Capítulo XXV [PARTE DOIS]


H U N T E R


NUNCA ME LEVANTEI TÃO rápido em toda minha vida. Meus tênis se afundaram nas almofadas de veludo e usaram o encosto do sofá como degrau, pulando para o outro lado. Talvez fosse a adrenalina ou o álcool correndo pelas minhas veias, não importava: meu corpo se movia em uma velocidade que jamais havia experimentado antes, tão leve que meus pés mal tocavam o chão.

Até consegui colocar uma boa distância entre eu e o irmão da April, mas no fim meus esforços se mostraram insuficientes. Simplesmente, não dava para competir. Enquanto eu corria cego pelo desespero, Cole contava com uma vantagem a seu favor: ele agia motivado pelo ódio.

Inferno.

O próprio satanás havia emprestado asas para aquele filho da puta voar.

— NÃO A MINHA IRMÃ!

Não consegui fugir. O braço dele envolveu meu pescoço por trás em uma gravata e eu joguei meu peso para frente na tentativa de me livrar do aperto. Nós caímos no chão enquanto April nos xingava aos gritos. Só não se intrometeu na briga porque suas amigas se prontificaram em cercá-la como uma força tarefa, prontas para imobilizá-la se fosse necessário.

Apesar dos protestos da irmã, Cole não parava. Ele estava determinado a me deixar sufocar.

Não podia culpá-lo. Se metade dos boatos que espalhavam a meu respeito fossem verdadeiros, eu também não iria querer uma irmã minha andando com um cara como eu. Cole me conhecia há tempo o suficiente para saber exatamente como eu agia e o tipo de merda que saía da minha boca — os rumores não estavam tão distantes da realidade: eu era mesmo um babaca.

Depois do que pareceu uma eternidade, Zack o segurou pelos ombros e conseguiu nos separar. Eu não desperdicei a chance de acertar um soco no estômago do Cole.

Ele urrou.

De dor ou de raiva, eu não soube dizer.

Por cima de seu ombro, Zack me lançou um olhar reprovador. Ele ainda lutava para refrear o baterista, parecia quase arrependido de ter se colocado entre nós — estava a um passo ou menos de concluir que merecíamos nos arrebentar sozinhos.

Enquanto isso, Cole fervia de raiva. Ele queria brigar, me bateria de verdade se tivesse a chance, mas eu não podia cair nessa. Eu não era louco. April havia me dado uma chance. Cole era o irmão mais velho dela e eu não podia dar uma surra nele — então que o cara se cansasse sozinho.

Devagar, deixei meu corpo cair para trás. Minhas costas encontraram a parede e eu deslizei para baixo, até sentir o chão debaixo de mim. Eu me sentei em um movimento bêbado, nada gracioso. Cole ocupava um banco alto ao meu lado e espiava a plateia pela cortina pesada do camarim. Ele, assim como eu, tinha uma garrafa de cerveja em suas mãos e parecia mais calmo — depois de muito resistir, o baterista finalmente havia desistido de tentar me matar.

Isso não significava que ele estava menos inconformado com a situação:

— Por que a minha irmã? — Cole perguntou, quebrando o silêncio — Você podia ter todas as garotas que quisesse, mas escolheu ir atrás logo da minha irmã.

Não o respondi.

Nós dois sabíamos que ele não gostaria de ouvir a resposta.

Levei a garrafa meio vazia até os lábios e o amargor da cerveja invadiu minha boca. Eu não estava tão bêbado — pelo menos, não tanto quanto deveria estar. Parte da minha sobriedade, eu devia ao Cole: a adrenalina da fuga fez o álcool evaporar do meu sistema. Eu precisava continuar sóbrio se queria ser útil, mas também queria ficar calmo e não conseguiria atingir esse estado de abstração sem um gole de cerveja gelada.

O som de risadas explodiu do outro lado do cômodo e meu coração deu um salto no peito.

Nós continuávamos enfurnados no backstage, esperando nossa deixa para entrar no palco enquanto nossos amigos conversavam animados próximos a porta que levava a rua. Apesar de toda distração, o clima no pub não estava menos tenso. Cada barulho um pouco mais alto me deixava alerta.

— Você é muito sem noção — Cole resmungou baixo — O que você tinha na cabeça quando a trouxe para cá?

— Eu não a trouxe para cá.

Ele me lançou um olhar mortal sobre o ombro.

— Eu não trouxe April — disparei — Foi você quem disse que ela não viria hoje.

Cole sorriu sem humor, apoiando suas costas contra a parede:

— Minha irmã é a pessoa mais orgulhosa que eu conheço. Eu disse que daria um jeito de fazê-la ficar em casa. Ela teria ficado, se não fosse por você.

Tive que rir, exasperado.

Cole continuava a agir como se eu tivesse planejado isso o tempo todo.

— Eu nunca colocaria April em perigo — rebati.

Não de propósito.

Céus. Meu estômago embrulhava só em pensar na possibilidade que alguma coisa poderia acontecer a ela por minha culpa.

Procurei April pelo cômodo instintivamente. Não podia expulsá-la, nem prendê-la a mim pelo resto da noite — pelo menos não sem deixar claro que havia algo de errado acontecendo. Minha única alternativa era observar April à distância. Não fiquei surpreso ao avistá-la junto das amigas: estavam acomodadas em uma única poltrona, posando para fotos enquanto seguravam o primeiro pote de dinheiro arrecadado naquela noite.

Minha respiração escapou de meus pulmões em suspiro torturado.

Por mais estranho que fosse, apenas vê-la me tranquilizava.

Um rubor delicioso se alastrava pelo rosto de April, que ria para a câmera. Ela deixou a cabeça pender para trás e seus cabelos castanhos se derramaram por suas costas como ondas. Eu desci meus olhos por sua garganta, devorando cada centímetro de sua pele nua. A jaqueta preta caía por seus ombros, deixando à mostra o decote generoso e a renda fina de seu sutiã.

Quando voltei a olhar para cima, April me encarava. Havia luxúria em seus olhos castanhos e um sorriso safado se espalhava por seus lábios vermelhos. Ela cruzou suas pernas bem torneadas e arqueou seu corpo para mim — um espreguiçar lento, impossível de ignorar. Meu espetáculo particular. Não conseguia tirar meus olhos de suas curvas, nem afastar da minha mente a memória de seu beijo.

Inferno.

Antes que eu pudesse ceder à maldita tentação e agarrá-la de vez, um rangido metálico anunciou uma chegada: Finch atravessou a porta, trazendo consigo um pote vazio para substituir o cheio e nossos amigos puxaram alguma canção velha do colégio em êxtase: algo sobre companheiros leais e estudar a valer — tudo em um tom exagerado de bêbado. Pelo menos a coleta de dinheiro estava indo bem.

A comoção dentro do camarim foi tão grande que Cole olhou também, interessado em entender o que acontecia:

— Tarde demais, Campbell — a voz dele era cheia de desdém.

Minha paciência estava começando a se esgotar.

Eu me apoiei na parede e coloquei de pé, batendo a poeira das minhas roupas. O chão coberto por tapeçaria acumulava a sujeira de anos: guimbas de cigarros, poças secas e pegajosas de bebida... Aquela porra era um chiqueiro.

— Você disse que resolveria tudo.

— E eu vou resolver — ele se levantou também — Eu tenho um plano, já te disse.

Cole abriu novamente uma fresta na cortina escura e gesticulou em direção ao bar. No fundo do pub, próximos ao balcão, estavam os malucos da outra noite: Piggy e Milo pareciam procurar algo perdido entre os rostos jovens e sorridentes da multidão. O primeiro tinha uma boa vantagem de altura sobre os presentes, destacava-se como um poste em meio ao tumulto adolescente. Já Milo, sentava-se em um banco alto e bebia algo de um copo pequeno — seu olhar vagueava pelo cômodo como um gavião.

— Vou encontrá-los depois do show — Cole explicou — Eu trouxe o dinheiro. Meu dinheiro, antes que você diga alguma coisa estúpida.

— Puta que pariu — praguejei baixo, fechando a cortina à força — Não me diga que vai insistir naquele plano. Você teve esse tempo todo e não conseguiu pensar em nenhuma outra saída?

Assim que o confrontei com a pergunta, Cole estreitou os olhos e seu maxilar se moveu tenso sob a pele. O pouco de juízo que restava em sua cabeça era a única coisa que o impedia de avançar na minha direção.

— É responsabilidade minha resolver isso, tá legal? — disse seco — Não sua — houve uma pausa e ele acrescentou em voz baixa: — Eu fiz essa merda e vou dar um jeito. Não é a primeira vez que eu preciso lidar com esse tipo de gente.

Minhas sobrancelhas se arquearam e um sorriso irônico cresceu em meus lábios:

— Então você já fez isso antes? Que ótimo. Estou aliviado.

Pela primeira vez, o baterista hesitou. Ele encarava um ponto distante além da cortina e, por mais que seus ombros rígidos sustentassem a pose, a expressão hostil em seu rosto cedeu. Nem mesmo Cole conseguiria contar uma mentira tão grande. Passou uma mão pelo cabelo loiro e resmungou:

— Algo parecido.

Foi o que eu imaginei.

DEZ MINUTOS — Finch anunciou para o camarim, usando suas mãos para projetar o som — Dez minutos para entrarmos no palco.

Nós trocamos um olhar em silêncio.

Aquilo realmente estava acontecendo.

Havia uma multidão nos esperando lá fora, eles queriam ouvir nossa música. No meio daquelas pessoas, estava a dupla de patetas que nos ameaçou na outra noite: ao entrar no palco, nós estaríamos desafiando suas ordens diretas. O nervosismo que eu não senti antes atingiu meu estômago com a força de um soco — nós não sabíamos o que nos aguardava atrás daquela cortina, mas, seja lá o que fosse, não existia mais volta.

Quando encarei o irmão de April novamente, ele roía o polegar da mão ruim. Havia sangue seco na bandagem que protegia o corte. Cole disse a todo mundo que machucou enquanto treinava a bateria — eles engoliram a mentira, como se aquele cuzão fizesse algum esforço nos ensaios da The F Word.

— Diga a April para ficar no backstage — disse em meia voz, cuidadoso para que ninguém mais ouvisse — Não a perca de vista.

— Achei que nós tínhamos concordado que é impossível obrigar a April a fazer algo que não quer.

Enrugou as sobrancelhas escuras para mim, um contraste com seus cabelos loiros:

— Dá um jeito.

Lá fora, o burburinho da plateia se tornava cada vez mais alto, impossível de ignorar. Eram vozes que incitavam tumulto, assobios e clamores. O rock suave que atravessava os alto-falantes do pub foi interrompido, sinalizando nossa deixa para conectarmos os instrumentos ao aparelho de som.

Puta merda.

O silêncio repentino dos equipamentos fez meus ouvidos zumbirem. Tudo aquilo fazia parte do procedimento padrão, mas, diferente das outras vezes, meu estômago estava gelado.

Ao meu redor, o resto da banda realizava seu próprio ritual pré-palco: Finch entornava algumas com Seth, ambos arranhavam uma canção enquanto Zack fechava os olhos, franzindo a testa em concentração — isso até a namorada envolver seu pescoço em um abraço. Como o vocalista não era bobo nem nada, tomou a garota pela cintura e a beijou, provocando uma onda de aplausos e vaias pelo camarim.

Eu procurei April com os olhos, ansioso.

Queria vê-la também.

Meus dedos queimavam para tocá-la, senti-la entre minhas mãos. Era meu dever cuidar dela naquela noite. Eu a levaria para casa. April precisava ficar ao meu lado.

Quem sabe ela não se inspirava por aquela cena?

Meus planos de roubar um beijo de boa sorte de April foram por água abaixo graças ao irmão dela. Ele se aproximou uma última vez e disse entre dentes, como se não conseguisse mais conter suas queixas para si:

— Escuta — afundou seu dedo indicador no meu peito — Se começarem a chamar minha irmã de puta por sua causa...

Cole poderia estar caminhando para morte, mas ainda assim daria um jeito de proteger a honra da caçula.

Que heróico.

Alguém traga um prêmio para o irmão do ano.

— Isso não vai acontecer — empurrei sua mão para longe, irritado.

— Aconteceu com a Lexie.

Eu assenti, finalmente entendendo onde ele queria chegar.

O filho da puta estava apenas aguardando para trazer o nome dela à tona.

— Que se foda essa garota — explodi — Por que todo mundo age como se ela fosse minha responsabilidade?

Cole me encarou com um brilho afiado nos olhos, como se pela primeira vez pudesse enxergar o que estava por trás das minhas palavras — foi como se eu tivesse dado a resposta errada em um teste.

Isso só me deixou mais furioso.

Eu sabia o que ele estava pensando.

Se eu era capaz de tratar Lexie daquele jeito, o que me impedia de repetir a história com April?

Para começar, April não era Lexie.

Eu não estava a fim de sacaneá-la e nem ela à mim.

Nós podíamos trepar como animais às escondidas e mal trocar duas palavras na frente dos nossos amigos sem começar uma briga, mas era diferente quando estávamos juntos. Nós tínhamos uma conexão. Eu queria ficar com April e, por mais impossível que fosse, queria que ela escolhesse ficar comigo também.

Que se dane se começamos errado.

Não era da conta dele.

— Só tenta não foder tudo — o baterista se preparou para me dar as costas — Você tem talento para isso.

Meus lábios se repuxaram em um sorriso debochado.

— É o que dizem.

Cole continuou a me encarar, olhos fundos e sobrancelhas unidas.

— Eu estou falando sério — sua voz era baixa como um aviso.

Ah, vai se foder.

Eu comi sua irmã, sim, seu riquinho filho da puta.

Vai fazer o quê?

— Como foi que a minha reputação chegou aos seus ouvidos? — indaguei, encurtando a distância que nos separava com um passo — Foi sua irmãzinha, é? Aposto que ela gostou tanto de cavalgar meu pau que não conseguiu guardar segredo.

Cole avançou na minha direção como se pudesse me matar. Antes que ele conseguisse me estrangular pela segunda vez naquela noite e terminar o que começou, Finch se colocou entre nós, prevenindo um desastre de acontecer.

O fogo do inferno ardia nos olhos de Cole enquanto ele se debatia descontrolado, lutando para tentar se soltar.

Eu posso ter gritado "PODE VIR", envolvido pelo calor do momento, e um par de mãos familiares foi de encontro ao meu peito. April me empurrou para trás, na direção da parede. Ela se segurou ali enquanto Finch rebocava o baterista até o palco, onde o público nos aguardava.

Zack foi logo atrás, dizendo:

Não vai ter show se vocês quebrarem as mãos em uma briga! — a voz dele se misturou ao ruído dos fãs.

Mal pude ouvir a risada que Finch deu em resposta.

Os três desapareceram atrás da cortina e uma comoção tomou conta do pub. Eu deveria ser o próximo a entrar no palco. Todos esperavam por mim, mas não conseguia me mexer.

Meu peito subia e descia, ainda alterado pela discussão, e April me pressionava contra a parede, seu corpo colado ao meu. Ela não parecia brava, mas uma ruguinha teimosa insistia em crescer entre suas sobrancelhas. Minhas mãos cobriram as dela e acompanhei o interior de seus pulsos finos com os dedos enquanto algo gelado se agitava no meu estômago.

Era a adrenalina.

Só podia ser.

— Ei — April repetiu pela terceira vez, tentando chamar minha atenção — Olha para mim.

A mão dela tocou meu rosto e o ar escapou de meus pulmões, devagar. Quando puxei o fôlego novamente, o perfume de flores recém cortadas invadiu meu nariz. Nós estávamos próximos. Meus olhos pairavam sobre o topo de seus cabelos castanhos avermelhados. Eu podia beijar sua testa e inspirar aquele cheiro diretamente da raiz, se quisesse.

— Oi.

April estreitou seus olhos para mim, acusadora:

— Eu vou querer saber o que você conversou com meu irmão?

Fiz uma careta.

Uma simples pergunta foi suficiente para me transportar de volta para o presente, onde moravam meus problemas. Felizmente, ninguém além de Cole ouvira aquela provocação estúpida. Minha intenção era irritá-lo, não desrespeitar April.

— Não — minha voz soava áspera, definitiva.

Em parte, porque estava sem fôlego e, em parte, porque não queria que ela insistisse no assunto.

Se April soubesse o que havia acabado de dizer pro irmão dela, ela mandaria os amigos soltarem Cole e o ajudaria a me bater.

Homens — censurou conspiratória, subindo as unhas pelo meu braço — Vocês realmente precisam superar essa síndrome de macho alfa.

No próximo segundo, as luzes no camarim se apagaram. O resto do pub foi entregue à escuridão. O estouro metálico das baquetas contra os pratos da bateria foi tão alto que machucou meus tímpanos. Eu cerrei os dentes para o som, sentindo os ombros de April tremerem de susto.

— Faz parte da apresentação, princesa — murmurei, certo de que ela podia me ouvir.

"Se queremos impressionar, nós precisamos inovar" foi o que Zack disse, quando estávamos planejando o show. Ele pediu ajuda ao clube de audiovisual de St. Clair, que aceitou cuidar da iluminação como um favor — só não esperávamos receber de volta todo tipo de sugestão daquela trupe de nerds.

Aos poucos meus olhos se acostumaram à semi escuridão e eu passei meu braços ao redor de April com cuidado. A luz de emergência do camarim não demorou para se acender, iluminando parte de seu rosto enquanto todo resto permanecia envolto por sombras.

Encarei seus lábios, sem me importar se nossos amigos nos observavam. Eu precisava me despedir e entrar no palco — depois do show, eu a levaria para casa em segurança e nunca mais nenhum de nós voltaria a pisar aqui.

Havia tomado uma decisão: se Cole não queria que eu contasse aos outros sobre as drogas, tudo bem, eu poderia manter minha boca fechada — não era da minha conta, afinal —, mas eu não podia assisti-lo colocar nossos amigos em perigo. Eles tinham o direito de saber que estávamos oficialmente na mira da Sick Rabbit.

— Não deixe o backstage até o fim do show, April — meus olhos buscaram os dela e minhas mãos deslizaram para baixo, até sua bunda — Me espere aqui.

Ela franziu a testa, nem um pouco convencida.

— Como eu vou conseguir assistir alguma coisa atrás dessas cortinas?

— Área VIP? — eu abri um meio sorriso, apontando com o queixo para a lateral do palco.

Havia um espaço próximo às cortinas, escondido do olhar do público e com vista para o show. April torceu o canto da boca enquanto examinava o local, e eu aproximei meus lábios de seu ouvido:

— É pegar ou largar.

Um arranjo de cordas atravessou os alto-falantes e a plateia foi à loucura atrás das cortinas. Eles haviam terminado de se instalar no palco. Eu precisava deixar April.

— É assim que você faz suas vítimas? — ela se voltou para mim, roçando seu quadril contra o meu. Devagar. — Você seduz garotas inocentes com promessas de rock and roll e depois as leva para a cama?

Uma risada rouca escapou dos meus lábios enquanto April brincava com o volume que crescia nas minhas calças. Flashes de luzes ocasionais escaparam por frestas da cortina, iluminando o camarim escuro. Ela massageou meu pau e cravou suas unhas na minha nuca, suspirando.

Maldita.

— Depende — eu me aventurei a tocá-la debaixo de sua saia, afundando meus dedos em sua pele nua. Belisquei seu traseiro e April gemeu baixinho, encolhendo-se sob minhas mãos frias — Está funcionando?

Não esperei uma resposta.

Meus lábios encontraram os dela em um beijo ávido, cheio de fome. Puxei seu corpo para cima e esfreguei nossos quadris para que ela sentisse o que fazia comigo. Caralho. April era tão macia e quente. Eu queria provar sua saliva e respirar seu cheiro. Meter gostoso e senti-la desmanchar ao redor do meu pau. Não importava o que dissessem: enquanto estivesse em meus braços, April era minha.

Nosso amasso teria durado mais tempo se não tivessem nos interrompido com uma crise de tosse. O som foi seguido por risadas e piadinhas dos que ainda permaneciam ali — a luz de visores de celular iluminava seus rostos constrangidos.

Puta merda.

Eu estava atrasado para entrar no palco e de pau duro.

April se afastou de mim, respirando alto. Havia assombro em seus olhos, como se fossemos uma dupla de criminosos pegos em flagrante e não um maldito casal. A mão dela pairou sobre meu peito, como se hesitasse entre me tocar ou não, e para mim aquela foi a última gota.

Nós não tínhamos mais tempo para aquela indecisão — aproveitei sua confusão e me inclinei para um último beijo: um estalar de lábios casto, exatamente o oposto do que eu precisava.

— Eu vou me comportar — minha voz soava rouca, sem fôlego.

Era uma promessa.

Não havia motivo para ela se envergonhar de mim.

April não sorriu. Me encarava com uma expressão intensa em seu rosto, impossível de decifrar. A luz difusa do camarim se derramava por seu nariz arrebitado, sua boca entreaberta e seus olhos brilhantes.

— Que bom — arfou — Um de nós precisa fazer isso.

Antes que eu pudesse processar essa frase, as mãos dela se agarraram à minha jaqueta. April puxou meu lábio inferior entre seus dentes e me beijou. Devagar. Meu coração batia feito louco em meu peito enquanto sua língua fazia um movimento paciente, de sua boca para minha. A desgraçada beijava bem pra caralho.

Quando eu estava começando a considerar pedir mais cinco minutos, a cortina se agitou:

CAMPBELL, COMO É QUE É? — Zack tropeçou às cegas para dentro — NÓS TEMOS UM SHOW PARA APRESENTAR.

Eu grunhi.

Não era possível.

— Anda, meu povo — Zack bateu palmas para nos apressar — Tem hora e lugar pra isso.

April se afastou com uma risada, descendo suas mãos pelos meus braços:

— Foi mal.

Assenti, umedecendo os lábios.

Não podíamos mais adiar aquela despedida. Em silêncio, ajeitei as calças para disfarçar o volume e dei as costas para April.

Se a beijasse mais uma vez, não conseguiria soltá-la por nada no mundo.

— Te vejo do outro lado — Zack depositou um tapa nas minhas costas, sumindo atrás da cortina.

Muito bem.

Eu posso fazer isso.

Um passo após o outro, eu caminhei até a cortina. O tecido pesado se arrastou pelos meus ombros e subi no palco, atento aos arredores. Engraçado que, mesmo no escuro, eu senti a atmosfera mudar — era como mergulhar em um penhasco, só que a sensação era mil vezes melhor. Aquele frio na barriga era inigualável. Enquanto meus olhos se acostumavam à escuridão, o burburinho da plateia e os assobios agudos invadiam meus ouvidos. Um flash de luz repentino iluminou o pub e eu avancei até a beirada do palco, onde meu baixo repousava em um suporte.

Metros acima das nossas cabeças, faixas de luz foram projetadas do teto. Eu vesti a alça pelos meus ombros, encaixando o último plug ao instrumento. Um zumbido familiar atravessou os alto-falantes e o público gritou incentivos enquanto nos posicionávamos sobre o palco.

Caralho.

Isso era contagiante.

Meu sangue parecia vibrar debaixo da pele, carregado de adrenalina.

Assim que os acordes da guitarra irromperam das caixas de som, Zack aproximou a boca do microfone e sua voz se alastrou pelo estabelecimento. Os primeiros versos rasparam as paredes, liberando fagulhas e ateando fogo a tudo. No limite do palco, o público pulava de acordo com a batida. Meus dedos se moveram sobre as cordas do baixo e a música fluiu, estourando os alto-falantes.

As luzes finalmente se acenderam e meu coração deu um pulo no peito. Dividi minha atenção entre dedilhar o baixo e procurar aqueles palhaços no meio da multidão. Quando não os encontrei, lancei um olhar por cima do ombro, onde sabia que Cole tocava a bateria. A julgar pela expressão tensa em seu rosto, ele já havia percebido a movimentação.

O suor começava a se acumular nas minhas costas.

Dei um passo na direção do microfone que eu dividia com Finch. Nós não cantávamos, só auxiliávamos nos vocais quando a música pedia.

Zack andou sobre o palco, incitando a plateia, e eu saí do caminho. Meu cabelo começava a grudar na minha testa. Desci minha mão pelas casas do contrabaixo, dessa vez, preocupado em encontrar April. Uma dose cavalar de alívio me atingiu quando a avistei na lateral do palco.

Tudo que eu precisava fazer era não perdê-la de vista até o fim do show.

Como se soubesse que eu pensava nela, April abriu um sorriso travesso. Ela dançava ao lado das amigas e movia sua boca de acordo com a letra, mas era tanto barulho que não podia ouvir sua voz.

Finch passou por mim, pulando com a guitarra. Eu tive que escapar para o outro lado do palco, onde não seria atropelado. Chegando lá, um grupo de meninas gritou algo em uníssono para mim e eu sorri, meneando a cabeça negativamente. Não podia ignorar fãs só porque April estava olhando.

Assim que a primeira música acabou, Zack sorriu para a multidão:

— Obrigado — ele puxou os cabelos que caíam sobre seus olhos para trás — Meu nome é Zack Dempsey. Aquele que vocês acabaram de ouvir, arrasando na guitarra, é Finch Abberley. Temos Hunter Campbell no contrabaixo e Cole Wright na bateria. Nós somos a The F Word e vamos tocar para vocês essa noite.



A P R I L


— Que babaca — a explosão escapou de meus lábios tão violenta que nem mesmo a música alta do show foi capaz de abafá-la.

Zoe se voltou para mim com um olhar impressionado. Seus cabelos longos se esvoaçaram em puro movimento e caíram pesados sobre seus ombros, emoldurando seu rosto.

Foi mal — aproximei minha boca de seu ouvido — É só o Hunter.

Bastou ouvir o nome que minha amiga assentiu em concordância, como se aquela fosse uma justificativa boa o suficiente para praguejar em voz alta.

Viu só?

Ele era mesmo um gostoso.

Digo, um babaca.

Sério. Eu sabia que Campbell era um músico, mas ele precisava mesmo se exibir daquele jeito? Sempre provocando a multidão com sorrisinhos e piscadelas? Minha paciência tinha limites. Quer dizer, eu não era ciumenta. Não mesmo, mas era uma cena difícil de assistir: Hunter se aproximou da beirada do palco e se inclinou para baixo, dirigindo as meninas à loucura. Elas se espremeram em sua direção, pulando no ritmo da música e cantando aos berros.

Tudo bem.

Explicando assim, não parecia nada demais. Talvez a bebida estivesse subindo a minha cabeça.

Outra música começou. Hunter deixou a cabeça pender para trás e moveu as mãos sobre o baixo sem hesitação. Observei o momento em que seus olhos se fecharam e sua boca se entreabriu como no sexo. Eu estava tão hipnotizada que esqueci onde estávamos. O som grave do instrumento atravessou os alto-falantes e reverberou pelo meu corpo, arrepiando minha pele.

Céus.

Observá-lo tocar era pornográfico.

Eu precisava perdoar aquelas garotas — como uma pobre adolescente que também sofria atormentada por hormônios enfurecidos, eu as entendia. Quem não surtaria diante de uma visão daquelas?

E coitado do Hunter.

Em pensar que eu cheguei perto de cortá-lo em pedacinhos...

O torpor da bebida estava quase voltando a assumir meu corpo quando uma pequena peça preta atingiu o chão do palco. Eu franzi o cenho. Não era possível. Aquilo parecia com um... Havia um sutiã jogado aos pés de Hunter?

Quando olhei para o lado, minhas amigas me encaravam assustadas.

— April — Jackie me agarrou pelo braço — Joga o seu também. Olha.

Ela usou a mão livre para trabalhar contra o fecho do sutiã debaixo da camisa larga. Desceu as alças pelos braços e puxou a peça delicada pela manga. Encarei sem acreditar quando Jackie jogou o top de renda alguns metros à frente, no chão amadeirado do palco.

— Viu só? — minha amiga sorriu como se compartilhasse uma ideia genial.

Meu corpo inteiro tremeu antes da risada escapar dos meus lábios. Eu tinha lágrimas nos olhos quando Finch recolheu o top de renda branca do chão e nos observou com uma sobrancelha erguida. O guitarrista piscou para nós e o pendurou no suporte do microfone, voltando a tocar.

Minha nossa.

— Você é perfeita — eu abracei Jackie, inspirando o cheiro de jasmim em seu pescoço.

— Garota — ela aceitou o abraço — Você está muito bêbada.

Eu tô bêbada? Você está bêbada.

Nós continuamos abraçadas e discutindo, até Zoe nos avisar que a última música havia acabado. Ela queria descer do palco e buscar uma bebida no bar. Jackie concordou, dizendo que aquela seria uma ótima ideia e eu continuei rindo sozinha por causa do sutiã.

Tudo bem. Talvez eu estivesse um pouquinho bêbada.

E daí?



H U N T E R


Quando a primeira pessoa subiu no palco, nós não tínhamos chegado ao fim da última música. Era um maluco que havia exagerado na bebida. Ele começou a pular no ritmo da batida, sacudindo as tábuas de madeira sob nossos pés. Nenhum de nós se incomodou em expulsar o cara — para falar a verdade, foi até engraçado observá-lo saltitando de um lado para o outro como uma pulga. Nossa falta de resposta deve ter incentivado a próxima pessoa a subir no palco, assim como o grupo que veio junto com ela, e todos os outros.

A situação saiu do controle muito rápido.

Antes que pudesse evitar, eu estava cercado. Nós paramos de tocar e o ruído dos instrumentos atravessou os alto-falantes. Eram fãs pedindo fotos, garotas sorrindo e conhecidos do colégio me dando tapinhas nas minhas costas. Comecei a surtar assim que voltei os olhos para a lateral do palco e não encontrei April. Havia muita gente no meu caminho. Não conseguiria atravessar a multidão. Tentei me esticar para enxergá-la por cima das cabeças. Pensei ter visto April sentada no chão do palco, estendendo a mão para alguém na plateia, mas isso não fazia sentido.

Ela estava descendo do palco?

Subi a alça amarela pelos meus ombros e Seth tomou o baixo da minha mão. Ele e Finch estavam encarregados de guardar todo o equipamento da banda no furgão.

— Em quanto tempo vocês conseguem desmontar tudo? — eu gritei sobre o barulho da multidão.

Seth franziu o cenho para mim.

— Meia hora. Eu posso chamar mais uma pessoa para ajudar.

— Faça isso — apertei seu ombro — A gente precisa sair daqui.

Ele me encarou de um jeito que raramente fazia, sem o brilho sacana nos olhos. Pareceu entender que eu pedia um favor importante.

— Tudo bem — Seth assentiu pensativo, enfiando uma mão em seus cabelos ruivos — Vou ver o que posso fazer.

Nós trocamos um cumprimento e ele partiu na direção de Finch, que se exibia para um grupo de fãs. Seria difícil convencê-lo a parar de azarar garotas e trabalhar, mas nós precisávamos disso.

Tudo bem. Eu precisava confiar que Seth resolvia esse problema e partir para o próximo. Meu coração bateu forte no peito só em pensar: onde caralhos estava April?



A P R I L


— Não solte a minha mão, April — Zoe me avisou, mirando fundo nos meus olhos.

Caramba.

Nunca havia reparado nos cílios dela. Eram tão longos.

— Eu perdi a Jackie, mas ela disse que estava indo para a saída — continuou próxima ao meu ouvido — Então fica perto de mim, tá legal?

— Tudo bem — concordei, sorrindo de leve.

A mão dela se apertou ao redor da minha e ela me puxou em direção a porta. Franzi as sobrancelhas. Se Zoe queria me rebocar por aí, tudo bem, mas eu não precisava de babá. Eu estava bem. Havia bebido só um pouquinho. E depois um pouquinho mais, mas bem pouquinho mesmo.

Nós seguimos em frente e, conforme nos aproximávamos da entrada, a massa de pessoas se afunilava para atravessar a passagem. Era muita gente para pouco espaço. Eu me deixei espremer entre os corpos, arrastando os outros comigo e recebendo todo tipo de xingamento em troca.

— Só gente educada — falei em meia voz.

Teria falado mais alto se não tivesse medo de apanhar.

Viu só? Eu ainda tinha discernimento.

A mão de Zoe estava suando. Não entendi por que ela estava tão nervosa. Passamos pela porta carregadas pelo tumulto e o céu noturno logo se abriu sobre nossas cabeças. Eu tropecei para fora, rindo. Minha amiga continuou a me puxar. Ela deve ter caído. Algum idiota passou entre nós, me obrigando a soltá-la. Ele respirou próximo ao meu rosto, resmungando algo inteligível e o bafo de cigarro atingiu meu nariz.

Quando estiquei minha mão de novo, segurei um pulso mais fino. Não era Zoe. A mulher que eu agarrei por acidente se virou para mim com uma expressão ferina em seus olhos, se desvencilhando do meu toque:

— Cai fora, criança.

Tudo bem.

Isso não era motivo para ficar assustada.

Eu tinha dezessete anos, não cinco. Zoe estava aqui, os meninos também. Não era exatamente uma multidão de rostos amigáveis, mas eu precisava tentar encontrá-los. Meu primeiro instinto foi seguir para longe do tumulto e procurar um lugar calmo para fazer uma ligação.

Agarrada à minha bolsa, avancei em direção ao centro da rua e um esbarrão violento me fez perder o equilíbrio. Meus pés derraparam sobre o chão enquanto uma enxurrada de xingamentos invadia meus ouvidos.

Meu coração batia disparado contra minhas costelas.

Certo.

Talvez o álcool fosse mesmo um problema.

As pessoas corriam e a confusão se dispersava rápido. Ouvi gritos, risadas bêbadas. Abri caminho a cotoveladas, dessa vez decidida.

Merda.

Para todo lugar que eu olhava, havia pessoas mais velhas. Tinham a idade da minha mãe para ser exata, talvez menos, mas não eram nem de longe tão saudáveis ou bem cuidadas. As mulheres vestiam roupas apertadas e maquiagens borradas. Alguns homens pareciam motoqueiros de verdade, como nos filmes, outros vestiam agasalhos esportivos.

Esquerda.

Eu precisava tomar a esquerda. Zoe havia seguido naquela direção também, certo? Ela ainda deveria estar por ali. Eu enfiei minha mão dentro da bolsa e o olhar de dois homens, muito parados no meio do tumulto, me fez congelar.

Merda.

Eles definitivamente me encaravam. Não quis ficar ali para descobrir o que aconteceria. Eu avancei em direção a esquina, onde um grupo de meninas estava reunido. Andei em direção às suas risadas, certa de que me sentiria segura para sacar o celular perto delas.

Quando faltava pouco para alcançá-las, eu o vi.

Meu irmão.

O topo de seu cabelo loiro iluminado pela luz amarelada de um poste da rua. Vi seu nariz reto e perfeito, como o meu. Definitivamente, não pertencia àquele lugar. Ele conversava com um homem que estava de costas para mim, lhe estendeu a mão e ergueu o queixo em um cumprimento. Meus olhos se arregalaram ao avistar o maço de dinheiro que passava de sua mão para a do homem.

Eu sabia! — arfei, indo em sua direção.

Cole pensava que eu era estúpida?

Há semanas o comportamento dele estava esquisito. Se ele achava que podia se afundar em drogas por esporte, estava mais do que enganado.

Havia um grupo de pessoas reunidas ao redor dele para conversar. Um homem se moveu na direção de Cole, obstruindo minha visão, e eu teria perdido meu irmão de vista se não estivesse tão obstinada a alcançá-lo.

Para o meu azar, eu tropecei em alguém pelo caminho. O chão começou a se aproximar e, antes que eu aterrizasse de cara no asfalto, o homem me segurou pelo pulso:

— Algum problema, gatinha? — o cheiro de álcool ardeu em meu nariz — Você parece preocupada.

Tentei me soltar, mas foi em vão.

Ele era mais forte do que eu. Até tentei me soltar, mas não tinha como escapar daquele aperto. Cerrei os dentes enquanto seus dedos se fechavam rentes ao meu pulso. Meus olhos estavam grudados no chão. Eu não queria ver o rosto dele, mas me obriguei a erguer o queixo:

— Eu estou bem — minha voz soava ríspida.

Não queria que aquele homem descobrisse que eu estava com medo. Não queria aparentar ser mais fraca do que já era. Por isso, resisti. Encarei o fundo de seus olhos, desejando que ele encontrasse algo para temer nos meus.

— Não, não. Eu sei dizer quando uma garota está preocupada — ele segurou meu queixo, bem humorado — Vamos. Qual o problema? Você pode me dizer.

Sacudi meu braço de novo, lutando para me afastar.

— Eu preciso encontrar meu irmão — disse entre dentes.

— O de cabelo engraçado? — o homem sorriu exibindo seu dente de ouro — Parece que ele sumiu.

Meu rosto desabou em confusão.

Ele conhecia Cole?

Olhei na direção que meu irmão estava um segundo atrás e não o encontrei.

— Eu preciso achá-lo.

Ei, ei — ele amaciou a voz, como se falasse com um filhote de gato — Por que tanta pressa? Assim vou pensar que você está com medo de mim.

— Não posso perdê-lo de vista — puxei outra vez, sem me deixar vencer pela frustração — Ele não vai me deixar, está vindo me procurar. Nós vamos para casa juntos.

— Você não está sozinha, acabou de fazer um amigo — disse, sem desistir de sorrir — Eu sou Milo. Qual seu nome?

Fechei minhas mãos em punhos.

Não queria conversar. Eu queria que ele me soltasse.

Minha garganta começava a se fechar de medo e eu mal conseguia respirar.

— Me solta. Me solta agora, seu bastardo.

— Como é que é? — ele riu debochado, se inclinando para mim.

O desgraçado fingia não me ouvir. Observei seu nariz torto, me preparando para acertá-lo. Na minha mente, não existia outro caminho. O perigo disparava todos os alarmes em minha mente. Me deixava burra, tremendo com a adrenalina.

— Me solta — dessa vez eu gritava, uma palavra mais alto que a outra —, bastardo desgraçado.

Odiei como minha voz soou aguda.

Milo, o homem que segurava meu braço, finalmente me soltou. Eu ofeguei, sem acreditar no que havia acabado de acontecer. No entanto, antes que eu conseguisse correr, sua mão livre se fechou ao redor do meu pescoço e ele me empurrou com força para baixo. Meus olhos se arregalaram em pavor e um grito mudo estava preso em meus lábios.

— O que foi que você disse, sua piranha? — o homem rugiu.

Finalmente, o ódio que existia dentro dele veio à margem.

Milo me empurrou para baixo mais uma vez e meus joelhos se dobraram. Não consegui lutar contra seu aperto. A cena parecia surreal demais para entrar na minha cabeça. A barreira que protegia meu mundinho de privilégios se partia como a casca de uma noz e a verdade inundava minha percepção. Aquilo era violência. Pura, direto da fonte. Ele queria me machucar, eu via isso em seus olhos estreitos de pitbull.

Merda.

Eu não sabia lutar.

Meu joelho se dobrou para encontrar o nada. Cravei meus dedos em seu braço e com a mão livre golpeei seu rosto, rasgando com as unhas o que estava ao meu alcance. Isso só o deixou mais irritado. Eu tossi por ar, sentindo o aperto se intensificar.

Quando acertar as bolas dele com todas as minhas forças pareceu ser minha única saída, uma voz cortante irrompeu da rua escura atrás de mim:

— Solta ela.







N/A: Fala, gostosas!

O que acharam do capítulo?

Muitas emoções???

Como eu estava super ansiosa para postar e morrendo de saudades, esse capítulo ainda não passou por uma revisão. Preciso lê-lo novamente em busca de erros. Qualquer coisa me avisem. Tomara que o Wattpad não esteja muito bugado!!! Enfim, ainda essa semana eu devo mexer nesse capítulo para adicionar as mídias e deixar bonitinho, consertar os erros.

Boa semana para vocês.

Beijinhos,

B.

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