tom de quem sabe exatamente o que está dizendo. — Sorte sua ter encontrado isso.
Com as castanhas em mãos e o coração cheio, voltei para junto de Pedro e Samuel, que continuavam a me olhar curiosos.
— Tudo certo? — Pedro perguntou, arqueando uma sobrancelha, claramente divertido.
— Tudo certo — respondi, entregando o pacote de castanhas a Samuel, que sorriu de orelha a orelha.
Pedro entrelaçou nossos dedos novamente enquanto continuávamos o passeio pelo mercado, e Samuel, feliz com seu lanche, ia saltitando ao nosso lado. Não era só o mercado, nem as castanhas. Era esse sentimento de pertencimento, de estar construindo algo junto com eles.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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