Prólogo
Coréia do Sul, Seul — Outubro de 2009
Karina's pov:
Paro na beira do cais, vendo o sol refletido no lago. Faz um bom tempo que não venho a esta parte da cidade. E não estaria aqui se meu objetivo não fosse claro. O céu está mergulhado em um tom alaranjado, a brisa fria da estação me deixando cada vez mais reflexiva.
Os passos que escuto atrás de mim são pesados. Sei quem é antes mesmo que fale alguma coisa. Ele me chamou.
— É estranho voltar aqui. — Me viro e vejo Félix andando em minha direção. Suas mãos estão enfiadas nos bolsos. Ele se aproxima e para ao meu lado. — Não venho aqui desde que... — O som de sua voz vai sumindo. — Entrei em contato com Giselle antes de vir te ver. Ela ainda está morando com você?
Passo a mão nos cabelos, e em seguida olho na sua direção.
— O que você está fazendo aqui? O que você quer? — Pergunto, sentindo a cabeça começar a esquentar com sua chegada. Se Félix está em Seul, os motivos não são bons.
Ele olha para mim, tirando as mãos dos bolsos. Seus olhos parecem perplexos com minha pergunta direta.
— Estou em uma viagem de negócios e resolvi fazer uma visita já que tenho um assunto a tratar com você, Karina. Confesso que estou um pouco surpreso por você não ter entrado em contato desde que voltei para Busan.
Dou de ombros.
— Eu deixei claro que não queria nenhum envolvimento com os seus assuntos... — Respiro fundo. Esperava que ele tivesse entendido por que tinha tomado essa decisão, por que não tive outra escolha. — Sou grata por ter me auxiliado quando precisei, mas você sabe dos meus motivos.
— Sim, eu sei — ele sussurra. — Mas eu poderia ter resolvido...
— Félix, vá direto ao assunto. Como você bem sabe, Giselle necessita de mim para um pequeno assunto esta noite.
Ele melhor do que qualquer um sabe que eu não me envolva em conflitos desnecessários e que não suporto que me façam perder tempo
— Encontrei uma solução. — Eu posso ver o ressentimento em seus olhos, seus dedos se fechando em punhos.
— O que você fez? — Pergunto, olhando fixamente para ele. — Por que nós dois sabemos em que tudo isso implica, Félix. Então pare de rodeios e seja o mais suscito possível.
— Não precisa se preocupar... — Ele sussurra, colocando as mãos na cintura. — Até então consegui manter as coisas sobre controle e longe dos olhos divinos.
— Félix...
— Não. Eu sei o que você pensa sobre isso... Eu podia ter usando quantas almas humanas quisesse, mas não sou como os outros. Acabei simpatizando com esse mundo, caramba, e Karina... Você não precisa pagar pela eternidade por seus pecados.
— Infelizmente nós sabemos como as coisas realmente funcionam.
Félix dá de ombros.
— Eu assumi esse risco em nome de algo maior. E se você está aqui hoje é porque entende do que eu estou falando.
Enfio as mãos nos bolsos do casaco.
— O que você fez?
— Consegui acesso a informações que são do seu interesse. E bem... você tinha razão. — O pesar em sua voz fica perceptível. — Mesmo para seres como nós ainda pode existir a chance de redenção.
— Você tem noção do que acabou de dizer? — Pergunto. Começo a pressentir para onde se encaminha esse assunto.
— Por favor, Karina.
Respiro fundo.
— Não me peça isso, Félix. Não me peça que o faça.
— Tenho que lhe pedir. Karina, você é...
— Olha, Félix... tenho negócios a tratar aqui. Podemos conversar em outro momento. — Digo calmamente. — Você pode ficar na minha casa durante sua estadia em Seul. Pôr as ideias no lugar.
— Minhas ideias estão no lugar, Karina.
— Não estão. — Ando até ele e coloco a mão em seu ombro. — Não estão se você acha por uma fração de segundo que eu vou me envolver nessa situação. Volte para Busan e não brinque com a sua sorte, Félix. Por favor.
— Você não entende. Essa é... — ele sussurra, com os olhos como brasa. — Escute, se você tentar, pelo menos terá uma oportunidade de recuperar o que perdeu. Não estou pedindo que você se torne a guardiã de um humano, nem que o proteja, porque, essa é uma situação delicada. Só estou pensando... se existe uma saída... você deveria agarrá-la sem hesitação.
Se qualquer outro tivesse me dito isso, eu teria agido automaticamente de forma indiferente. Mas Félix é quase um amigo. Ou teria sido, se eu tivesse permitido que ele aproxima-se.
— Não posso fazê-lo. Nem sequer por você. Sabe o que acontece com aqueles que se aproximam de mim e do meu mundo.
— Por quê está dizendo isso? Por que você fica relembrando o passado? Ela teve uma boa vida.
— Não por minha causa! — Grito, apontando para o meu peito. — Eu sou a razão de ela ter... — posiciono o punho em frente à boca. — Desde o princípio as coisas estavam fadadas a ruína.
— Não. — Ele balança a cabeça. — Ninguém tem como afirmar isso.
— Não era para ser assim, você sabe — sussurro. — Eu deveria ter permanecido no meu lugar. Não deveria ter me deixado levar pela luxuira como os outros. Mas tomei minha decisão e vou arcar com o peso das minhas ações.
— Podemos reverter isso.
— Não insista nisso. Preste atenção no que está falando. Eu não sou a melhor opção para isso, Félix! Nao sei como você teve acesso a essa informação, mas não espere que eu seja conivente com isso. Você acha que eles não sabem dos meus movimentos? Acha que qualquer um estaria seguro em minha companhia?
— Tenho certeza que sim! — Afirma e mente ao mesmo tempo.
Balanço a cabeça.
— Nós dois sabemos que isso não é verdade. — Faço uma pausa. — Não vou me envolver. Peça-me qualquer outra coisa e eu não medirei esforços para fazê-lo, mas isso está além da minha lealdade.
— Dentre todos os caídos, eu esperava que você compreendesse.
Não respondo. O ódio me embarga concentrando-se no centro do meu peito. Desprezo a mim mesma por isso, mas simplesmente não posso ter o sangue de mais um inocente em minhas mãos.
— Até quando você vai continuar com essa atitude? — Ele faz uma pausa e chuta pedras invisíveis. — Uma hora o equilíbrio será perdido e você vai precisar lutar por alguma causa. Só espero que não seja consumida por sua indiferença.
— Você é quem não entende, Félix. Eu já tenho algo pelo que lutar e por esse motivo não posso fugir. Se deseja tanto assim essa redenção, faça-me um favor: siga você por esse caminho.
— Eu o farei. Eu farei com todas as minhas forças — ele repete. — E se um dia você lembrar de quem era no passado, sabe onde me encontrar.
Ele começa a ir embora, e eu suspiro pesadamente. Apesar dessa questão ter chegado à uma conclusão, de alguma forma, de alguma maneira, eu sei que esse não será o nosso último encontro.
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E aí galera!
Então, como eu havia avisado, estou recomeçando as postagens dessa fic. Espero que curtam e boa leitura a todos.
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