C A P I T U L O 0 2
— Certo, Zeth, é... Obrigada mais uma vez por me defender do bobalhão do Dylan. Se tiver algo que eu possa fazer por você… É só me dizer! — Dou um sorriso levemente constrangido e viro para frente novamente, enrolando meus dedos um no outro e fazendo o máximo para não parecer tão nervosa quanto eu me sinto.
— Na verdade, tem algo que você pode fazer. Que tal se você me fizer companhia no café da manhã? Eu meio que cheguei agora e sinto que todo mundo já se juntou as suas devidas panelinhas e meio que estou sobrando. Não quero me sentir solitário e algo me diz que podemos ser bons amigos.
Sinto uma gota de suor escorrer pelas minhas costas, minha respiraçãose torna levemente ofegante. Nunca cheguei nesse nível antes, estou acostumada a ser ignorada ou maltratada pelas pessoas, não à homens bonitos como este querendo fazer amizade com alguém como eu.
— Claro, posso comer com você, eu como geralmente com minha amiga, Felicity. Mas a gente meio que discutiu hoje, então não sei se vai conhecer ela, e também tenho certeza de que ela ia adorar te conhecer, Felicity é uma garota legal. Nossos cursos são diferentes também, então não nos cruzamos nas aulas, mas eu e ela dividimos o quarto, então passamos bastante tempo juntas mesmo assim. Estou no terceiro ano de inglês e ela no de psicologia, porém nos conhecemos desde criança, ela era minha unica amiga no lugsr de onde eu vim. Mas, e você está estudando o que, Zeth? — Estou praticamente sem ar, tão nervosa que simplesmente comecei a falar sem parar. Droga, devo parecer uma idiota agora.
— Estou cursando direito.
— Sério? Olhando para você, eu não diria que é um estudante de direito, em qual ano você está?
— Estou no terceiro ano, assim como você, vim transferido de outra universidade. Escolhi direito porque gosto muito do filme O advogado do diabo, ja me disseram muita coisa, mas nunca me disseram antes que não tenho cara de um bom advogado, haha — Zeth ri e sua risada faz meu coração disparar. É algo contagiante que só o faz parecer ainda mais bonito.
— Bem… Estudantes de direito costumam se achar superiores, eles sempre andam vestidos com ternos completos também, mesmo no auge do calor. Acho que é por isso, você parece alguém amigável e está vestido como uma pessoa normal, sabe… — evito falar sobre o filme para não parecer idiota, mas a verdade é que nunca assisti. Mesmo que seja praticamente um clássico, meu pai nunca permitiria que esse tipo de mídia entrasse na nossa casa.
— Não gosta do filme? — Zeth pergunta, provavelmente notando minha expressão.
— Nunca nem vi. Meu pai não gosta de filmes que falem sobre… Sabe… Ele é muito religioso.
— Sobre o diabo? — Ele pergunta, a palavra parece fazer cócegas em minhas orelhas, me provocando.
Apenas assinto em confirmação, sentindo as bochechas coradas. Não preciso dizer a ele que não falo essa palavra, está nítido.
— O medo de um nome só faz aumentar o medo da própria coisa, sabe? — Ele faz uma pausa e dá uma risadinha — sim, eu estou citando Harry Potter, a que ponto eu cheguei.
— Também nunca vi Harry Potter — dou de ombros — todo o lance da bruxaria… Não era bem visto lá em casa.
— Não acredito nisso, alguém precisa fazer algo pela sua cultura antes que você definhe e vire uma idosa de 90 amps aos 20. Você não mora mais com seu pai. — Zeth faz uma pausa, olhando para baixo, seu rosto enrubesce levemente. — Podemos começar vendo o advogado do diabo juntos, não seria um problema para mim, realmente gosto daquele filme.
— Como faríamos isso? Tenho certeza de que já não passam esse filme no cinema há algum tempo — rio.
— Tenho um computador com acesso à Internet no meu quarto, sabe, a tecnologia pode realizar coisas maravilhosas.
— Eu… — Sinto meu rosto corar e dou graças por chegar minha vez na fila, o que facilita que eu não responda a Zeth.
Zeth realmente parece um cara legal, ele também é bem bonito e tem… Algo sobre ele que chama minha atenção de um jeito que nunca nenhum menino chamou antes. Talvez seja por ele ser tão atencioso e educado. De qualquer forma, não sou idiota ao ponto de não saber o que um menino quer quando sugere ficar sozinho com uma menina em seu quarto, ainda por cima com a sugestão de ver um filme.
Me sirvo do café da manhã — ovos, torrada, leite e uma banana — e pago a refeição, perdida em pensamentos. Não quero parecer uma carola chata, nem quero passar a impressão de que seu convite não me agrada. Uma parte de mim quer muito dizer sim, só para ficar perto dele, mas tem essa outra parte, a mais sensata, que está simplesmente morrendo de medo.
— Pode chamar a sua amiga para vir junto, eu não tenho um colega de quarto, não quero que você se sinta desconfortável sozinha com um cara que acabou de conhecer — Zeth diz logo que se aproxima de mim novamente, com sua bandeja nas mãos.
— Claro, vou falar com Felicity e combinamos um dia — respondo, mais aliviada do que gostaria.
Caminho até a mesa onde costumo ficar e me surpreendo em ver que City já está ali. Ela tem o rosto vermelho e culpado. Seus cabelos curtos com as pontas pintadas de turquesa parecem desalinhados e ela não está usando maquiagem. Meu peito pesa por vê-la assim, talvez eu tenha sido muito dura. Coloco a bandeja no lugar de frente para ela e Zeth se ajeita no lugar ao meu lado. Minha amiga sequer olha para nossa companhia antes de começar a falar.
— Angel, me desculpe. Fui uma idiota e passei dos limites totalmente, não devia ter dito aquelas coisas… Eu só… Não sei, às vezes me sinto a própria Maria Madalena do seu lado e... Tenho vergonha.
— City, não se preocupe. Está tudo bem. Sim, eu fiquei chateada com o que você disse, mas não tem importância. Entendo que as coisas só… Saíram do controle, ficamos bravas e dissemos coisas bobas, isso não importa agora. Sua amizade é mais valiosa que qualquer coisa, tudo bem se discutimos às vezes, isso faz parte quando temos criações tão distintas — encaro seus olhos esverdeados e abro um amplo sorriso. — City, esse aqui é o Zeth. Ele é novo aqui, estuda direito e é...
— Sou o novo amigo da Angel. — Zeth completa.
Os olhos de Felicity parecem brilhar quando nota nossa companhia. Ela nem faz questão de disfarçar a encarada avaliadora em Zeth, que sustenta calmamente seu olhar.
Posso dizer por seu olhar o que City está vendo, belos olhos azuis enfeitando um rosto com um maxilar anguloso, um corpo magro, mas definido que pode ser visto mesmo com a camada de tecido da calça jeans e a camisa social preta com o primeiro botão aberto, a pele branca quase pálida e...
— Seu cabelo é natural? — Felicity pergunta — não parece ser tinta, mas também nunca conheci ninguém com essa cor de cabelo antes.
— Sim, tenho esse cabelo desde que vim ao mundo. — Zeth ri.
— Legal! — Felicity me olha, seus olhos dizem: vamos conversar sobre isso mais tarde. — Daria tudo para ter nascido com uma cor assim, precisei descolorir o meu.
— Escuta, chamei Angel para ver um filme no meu quarto qualquer dia desses. Mas acho que ela ficará desconfortável se você não estiver junto, então o que acha?
— De que tipo de filme estamos falando? Se for algum dos filmes que Angel costuma ver, bem, eu agradeço mas dispenso o convite.
— Advogado do diabo.
— Uau, um filme de verdade! Claro, vou ficar feliz em acompanhar vocês. Sou sempre a favor de quem quer que enfie um pouco de cultura na minha menina.
Os olhos de Felicity esbarram nos meus e sei o que está passando por aquela cabecinha. Cultura não é a única coisa que ela quer que Zeth enfie em mim. Apenas devolvo a olhada com meu olhar de “se você tentar alguma gracinha, eu acabo com você”.
Marcamos o filme para o final de semana, para que a “tensão das aulas não atrapalhe nossa experiência” — essa claro foi a desculpa que City deu. Sinto que minha amiga está aprontando alguma coisa e essa sensação me deixa tensa pelo resto do dia.
Chego ao dormitório após o jantar — onde não encontrei Felicity nem Zeth em lugar nenhum, por sorte também não encontrei Dylan — e vejo minha amiga jogada em sua cama, mexendo no celular com uma caixa de pizza ao seu lado.
— Já jantou? Quer pizza? — Ela me pergunta sem tirar os olhos do aparelho.
— Achei que você só comesse pizza nos finais de semana.
— Não estava a fim de ir ao refeitório hoje, mas tudo bem, tenho certeza de que não fiz falta já que você tem o senhor Zeth Bonitão agora.
— Zeth não estava no refeitório, e já que estamos falando nele, espero que você não esteja pensando em fazer nenhuma bobagem com esse negócio do filme City. Juro que eu nunca mais falo com você se me deixar na mão.
— Eu não vou deixar ninguém na mão, mas eu bem que deveria, afinal, foi só você ficar um pouquinho sozinha que um gato como aquele já vem miando para o seu lado.
— City…
— Que foi? Eu só disse que DEVERIA te deixar na mão, e não que eu vou. Relaxa, Angel, estarei lá com você, segurando sua mãozinha, se for necessário. Só vou sair daquele quarto se você me pedir para fazer isso. Juro por tudo o que é mais sagrado!
— Certo. Vou acreditar em você.
— Eu nunca mentiria para você, Angel!
Sei que não, mas mentir é diferente de manipular a verdade, penso.
Me preparo para dormir e me deito, com Felicity ainda mexendo no celular ao meu lado. Conheço ela bem, sei que tem algo planejado nessa promessa, mas, seja o que for que ela planeja, tudo o que preciso fazer é não pedir para ela sair, isso será fácil.
1664 palavras
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