Matar

Violar

Destruir

Consumir tudo que existe.

Eu podia imaginar o tipo de coisa que estava passando pela mente do Guren nesse momento, no caso deles o desejo por poder os levou a essa situação insana. O garoto já não era mais humano, não que eu também não fosse embora tenha sido objetivos diferentes.

Shura ainda não me tinha liberado da dimensão das sombras então eu era uma mera expectadora, eu estava de braços cruzados observando como a cena se desdobrava. O demônio passou os braços pelos meus ombros e apoiou o queixo na minha cabeça.

-Você está miseravelmente afetivo nos últimos tempos – falei enquanto sentia o torso dele bater nas minhas costas, ele realmente estava me abraçando.

-Hum... Me pergunto o porquê – ele continuou o gesto de afeto – Guren está discutindo com o Oni dele, eu não sei se esse é um bom começo.

Como se ele estivesse respondendo Shura o garoto gritou – Calado!

E então a quimera que tinha voltado a se mexer e estava se preparando para atacar foi cortada no meio assim como o restante do cenário atrás dela.

-Aha, isso realmente é bom – Mahiru disse com uma voz feliz – Ah Guren você também quer me matar? Não pode suprir o desejo de destruir tudo não é?

Ele ficou em silencio e ela continuou – Você também quer matar os seus companheiros não quer? Puxar as entranhas de dentro deles violar seus corpos e cortar todas as suas cabeças. Esse é o problema com essa arma... Seu estado mental realmente fica deturpado depois de ser possuído.

-Mas isso não importa Guren. Primeiro mate os cinco para saciar temporariamente esse desejo. E então nós podemos explorar como usar o Kiju. Você e eu juntos vamos definitivamente melhorar esse poder, e dessa forma moldar o caminho. Ninguém será capaz de nos parar.

As sombras se nos rodeavam se movimentam, criando figuras mais afiadas como se fossem lanças, Shura apertou um pouco mais seus braços tendo certeza que eu não me mexeria. – Ela realmente ficou cega com essa obsessão infundada em Guren. Claramente nós já somos a perfeita harmonia que pode existir num contrato de Kiju.

O garoto então andou na direção das subordinadas que estavam caídas no chão, na mão direita ele brandia a espada que Mahiru tinha lhe dado e com a esquerda a que Kureto tinha lhe presenteado.

-Shura me solte. – ordenei.

-Não – ele respondeu firme.

-Shura eu não estou pedindo, me solte agora.

Senti alguns tremores na dimensão da sombra, ótimo ele estava de mal humor – Você sabe como isso funciona se eu te soltar, você vai fazer alguma coisa idiota pra salvar o Guren e quem vai sair mais prejudicado aqui vou ser eu.

Ele pegou meu rosto e virou na direção dele, nossos narizes se tocavam de leve enquanto eu encarava as irís escarlates dele – Você precisa me oferecer algo bem interessante pra eu te deixar te sair daqui agora.

-E o que você quer? – perguntei ele se aproximou ainda mais fazendo com que nossas testas se encostassem, trazendo um monte de imagens. Na maioria delas trazendo um Guren e uma Mahiru caídos no chão sem vida.

-Você consegue me dar isso, princesa? Se disser que sim... Eu posso pensar em te liberar.

Quase que ao mesmo tempo, Guren lançou o seu ataque mas ao invés de decapitar Sayuri ele cortou o próprio braço que segurava a Kiju. O líquido vermelho jorrava em quantidade.

-Ah... Minha mente finalmente clareou. – ele então gritou – Acordem idiotas estamos recuando!

Shura pareceu contente com a cena – Não é o suficiente mais vai servir, por enquanto.

Com as cores voltando ao normal finalmente consegui me movimentar, mas eu não estava tão perto da clareira Shura tinha me libertado um pouco mais a distância, eu não consegui ouvir boa parte da conversa enquanto me aproximava mas o que que ouvi foi mais do que suficiente pra fazer meu sangue ferver.

-Por hoje é o suficiente. Mesmo que eu queira te beijar, tenho coisas a fazer. – E então Mahiru correu para pegar a metade cortada do corpo da quimera.

E então num movimento súbito a outra parte também foi pega, ele novamente... A minha própria arma se materializou no ar. Pele inhumanamente branca, cabelos compridos e diversos adornos enfeitando suas roupas.

Os olhos dele se encontraram com os meus e ele sorriu – Oh nos encontramos novamente!

Guren estava em choque, não sei se era pelo braço estar conectado novamente ao seu corpo ou pelo vampiro nobre que estava a nossa frente.

-Você é um nobre – Mahiru disse.

-Ah você sabe algo sobre vampiros, eh? Sim, sim Eu sou Ferid Bathory um sétimo progenitor. Mas para um mero humano como você não deve fazer sentido.

Ele puxou sua espada e investiu contra ela, ela estava com dificuldade de manter o passo, e então ele a chutou pelas costas fazendo com que seu corpo voasse com o impacto.

-Tudo bem, parece que esse é o final ~~♪"

A próxima sequencia foi algo que eu mal raciocinei, ele brandiu a espada para dar fim a Mahiru, mas o idiota do Guren com um braço recém colocado resolveu bancar o herói. Ele não sobreviveria, então quem teve que salvar a bunda dele fui eu.

A foice de Shura se chocou com a espada de Ferid lançando uma onda de choque. Guren foi lançado para trás provavelmente quebrando alguns ossos, Shura já tinha se apossado de metade do meu corpo afinal eu não teria forças para enfrentar ele sozinha.

Ele não parecia estar preocupado – O que você está fazendo aqui?

-Hum, fico feliz que está viva. Tivemos um bom tempo brincando no outro dia. – ele me respondeu e em seguida olhou para algo nas minhas costas.

-Estranho, vocês dois ainda estão vivos. Isso é bom, tem certeza que são humanos?

-Me responda – disse.

Então com uma postura relaxada ele começou a falar – Nada demais, eu ouvi que humanos estavam fazendo algumas pesquisas que eles não deveriam e então eu vim investigar...

Ele ergueu o corpo da quimera que estava em seu pé o colocando no ombro – O quão assustador é isso? Vocês humanos sempre gostaram desse tipo de coisa. Se colocarem suas mãos nesse tipo de técnica proibida com certeza o mundo irá acabar.

-Então você está aqui para punir nós humanos gananciosos? – não que eu acreditasse nas próprias palavras que saíram da minha boca.

-Não, definitivamente não. Eu não ligo para humanos. Vocês podem apenas se brigar entre vocês mesmos não estamos interessados em bolsas de sangue se matando. Mas, sobreviver aos meus ataques de espadas duas vezes, não sei se nenhum de vocês podem ser consideramos humanos... Bom, realmente não importa.

Ele então virou as suas costas e partiu, a diferença de poder era tão grande que ele nem se preocupara em ser atacado.

Shinya que estava fingindo estar desmaiado tinha colocado uma série de talismãs nos pés da garota – Quando você acordou Shinya?

-A noiva e o ex-namorado estavam sussurrando doçuras uma para o outro, como eu poderia continuar dormindo? Guren... Me ajude a capturar Mahiru.

Guren pareceu ponderar sobre algo – Você realmente gosta dela?

Shinya riu – Quem sabe? Como eu posso dizer... Eu fui treinado para ser assim... E você?

-Ela é apenas alguém que eu esqueci a muito tempo – mentiroso.

Eu já tinha previsto o fim daquilo e já que não tinha importância pra mim eu apenas me contentei em subir num dos destroços e observar eles terminarem. Impressionante como Mahiru estava sempre um passo atrás de mim e mesmo assim tinha Guren e todas as outras pessoas na palma de sua mão.

Qualquer pessoa saberia que ela já não tinha salvação, mas mesmo assim eles tentavam desesperadamente buscar uma solução...

Tirei a minha corrente com o anel de noivado de dentro da minha camisa e observei a pedra brilhando sobre a luz do sol. Então numa promessa silenciosa eu puxei a corrente estourando seu fecho e em seguida guardando no bolso do uniforme. Não precisaria dele na guerra que se aproximava.

Estava decidida.

No fim Mahiru tinha ido embora e eles mantiveram um pedaço da quimera, Mito e Goshi acordaram assim como as outras subordinadas.

Puxei meu celular e disquei um número já conhecido – Está acabado. Mande alguém vir nos buscar, temos amostras.

Kureto riu do outro lado da linha – Sabia que podia contar com vocês, aguardem minhas ordens.

Ao mesmo tempo que eu finalizei a ligação o corpo de Guren caiu no chão inconsciente, ele não acordaria tão cedo. Disso eu tinha certeza.