Capítulo 3 - parte 3 (não revisado)
– Senhores, este é o oitavo mundo do sol centuriano. O estranho é que parece um mundo desértico. Não há uma única forma de vida, mas há naves de guerra dos batráquios muito bem destruídas. O fato de ainda não termos sido atacados, leva-me cada vez mais a crer que não somos um alvo potencial por não sermos tantorianos. Há pouco tempo, localizamos uma cidade enorme, mas em ruínas. A função de cada um de vocês é recolher amostras e tentar descobrir alguma informação útil.
A pequena nave auxiliar saiu pela comporta do hangar e mergulhou devagar, descendo para a superfície. Na sala de comando, todas as imagens do solo eram colocadas nas telas. Só viam areia e mais areia, amarelada, cheia de dunas. O planeta era um deserto gigante, ainda mais árido que o próprio Kalahari. De dia, fazia um calor tórrido e mortal e, à noite, um frio assustador, também mortal, acompanhado de ventanias violentíssimas consequentes das variações bruscas de temperatura. Aos poucos, apareceram as ruínas da cidade. No seu tempo, deve ter sido uma megalópole, com algumas dezenas de milhões de habitantes.
– Pousem naquela clareira. Outrora deve ter sido uma grande praça ou parque.
A Dani A I pousou no local indicado, quase no centro geométrico da cidade. Vinte dos cinquenta ninjas foram designados para proteger a divisão científica que saiu logo para as suas atribuições, recolhendo todo o tipo de amostras. Os demais, cercaram a nave.
Entretanto, não havia qualquer perigo aparente. Mesmo com o máximo de concentração, Daniel não logrou sentir pensamentos, exceto os dos companheiros. Estavam no meio de uma cidade-fantasma, desprovida de formas de vida de todos os tipos. Ele observava o solo à sua volta. Era árido, quente e muito seco, sentindo que uma exposição prolongada àquele clima poderia trazer desconforto pulmonar além de doenças respiratórias aos sapiens. Via prédios gigantescos, quase todos destruídos pela erosão. Caminhou na direção de um edifício que parecia em melhor estado que os demais. Tudo ali lembrava uma cidade da Terra, apenas não se encontrava uma única forma de vida. Nem mesmo vegetal.
– "O que terá acontecido neste lugar?" – pensava ele para si mesmo. – "Está claro que não houve bombardeios. Esta cidade foi abandonada. E o abandono, a meu ver, foi bem planejado!"
A sua constatação baseava-se no fato do prédio estar vazio. Apenas alguns móveis velhos, semi-destruídos e que se assemelhavam demais com tudo o que havia na Terra, pareciam ter ficado, provavelmente porque os proprietários não os desejassem mais. Aquele povo devia ser incrivelmente semelhante aos terráqueos. Tocou em uma poltrona, que se desmanchou numa nuvem de pó. Espantado, procurou calcular o tempo necessário para isso acontecer, mas concluiu que havia demasiadas incógnitas para uma conclusão alguma precisão mínima. Usando os seus dons telecinéticos, ergueu-se no ar e voou para o último andar do edifício. Pela estrutura, ainda muito firme, julgou que houve nele um campo de pouso para planadores. Enquanto andava pelo local, mantinha uma certa concentração para se teleportar caso o prédio viesse a ruir, mas o piso era muito firme, como já tinha constatado. Aproximou-se de um dos cantos e deparou-se com dois poços.
– "Só podem ter sido elevadores antigravitacionais" – pensou. Curioso, pegou uma pedrinha e largou no poço. Ela caiu no mesmo segundo porque a gravidade daquele mundo era zero vírgula noventa e oigo g, quase idêntica à Terra. Sorrindo, concluiu que seria de estranhar se o poço ainda funcionasse. Novamente, usou o seu dom telecinético e desceu pelo buraco, flutuando com suavidade. Parou em alguns pisos para os ver quase sempre vazios. Teleportou-se para o terraço e concentrou-se em um prédio gigantesco, a uns dez quilômetros do local. Surgiu no topo dele, para comprovar de imediato as mesmas obervações feitas antes. Curioso, desceu pelo poço do elevador, procurando evidências de um subsolo. Quando alcançou a superfície, notou que o poço descia mais quinze metros. Deixou-se cair até ao piso inferior e olhou em volta, mas nada viu. Acendeu a lanterna, observando outra vez. Tratava-se de um pavilhão enorme e vazio, chegando à conclusão de que ali ficava o maquinário de manutenção do prédio. Encontrou algumas aberturas, antes portas, e andou até elas. Em uma delas notou logo que se tratava de um depósito de resíduos que deveria levar a uma estação de tratamento sanitário. Dois longos tubos de um metro e sessenta de diâmetro penetravam nas profundezas da terra. Curioso, o almirante desceu ao nível deles e entrou em um. A esposa, que o acompanhava mentalmente, disse:
– "Amor, vê se podes pegar uma amostra desses detritos."
– "Até pego, princesa, mas eles agora não passam de uma simples poeira."
– "Não importa, uma análise pode ser útil."
– "Ok, princesa, mas não me agrada nada pegar um pedaço de bosta, mesmo que desidratada e tenha virado pó." – Ela deu uma gargalhada e transmitiu um grande sorriso e beijo ao marido, que pegou em um tubo de ensaio e encheu de material, lacrando-o e guardando no bolso. Após, entrou pelo tubo, que seguiu reto por mais de duzentos metros. Periodicamente, outros tubos, bem menores, juntavam-se a ele. A forte luz da lanterna mostrava que não havia nada ali, nem mesmo um mísero inseto. Tudo o que via era uma fina camada de pó. Aproveitou para coletar mais um pouco de material para a esposa. O tubo desembocou em outro muito maior, onde podia a andar ereto e sentiu um certo alívio.
Enquanto caminhava, pensava mais uma vez no que teria ocorrido àquele mundo que agora parecia tão estéril. No seu íntimo, imaginava-se como sendo um dos cidadãos daquela cidade ciclópica tentando viver, na sua imaginação, os últimos dias da metrópole. A primeira conclusão era de que se tratou de um problema natural. Concluiu também, que ele ocorreu devagar o suficiente para que o povo evacuasse todo o seu mundo, porque não havia a menor dúvida de que estava em um planeta fantasma.
Ao fim de quinhentos metros de caminhada, ficou impossibilitado de continuar porque o teto desmoronara, fechando a passagem por completo. Concentrou-se e saltou para a superfície. Ao se materializar, sentiu uma dor aguda, voltando a aparecer na tubulação, caído no solo com o rosto crispado, contorcendo-se um pouco. Esperou alguns segundos porque sabia que a dor era consequência de ter saltado sobre a matéria sólida. Ao melhorar, concentrou-se outra vez, mas para um ponto a duzentos metros de altura. Segurou-se no ar e olhou para baixo, vendo uma construção quadrada, bem grande, mas de apenas vinte metros de altura. Concluiu que aquilo devia ser as instalações de tratamento de resíduos. Saltou para o terraço do prédio e procurou uma entrada, que encontrou sem dificuldade. Daquela vez, não existiam elevadores antigravitacionais e sim escadas que desciam até ao último andar. Entrou por um corredor e olhou as diversas salas, provavelmente administrativas. Como tudo o resto, ali também estava vazio. Por um poço de elevador antigravitacional ele desceu mais alguns andares, até chegar a um galpão grande, que penetrava no subsolo. Avistou várias tubulações como a que usou, mas desistiu de as explorar porque a estação estava tão vazia quanto tudo o resto.
Saiu do prédio e retornou para perto da nave, procurando os seus cientistas. Eles, cada um na sua especialidade, tiraram amostras de tudo o que podiam, desde o solo até pedaços de vidro das janelas e não encontraram qualquer forma de vida ou cadáver, tornando o que aconteceu àquele mundo um grande mistério. Quando terminaram, retornaram para a nave auxiliar, onde o Daniel entregou as amostras para a mulher e foi-se lavar. Na sala de reuniões encontrou-se com a equipe.
– Senhores, alguma conclusão?
– Não, Alteza – disse um dos cientistas. – Mas já temos todas as amostras necessárias. Na Dani, teremos algumas respostas. Atrevo-me a dizer que este planeta foi abandonado.
– A essa conclusão eu já cheguei antes mesmo de descer aqui, doutor, mas ainda não vamos para lá. Quero procurar outra cidade. Johnathan suba para dois mil metros e procure os vestígios de outras ruínas. Tente rumar para o equador.
– Sim, Almirante. – A nave auxiliar iniciou a subida, mas quando estavam a menos de mil metros, Bia quase gritou:
– Olhem, ali ao longe, outra cidade.
Todos observaram-na e o piloto tomou a direção dela sem esperar ordens do Daniel. Ela tinha um lado que parecia recortado, seguido de areia e rocha, que mergulhava bastante fundo ao fim de cem metros, um verdadeiro precipício.
– Aquilo era um oceano – disse Bia, excitadíssima. – Sou de opinião que devíamos pousar nele e recolher amostras do solo e rochas. Acho que os geólogos vão adorar esta pesquisa.
– Piloto, faça isso – ordenou o Daniel. – Senhores usem mochilas energéticas para saírem lá fora ao recolher mais amostras desta cidade. Com o gerador antigravitacional chegam lá mais rápido e o campo de força permite que não sintam tanto o calor. Nós vamos pousar no vale que foi o mar.
A nave pousou, afundando quase um metro na areia macia, e cada um seguiu para a sua tarefa.
Daniel também desceu da nave, curioso para ver o que já teria sido o início de um grande oceano. Mais uma vez a sua imaginação ficou à solta e ele pensou na população daquela cidade, tomando banho de mar na praia ou secando-se ao calor dos raios de sol.
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O observador que vinha acompanhando os estranhos, notou um fator novo: os desconhecidos tinham recursos tecnológicos incríveis. Conseguiam voar e possuíam um campo de força protetor individual. Com isso, tirou as suas conclusões sobre a mentalidade deles, que parecia ser pacífica, embora tivessem armas tremendas. Entretanto, os seus construtores também as tinham, embora inferiores, sendo também pacíficos.
Decidiu assumir o risco de enviar uma mensagem condensada e fortemente direcional para os seus superiores porque os visitantes afastaram-se e a grande nave seguia-os. Calculou que a probabilidade de ser detectado era inferior a zero vírgula um por cento. Além disso, tudo indicava que eles eram os seres que deviam ser recebidos de "braços abertos". Por outro lado, a sua programação determinava que não os deveria contatar.
Efetuou a transmissão, mas não recebeu qualquer resposta. Sabia, porém, que a central não responderia a menos que tivesse uma emergência, para não denunciar a sua origem.
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A milhões de quilômetros dali, os dados sobre a nave e os seus tripulantes foram apresentados para a central que, após avaliar as informações, descobriu que a nave veio do espaço exterior, mas não provocou abalos ao chegar, não tendo sido, por isso, detetada pela central nem qualquer outra estação de vigilância do sistema. Por outro lado, o coordenador principal lembrava-se muito bem de ter detectado um grande abalo há menos de dois dias, isso na periferia do sistema. Decidiu não responder ao chamado e aguardar, já que a probabilidade de se trair era demasiado alta, face à tecnologia daquele povo e não queria correr o menor risco. Em compensação, mandou reforçar todas as defesas planetárias. Mesmo aquela nave gigantesca poderia ser destruída com o contingente todo que armou.
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