Capítulo 1
"O amor é cego, a amizade fecha os olhos."
Blaise Pascal.
Henrique estava sentado na sua empresa e sentia um tédio imenso a ponto de pensar em fechar e sair mais cedo quando uma mulher entrou tão esbaforida que lhe pregou um susto.
De boca escancarada, ele olhou para a mulher dos seus sonhos, a musa inspiradora por quem era apaixonado há mais de cinco anos e que nem sonhava que ele existia. Ela era quase tão alta quanto ele, de olhos castanhos muito expressivos, cabelos castanho-claros e um corpo perfeito, corpo este que já viu várias vezes de biquíni na televisão e babava sempre que olhava.
Henrique não contava para ninguém com medo de ser gozado pelos amigos, mas não perdia um único capítulo da novela só por causa dela, que agora estava ali à sua frente, deslumbrante, vestida de forma simples porém muito sensual: um jeans bem justo e uma camiseta vermelha com um decote tentador. Nos pés, umas simples sandálias.
Extasiado, levantou-se para atender a moça, que nem o cumprimentou de tão preocupada que estava e saiu dizendo:
– Esta empresa me foi recomendada como a melhor da cidade em manutenção de notebooks – retirou o seu aparelho de uma sacola de lona e pôs em cima da mesa. – O meu computador acabou de pifar; não liga e preciso muito de alguns dados que estão nele.
– Boa tarde. Vejamos o que pode ser – afirmou com toda a calma, ligando-o na tomada. – Espero que não seja o famoso problema de BGA, senão vai demorar bastante a consertar.
– O que vem a ser isso? – perguntou a moça. – Não entendo nada de computadores!
– Uma solda fria que ocorre por causa do aquecimento excessivo dos processadores modernos – explicou. – Nos novos aparelhos isso já não ocorre, mas este modelo é suscetível a isso.
– Nesse caso, quanto tempo poderia demorar? Eu preciso dos dados armazenados nele ainda hoje. Todos os meus scripts estão aí!
– BGA não é da minha alçada e o técnico especializado nessa manutenção só vem na segunda-feira. Desculpe-me, mas dei folga pra todo mundo neste feriado, já que em Janeiro está sempre tudo meio parado. Sugiro que mantenha sempre cópias em pen drive. Assim, não corre riscos desnecessários.
– E agora, o que farei?
– Calma que pode ser outra coisa – disse Henrique, tranquilizando a mulher com um sorriso. – Eu ainda nem diagnostiquei! Sente-se e aguarde. Deseja um café?
– Pode ser, obrigada – sorriu pela primeira vez. – Desculpe, nem me apresentei. Sou Sabrina Morais.
– Ora, sei muito bem quem você é – disse, servindo um café e sorrindo, derretido pela mulher. – Afinal, quem não a ia reconhecer! Sou Henrique Gomes.
– Sabe, Henrique, muita gente ainda não me reconhece fora das telas. Dizem que ficamos diferentes na TV. Eu até prefiro assim, para ter alguma privacidade, coisa muito rara.
– Na minha opinião não, já que reconheci você na mesma hora. Só que a acho muito mais bonita ao vivo – disse, arrependendo-se logo em seguida por achar que ela viesse a interpretar como uma cantada. A moça, porém, se interpretou não deu a entender. Enquanto conversavam, ele abria a máquina, observado pela atriz.
– Engraçado – afirmou ela com uma risadinha – já me disseram isso, mas nem me acho assim tão bonita!
Sem resistir, Henrique ergueu o olhar, mirando direto no seu rosto e disse, com os olhos brilhantes:
– Você é uma das mulheres mais belas que já vi na minha vida, Sabrina.
– Você acha? – olhou-o com ceticismo, mas sorriu. – Com certeza que há outras muito superiores. Marisa, por exemplo.
– Marisa é linda, sim, mas não chega aos seus pés. – Sem resistir mais, atirou à queima-roupa. – Na verdade, se não fosse tão famosa e importante, eu convidava você para jantar, mas sei que deve ter montes de compromissos e a agenda lotada.
Com o rosto vermelho, baixou os olhos para o computador, enquanto ela o observa. Henrique era um homem alto, cerca de um metro e noventa, com porte físico atlético. Seus olhos eram azuis e o cabelo castanho-claro, quase loiro. Devia ter uns dois anos a mais que Sabrina, aproximadamente vinte e sete, e era o tipo de homem com quem ela sairia sem pensar duas vezes, mas acabou de se livrar de uma relação bastante tumultuosa e o que menos desejava era outro relacionamento para tão cedo. Assim, preferiu ficar sem dizer nada ao seu comentário.
Após uns dez minutos, ele rompeu o silêncio afirmando:
– O HD está integro, as memórias e o processador também. Vamos fazer mais um teste – levantou-se e abriu um armário de onde retirou algumas peças e trocou pelas originais.
– Você é o dono da empresa, Henrique? – perguntou, curiosa.
– Sou – respondeu ele. – Há cinco anos formei-me e criei esta empresa. Sou engenheiro eletrônico.
– Sabe, isso me parece um bicho de sete cabeças.
– Bem, certamente eu seria um péssimo ator e penso que, para mim, isso seria um bicho de sete cabeças – deu uma risada delicada. – Tenho boa memória, mas decorar todas aquelas falas... nem imagino se conseguiria!
– Decorar até que é fácil – explicou Sabrina. – Difícil mesmo é provocar emoções, como amor, raiva tristeza ou choro. Para convencer o espectador, temos que ser muito realistas e não basta uma maquiagem para pôr cara de choro e algum produto que provoque lágrimas. Temos meio que sentir isso e, ao mesmo tempo, isolar do nosso real sentimento para não nos afetarmos.
– Viu? – Ele riu novamente. – Isso é muito mais complexo que a microeletrônica!
Voltou a ficar sério e continuou:
– Tenho más notícias, é realmente BGA. O meu técnico da área, na segunda-feira, poderá iniciar o reparo da placa mãe que deve ficar pronta em dois a três dias.
– Ai, meu Deus – disse, aflita – preciso do que está aí dentro ainda hoje, não tem como dar um jeito?
– Infelizmente não sei manipular o forno de infravermelho que faz as soldas, sinto muito.
– Conhece alguma outra empresa que possa fazer?
– Olhe, eu não quero falar mal da concorrência porque seria antiético, mas um conserto de BGA como os que se fazem por aí volta a dar problema após muito pouco tempo. Tem gente que usa soprador de silk-screen para ressoldar as mesmas soldas frias. Com o aquecimento do chip-set volta a dar problema em bem pouco tempo. Mas eu tenho uma solução para ajudá-la: possuo um notebook do mesmo modelo. Eu ponho o seu HD nele e você leva até que o seu fique pronto, o que acha?
– Obrigada, vai salvar-me a vida.
– Ok, em dez minutos terei a máquina pronta.
Henrique montou o equipamento e pô-lo em cima do balcão, dando a volta para ficar ao lado da atriz e ligando o computador. Quando vê o sistema operacional entrando, deu uma risada e comentou:
– Você usa isso? – virou o rosto para ela. – Não são muitos que o usam. Eu também prefiro. Entre a sua senha e verifique se está tudo operacional. Enquanto isso, preparo a ordem de serviço do seu computador.
– É, foi o meu irmão que me convenceu a usar – explicou a moça, sorrindo. – Ele disse que era mais robusto e depois que acostumei não troco.
Quando terminou, ela pôs a máquina na sacola e pegou a ordem de serviço.
– Quanto lhe devo?
– Não se preocupe, pode pagar na retirada...
– Mas e pelo uso deste comutador? – interrompeu, preocupada.
– Isso é cortesia da casa para fregueses muito especiais – afirmou, piscando o olho. – Não se preocupe, Sabrina, mas cuide dessa máquina que ela é muito especial para mim.
Quando Henrique foi abrir a porta para a atriz, ela, num impulso cego, atirou-se aos seus braços e beijou-o languidamente, saindo logo em seguida, quase que correndo.
Trêmulo, o engenheiro fechou a porta sentindo o coração descompassado. Um beijo arrebatado do nada... um beijo maravilhoso de alguém que ele sempre quis e jamais pensou que teria a chance de conhecer quanto mais ter nos braços e receber um presente desses. Sentou-se na poltrona da sua mesa e deu uma risada enorme, feliz.
– Você não me escapa, Sabrina, não mesmo – disse de si para si, cheio de felicidade e sonhando acordado. No meio da frase, Augusto, seu grande amigo de infância, entrou na loja e ouviu tudo.
– Xi... ainda pensando nela, cara? – deu uma risada do rosto de bobo do amigo. – Véio, esquece essa garota que ela é totalmente inacessível para ti. Cai na real e volta prá vida. Você até parece um padre e não sai com mais ninguém!
– Eu vou casar com ela, cara – afirmou, convicto. – Tudo é uma questão de tempo. Apenas isso.
– Puts, tu vai é entrar em parafuso, mano! – contestou Augusto, já preocupado com a obsessão do amigo. – Esquece isso que ainda piras da cabeça. Ei, já são seis horas e o movimento tá paradaço. Que tal fechar a loja e tomarmos algumas?
– Boa ideia – concordou Henrique, muito bem-disposto – só me deixe levar esta CPU para a oficina e mandar a OS pró sistema.
– Digita a OS que eu levo a máquina para ti. – Augusto pegou o micro e viu a segunda via da ordem de serviço. – Cara! Fala sério, Sabrina Morais! Por isso estás assim, porque apareceu uma moça com o mesmo nome?
– Não foi uma pessoa de mesmo nome, Guto. – Henrique riu e comentou. – Tantos anos no Rio e você ainda tem sotaque do Sul! Na verdade, todo misturado.
– Jura que é a atriz!?
– Sim, e ela é a coisa mais maravilhosa deste mundo. Ainda estou com o sabor da sua boca. Ai, ai, cara. Vou casar com ela sim, pode ter certeza.
– Não inventa moda, mané. Termina aí que eu tô com sede.
– Ei – perguntou Henrique – por acaso sabe quando a minha irmã volta do Sul? Tô com saudades da pequenina.
– Semana que vem – respondeu Augusto. – Caraca, não tens telefone para ligar prá Nádia?
– Eu esqueci – comentou, sempre alegre. – Pronto. Vamos nessa, cunhadão.
Ambos caminhavam pela Ataúlfo de Paiva, uma das principais vias de comércio do Leblon, Rio de Janeiro, e viraram à direita em direção ao mar, passeando por uma rua arborizada, calma e simpática, para entrarem num bar tranquilo e discreto. À frente, um toldo grande abrigava mesas ao ar livre, que era onde o par decidiu ficar apreciando as suas bebidas. Henrique, porém, estava aéreo, praticamente não prestando atenção a nada. Com o olhar sonhador, ia pensando na atriz e no beijo maravilhoso que ela lhe deu. Rindo do cunhado, Augusto disse:
– Pô, Henrique, ao menos responda. Caraca, essa mina virou totalmente sua cabeça.
– Desculpe. – Henrique olhou nos seus olhos. – Cara, eu não consigo esquecer aquele beijo.
– Sério!? – Espantou-se o amigo. – Ela realmente o beijou?
– Pode ter certeza. Foi uma doideira. – Henrique contou a história.
– Olha, carinha, essas atrizes fazem algumas maluquices de vez em quando. Não deixe isso subir à cabeça, tá?
– Impossível não subir – levantou-se e continua. – Vou ao banheiro e já volto.
Na saída do sanitário, que ficava no interior do bar relativamente escuro e ao fundo, ele caminhava distraído, virando para a esquerda e esbarrando em uma mulher que quase foi atirada ao chão. Para que ela não caísse, reagiu com rapidez e agarrou-a como se a estivesse abraçando e puxando contra si.
– Desculpe, eu estava distr... você? – afirmou Henrique, espantado e olhando para Sabrina. – Me desculpe, foi sem querer.
– Tudo bem, mas que tal me soltar? – pediu a atriz.
– Me perdoe, Sabrina, mas não fiz por mal porque estava muito distraído. – Henrique sorriu, enquanto a soltava devagar, estasiado por a ter nos braços mais uma vez. – Estou com o meu cunhado lá na rua, não quer juntar-se a nós?
– Obrigada, mas estou com alguns amigos da emissora.
– Sabrina, você jantaria comigo um dia destes? – perguntou, criando coragem.
– Olhe, eu acho melhor não.
– Tudo bem – afirmou, ficando triste – eu compreendo. Desculpe.
– Henrique. – Ela sorriu, pousando a mão no seu braço – eu sou alvo constante da mídia e acabei de sair de um relacionamento desastroso. Quem lhe deve desculpas sou eu, mas não seria uma boa companhia. Talvez em outra ocasião.
– Tudo bem, Sabrina, mas você seria a melhor companhia do mundo, pode ter certeza disso. Pelo menos para mim seria.
Beijou-a no rosto e despediram-se. Henrique voltou para a rua, seguido pelo olhar da moça. Devagar, ela retornou para a sua mesa, enquanto o jovem sentava-se junto ao cunhado que notou logo a mudança, bem diferente de minutos antes.
– Você demorou bastante – disse. – Por que raio seu rosto mudou tanto?
– Encontrei-a lá dentro. – Respondeu, contando o ocorrido.
– Viu, cara? Eu avisei, agora esqueça tudo e deixe apenas a lembrança do beijo como a fantasia de uma atriz excêntrica.
Algum tempo depois, os dois despediram-se e Henrique decidiu passear um pouco a pé pois morava perto e não tinha fome nem sono. Por mais que tentasse, não se esquecia da sua musa, a mulher que lhe virou a cabeça do avesso com um simples beijo.
― ☼ ―
Sabrina saiu pouco depois. Como também morava perto, foi caminhando, uma vez que sentia prazer com o ar da noite, mais fresco graças à brisa do mar. Normalmente nesse horário ela não era alvo de nenhum dos paparazzo que a perseguiam sem parar e aproveitava o passeio, divagando sobre seu dia.
Pensava no jovem que conheceu e não sabia explicar nem a si mesma por que foi que o beijou, mas admitia que mexeu demais consigo e que aquele simples beijo a deixou ofegante, sem falar no abraço que ele lhe deu para a segurar porque aquilo deixou-a tremendo e teve de se segurar para não o beijar novamente.
Pensava nele, visualizando seu rosto, muito belo aos seus olhos, e no sorriso cativante que ele lhe deu. Achava que devia ter sido por isso que teve aquele impulso de o beijar, mas jamais imaginou que fosse ficar apaixonada com tal fato e tão repentinamente. Permanecia tão distraída pensando nele, que não viu o assaltante aproximando-se. Ele começou a correr e arrancou a sua bolsa, derrubando-a com um forte encontrão.
Com o impacto, Sabrina foi jogada de forma violenta contra um muro onde caiu e bateu a cabeça na parede, ficando bastante tonta e perdendo os sentidos. Ainda antes de desmaias e sem entender nada, ouviu barulho de pancadaria e, logo depois, silêncio. Também ouviu passos e alguém agachar-se e dizer:
– Você!
― ☼ ―
Já era dia claro quando a moça acordou um pouco desnorteada. Estava em um quarto espaçoso, deitada em uma cama grande e muito confortável. A decoração era simples, como se faltasse o toque feminino: um armário grande, uma cômoda de outro lado e uma televisão enorme fixa na parede e de frente para a cama. Tentou lembrar-se do que aconteceu e o assalto veio à tona, mas o resto era uma incógnita. Notou que estava na cama com as mesmas roupas do dia anterior e virou o rosto para o outro lado, encontrando Henrique adormecido em um sofá bem debaixo de uma janela grande e coberta apenas pela cortina semitransparente. Ela ergueu o corpo e o jovem acordou, sorrindo-lhe.
– Como se sente, Sabrina?
– Bem. Afinal o que houve, você estava me seguindo?
– Não, não sou de fazer isso. – Sorriu tão sereno que a desarmou na hora. – Acontece que você foi atacada exatamente à frente do meu prédio. Como vi que não era grave, trouxe-a para cima, limpei seu ferimento e deixei que dormisse. Apenas isso.
– Obrigada por me ajudar. – Sorriu, agradecida. Com um suspiro, continuoua. – O chato é ter que cancelar cartões, bloquear telefone...
– Calma – disse ele, interrompendo. – Recuperei a sua bolsa, que está lá na sala. Mas agora, Sabrina, você realmente me deve um jantar.
– Henrique...
– Pode ser quando quiser. Não a quero forçar. Venha, vou fazer um café da manhã para nós. – Apontou uma porta e afirmou. – Ali é o sanitário, fique à vontade.
Enquanto a moça se lavava, Henrique foi preparando uma pequena refeição. O seu apartamento é pequeno, de dois quartos, uma sala espaçosa e cozinha ao estilo americano. Ela observava o jovem ligar a máquina de café e levar pão e mais outras coisas para o balcão que separava a cozinha da sala. Mudou o olhar de lado e observou melhor a sala. Os sofás eram de estilo moderno e de aparência bem confortável. De frente, em uma estante grande e que ocupava toda a parede, viu um equipamento completo de som e vídeo, além de inúmeros livros. Aproximou-se e olhou os títulos porque gostava muito de ler. Divertida, comentou:
– Vejo que tem toda a coleção do John Mathew. Pelo jeito, deve ser fã dele.
– Gosto desses livros, muito mesmo, e gosto do estilo dele escrever, despojado, desenvolto e sem excessos de descrições que acabam cansando a leitura. Você gosta?
– Tá brincando, eu amo esse cara! – Sorriu. – É um verdadeiro gênio e escreve como poucos. Eu só acho incrível que ele, sendo estrangeiro, consiga ambientar uma história completa aqui no Rio com tamanha perfeição como em Vidas Cruzadas, por exemplo. Dá até para pensar que é brasileiro e usa um pseudônimo.
– Gosto muito de Vidas Cruzadas e acho a sua melhor obra.
Sabrina suspirou e afirmou:
– Sempre desejei muito conhecê-lo, mas jamais aceitou qualquer convite que foi enviado para a editora e ela faz o maior segredo a seu respeito. Sabe, ele me transmite algo que nem sei explicar.
– Assim, fico com ciúmes – brincou Henrique.
– Ora, Henrique, não diga bobagens. – A moça riu.
– Venha, vamos comer algo. – Olhou seu rosto e sorriu de forma gentil. – Ainda bem que a pancada não deixou escoriações maiores, senão ia ter problemas nas gravações.
Sentados lado a lado, tomaram café. Quando terminaram, ele retirou os utensílios e Sabrina fez menção de ajudar.
– Não se incomode com isso...
– Ora, Henrique, eu também vivo sozinha e sei me virar.
– Sempre pensei que tivesse uma dúzia de empregados e seguranças!
– Dinheiro para isso até tenho e de sobra, mas meu apartamento é o único lugar onde possuo privacidade. Chega a haver dias em que nem saio de casa a não ser para ir às gravações.
– Assim você fica muito solitária, Sabrina.
– A solidão é boa quando é uma escolha, Henrique, e eu gosto dela especialmente depois de ser sempre bombardeada pela mídia. Bem, obrigada por tudo, mas preciso ir.
Henrique aproximou-se. Vestia uma camiseta justa com um jeans e a moça não parava de apreciar seu corpo atlético e forte.
– Sabrina, falei sério sobre o jantar e acho que você vai descobrir que eu sou um cara bem legal.
– Vou pensar, ok?
Ela também chegou mais perto para um beijo de despedida. Henrique, porém, foi movido por uma paixão irrefletida e tomou-a nos braços, beijando-a com ardor. Sabrina cedeu no mesmo ato e ambos ficaram algum tempo juntos, beijando-se e agarrando-se loucamente até que a porta da rua abriu e Augusto entrou, dando de cara com o amigo atracado na atriz mais bela do país.
– CARACA! – exclamou muito espantado porque esperava tudo menos encontrar o cunhado com aquela mulher, ainda por cima no seu apartamento. – Não acredito nos meus olhos...
Assustada, Sabrina afastou-se e pegou na bolsa.
– Tenho que ir, adeus – afirmou, saindo logo em seguida, quase correndo.
Quando a garota saiu, Henrique disse, chateado e triste:
– Cara, você acabou de detonar com a chance perfeita.
– Desculpe, mas ontem você disse para entrar direto, então não bati. Afinal por que me deu a sua chave?
– Tudo bem, Augusto, não foi sua culpa – arrematou. – Meu Deus, cara, cada vez tô mais apaixonado.
– Irmãozinho, acredita em mim: assim tu vai quebrar os dentes. Ela dormiu aqui?
– Sim, mas não é o que você pensa – explicou, contando o incidente.
– Que sorte que ela teve – comentou Augusto. Curioso e conhecendo muito bem o amigo, perguntou. – O que fez ao assaltante?
– Deve estar no hospital. Caguei ele a pau. Foi pra valer e não medi a força. No mínimo uma dúzia de costelas quebradas. Que se dane; bandido tem mais é que morrer.
– Calminha aí pra também não virar bandido – afirmou Augusto, apaziguador. – Bem, tínhamos combinado treinar um pouco, vamos?
– Vamos. Só me deixe pegar o quimono. – Deu uma risada alegre para o amigo e continuou. – Ei cara, você ainda não cansou de apanhar, não?
– É o que vamos ver. Acho que hoje eu venço.
– Isso eu também quero ver. Você sempre cai, maninho!
― ☼ ―
Henrique não parava de pensar na Sabrina, ansiando pelo dia que a veria novamente e isso ocorreu na terça-feira, quando ela foi buscar o computador. Na loja só estavam ele e mais duas vendedoras, que ficaram espantadas ao verem a atriz famosa.
Cheio de alegria, Henrique sorriu, levantou-se e fez sinal às funcionárias que ia tratar pessoalmente da moça.
– Olá, Sabrina – cumprimentou, eloquente. – Veio ver seu micro ou a mim?
– Oi, Henrique – afirmou, séria. Após, estendeu um tabloide onde ambos apareciam abraçados no bar. – Entendeu agora o que lhe disse?
Ele olhou a foto, lendo a reportagem sensacionalista e absurda. Sorriu e encolheu os ombros, comentando:
– Ora, meu anjo, ignore-os, apenas isso. Todos sabem que esse jornal não vale nada. Não sei por que você se deixa preocupar assim com coisas tão banais. – Ergueu a voz para uma das funcionárias, pedindo-lhe. – Carla, verifique no laboratório se o note da dona Sabrina Morais já está pronto. Quer um café, Sabrina?
– Não, desculpe mas tenho pressa. Aqui está o seu computador. Muito obrigada porque você me salvou de um bom aperto... dois, na verdade.
– E o jantar? – Ele pegou o micro e tirou o HD. – Sabe, este micro é muito especial e você nem imagina o quanto. Talvez um dia eu lhe conte.
– Parece exatamente igual ao meu, mas um pouco mais rápido. Não vi nada de especial – comentou e sorriu, continuando. – Já vi que não me deixará em paz com esse jantar. Tá bom, na quinta-feira que é o único dia que eu tenho disponível esta semana.
– Combinado, na quinta. Mas já que você escolheu o dia, eu escolho o lugar. Garanto que terá privacidade total e ficará bem contente. Tome o meu número.
A moça pegou seu micro e Henrique ofereceu-lhe um pen drive, para ela salvar os dados, mas não aceitou o pagamento por mais que ela insistisse. Quando Sabrina saiu, o jovem não tirou o olhar da porta por um bom tempo, até que uma das vendedoras falou, quebrando o encanto:
– Sabe, chefe, olhando de perto ela não parece assim tão especial, mas é bonita como poucas.
– Ela é a coisa mais especial do mundo, Marta, a mais especial do mundo – disse com um suspiro profundo.
– Xi, o senhor tá mesmo apaixonado hein?
– Por ela? – Henrique deu uma risada. – Sempre estive. Nunca perco um capítulo das novelas dela, nem os filmes.
– Sei não, chefe, essa gente é intransponível. – A moça pôs os olhos no jornal, que ficou esquecido, e viu a foto. – Caraca, vocês estão namorando!
– Não, não estamos. Essa reportagem é mentirosa. Eu saía do banheiro, nesse bar, e colidimos acidentalmente. Estava segurando Sabrina assim para impedir que levasse um tombo – pegou o jornaleco e jogou no lixo. – Logo, peço que não comente nada. Infelizmente, acho que o único apaixonado aqui sou eu.
– Olhando essa foto, todo mundo vai pensar que ela e o senhor, bem... entende, né?
– Sim, entendo, mas isso não é verdade, infelizmente para mim.
– Eu acho que ela gostou do senhor, viu?
– Por quê?
– Porque olhou diferente, chefe. Se fosse o senhor, investia nela...
― ☼ ―
BGA – Ball Grid Array. Uma técnica de soldar chipsets. Isso é real.
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