° Capítulo 10 °
Livros empilhados de forma organizada evidenciava o perfeccionismo da felina, uma de suas muitas manias, logo tratou de seguir com a ajuda de Mason que embalava mais livros nas caixas no chão, o que acabou por melhorar seu humor. Naquela manhã do dia seguinte o americano sugira na sua porta indagando se não queria ajudava na feira de livros doados que ocorreria dali alguns dias, apesar do peso da procurar do livro dos mortos, que ainda a deixava inquieta, ela acatou ao pedido do humano.
Era uma boa opção repassar adiante o que aprendera com alguns exemplares dos mortais, certos beiravam a verdade que ousavam surpreender a deusa, os humanos tinham uma certa sagacidade que ela avaliara na sua imortalidade.
— Simbologia, arte e percepção da vida egípcia —Mason listou alguns dos livros na mesa. — Nada de romance, senhorita Cat?
Bastet virou-se fazendo o vestido rodopiar, seu olhar ferino mirou os olhos azuis do mortal que esperava uma resposta.
— Não perco tempo com trivialidades — falou dando de ombros, alinhou as mechas escuras bagunçadas pelo vento que percorria na varanda.
Mason aproximou-se exibindo os bíceps sobre a camisa despojada, diferente do costumeiro terno que muitos o viam por aí, apoiou o braço sobre a bancada levando Bastet vislumbrar seu rosto novamente, era admirável, ela constatou.
— Nicholas Sparks não é trivialidade — ele retrucou com humor.
— Romances baseados algo superficial e com um final feliz? — ela debochou. — Não me impressiona.
Os fios rodopiaram com o vento enquanto Mason soltou uma risada humorada, o humano voltou a fitá-la estimulando a deusa olhá-lo de volta, a simplicidade ao mesmo tempo profunda reforçava a visão que ela havia criado sobre ele, Mason Robert guardava segredos que em outra situação levaria a deusa querer descobrir com afinco.
— Todo mundo merece um final feliz, Cat — Mason disse com sinceridade.
Contudo a deusa não evitou rolar os olhos claros em discordância, isso sim soava com um clichê de romances que ele defendia.
— Nem todos são dignos, Mason — ela retorquiu. — Não me faça perder a admiração que tenho em você.
— Jamais — sussurrou. — Mas você acha que merece um final triste? Você vale mais que isso.
Muitos deuses desconheciam essa palavra, fim, eles só existiam e viam tudo florescer e se decompor, aquilo era um final justo para ele? Bastet julgava que não.
Ela virou-se novamente se apoiando na mesa improvisada de livros, seus olhos estampavam ceticismo diante Mason, que ainda demonstrava interesse no ponto de vista da deusa.
— E você pretende dá-me? — ela questionou irônica.
Mason era um quase um nobre, sorriso singelos, personalidade marcante e uma certa refinaria, lembrava seu tempo durante os séculos quando observava os mortais com curiosidade.
— Se for do seu desejo, senhorita — ele falou, encurralando a deusa entre a mesa dos livros e seu corpo desenhado.
Com um toque suave ele ergueu o rosto da deusa à altura do seu, os traços delicados de Mason formavam um rearranjo quase utópico com sua boca entreaberta, Bastet o fitou sem desviar. Devia afastá-lo de imediato, ela sabia que ele não se oporia e respeitaria sua vontade de prontidão, no entanto seu braço erguido traçou seu maxilar vagarosamente.
Nunca havia o beijado.
— Você pode tentar — ela deu permissão, talvez a faria esquecer o que estava perturbando sua mente.
Um sorriso bobo, quase apaixonado, formou-se nos lábios do mortal, Mason guiou seu rosto centímetro perto da deusa fazendo a mesma fechar os olhos inspirando fundo, que mal haveria ali?
Sentia a respiração dele perto do seu rosto, enquanto seus dedos entravam entre as mechas escuras do cabelo da felina.
— Cat!
A voz aguda conhecida fez ela abrir os olhos novamente, mas o sorriso que acompanhara não durou, atrás do corpo magro de Malu havia alguém muito mais alto e com um rosto inconfundível. Bastet se forçou a manter a calma fechando seus punhos, por Maat, só podiam estar conspirando contra ela.
— Não queríamos atrapalhar — Malu falou se aproximou, com ele ao seu encalço.
— Não estão — Mason garantiu se afastando levemente da deusa, que ainda fitava ele. — Uma ajuda é sempre bem vinda.
Bastet agradeceu pela intervenção de Mason, ainda estava com dificuldade para assimilar tudo isso, cruzou os braços encarando os olhos castanhos do garoto procurando uma razão coerente para a presença dele ali. Essa travessura não passaria despercebida.
— Isso é para a feira de livros doados? — Malu questionou pegando um dos livros na caixa, ainda inerte para situação ao seu redor.
— Sim, Cat está doando alguns — Mason explicou trazendo a atenção da deusa de volta para a conversa. — Seu amigo não se importa de ajudar com as caixas? Meu carro não está muito longe.
— A-ah bem — Malu começou, se possível teria corado. — Quero apresentar para vocês meu namorado, Tarden.
As mãos entrelaçadas dos dois não passara despercebida dos dois, Bastet queria discorrer dos variados motivos daquilo ser errado, eles eram errados. Quis se amaldiçoar por ter sido tão imprudente, há quanto tempo eles estavam nessa brincadeira infame? Era por ele que Malu a havia indagado anteriormente?
No vazio de sua mente a voz de Sekhmet reverberava, talvez ela deixara sua sagacidade de lado por tempo demais.
— Eu o conheço — ela finalmente falou, reprimindo a raiva.
A deusa fitou o sobrinho como um sinal para por um fim naquela farsa medíocre, Tarden estava indo longe demais. Contudo dois pares de olhos alternaram entre a deusa e o garoto, que a olhava tentando manter a calma diante do que ela falara.
— Você nunca me falou disso. — Malu virou-se confusa para Tarden.
Ele não ousaria falar, a deusa pensou.
— Não achei que fosse importante — ele desconversou. — Cat meio que conhece meu pai, ele tem seus contatos.
Tanto Malu como Mason voltaram-se para a felina esperando uma afirmação, que ela teve que se submeter assentindo, mesmo com sua vontade de desmascarar o garoto imprudente aquele não era o momento correto, Tarden teria seu castigo em breve.
Malu suavizou seu semblante confuso, assim como Mason, para ambos aquilo ainda era um tanto mórbido. Seguiram arrumando os últimos livros com a ajuda de Tarden, que ao decorrer explicara como havia conhecido a jovem mortal, um esbarro na biblioteca e alguns passeios durante o inverno, e ali estavam os dois trocando olhares apaixonados, Bastet acreditaria se não o conhecesse, havia mais coisa que não contara, faria questão de ouvi-las.
Quando percebeu que seu sobrinho estava tentando se esgueirar junto com Malu, assim que Mason anunciou de sua saída, a deusa percorreu o olhar autoritário sobre o garoto temeroso, em hipótese alguma iria escapar.
A felina desceu os pequenos degraus da varanda parando ao lado do jovem casal, que trocou um beijo tímido, Bastet teve que comprimir os lábios contragosto. Suas duas crianças mais protegidas estavam ali colocando tudo em risco.
— Tarden pode me acompanhar até a casa do pai dele — Bastet sugeriu, quando ao dois se afastaram por um momento. — Se não for incomodá-lo.
— Sem problema — ele concordou forçando um sorriso apreensivo.
Mas Malu ainda os olhava um olhar questionador, talvez algo não fazia sentido para ela no ponto de vista de Bastet, mesmo com Tarden inventando que seu pai e a deusa eram amigos de longa da data, dúvidas sempre pairavam no ar. Contudo, logo a mortal destinou um aceno para ambos antes de entrar no carro de Mason, ele a levaria para casa.
A deusa seguiu para a parte de trás do carro, com os braços cruzados ela fitou Mason, o qual aparentava pouco interesse no que sucedera, talvez um tanto descontente. Ela não podia julgá-lo, uma parte de si sentiu um desejo em saber o que o dono dos olhos azuis poderia proporcionar, ele faria jus as suas palavras?
— Eles merecem um final feliz, não acha? — Mason falou, dando um passo adiante.
— Desconfio que ele não seria capaz — sussurrou em aversão, Tarden estava num fogo cruzado.
— Ele parece um bom garoto, tente não assustá-lo — o mortal piscou logo após beijando o rosto da deusa, Mason e seu otimismo.
Assim que o carro virou na primeira esquina a deusa adentrou a casa novamente, o dia só estava começando, presumiu.
Tarden não demonstrava o mínimo resquício de arrependimento ou culpa, a forma como seus dedos desciam pela tela do celular frio irritou ela, aquilo estava sendo uma afronta para ela.
— Imagino que ache divertido todo esse teatro — ponderou, sentando-se na poltrona.
O mais novo respirou fatigado, reação que a deusa julgava infantil. Seu sobrinho havia ultrapassado o limite e ela não iria tolerar.
— Não comece por aí, tia — ele advertiu.
Bastet conhecia aquele semblante sério que o garoto expressava, ali era impossível negar sua partenidade. Anúbis direcionar a mesma seriedade, por baixo das sobrancelhas escuras, frequentemente.
Contudo ela conhecia cada faceta de Tarden, nada assustaria.
— Não ouse usar esse tom comigo, garoto — ela retrucou. — Você acha que tudo isso é brincadeira? brincar com ela?
— Eu gos—
— Não você não gosta, se tivesse o mínimo de afeto não estaria com ela, não falaria com ela muito menos chegaria perto.
Mesmo visivelmente contrariado ele não se objetou a desviar os olhos, sua teimosia insistia. A felina não precisava de muitas palavras vinda dele para saber que não faria sua vontade facilmente, porém ele cedaria querendo ou não.
— Malu foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida — ele confessou com sinceridade. — Ela é linda, inteligente, engraçada mesmo tímida.
Jovens sobre efeito de paixão sempre destinavam as melhores qualidades para seu parceiro. A juventude vivia num mundo paralelo.
— Mas ela não é para você — Bastet foi incisiva, podia estar aparentando ser cruel mas era o melhor para os dois.
No entanto, Tarden não dividia a mesma opinião, ela viu o desapontamento no seu rosto, ele esperava uma compreensão, que possivelmente não viria.
— Fui idiota em achar que você entenderia — ele riu de escárnio.
— Não obrigue ela rastejar para esse turbilhão de problemas que temos — era a primeira vez que ela falava com tranquilidade. — Malu merece uma vida calma e se possível feliz.
O mundo de caos e disputa por superioridade formulava a convivência de muito deuses. Um ponto de fraqueza era o suficiente para colocar tudo a perder, e a deusa se recusaria ver sua pequena humana em meio tudo isso. Malu devia ter o melhor que a vida humana podia oferecer.
Contudo, seu sobrinho ainda a fitava a procura de um argumento mais sólido. Seria um caminho árduo.
— Nenhum de vocês entendem — ele protestou. — Não vou viver nas sombras como vocês, não vou me privar de ser feliz e vou protegê-la.
A voz grave carregava uma segurança que fez a deusa balançar a cabeça em reprovação, tanta teimosia e insistência o levariam à morte.
Bastet se aproximou segurando o queixo do garoto entre as unhas afiadas, analisando cada traçado conhecido. Tarden ainda era seu querido, ela lutaria dezenas de guerra só para ver seu bem estar e ali estava ele recusando qualquer ato que pudesse conservar sua vida.
O mais jovem não a afastou, pelo contrário, a olhava com sem demonstrar medo, seus olhos castanhos cintilavam não deixando margem de dúvidas, em outra ocasião Bastet sentiria admiração.
— Termine com ela — a felina disse, suas pupilas dilatadas foram incisivas. — Para o seu bem e o dela.
— Não vou fazer isso — ele retrucou sem medo. — Meu avô permitiu, ele não viu problema.
Devia haver algum engano nas palavras do seu sobrinho, Rá não seria tão tolo de apoiar um romance tão desencabido. Sua sabedoria deveria está acima disso e não incentivar Tarden em romances bobos.
— Ele ainda não viu problema — Bastet soltou o rosto garoto e começou a andar pela sala. — Não caia na bobagem que tudo são rosas, Tarden.
— Não sou vocês, não tenho medo de Hades ou qualquer outro deus.— ele vociferou.
Antes que a deusa tivesse a oportunidade de amaldiçoá-lo o garoto sumiu entre os fundos da casa. Comprimiu os lábios rosados, Tarden já estava correndo em direção a um precipício e ela não saberia que tamanho daquela faria.
Zero supresas 😅
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