Capítulo 2 - parte 2 (não revisado)

A indústria do Império trabalhava a todo o vapor e em todos os principais planetas dezenas de fábricas de equipamentos e armamentos foram erguidas da noite para o dia graças ao poderio econômico da Cybercomp.

As fábricas de hiperpropulsores receberam os planos de construção do novo modelo, o motor de mergulho como ficou carinhosamente conhecido. A frota de Vega XII estava completa e entrou logo em operação, sendo enviada para a Terra e colocada sob as ordens do Almirante Supremo. O governador Daniel escolheu pessoalmente e a dedo os comandantes e as tripulações, ordenando-lhes que fossem o quanto antes para a Terra e se colocassem ao dispôr do neto.

As cinquenta esferas de setecentos e setenta metros de diâmetro pairavam na órbita do planeta mãe, sem pousarem no espaçoporto, enquanto os comandantes desceram para uma reunião no quartel recém-criado, mais precisamente na gigantesca sala de reuniões do almirantado ao lado do gabinete do Daniel.

Os comandantes, que se conheciam muito bem entre si, conversavam animadamente enquanto aguardavam o seu futuro chefe. Eles eram capitães de cargueiros com larga experiência no comando de naves espaciais de grande porte, escolhidos por serem a nata dos comandantes na ativa, e aguardavam ansiosos a chegada do almirante cuja fama o precedia. A porta abriu-se e Daniel entrou, notando o grande silêncio que se formou no ato. Eles observavam o homem que se aproximava, alguns deles ficando decepcionados com o que viam porque se tratava de um jovem, até novo demais para um tenente quanto mais almirante, segundo as suas opiniões pessoais.

O almirante supremo caminhou para a sua mesa em silêncio e observou atentamente os cinquenta presentes, quatro deles mulheres e uma delas de beleza estonteante, ainda muito jovem. O rapaz acreditava que ela devia ter talentos fenomenais para ter sido escolhida pelo avô e notou que todos, sem exceção, tinham um ar altivo, cordial e intrépido, por serem Homens do espaço, habituados a comandar espaçonaves. De cara, aprovou a escolha do avô, porque não teria de os adaptar, já que eram experientes, tal como Nobuntu, um verdadeiro achado.

O grupo olhou curioso para aquele sujeito que estava defronte a eles. Tinha cerca de um metro e noventa, corpo atlético e um olhar calmo, mas, apesar disso, ainda se notava no rosto a pouca idade, talvez dezenove anos, parecendo-lhes um simples garoto. Não concebiam a ideia de que esse rapaz tenha sido o inventor das naves que comandavam, o que os desorientava, embora soubessem muito bem que essa era a verdade. Apesar disso, não o imaginavam como o ser humano com poderes absolutos de comando militar no Império, poderes estes dados pelo imperador em pessoa. Cada um deles tirava as suas conclusões, cada qual diferente da outra, e Daniel notava isso, sorrindo discreto. Na sua mesa, olhou para os cinquenta computadores de mão em que mandou elaborar e programar as ordens dos novos comandantes da frota. Sorriu para os presentes e iniciou a reunião.

Assim que abriu a boca para falar, os novos militares deram-se conta, já nas primeiras palavras, da distância que ele tinha de um adolescente porque, de forma inconsciente, haviam-no comparado a um simples sapiens, talvez porque a maioria deles não era de portadores.

– Senhores, sinto-me muito honrado em vos ver aqui, os primeiros cinquenta comandantes militares da frota do Império do Sol, graças ao meu avô que acreditou em mim quando ninguém aceitava as minhas ideias. Sei muito bem como é pequeno o número que se nos apresenta, mas é muito melhor do que apenas um comandante que era o que tínhamos até há muito pouco tempo, mais precisamente até vocês chegarem. Entretanto, o nosso baixo número pode ser bem compensado pela total superioridade tecnológica frente a este adversário que surgiu de forma inesperada. Mesmo assim, desejo frisar aos senhores que, embora pareça, não somos invulneráveis. Sei que já estudaram o primeiro confronto porque solicitei ao meu avô que vos desse as orientações iniciais e, os vídeos que viram, podem vos fazer parecer que somos invulneráveis, embora isso não seja verídico. O ataque concentrado de alguns milhares de naves inimigas pode derrubar o vosso campo de força e vocês explodem. Digo isto, porque aguardamos para breve, um ataque com um número que pode ir de cem a duzentos mil aparelhos inimigos, senão mais, ou seja, algo de proporções titânicas.

Daniel fez uma pausa de efeito e prestou atenção nos olhares de espanto e nas exclamações dos comandantes, alguns deles empalidecendo. Notou, entretanto, que a bela mulher não se intimidou, apenas empertigou-se e prestou mais atenção. Sem lhes dar muito tempo para digerirem a informação, continuou.

– Pois é, meus irmãos e irmãs, parece assustador, mas tenho confiança total nas naves que projetei. Sei que vocês sairão vitoriosos desde que não se entusiasmem demais. Vamos ao planejamento. – Daniel ergueu a voz. – Computador: coloca um mapa do Império no centro da sala.

Um paralelipípedo holográfico de quatro por quatro metros e dois de altura apareceu entre Daniel e os comandantes.

– Dez de vocês – principiou –, computador, amplia para Canopus, vão fazer uma guarda camuflada em uma órbita afastada de Terra-Nova.

Apontou o planeta e tocou no holograma em dez posições diferentes. Logo, dez pontos, representando as naves, surgiram em vermelho.

– A ideia é manter as naves invisíveis e criar posições defensáveis que englobem o planeta por inteiro. Não só o planeta, mas, também, as luas. Os tantorianos são fáceis de detectar porque vão sair do hiperespaço a dois dias luz de distância. Eles precisam disso para poderem frear, por isso não recearemos o fator surpresa, já que, quando aparecerem, estaremos mais do que preparados. Até nova ordem, o comando-geral será efetuado a partir da astronave Jessy. Mantenham sempre um observador grudado nos sensores de abalos da estrutura do espaço-tempo. Oportunamente, os vossos computadores de mão que vos entregarei ao final da reunião, informarão as ordens e designarão as tarefas de cada um. Até aqui foi tudo compreendido, suponho.

– Sim, Almirante.

– Perfeito, quando eles surgirem deem o alarme e não se afobem, pois teremos de dois a quatro dias para tomarmos todas as providências cabíveis. Com as nossas naves, daqui até à órbita de Terra-Nova é um pequeno pulo de alguns minutos, conforme a urgência. Podemos chegar, sem qualquer dificuldade, em dez minutos ou menos, no caso de uma emergência, mas não os ataquem em hipótese alguma enquanto não receberem uma ordem minha. Devemos usar o fator surpresa porque eles só poderão ser contidos com uma derrota fulminante. Uma ação isolada de nada nos adianta. Para se comunicarem, usem apenas superonda já que o inimigo não dispõe dessa tecnologia, embora saiba o nosso idioma principal. Se precisarem de usar o rádio normal, usem qualquer língua que saibam, menos o português. Também não abusem da superonda, já que não sabemos o que eles poderão ter desenvolvido neste meio tempo, embora eu não acredite que tenham tido tempo de criar comunicadores acima de c.

– Confirmado, Almirante, usaremos superonda, mas sem abusos.

– Perfeito, os quarenta cruzadores restantes patrulharão regiões específicas do império. Computador, coloque novamente o mapa do império na tela. Cada uma das naves de patrulha será posicionada, também invisível, nestes locais que eu selecionei. Basicamente falando, o motivo desta escolha é que a frota de apoio, estas quarenta naves restantes, pode-se deslocar velozmente para qualquer ponto do império. Caso as naves inimigas surjam em outro local, não seremos apanhados de surpresa. Eu acredito que isso não acontecerá porque o sistema de navegação dos tantorianos é muito aperfeiçoado, chegando a ser superior aos nossos das naves de hipersalto. Resumindo, estas quarenta naves serão a frota de apoio e reforço. As ordens para observação são as mesmas, sempre deverá haver um tripulante de olho nos sensores de abalos. Alguma pergunta?

– Compreendido, Almirante, quem nos dará a ordem de deslocamento?

– As ordens poderão vir de mim, do capitão João, ou do coronel Nobuntu. Qualquer outro que vos dê ordens, vocês devem me consultar de imediato, em especial se for o imperador. Afinal, ele me fez almirante supremo e não entende nada de táticas de combate. Se uma das vossas naves sair da posição, haverá um rompimento das linhas de defesa que pode culminar na falha completa dos meus planos, comprometendo o sucesso da missão, entendido?

– Sim, Almirante, como nos comunicaremos diretamente com o senhor?

– Basta solicitar um chamado direto para mim usando a estação da frota na Lua. Ela é, atualmente, a central de comunicações da frente militar do Império e os seus operadores foram orientados a repassar para mim qualquer chamado vosso, sem perda de tempo.

– Confirmado, Almirante.

– Muito bem, meus amigos, a partir de hoje, vocês são oficiais da frota militar do Império, com o cargo de Majores. Quando as coisas se acalmarem, os que desejarem voltar para a frota mercante só precisam de solicitar a sua baixa. – O almirante pegou em um punhado de computadores e começou a distribui-los para cada um, acrescentando, muito sério. – Aqui estão os vossos computadores de mão com as ordens protocoladas e bem determinadas. Podem partir e sigam em paz, palavra difícil nestas horas. Boa sorte, caros comandantes. Não cairemos, eu vos garanto, mas só o grupo inteiro sairá vencedor. A propósito – ele olhou para a garota tão bela, parando à sua frente e estendendo o computador. – Não temos tempo para atos heroicos ou individuais, senhores, especialmente a senhora, comandante?

– Anjuska – respondeu ela, sorrindo de forma angelical e pegando o aparelho. – Por que acha que quero bancar a heroína?

– A senhora tomou uma atitude de desafio quando falei do tamanho do contingente inimigo e isso preocupou-me.

– O senhor é observador, Almirante, mas a minha atitude não tinha essa intenção e sim de me concentrar para absorver toda e qualquer informação possível sem deixar os meus sentimentos interferirem. Peço desculpas se parecia outra coisa.

– Neste caso, Major Anjuska – afirmou Daniel, sorrindo com delicadeza –, quem lhe deve desculpas sou eu. Apenas estava preocupado com o vosso bem-estar.

– Não se desculpe, Almirante. Obrigada com a sua preocupação.

– Senhores, vão em paz.

– Paz, Almirante. – Os comandantes levantaram-se, bateram uma continência desleixada e saíram. Ao falarem com Daniel e sentirem a energia que ele emanava, deram-se conta do quanto estavam errados com o julgamento inicial a respeito da escolha do imperador. Não era à toa que o governador deles, o avô do almirante, confiava tanto no neto fosse para o que fosse.

Aquelas poucas frases objetivas e bem colocadas conquistaram a lealdade total dos comandantes de Vega XII.

Da janela, Daniel observava o grupo que se afastava e conversava animado. No pátio, à frente do prédio, cinquenta navetas estavam paradas em cinco filas. Os comandantes, em pequenos grupos, permaneceram mais algum tempo conversando e debatendo sobre as suas missões, trocando ideias, olhando os computadores. Ele utilizou o seu dom telepático para saber se aqueles homens eram mesmo confiáveis e concluiu que sim, mas concentrou a atenção na bela descendente de russos, para saber se disse a verdade. Descobriu que a mulher tinha um bloqueio muito forte e insistiu em penetrar. Ela não só foi muito sincera, como era realmente uma comandante intrépida e decidida, mas o que o deixou meio sem jeito é que ela pensava nele com desejo e retirou-se da sua mente porque sentiu-se um invasor. Aos poucos, os novos majores foram-se despedindo e entrando nas navetas, subindo em silêncio. Em frente ao edifício da administração, ainda mal acabado, estavam apenas dez homens, os que iam para Terra-Nova e que decidiram ir juntos, um deles a comandante Anjuska. Sem saber porquê, Daniel simpatizou e confiou nela porque sentiu uma força interior muito potente na moça, ainda bastante jovem. Entretanto, quem era ele para ditar a juventude, ou imaturidade de alguém, se tinha apenas pouco mais de dezesseis anos. Sorriu e concentrou-se no seu trabalho.

Ao fim de algum tempo, os dez comandantes finais entraram nas suas navetas e partiram para o espaço, subindo devagar e em silêncio, um contraste enorme com as naves dos inimigos, incapazes de tal proeza.

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