XVII
Enquanto andava pelo corredor que daria para o salão de baile do palácio, Adam procurava no meio daquelas pessoas por Scarlett, queria reservar a primeira dança dela para ele. Mas não conseguia localizá-la, então seguiria sua atenção na conversa com seu primo, o Primeiro-ministro e Edric.
Precisa ficar atento a cada conversa, estava completamente alheio aos assuntos que ocorriam no mundo.
— Não acho que os espanhóis vão tentar alguma coisa com Portugal agora. — disse o Primeiro-ministro. — Seria uma enorme covardia, os portugueses precisam se recuperar da guerra.
— Como está a jovem rainha Maria? — perguntou Edric.
— Ainda vai ser coroada, ela nos enviou um convite.
— Não sei se seria uma boa decisão eu ir. — disse George.
— A culpa não foi sua pelo o início do conflito, Majestade. — Edric deu de ombros. — Alguns reis são tolos em suas escolhas, e esquecem as consequências.
Adam semicerrou os olhos para Edric.
— Majestade, permanece tão calado, não está gostando da nossa conversa?
— Não tenho muito o que dizer, senhor. Estou desatualizado dos acontecimentos mundiais.
— Oh, claro. Precisa se atualizar dos assuntos com urgência, Majestade.
— Farei isso em breve, senhor.
As portas foram abertas, revelando o imenso salão iluminado. Logo o som da orquestra tomou conta do lugar, com uma valsa bastante agradável. Quando ele menos esperava, George já estava dançando com Charlotte no meio do salão. Era o exemplo de casal perfeito, ou quase perfeito.
— Fico encantada quando os vejo dançando tão apaixonadamente. — ouviu a voz de Scarlett. — Boa noite, Adam. Foi muito difícil achá-lo.
Seu coração acelerou um pouco.
— Também não consegui achá-la.
— Cheguei atrasada.
— Pensei que sempre fosse pontual.
— Sou, algumas vezes é preciso quebrar a regra. — exibiu um sorriso amarelo.
— Seu pai e sua madrasta chegaram mais cedo com sua irmã.
— Evitei vir com eles por causa da minha madrasta.
— Ela fez alguma coisa com você?
— Não, é apenas implicância minha.
— Não poderia, não sei, tentar melhorar a situação?
— Não. — seu rosto se fechou completamente. — Podemos mudar de assunto?
— Claro. Quer dançar comigo?
— Seria uma honra, Majestade.
Adam ofereceu a mão para Scarlett, que aceitou com um sorriso. Andaram até o centro do salão, e começaram a dançar.
Entraram em uma completa sintonia, ela dançava muitíssimo bem. Seus olhos brilhavam quando entravam em contato com as luzes, seu sorriso aumentava a cada rodopio, parecia um anjo.
— Seu rosto fica tão belo quando está sorrindo. — comentou Scarlett. — Deveria ficar assim o máximo de tempo possível.
— Meu rosto ficaria doendo.
— Doeria por uma causa nobre, pense sobre isso.
— Pode deixar. — sorriu largamente.
— Ótimo.
— Não gosta de ser contrariada Srta. Harrison?
— Quem gosta? — ela arqueou a sobrancelha dando um sorriso cínico.
— Ninguém, eu acho.
— Está vendo? Tenho razão em não gostar de ser contrariada.
— Ah, Scarlett, você me faz tão bem.
— Faço? Bom saber. Apesar de sermos um pouco estranhos, não acha?
— Estranhos? — seus músculos ficaram tensos.
— Sim, estranhos. De certa forma. — ela apertou seu ombro. — Um momento, está ofendido?
Adam piscou os olhos diversas vezes antes de responder. Então era assim que ela o via, como um estranho. Achava que mesmo tendo se aberto com ela sobre vários assuntos, assim como ela havia feito, tinham criado algum tipo de intimidade. Mas estava enganado, como sempre.
— Não. — mentiu.
— Está mentindo.
— Não estou.
— Está praticamente escrito em seus olhos, fora a sua expressão que mudou completamente. Desculpe-me, sei que me salvou, e tudo mais, também dissemos muitas coisas sobre nós, porém... — suspirou. — Somos estranhos. Às vezes você passa a vida inteira ao lado de uma pessoa, e não a conhece. Imagine em poucos dias. Posso estar sendo...
— Basta. — a interrompeu. — Tudo bem, Srta. Harrison.
— Não, não está tudo bem, porcaria. Sempre estrago tudo.
— Não estragou nada. — Adam percebeu que a valsa havia terminado.
— Precisamos conversar.
— Não, nós não precisamos falar mais nada sobre esse assunto, Srta. Harrison. — fez uma mesura para ela. — Aproveite a noite, até breve.
— Espere. — ela apertou seu braço.
Os olhos dela estavam suplicantes para que ele ficasse, era bastante notável, mas não queria permanecer, ainda mais com tantos olhos sobre eles. Afastou seu braço da mão dela e esperou que ela falasse alguma coisa.
— Acho que falei alguma besteira que o fez ficar chateado.
— Não deveríamos estar discutindo isso agora, concorda?
— Sim, é verdade.
— Podemos nos falar depois. — sugeriu, mesmo não desejando isso.
— Certo. — Scarlett olhou para trás. — Preciso ir ficar com Phoebe.
Adam apenas confirmou com a cabeça, e a observou se afastar para ir ao encontro da irmã que estava do outro lado do salão.
— Ela falou alguma besteira? — ouviu a voz de Charlotte ao seu lado.
Ficou abismado com a rapidez da chegada dela, nem fazia muito tempo que a tinha visto dançando com George.
— Não.
— Pela sua expressão, pensei que tivesse.
— Fique tranquila, Majestade. Está tudo bem.
— Perfeito. Vai começar uma quadrilha, quer participar?
— Adoraria.
♔♔♔♔
Scarlett estava obcecada em encarar Adam. Estava ficando uma situação constrangedora, sabia disso. Porém, não conseguia parar de olhar para ele, porque achava que o tinha aborrecido de alguma forma. Algumas vezes seus olhares se encontravam, mas ele desviava rapidamente. E cada vez que ele fazia isso, a deixava irritada.
— Scarlett, sua cabeça vai ficar torta de tanto olhar para a direção do rei.
— Cale-se, Phoebe. — encarou a irmã. — Não estou olhando ninguém. — mastigou um pedaço de torta. — Pare de ser intrometida, não é do seu feitio.
— Sempre fui intrometida, sou a irmã mais velha. — estreitou os olhos para Phoebe. — Está apaixonada por ele?
— Não! — abafou o grito com as mãos. — Existem pessoas perto da gente, sua tola.
— Certo, ninguém sabe de quem estou falando. Tola aqui é você.
— Oh, ele está saindo. — Adam entrou por uma porta, desaparecendo da sua vista. — Vou atrás dele.
— Não vá, ficaria ruim para sua imagem. — ela segurou seu braço.
— Sim, eu vou. — soltou-se da irmã, indo em direção a ele.
Pediu licença para diversas pessoas até chegar na porta em que Adam havia entrado. O sapato estava começando a incomodar conforme ia andando pelo enorme corredor. Então surgiu o problema: ela não sabia por onde ele tinha ido. Existiam diversas portas naquele corredor, teria que abrir muitas portas até achá-lo, contando que ele ainda estivesse naquele andar.
Começou a abrir as portas, em nenhuma encontrava ele. Estava sem esperanças, quando resolveu abrir a última, que dava acesso ao outro corredor. Rezou para que ele estivesse lá, precisava saber que estava tudo bem.
Abriu a maçaneta, e o encontrou.
Ele estava sentado em um poltrona, desabotoando a blusa. Seu rosto ficou ruborizado, resolveu que seria melhor voltar para o salão, mas acabou fazendo barulho, ao se desequilibrar, ganhando toda a atenção dele.
— O que está fazendo aqui?
Ficou gaguejando, tentando dizer alguma coisa, mas decidiu permanecer calada até se acalmar.
— Acho melhor você entrar.
— Não! — gritou. — Não. — disse mais calma. — Está em um momento...
— Momento? — olhou para si mesmo. — Oh, sim. Desculpe-me por isso. — começou abotoar a blusa. — Entre, sei que quer conversar, para ter vindo até aqui. Como me achou?
— Abri todas as portas. — deu de ombros, e fechou a porta atrás de si.
— Persistente.
— Um pouco. — deu um sorriso tímido.
— Sente-se. — indicou uma cadeira próxima a ele.
— Claro. — sentou-se desconfortavelmente.
— Eu disse que não havia problema algum no que me disse, Scarlett. Acho que não se convenceu mesmo, não é?
— Não. Está agindo diferente.
— Diferente como? — seus olhos ganharam uma curiosidade enorme, o que a deixou envergonhada.
— Não saberia definir, mas diferente.
— Você é divertida. — passou a mão pelo cabelo e encostou na poltrona.
— Obrigada? — perguntou-se o que ele queria dizer com aquilo.
— Sim, é um elogio. Acho que não percebeu, mas eu tenho um grande interesse na senhorita.
— Como? — seus olhos esbugalharam, e se estivesse bebendo alguma coisa, com certeza cuspiria tudo.
— Eu simplesmente gosto de você, Scarlett.
— Isso é...
— Estranho? — ela confirmou com a cabeça. — Não acho. E, eu estar lhe dizendo tudo isso, que é estranho. Acho que é culpa do vinho. — indicou para a mesa com uma garrafa e uma taça pela metade.
— Não sei como vou conseguir olhar para você agora.
— Olhando como olhava antes, com a diferença que sabe o que sinto em relação a você.
— Não vai ser a mesma coisa.
— Isso depende unicamente de você.
A cabeça de Scarlett estava girando, como ela nunca havia percebido o que estava debaixo do seu nariz? Apoiou a cabeça na mão, depois indicou com a mão com vinho. Adam entendeu o que ela queria dizer, e encheu a taça com vinho e entregou para ela.
Scarlett bebeu tudo em apenas dois goles, estava nervosa.
— Calma, Scarlett. Vai acabar se afogando com o vinho.
— Estou calma. — olhou o rosto desconfiado dele. — Mentira, não estou.
— Eu sabia que estava mentindo.
— Por quê?
— O quê? — parecia confuso.
— Eu.
— Essas coisas não têm explicações, Scarlett. Acontecem, e quando você vai perceber, está lá. — ele tocou em seu rosto suavemente. — Demorei um pouco para assumir que eu estava gostando de você, não nego. Edric abriu meus olhos.
— Seu secretário?
— Acho que ele sabe mais de mim do que eu mesmo.
— Eu não sei...
Então, ele a calou com um beijo.
A beijou sem ela menos esperar. Os lábios dele estavam doces por causa do vinho, o que foi ainda mais interessante. Scarlett sentiu Adam intensificar o beijo, e ela não sabia se estava fazendo a coisa certa, pois nunca havia beijado. Era seu primeiro beijo.
Mergulhou suas mãos no cabelo dele, enquanto ele começava a traçar beijos por todo seu pescoço, até voltar para sua boca novamente. Estava sentindo todas as sensações diferentes em seu corpo, um desejo que nunca havia sido despertado antes.
— Devemos parar. — arquejou. — É errado.
Adam afastou-se dela, mas roubou um beijo antes.
— Preciso ir embora. — apontou para a porta, ainda desorientada.
— Temos um encontro marcado amanhã? — seus olhos pareciam de um predados diante da caça.
— Encontro?
— O baile de máscaras.
— Oh, sim. Temos. — engoliu em seco. — Temos.
Scarlett levantou-se tonta, ainda não acreditava no que tinha acontecido.
— Vou acompanhá-la até a porta.
— Não precisa.
— Faço questão.
Adam a acompanhou até a porta, abriu para que ela pudesse passar, e antes dela sair, ele a puxou para mais um beijo.
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