Capítulo 28
-Droga meu anjo... se eu soubesse não teria te mandado até lá! -Pat me passa mais um lenço de papel. Sim, estou chorando litros e litros de lagrimas. Aguentei na frente de Cris para não me humilhar mais. Mas quando cheguei na casa do meu primo, no momento em que ele abriu a porta, foi como se tivesse abrindo junto as comportas do meu conduto lacrimal.
-Você não tinha como saber primo. Ambos estavam preocupados e eu era sua única saída... eu só... nunca pensei que fosse ver aquilo. De certa forma acho que foi até bom, assim me desapego de vez.
-Isso porque você não o amava, não é mesmo?
-Pat, não é hora para isso! -É Joe quem o repreende. -Deixe a menina chorar em paz! -Ele segura minhas mãos e seu olhar é de raiva pelo irmão e de pena por mim. -Eu quero te pedir desculpas pelo meu irmão, minha querida. Fique sabendo que isso não vai ficar assim!
-Joe, não precisa disso... não quero que vocês tenham problema por minha culpa. -Limpo meu nariz enquanto uma nova carga de lagrimas salgadas começa a cair.
-Olha meu anjo, eu estou pouco me lixando para o Cris. Eu vou brigar com ele se é possível, não por ele ser meu irmão, mas por você ser a única família do homem que eu amo. Então pode ter certeza que nessa história, estamos do seu lado.
Pronto, agora não vou deixar de chorar nunca mais com essa constatação.
Ganho um abraço dos dois, enquanto choro copiosamente. Ficamos assim por um bom tempo, em silencio e curtindo o apoio mutuo, até que a porta de Pat começa a ser praticamente espancada. Eu sei muito bem de quem se trata.
Joe vê meu olhar de pânico e até eu fico com um pouco de medo do olhar feroz que ele adquire.
-Pode ficar tranquila, Mel. Vou cuidar disso.
Agora estou abraçada somente a Pat, que faz carinho na minha cabeça como se eu fosse uma criança doente.
-Eu sou muito boba por me preocupar que Joe machuque a Cris? -Pergunto entre soluços ao meu primo.
-Não meu amor. Você o ama, e mesmo ele tendo te machucado, ainda se preocupa por ele. Infelizmente, não podemos nos desapaixonar de um momento a outro, pior ainda não podemos mandar nos nossos sentimentos.
Não digo mais nada. De nada serve querer desmentir que amo Cris a essa altura do campeonato. Se eu não o amasse, não estaria aqui chorando como uma bebê.
Depois de muito tempo sozinha, pensei que finalmente teria encontrado o amor novamente. Mas pelo visto, a vida me pregou outra peça. Até parece que meu destino é ficar assim para sempre.
Pat passa a mão nas minhas costas agora, e essa sensação é tão boa, me faz lembrar de mamãe, quando eu chegava brava da escola e ela fazia um chá de camomila e me abraçava. Ela sempre dizia "meu bem, não há nada que um chá não possa resolver". Naquele momento eu achava aquilo tão ridículo. Como um chá pode curar tudo? Mas não era o chá... era o amor que ela empenhava naquele gesto.
Sou tirada da lembrança quando escuto um baque e logo o som de algo de vidro se quebrando.
Me levanto rapidamente seguida de Pat, e vamos até a porta para ver o que diabos está acontecendo.
A cena que vejo me causa uma tristeza enorme. Joe e Cris estão enrolados brigando como se fossem dois adolescentes. Pat assume um olhar furioso e em menos de um segundo está separando os dois. Eu nunca vi meu primo desse jeito. Eu sabia que ele era bom de briga, mas nunca o tinha visto em ação. Ele pega Cris pelo colarinho e o mantém rente a parede enquanto segura Joe com a outra mão.
-Mas no que diabos vocês estão pensando? -Meu primo vocifera alternando entre os dois, e eles tem a cara de pau de parecer envergonhados.
-Foi Joe quem começou, eu só queria falar com minha namorada!
-Ex-namorada. -É o único que consigo pronunciar. Pelo visto minha idiotice atingiu níveis inimagináveis.
Cris me olha e finalmente percebe que também estou aqui.
-Me importa um caralho quem começou, você não pode vir até a minha casa e começar a brigar com o irmão como se fossem duas crianças! Quem pensam que são? -Pat sacude os dois. Caramba ele está muito bravo!
Os dois não dizem nada e depois de alguns instantes, são liberados do aperto de Pat.
-Agora, você - Ele aponta para Joe- Vá trazer a caixa de primeiros socorros. Precisamos limpar essas feridas antes que se infeccionem, e você -aponta para Cris -Se comporte como um adulto. Amélia não quer falar com você no momento, respeite isso uma vez na sua vida!
Cris está com medo. Posso ver nos seus olhos. Um sentimento de pena me consome e quero consolar ao homem que amo. Devo ser muito louca. Ou só uma idiota apaixonada mesmo.
Nos sentamos nos sofás da grande sala. Sento o mais longe possível do homem que me causou tanto dano. Ele percebe isso e sua cara fica ainda mais triste.
-Não se demita... não quero te prejudicar. -Ele solta de repente.
-Isso não é decisão sua. -Respondo seca.
-Amélia, por favor! Você tem que acreditar em mim, se você deixar eu contar o que aconteceu, vai entender tudo!
Ele tenta se aproximar de mim, mas eu o barro na mesma hora.
-Cris, escuta o que você está falando! Eu não quero saber o que aconteceu antes... eu sei muito bem o que vi! E não foi nada agradável vai por mim! Se a situação fosse ao contrário, se você chegasse na minha casa e me visse na cama com Alex, você esperaria até que eu te explicasse o que aconteceu?
Quando digo isso, a mandíbula de Cris se aperta tanto que é incrível ele não ter mastigado todos os dentes.
-Não... -ele admite finalmente. -Eu o mataria primeiro.
Ambos ficamos calados. Não há nada mais a ser dito nesse momento.
Depois de alguns minutos, meu primo e Joe voltam de onde quer que tenham ido. Pat dá uma olhada no rosto de Cris e limpa uma ferida no supercilio dele, ao que parece, Joe também é bom de briga, porque somente suas mãos estão feridas, dos golpes proferidos no irmão.
Cris fica calado enquanto suas feridas são limpas e desinfetadas, mas ele não tira os olhos de mim, como se ao fazê-lo, eu fosse desaparecer. E como se seus olhos tivessem algum tipo de poder sobrenatural, eu também não consigo tirar os olhos dele.
As imagens dos nossos momentos juntos me pegam de surpresa e as lagrimas que pensei já tivesse esgotado, voltam a aparecer. Ao mesmo tempo, parece acontecer o mesmo com Cris e uma lagrima solitária escorre pela sua bochecha. Ele nem se preocupa em limpa-la ou escondê-la. Pat se percebeu, fingiu que não viu nada. Ele coloca o curativo e dá um tapinha na perna do cunhado.
-Bom, isso é tudo. Pode ir agora.
Uma indireta bem direta, mas Cris nem se move do sofá.
-Eu só vou embora depois de conversar com Amélia.
-Meu Deus mano, se liga que ela não quer falar com você, ou vou ter que te bater de novo para você entender?
Parece que Joe gostou de dar uma lição no irmão, mas eu não quero que nenhum dos dois se machuque novamente, então decido ceder e escutar o que quer que seja que Cris queira me dizer.
-Tudo bem, Joe. Eu vou conversar com Cris, escutar o que ele tem a dizer e depois ele vai embora, certo Cris?
O olhar de esperança que aparece no seu rosto quase me tira o ar.
-Certo.
Joe resmunga alguma coisa, mas é puxado pelo namorado para fora da sala para nos dar privacidade.
-Bom, pode começar a falar o que tanto quer. -Faço um sinal de deboche com a mão.
Mas ao contrário do que pensei, Cris não começa a implorar por perdão imediatamente. Ele está pensando. Muito. Passam alguns minutos e eu penso que ele só veio até aqui para brincar com a minha cara, então me levanto para ir embora.
-Amélia, espera. Eu... estava só organizando meus pensamentos.
-Bom, acho que já deu tempo de organizar tudo, não é? Não tenho todo o tempo do mundo para te escutar Cris. -Posso estar sendo ríspida, mas ainda dói quando a imagem deles dois na cama me vem à mente.
-Eu... realmente não sei o que aconteceu. Tudo começou quando vi você almoçando com Alex, você não sabe como fiquei furioso. Eu estava la com a Martha, porque ela disse que tinha algo muito importante para me dizer e insistiu que fossemos nesse restaurante. Quando cheguei lá, entendi o porquê. Ela queria que visse vocês dois juntos. Fiquei roxo de ciúmes, mas como você mesmo disse, eu causei tudo isso.
Ele para e puxa uma dolorosa respiração. Pelo visto Joe acertou algo mais que só o seu rosto.
-Depois disso, ela me contou que queria nos vender o chalé que meu pai deixou de herança para ela, eu ia aceitar, lógico, mas quando ela disse o preço, eu quase caí da cadeira. Ela está louca, queria quase meio milhão por um chalé que não vale nem cem mil. Ela disse que se eu não aceitasse comprar, iria ter consequências, e nesse momento ela olhou para você do lado de fora, e entendi sua insinuação. Por mais que tenha terminado com você para te proteger, ela sabe que eu ainda te... bem você sabe. Então eu saí daquele lugar, a deixei sozinha aquilo era ridículo. Fui direto para a empresa e fui conversar com você. Eu precisava saber se Alex estava querendo te reconquistar, por que se for assim, eu morro Amélia. -Ele respira novamente e depois de quase um minuto recomeça a história. -Você parecia estar levando sua vida normalmente, e tudo se confirmou quando eu saí do escritório com a Martha e você disse aquilo sobre sair com a minha secretaria. Nesse momento eu senti medo. Medo de te perder para sempre, de nunca mais poder sentir seu cheiro, seu sabor. De nunca mais te ver dormir, nem acordar ao seu lado. De nunca mais escutar o seu ronco suave. -Ele solta uma risadinha, e eu não resisto rindo também.
-Eu não ronco.
-Ronca sim... mas continuando, depois daquela cena, eu fui para casa mas minha cabeça estava a mil. Eu comecei a beber um pouco de whisky e quando vi, tinha acabado toda a garrafa. Eu fiquei bêbado, depois de muito tempo. Algumas horas depois, alguém bateu na minha porta, eu fui atender correndo pensando ser você, mas era a maldita Martha. Ela entrou toda inocente, perguntando se estava tudo bem, eu disse que sim que ela poderia ir embora, mas ela insistiu em ficar e abriu uma garrafa de vinho. Ela me serviu uma taça, e depois disso não lembro muita coisa, só lembro dela me levando até a cama e depois apaguei. Quando acordei, você estava dentro do meu quarto com o casaco daquela mulher na mão. Eu entrei em desespero, não sabia o que fazer, você saiu correndo não deu nem chance para que eu te explicasse tudo... bom, o resto você já sabe.
-Aquela vadia te drogou! -É Joe quem grita saindo de seu esconderijo, eu sabia que a nossa conversa não seria tão "privada" assim.
-Joe! Eu te disse para ficar quieto! -Pat diz em um sussurro que dá para ouvir da lua.
Agora que foram descobertos, ambos saem detrás da porta que usavam como escudo.
-Eu também acho que ela me drogou, mas infelizmente não tenho nenhuma prova.
Seu olhar se volta para mim, suplicando que eu acredite em tudo que ele acabou de falar.
-O que eu não entendi de tudo isso, é o que a Martha foi fazer na empresa. - Digo cética.
-Ela foi insistir para que eu compre o maldito chalé. Como não dei resposta a ela no restaurante, ela quis me encurralar na empresa.
-E você vai comprar o chalé daquela cobra? -Joe nos interrompe e leva uma cotovelada de Pat.
-Não sei, tenho medo de que ela faça algo contra Amélia.
-Olha Cris, não precisa comprar nada por minha causa, eu posso me defender sozinha. Não acho que ela tenha coragem de me machucar...
Pensando bem, ela tem sim. Mas não quero preocupar a Cris e força-lo a fazer alguma besteira.
-Bom, já te escutei, agora tenho que pensar em tudo isso. Me desculpa, mas ainda não acredito cem por cento no que você disse.
Ele assente e se levanta.
-Posso pelo menos te levar para casa? -Seu rosto cheio de expectativa me faz duvidar. Olho para Pat pedindo uma resposta, e ele faz um movimento milimétrico com a cabeça indicando que eu vá com Cris. Pelo visto sua história os convenceu, mas eu não vou me precipitar.
-Tudo bem. Mas você só vai me deixar em casa e depois vai embora.
-Ok.
Nos despedimos de Pat e Joe com abraços desajeitados, peço desculpas pela confusão e eles reiteram que sempre vão estar aí para mim, deixando claro que se Cris faz alguma outra besteira, eles não vão pegar leve como hoje. Cris entende o recado.
Entramos no seu carro em silencio e sinto seu cheiro por todo o lugar.
Respiro fundo e encosto a cabeça no vidro frio da janela. Ele engata a marcha e coloca o automóvel em movimento.
O caminho passa voando e quando vejo, estamos estacionados já na frente da minha casa. Nenhum dos dois mexe um pelo sequer. Não quero ficar, mas também não quero sair. Eu gostaria de poder entender essa minha cabeça louca.
Depois de quase dez minutos assim sem falar nada, mas dizendo muito, decido que já está tarde e preciso dormir. Coloco a mão na maçaneta e estou prestes a abrir a porta, quando sinto a mão quente de Cris sobre a minha. Sinto uma corrente elétrica passando do seu corpo para o meu. Ele parece sentir o mesmo, mas mesmo assim não se afasta.
Cris abre a boca e a fecha várias vezes e eu decido acabar com essa tortura de uma vez.
-Olha Cris, eu vou pensar no que você disse hoje, tá? Eu só... não estou com cabeça para mais nada... -Não consigo dizer mais nada, por que sou arremessada para o outro lado do carro. O que diabos está acontecendo?
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