prólogo. parte 02

O que era o amor? A sensação de tê-lo?

Se perguntava com uma certa frequência, apenas para si mesma, nunca em voz alta. Não por ego, mas por puro medo.

Os deslizes que dava sobre aquele gelo maciço e duro eram tão dolorosos e poderia dizer que foi a única coisa que podia dizer ser amor, mesmo que não tivesse certeza de seu significado.

Era incontrolável, a única forma que achou de se comunicar, a única que conhecia.

Cada som que saía da sua garganta, sua voz, era tão fria quando o inverno no Canadá, e não conseguia ser melhor que isso, era seu eu, e estava bem com aquilo.

Preferia viver em um mundo focado em caos e desastres causados pela nevasca do que sentir o que imaginava ser a dor.

Achava que já a sentiu, uma vez, ou talvez duas, mas não estava preparada para a dor real. A dor dilacerante que rasgaria cada história que contava para si mesma, acreditando serem verdadeiras e com promessas escondidas.

Não a dor física, aquela ela conhecia muito bem, porque eram causadas por ela mesma, consequência da raiva fumegante que a deteriorava lentamente, e explodindo da única maneira que sabia extravasar.

Não dizia, nenhuma vez o quão vazia se sentia, era tão normal como sentir felicidade para pessoas "normais". Ela não conseguia se considerar mais como uma.

Certa vez imaginou o quão falha era e não sentiu tanto, apenas queria ser diferente, talvez como as crianças que a circundavam na escola, mas odiava o barulho que faziam ou a forma que se abraçavam ou eram invasivos.

Começou a preferir ser daquela forma mesmo. Apenas isso, uma forma em formato de gente.

Até conhecer pela primeira vez algo diferente do que o habitual; a sensação de falar ou conversar eram tão estranhas quanto ter o deixado tocar em sua mão e depois em sua cintura para conseguirem deslizar com facilidade.

Preferia dizer que eram profissionais, por mais que fossem apenas crianças aparentemente se divertindo, mas não, aquilo ali não passava de movimentos secos e frios que mais uma vez ela repetia, só que dessa vez com alguém.

Permitiu a entrada, permitiu a proximidade, e se arrependeu quando sentiu e viu ser tão arruinada quanto qualquer outra coisa que acreditava, preferiu se deixar estilhaçada em meio a neve, do que tentar se "concertar". Queria viver as escondidas naquela poeira branca e gelada para furar os invasores indesejáveis. 

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