02


Oi meus amores!!!
Um aviso antes de começar → No capítulo anterior foi mostrado que Pete é médico, mas não foi mencionado qual área ele atua, então para não restar dúvidas: ele é pediatra oncologista, então ele lida diretamente com crianças e adolescentes com câncer.
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— Então quando eu crescer vamos poder nos casar.

Pete desviou o olhar para a grande janela de vidro que deixava a paisagem lá fora parecendo um quadro pintado, propositalmente exposto para que os ocupantes daquele quarto o observassem. Sorriu com a inocência da pequena, sentindo seu coração se apertar por imaginar que aquela simples manifestação poderia ter seu fim em algum momento. Hanna era uma de suas pacientes mirim em tratamento por Sarcoma de Ewing metastico e apesar de sempre parecer animada, ela sabia bem sobre sua situação clínica. Pete admirava que com apenas doze anos, ela demonstrasse tamanha força e espiritualidade, que ele, como o adulto que era, ocasionalmente via se esvaindo do seu ser.

Se virou para encarar os olhos cor de mel, levando a mão até o próprio queixo batendo o indicador no local em sinal de reflexão profunda; por fim, suspirando teatralmente sorriu de canto balançando a cabeça em uma negativa.

— Lamentável, você sabe que quando isso acontecer, provavelmente já vou está de bengala, com a memória falhada e perguntando a todo momento: "onde está minha dentadura?"

O som da gargalhada de Hanna preencheu todo o quarto e aqueceu seu coração. Cada um dos seus pacientes era importante para si e fazê-los se sentirem minimamente mais confortáveis enquanto permaneciam ali, sem uma certeza do dia seguinte, era sua prioridade.

— Tio? — o riso da garotinha cessou e seu semblante se tornou sério. Pete a encorajou a continuar em um menear de cabeça. — Quando a gente morre, isso significa que fomos castigados por algo?

Pete não se surpreendeu com a pergunta, era comum ouvi-las, principalmente de pacientes que detinham uma compreensão maior do acometido a elas. O que de fato o surpreendeu foi Hanna tê-la feita.

— Claro que não princesa, quem te falou isso?

Hanna não respondeu, mas seu olhar direcionado discretamente para a cama ao lado entregou a resposta para Pete.

— Quem falou isso pra você Felipa? — Pete perguntou docemente, tentando entender os motivos da garotinha de apenas sete anos, ter esse tipo de pensamento.

— Meu pai... — a garotinha respondeu em um tom baixo, se encolhendo como se para se esconder, comportamento que Pete achou bastante suspeito. — Ele disse que quando somos crianças más o papai do céu deixa a gente doente pra aprendermos a lição, por isso temos que fazer tudo que nossos pais querem.

— Não! Nunca, jamais pensem assim... posso contra um segredo? — perguntou em tom conspiratório se colocando no vão entre as duas camas, olhando de uma para outra que balançavam a cabeça freneticamente. — Vocês são grandes guerreiras que estão constantemente lutando contra os monstros invasores e como em toda batalha, existem guerreiros sobreviventes e aqueles que serão lendariamente lembrados e amados, ok?

Ambas concordaram com largos sorrisos estampando seus rostos. Pete encarou Felipa por um tempo infinitamente maior, acariciando sua mão como forma de conforto. A pequena também estava em estado clínico grave, sua pele pálida e lábios levemente ressecado entregavam sua situação: leucemia. Para Pete parecia injusto seres tão pequenos enfrentando batalhas tão grandes; no entanto, ele mais do que ninguém tinha de acreditar na cura, mesmo em casos tão complexos. Permaneceu um bom tempo com as duas garotinhas, sempre as incentivando a pensarem positivo e arrancando gargalhadas ao tentar truques, muito falhos, de mágica.

— Você é muito ruim tio Pete. — Hanna mencionou entre risos após alguns minutos, quando o médico tentava se soltar de um nó frouxo que a mais nova das duas havia feito em seus pulsos.

— Acho que sou um ótimo médico, mas um mágico terrível. — lamentou Pete, finalmente se libertando e se levantando da ponta, que ocupava na cama de Felipa. Pegou sua prancheta de volta e deu as duas crianças um olhar carinhoso. — Mas agora o tio precisa ir. — anunciou.

— Nãaaaaaaao. — a duas lastimaram, observando a enfermeira responsável por elas se aproximar empurrando um carrinho, enquanto sorria em um misto de admiração e orgulho.

— O senhor volta amanhã? — Felipa perguntou esperançosa. Pete afirmou em um breve aceno, observando a menina alargar o sorriso e relaxar o corpo visivelmente.

Saiu da sala após trocar algumas informações com a enfermeira e se despedir algumas vezes mais das pequenas, sentindo um vendaval de emoções o atingir. A incerteza do amanhã era algo palpável para ambos os lados, o paciente e o médico. Pete não gostava de prometer algo que não sabia ao certo se seria capaz de cumprir; todavia, também não se via no direito de lhes tirar uma ponta que fosse de esperança. Sim, ele sabia que para as crianças, uma promessa de retorno significava muito mais do que apenas isso.

Conviver diariamente como se estando sobre uma corda bamba de emoções, o fazia refletir o valor da vida, fazendo a cruel observação que muitos dos que julgamos fracos, são detentores de uma força superior àqueles que colocamos em outro patamar. A força de seus pacientes, o levavam a observar além da primeira camada. Já era da sua natureza ser bondoso; entretanto, alimentava a certeza que cuidar daqueles anjinhos o haviam deixado ainda mais compreensivo. Talvez compreensivo demais.

Inevitavelmente seus pensamentos flutuaram até Venice. O garotinho era seu porto seguro em meio a todo aquele furacão que havia se instalado em sua vida. E, não era uma tarefa fácil cuidar dele sozinho; contudo, nem de longe, pensaria em viver algo diferente disso. Amava Venice e o protegeria, sob qualquer hipótese.

Quando o pequeno foi diagnosticado com dislalia, conseguiu fazer um acordo com o diretor do hospital para que ele fosse tratado pelos profissionais do local, assim ele poderia acompanhar o processo e sentir-se mais seguro. Mikaela era muito importante para que tudo fosse possível, a jovem babá, que sonhava em um dia se formar em pediatria, havia se tornado seu braço direito. Sua ligação com Venice era tanta que a garota entrou em estado de choque quando, por um descuido, perdeu o pequeno de vista, ocasionando em um internamento para ficar em observação por algumas horas. Pete não a culpava, Venice conseguia se tornara um mini fantasma, sumindo aqui e ali, quando queria, motivo pelo qual acreditava que iria ficar com os cabelos brancos antes do tempo. Pensava nisso enquanto caminhava pelos corredores do hospital, quando sentiu seu corpo se chocar contra outro e se desequilibrou, não indo parar no chão por conta de mãos fortes que o seguraram pela cintura.

— Desculpa eu... não tava prestando atenção. — pediu, sentindo seu rosto esquentar pela vergonha, ao cravar seus olhos nos de Vegas.

Ele ainda não havia conseguido assimilar a informação de que Vegas estava tão próximo de si e dificilmente achava que conseguiria realizar essa tarefa tão cedo; mas, em todo caso, o que poderia fazer era agir com o máximo de naturalidade possível.

— Tudo bem... não foi culpa sua. — disse, por fim se mantendo a uma distância segura quando notou Pete arrumar a postura e se afastar sutilmente. — E... tava te procurando.

O médico fitou Vegas com certo espanto e curiosidade, mas tentou desfaçar observando um colega que passava apressado pelos dois.

— Preciso verificar uma paciente... aconteceu algo?

Pete não conseguia entender as controvérsias dos seus sentimentos, só sentia um grande tumulto se formando dentro dele o deixando nervoso e aliviado na mesma proporção.

— Ah! Desculpa, você tá ocupado é claro... não quero te atrapalhar. — Vegas pediu, um pouco sem jeito.

— Tudo bem, se...

Pete começou a falar, porém, foi interrompido por uma voz feminina o chamando de forma ofegante. Se virou na direção de onde havia vindo e avistou Jess se aproximar a passos largos, com Venice em seu colo, chorando de maneira quase teatral.

— Graças a Deus te encontrei, ele não para de chorar e tô quase chorando junto. — Jess disse, gesticulando de maneira eufórica com a mão livre.

Jess era sua melhor amiga e colega de profissão, que fazia questão de ajudá-lo como podia. Ela e Mikaela eram primas de segundo grau e se não fosse por sua ajuda, Pete certamente ainda estaria pulando de babá em babá. Quando Mika passou mal mais cedo, Jess havia acabado de encerrar seu plantão e para que Pete não se preocupasse ficou responsável por Venice, mas como o médico suspeitava, seu pequeno não havia mudado em nada sua opinião sobre a amiga.

— Nice! Nice! Heyy!

Pete tentou chamar sua atenção, mas o pequeno parecia decidido a continuar chorando, até o momento que seus olhos lacrimejantes cravaram nos de Vegas e ele se esticou na sua direção como um gatinho carente.

— Tio! — chamou animado, dando pulinhos no colo de Jess.

Pete ficou surpreso, ao passo que Vegas permaneceu imóvel. Jess de repente levou sua atenção para o homem e discreta como era, abriu a boca em total incredulidade, fazendo Pete a lançar um olhar ameaçador, temendo qualquer coisa que ela pudesse falar. Venice permaneceu com os bracinhos direcionados a Vegas, que saindo do transe deu dois passos a frente e o pegou no colo, recebendo um sorriso seguido de gritinhos animados. Pete observou os dois com certa admiração e... ciúmes? Ele não sabia ao certo, mas algo realmente o incomodava naquela cena.

— Hey garotão, você não me falou seu nome, hum?

O menino direcionou seu olhar para Pete, então voltou a encarrar Vegas, levando as duas mãozinhas para brincar na bochecha do mais velho, rindo quando Vegas as inflou e soltou todo o ar fazendo barulho.

— enice...

— Venice, ele se chama Venice. — Pete explicou quando Vegas o encarou confuso.

— Você titio do Nice? — o pequeno perguntou, suas mãozinhas ainda apoiadas nas bochechas de Vegas, o encarando como se decorasse cada particularidade.

— Hum... sou? — o pequeno balançou a cabeça positivamente, fazendo Vegas sorrir amplamente em sua direção. — Ok, então vou ser seu titio Vee.

— Titio Vee... botino.

— Bo-ni-to. — Pete falou pausadamente.

— Então você me trocou só porque ele é bonito? — Jess perguntou fingindo indignação.

— Sim... Papa bunito, titio bunito... Voxe feia.

— Chega sabe? Tô tendo minha dignidade ferida por uma criança. — Jess poderia ser considerada a rainha do drama, ela com certeza só perderia para Venice e Macau. — Aliás, já que o bonitão aqui não vai me apresentar, eu me chamo Jess... Jess Smith e você é...

— Ah! Vegas... Vegas Theerapanyakul... é um prazer.

— Acredite querido, o prazer é todo meu... — Jess deu a vegas um sorriso largo e a Pete um olhar travesso. — Bom, já que vocês estão felizes e em família, tenho que ir.

— Hey! E o Venice? — Pete perguntou um tanto confuso.

— Não sei se você notou, mas ele me odeia e, além disso, a Mika já vai ser liberada e eu tenho que dormir um pouco antes do próximo plantão. — Jess falou se afastando, chamando a atenção dos transeuntes. Antes de se virar completamente, para continuar sua caminhada, ela sorriu e piscou na direção de Pete, que como resposta revirou os olhos e suspirou profundamente.

Ele agradecia mentalmente por Jess não ter falado algo comprometedor na frente de Vegas, mas era ciente que no momento mais oportuno ela o iria encher para saber como seu ex havia ido parar ali. Fechou os olhos rapidamente, passando a mão pela têmpora, em uma tentativa tola de organizar os pensamentos, antes de se virar para encarar Vegas.

Se surpreendeu ao presenciar Venice brincando com os dedos alheios, como se contasse um por um em voz baixa. Vegas desviou o olhar das mãos pequeninas juntas a sua, e o encarou profundamente, um sorriso surgindo no canto de sua boca. Pete pigarreou, percebendo está vidrado demais no contorno dos lábios alheio, e se aproximando pegou Venice em seu colo, que fez um bico prestes a chorar, mas logo voltou a sorrir quando uma das mãos de Vegas foi ao encontro do topo da sua cabeça e o acariciou ali.

— Você ia me pedir ajuda com algo. — Pete falou, pigarreando ao perceber seu tom sair quase sussurrado. — No que posso te ajudar?

— Ah! Isso, é... não queria te atrapalhar... é só que... Macau, ele queria te ver...

— Tudo bem, posso passar por lá depois... — o médico olhou para os lados um tanto impaciente. — Desculpa Vegas, hoje não está sendo um dia nada fácil, o Venice nem deveria está aqui no hospital, mas a babá dele acabou passando mal e agora tenho que resolver com quem vou deixar ele a próxima meia hora e...

Pete parou de falar subitamente ao perceber que estava desabafando. A verdade era que, sua vida estava realmente revirada, e ele nem ao menos sabia qual deveria ser seu próximo passo; entretanto, tinha plena consciência que ninguém era seu coletor de emoções, muito menos Vegas. Abriu a boca para se desculpa, porém antes que o fizesse, uma voz metálica atingiu seus ouvidos.

"Dr. Pete Saegthan, por favor compareça no balcão da recepção imediatamente"

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Me digam o que acharam do capítulo ;⁠)

Vejo vocês no próximo fim de semana >⁠.⁠<

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