Capítulo 4 Parte 3 (Rascunho)

Após treinar bastante e, aos poucos melhorar, Pedro subiu para encontrar Luana e comerem algo. Na cantina da nave, encontraram Norman e Samuel, juntos. Enquanto comia, Pedro virou o rosto para o capitão e perguntou:

– Norman, há laboratórios na nave?

– Claro – respondeu o homem. – Afinal a nave pode precisar de consertos no meio do nada.

– Ótimo – comentou o rapaz. – Eu gostaria de conhecer as instalações e obter permissão para fazer umas experiências.

– O que deseja fazer? – perguntou, desconfiado.

– Acho que posso criar uma proteção pessoal contra as armas de raios.

– Essa eu quero ver – disse Norman, impressionado. – Depois subimos ao lab.

O comandante observou o casal servindo-se e sentando na mesa. A moça era de uma beleza singular, de rosto ovalado com olhos muito verdes, expressivos e o nariz um pouco arrebitado. Tinha os cabelos castanho-claros, quase louros, repousando sobre os ombros delicados. O sorriso era cativante. Devia ter um metro e setenta e cinco, talvez pouco mais, além de ser magra e com belas curvas. Ele estava preocupado pelo namorado porque certamente teria problemas em alguns mundos.

A comida na nave não era nada má, apesar de a maior parte dela ser sintética e com sabores artificiais. Contudo, também haviam alimentos desidratados que bastava acrescentar líquidos na dose indicada na embalagem e aguardar o catalisador agir, ora hidratando e aquecendo o alimento ou esfriando, conforme o caso. Comeram sem pressa.

― ☼ ―

O laboratório parecia muito bem equipado e havia diversos robôs especializados capazes de efetuar reparos dos mais variados tipos, todos eles desativados e encostados em uma parede no fundo da sala.

Pedro e Luana avaliaram tudo com aprovação e olharam para o capitão Norman.

– Importa-se se começarmos as pesquisas agora mesmo? – perguntou o jovem.

– Fiquem à vontade – concordou Norman. – Quantos robôs precisam para ajudar?

– Nada de robôs – disseram ambos ao mesmo tempo.

O rapaz pegou o palm dele e colocou sobre uma mesa, seguido por Luana. Cada um pegou um banco e sentaram-se, começando a analisar informações e consultando diversos livros especializados. Ao mesmo tempo, Pedro aproveitava para ensinar Luana no que ela ainda não sabia por conta da separação.

Havia um quadro de escrita e desenho e o jovem cientista começou a desenhar diagramas incompreensíveis exceto para a namorada. Com um encolher de ombros, o capitão deu meia volta, seguido de Samuel, e deixaram o casal a sós.

– Esse jovem deve ser muito especial – comentou o comerciante das estrelas. – Nunca vi alguém semelhante a ele, muito menos com tantos recursos!

– Talvez por isso sejam procurados – concordou Samuel. – Só a arma que ele inventou já é impressionante.

– Temo que a Terra estenda a busca a ele em outros mundos, em especial se souberem dessa arma. Esse casal corre um grande perigo.

– Não estou tão certo, mas enfim...

― ☼ ―

Os dias foram passando e Pedro trabalhava direto no laboratório, mas também tinha um horário de treino de tiro e onde também ensinava o capitão e a garota. Além disso, Norman passou a dar aulas de pilotagem. Levou o jovem a uma sala que era quase idêntica à ponte de comando.

– Esta é uma sala de treino, um simulador. Sente-se na poltrona da esquerda que é do piloto auxiliar. Eu vou na do piloto – começou Norman, ajeitando-se. – Observe enquanto preparo uma decolagem simples.

Executou o programa de decolagem no computador e apareceu um espaçoporto tão parecido com o de perto da casa de Pedro que ele até se espantou.

– Este é o espaçoporto de São Paulo, onde mais desço quando venho à Terra.

– Eu o reconheci – comentou Pedro, pensando nos pais. – Quando era criança sempre ia para lá olhar as naves. Vi a sua umas quantas vezes.

– Então você era aquela criancinha que ficava junto à cerca observando tudo? – Norman riu. – Sim, eu vi você várias vezes, algumas delas com uma menininha linda. Era ela?

– Sim, nós imaginávamos como seria fugir daquele mundo, da apatia dos simuladores onde os nossos pais ficavam todo o dia, nos ignorando por completo. Então íamos para lá e sonhávamos com uma forma sair por aí em uma nave.

– Temo que vá ficar decepcionado, meu garoto, muito decepcionado, mas enfim, só vendo a realidade mesmo.

Norman olhou para os controles e começou a explicar

– Aqui, ligamos os reatores da nave, que levam cinco segundos a estabilizar, a menos que estejam pré aquecidos. Conforme o planeta onde pouso, eu deixo sempre em pré aquecimento. Gasta mais energia, mas pode salvar a minha vida.

– Quando a tela apresentar o símbolo do reator em verde, estamos prontos para a decolagem – continuou o comandante. – Enquanto isso, nós preparamos o AG, aqueles comandos ali. Primeiro, deve colocá-los na posição um. – Pedro viu e notou que a graduação ia de um a cem. – Assim que os reatores estiverem no verde, pode levar o AG para a posição dez. Nesse momento, a nave começa a flutuar e pode levantar para quinze. Ela subirá. Este manete pode fazer a nave virar devagar para vários lados.

– Suponho que o AG é a gravidade controlada – comentou o jovem, observando com atenção. – Devemos mover até quinze, apenas?

– Apenas quinze – confirmou Norman, decidido. – É o que o treino diz. Até porque não sei o que significa as outras posições.

– É mais do que óbvio? – questionou o jovem cientista, encolhendo os ombros. – Se em dez ela começa a pairar, significa que, nessa posição, a gravidade é anulada. Então, cada posição reduz a gravidade em um décimo de g padrão. Em quinze, está meia gravidade negativo, em vinte, uma gravidade e por aí afora. Se você mudar a alavanca, ela vai subir mais rápido, apenas isso.

– Será!? – perguntou o capitão espantado. – E se não for?

– É um simulador... – Pedro encolheu os ombros. – Experimente com vinte ou trinta. Força demais não é aconselhável quando estiver perto da superfície porque pode provocar um pequeno vendaval e estourar várias janelas, além de que a atmosfera muito mais densa pode danificar a fuselagem ou as asas.

– Testaremos – disse Norman, empolgado. – Estas três alavancas controlam as turbinas. Quanto mais para a frente, mais potente é o empuxo. A direção pode ser controlada pelo manete como mostrei, virando para a esquerda, direita, inclinando para cima e para baixo, enquanto este outro manete na sua mão esquerda, controla a ascensão da nave, ascensão e mergulho, claro, enquanto que, ao virar para as laterais, inclina a nave para os lados. No voo atmosférico é importante controlar bem o conjunto, mas no espaço, sem ar, fica mais simples. Bem, a parte de superespaço, aprenderemos depois. Observe.

O capitão decolou e o jovem observava com atenção redobrada. Notou que ele acionou alguns dispositivos que não falou e leu no painel o que era, concluindo que a nave era muito simples de pilotar, tanto que ele era um só a fazer tudo. Quando alcançou o espaço, Norman disse:

– Computador reiniciar programa – levantou-se e ofereceu a poltrona.

Pedro olhou com atenção para os diversos controles. Havia horizonte artificial para voo atmosférico computador de navegação, rádio e vários outros aparelhos.

Pegou os controles e sentiu a pressão. Logo a seguir começou os procedimentos de decolagem, agindo com segurança. Pouco tempo depois decolava devagar. Quando o altímetro indicou mil metros, olhou para o capitão e moveu o manete da AG para trinta. Um zumbido, emulando a solicitação adicional do reator surgiu quando a nave disparou para cima. A simulação era tão perfeita que a tela mostrava o mundo abaixo, já aparecendo a curvatura da Terra. Para cima, o azul do céu desapareceu de forma gradual, dando lugar à escuridão do espaço. Ligou as turbinas, acionando os compensadores.

– Por que colocou os compensadores pela metade se nem ensinei como isso funciona? – perguntou o instrutor.

– Com o empuxo adicional da gravidade controlada – respondeu, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo –, não vi necessidade de dar mais compensação e isso reduziu muito o consumo de combustível. Trata-se de lógica.

– Tem a certeza de que nunca pilotou uma nave antes? – perguntou o comandante com uma careta.

– Nunca sequer entrei em uma!

– Bom, rapaz, muito bom – disse. Depois, resmungou. – Não sei quem será de fato o professor... Bem, amanhã vamos treinar navegação no espaço e na atmosfera. Depois, o supersalto.

― ☼ ―

O casal estava no laboratório fazendo experiências quando o capitão entrou. Os dois estavam tão absortos que nem notaram, continuando com os testes. Enquanto a moça regulava um aparelho, o namorado media com um instrumento.

– Aumente o contracampo em dez pontos, amor.

– Acho que isso vai consumir demais a energia do gerador, Pedrinho.

– Não, Lu, quando equilibrar, o circuito auxiliar que acoplei de manhã vai compensar as perdas e, no caso de ser atingido, o próprio raio vai alimentar a proteção. A energia será sempre mínima, exceto no arranque.

– Boa, amor – disse Luana, alegre. – Assim a bateria vai durar muito mais... opa, está aquecendo bastante!

– Reduza três pontos.

– Estabilizou. E do seu instrumento?

– Também. Vamos testar?

Luana sorriu e colocou o aparelho em um dos robôs desligados. Acionou o dispositivo e Pedro pegou a arma, atirando nele. O raio atingiu o campo que ficava a dois centímetros da máquina e ficou brilhante. Enquanto Pedro disparava, Luana media.

– Pare! – pediu ela ao fim de trinta segundos. – Está quase perfeito, mas ainda precisamos ajustar mais. Depois desse tempo, começou a sobrecarregar.

– Acredito que tenha absorvido energia demais, amor – disse o jovem, aproximando-se do quadro e mostrando duas equações muito complexas.

Ambos ficaram olhando e a moça mudou alguns parâmetros. Olhou para Pedro que sorriu acenando positivamente com a cabeça.

– Acho que é isso mesmo, amor. Vamos regular de novo e testar.

Voltaram à bancada e, depois, colocaram de novo no robô. Sorrindo, Pedro entregou a arma e disse:

– Agora você atira, para dar sorte, e eu analiso. – Daquela vez não houve nenhuma reação de sobrecarga e o aparelho aguentou o fogo contínuo. Pedro ordenou. – Aumente a potência da arma.

Dois minutos depois a arma acusou carga vazia e parou. Luana pulou nos braços do namorado e gritou:

– Conseguimos!

– Meus parabéns, garotos! – exclamou o Norman, dando-lhes um senhor susto. – Nunca acreditei que fariam tamanha façanha, mas preciso dar o braço a torcer. Vocês são muito bons, muito bons mesmo. De onde arrumou essa regulagem da arma?

– Desmontei-a para a estudar e aprendi a melhorar. Depois, fiz um revestimento que a protege da minha arma contra robôs.

– Aquela coisa de matar robôs afeta as armas?

– Tudo o que é eletrônico – respondeu Pedro. – Como a arma é mais simples, ela não seria destruída, mas ficaria sem funcionar por uma hora. Bem, conseguimos fazer o protótipo. Agora vou fazer um funcional.

– A sua mulher – disse o comandante –, parece ser muito boa com a arma. Seria bom ela também saber atirar. Acredite que isso pode ser útil, muito útil.

– Tratarei disso. O senhor desejava algo? – perguntou Pedro.

– Não, é que está na hora do nosso treino. Confesso que fiquei simplesmente fascinado com esse tal de jiujitsu.

– É muito eficaz, sim – comentou o jovem. – Quando aprender e juntar o kung-fu, terá ainda mais eficiência, mas não é conveniente misturar ambos até aprender, em especial porque este último é demasiado complexo.

– Em cerca de dois dias, desceremos – continuou Norman, bastante pensativo. – Trata-se de um mundo um pouco inóspito e seria bom ter os equipamentos de proteção individual prontos até lá. Acha que pode conseguir?

– Sim, acredito que sim – respondeu o jovem. – Temos todos os componentes aqui. Mas devo alertar que esta proteção é exclusiva contra raios. Objetos com massa, como pedras e facas, passarão sem dificuldades.

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