𝟬𝟭𝟰 ، THE FIRST STEP IS THE MOST IMPORTANT.
CAPÍTULO 14 :
O PRIMEIRO PASSO
É O MAIS IMPORTANTE.
COM AS COSTAS CONTRA A PAREDE, ANDREA HOPPER tentava recuperar o fôlego após mais uma noite de sono acompanhado por pesadelo. Ela conseguia sentir o suor descendo por suas têmporas e marcando seu maxilar antes de cair por seu pescoço, como se tivesse passado os últimos minutos malhando. Apertando os olhos, ela conseguia sentir uma dor de cabeça vindo, sem saber se era pelo o que viu ou pela queda que a acordou; ultimamente ela vinha considerando dormir no chão para evitar qualquer dano permanentes na cabeça.
Seus olhos vagaram até o relógio em cima do criado, vendo que marcavam quase cinco da manhã. Pelo menos havia conseguido dormir um pouco mais naquele dia.
Andy levantou e sentou na beira da cama, abrindo a primeira gaveta da cômoda e tirando o maço de cigarros que mantinha ali para ocasiões como aquela. Em poucos segundos, ela estava na varanda do quarto, assoprando a fumaça enquanto sentia o vento frio bater em seu rosto e a fazer lembrar do pesadelo novamente.
Mais sangue será derramado antes do fim.
Ela fechou os olhos, apertando o cigarro entre os dedos enquanto se perguntava o que diabos aquilo poderia significar. Andy tinha teorias, algumas muito boas, mas todas acabavam envolvendo o laboratório e o governo de alguma forma e algo dentro dela estava implorando, rezando, para que fosse apenas um engano, porquê se ela estivesse mesmo certa e esse 'fim' ainda estivesse por vir, significava que sua luta duraria por mais algum tempo.
E por alguma razão, ela temia que não fosse durar tanto.
Apagando o cigarro, ela tirou a camiseta, sentindo-se sufocada com tantos pensamentos aos mesmo tempo e a possibilidade de algo desconhecido lhe machucar no futuro. Ela voltou para o quarto com a garganta fechada, seguindo para o banheiro que havia ali e erguendo a tampa da privada, esperando alguma coisa sair de seu estômago. Vendo que ficaria bem por enquanto, ela entrou no chuveiro, ligando a água gelada e deixando-a cair por seu rosto, sem se preocupar em tirar o resto da roupa enquanto se acalmava.
─── Bom dia, Andy. ─── Jeff disse com um sorriso duas horas mais tarde, após se sentar para tomar café-da-manhã.
─── Não vai vestir sua fantasia? ─── ela murmurou, vendo que ele estava usando suas roupas comuns e não a fantasia de pirata que ela comprou semanas antes.
─── Nah, vou deixar pra mais tarde. ─── deu de ombros, despreocupado. ─── Não quero sujar nem nada. Além do mais, quero deixá-la boa o suficiente pro próximo ano.
─── Daqui pra lá você vai crescer, Jeff. Deveria aproveitar enquanto tem. ─── ela deu uma mordida em sua maçã, com os olhos fechados.
─── E eu vou... mais tarde.
Andy respirou fundo, apenas acenando levemente para o irmão, sem ter forças para uma discussão. A morena estava sentindo uma leve pontada na parte de trás de sua cabeça que estava lhe incomodando horrores, mas o pouco dinheiro que tinha no momento seria dado para Jeffrey comprar algo para o almoço e a mesma sabia que apenas teria a chance de comprar algum remédio mais tarde, quando recebesse o seu salário.
─── Você não vai pra aula hoje? ─── o garoto questionou, tentando puxar papo com a irmã.
─── Não, eu vou fazer hora extra no Family Video até as cinco porquê o babaca que trabalha comigo me avisou de última hora. Depois vou comprar algumas coisas e então vou pra festa da Tina, mas vou tentar voltar antes das nove, então quero você aqui no mesmo horário, nem um minuto à mais. ─── ela terminou de comer e jogou o resto da fruta no lixo, retornando à mesa para deixar dez dólares do almoço dele. ─── Você vai ficar bem? Eu posso voltar aqui às quatro pra te ajudar com a fantasia, se quiser.
─── Ah, não precisa! Eu vou ficar bem.
─── Tem certeza?
Ele concordou com um aceno, sorrindo fraco.
─── Tudo bem, então... ─── ela suspirou, bagunçando o cabelo dele. ─── Não se separe dos garotos enquanto estiver pedindo doces, ok? Tenta não se perder, é perigoso. E se tiver qualquer problema, pode-
─── É pra chamar no rádio, eu sei, eu sei, Andy. Você diz isso o tempo todo. ─── ele resmungou irritado. ─── Não precisa se preocupar, Jonathan também vai.
A Hopper respirou fundo, sentindo que sua paciência estava se esvaindo rápido demais naquela manhã. Ela balançou levemente a cabeça, vestindo o casaco e pegando sua bolsa e chaves enquanto se dirigia para a porta sem dizer mais nenhuma palavra. Talvez fosse apenas um dia ruim.
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OBSERVANDO A ÚLTIMA PESSOA SAIR DA LOJA, ela pode enfim respirar fundo. Andy sabia que em feriados do tipo era comum estar mais lotado, mas ainda lhe surpreendia a quantidade de pessoas que deixou para alugar filmes de última hora. O único momento em que teve algum descanso foi durante o almoço e ainda assim ela precisou fazer rápidas compras para a casa, não lhe restando muito tempo para aproveitar.
O seu relógio de pulso marcava quase sete horas, o que significava que seu irmão e os garotos já deviam estar na caça aos doces há algum tempo e como ele não havia lhe chamado no rádio até aquele momento, Andy imaginava que eles estavam bem.
Ela olhou ao redor para ter certeza de que estava tudo em seu devido lugar, tendo um breve vislumbre do folheto da festa de Tina embaixo de uma prancheta. A morena respirou fundo, o puxando e lendo pelo o que parecia ser a centésima vez apenas na última hora. Apesar de ter dito à seu irmão que iria, apenas o pensamento de aparecer lá lhe assustava e ela não tinha ideia se tinha algo a ver com socialização ou com as bebidas, mesmo que ela não fosse tomar nada alcoólico.
Dez minutos mais tarde, após pensar e repensar, Andrea Hopper se viu estacionando sua bicicleta próxima dos arbustos da casa de Tina, em algum lugar longe da garagem e da vista de arruaceiros, deixando sua bolsa ali próximo. Ela não planejava beber naquela noite mas ainda esperava ter um retorno rápido para casa.
O som alto que tocava era possível de se ouvir da esquina do quarteirão e era surpreendente que a polícia não tenha sido chamada até o momento. A Hopper imaginava que, por ser Halloween, os vizinhos iriam fazer vista grossa em relação àquilo, provavelmente mais ocupados em entregar doces para as crianças ou aproveitar o tempo que teriam sozinhos, ambas possibilidades lhe deixando enojada ao lembrar que era assim que ela passava tal feriado em Ohio: pegando doces ou ouvindo sua mãe e Gabriel fodendo no quarto.
Enquanto se dirigia à porta da frente, a morena observava com atenção as fantasias dos adolescentes que estavam ali, ficando genuinamente surpresa com a criatividade de alguns. Ela elogiou algumas enquanto adentrava, olhando ao redor em busca de rostos amigáveis mas o mar de pessoas dançando no que provavelmente era a sala de estar tornava difícil. Ainda que a maquiagem de alguns os tornasse quase irreconhecível, ela conseguiu localizar alguns poucos colegas de classes, infelizmente nenhum com quem tinha uma relação amigável, como Tommy Hagan, que, obviamente, estava na lista de pessoas com fantasias estúpidas ── não deveria ser surpresa nenhuma, afinal de contas.
Ela se esgueirou até a cozinha, vendo que havia apenas ponche e cervejas dispostos ali, o que lhe fez considerar ir embora por um momento, mas a idéia saiu de sua cabeça quando ela viu Nancy se aproximar de onde estava, sendo seguida por Steve Harrington.
─── Andy! Você veio! ─── a Wheeler falou com uma estranha animação, largando no balcão o copo que segurava e passando seus braços ao redor do pescoço da Hopper, que retribuiu o estranho abraço.
─── Você também. ─── murmurou, afastando-se um pouco. ─── Você tá bem?
─── Eu tô ótima, incrivelmente perfeita.
─── Claramente não está... o quanto você já bebeu?
─── Eu tô de olho nela, não precisa se preocupar. ─── Steve respondeu, fazendo a morena pousar os olhos no mesmo pela primeira vez naquela semana.
─── Eu não te perguntei.
─── Seja legal, Andy. ─── Nancy pediu, abrindo um sorriso de lado. ─── Ele é meu namorado e você é minha melhor amiga, vocês dois deveriam se dar bem... pelo menos hoje, é Halloween! Qual é!
Andrea fez uma careta, negando levemente enquanto segurava os ombros alheios de sua amiga. Ela amava a Wheeler, mas ainda sabia quando a garota ia longe demais ── principalmente quando álcool estava envolvido.
─── Desculpa, Nance, mas hoje não. ─── sussurrou antes de se aproximar dela e beijar sua bochecha, se afastando da mais nova.
─── Tá tudo bem, Andy, ainda podemos ser amigas. ─── ouviu ela dizer em voz baixa antes pegar o copo novamente e encher com ponche.
A Hopper respirou fundo, se arrependendo no mesmo instante quando sentiu o odor azedo de vômito, cerveja e suor. Ela se aproximou da porta para o quintal, cumprimentando Tina rapidamente no caminho. Aquela noite estava fria, mas todas aquelas pessoas ali fora, brincando, bebendo e se divertindo pareciam não se importar com aquilo.
Ela se aproximou de uma mesa que continha alguns copos, pegando um e o levando até o nariz, fazendo uma careta ao sentir o odor do álcool. Andrea colocou o copo no lugar, pondo suas mãos no bolso da jaqueta para esquentá-las enquanto observava as pessoas ali, encostando-se na parede.
─── Uau, olá. ─── um rapaz falou ao se aproximar da mesa.
Andrea não o reconhecia, o que era estranho. Ela não era a melhor com nomes, mas costumava ao menos reconhecer rostos, especialmente das pessoas com quem estudava e, pela maneira que ele se portava, ela não teve hesitação em supor que ele era mais um adolescente qualquer. Andy se perguntou se o mesmo era de fora da cidade, já que sua forma de se vestir ── uma jaqueta preta, sem camisa por baixo ── não parecia do tipo "Hawkins-conservadora", mesmo que fosse Halloween.
─── Qual seu nome? ─── ele perguntou, pegando um copo qualquer da mesa e bebendo.
─── Uhm... Andy. ─── ela falou, sua expressão permanecendo neutra. Sua voz não estava alta, apenas o suficiente para ele escutar sem precisar de aproximar mais; sem saber quem ele era, ela preferia manter uma distância adequada. ─── Andy Hopper.
Ele pareceu reconhecer o sobrenome, visto que suas sobrancelhas se ergueram e o sorriso caiu um pouco; apesar dele se recompor rapidamente, Andrea ainda havia sido hábil de captar aquilo, a morena só não sabia se era algo para se manter alerta.
─── Hopper, do tipo Jim Hopper, o xerife? ─── o loiro perguntou, entregando um copo com bebida para ela. ─── Seu pai sabe que você tá aqui?
Ela conteve a urgência de revirar os olhos até que a imagem dele desaparecesse de sua frente e, ao invés disso, apertou os lábios no sorriso mais falso e forçado que conseguiu, colocando o copo de volta na mesa e limpando a mão na jaqueta.
─── Acho que eu não vou ser a maior preocupação do meu pai hoje. ─── ela sussurrou enquanto fitava com uma careta os adolescentes bebendo descontroladamente dos barris de cerveja.
─── O quê, você é boa demais pra isso?
─── Você ainda não me disse seu nome.
Ele sorriu de lado ao dar um passo na direção dela, inclinando a cabeça para que ela pudesse ouvi-lo por cima do som alto ── o que parecia desnecessário já que não havia uma grande diferença de altura e o som não eram tão alto onde estavam. Se eles mantivessem a voz em um tom adequado, seria fácil para ouvir o outro.
─── Billy. Billy Hargrove.
Billy Hargrove. Andrea lembrava vagamente do nome ser dito por uma de suas colegas de classe, mas ela não havia tido nenhum interesse anterior em descobrir mais sobre ele ou ao mesmo entender a fama que o mesmo tinha; ainda assim, algo lhe dizia que ele não era uma boa companhia, principalmente se era amigo de Tommy e dos outros garotos do antigo grupo ── aparentemente ── de Steve Harrington. Balançando a cabeça, ela o olhou de cima à baixo por um momento antes de fitar os olhos dele novamente e espelhar o sorriso presunçoso que ele tinha, balançando os ombros.
─── É, talvez eu seja boa demais pra isso, Billy Hargrove. Sério, não vejo como beber cerveja e acordar com uma provável resseca infernal amanhã de manhã seja a melhor ideia de diversão em uma noite de Halloween, ainda mais com aulas amanhã, mas... ei, sem julgamentos. ─── ela ergueu o polegar, tentando suavizar a palavras que havia dito.
Se virando, ela se preparou mentalmente para entrar na residência e enfrentar o som alto e os corpos suados dançando tão perto um do outro, mas uma mão segurando seu cotovelo a impediu de tal. Ela virou a cabeça, estranhando a presença de Billy tão próxima, a deixando incomodada.
─── Você realmente acha que é melhor do que eles- melhor do que eu? ─── ele perguntou com a voz baixa mas com um rancor que ela tinha uma estranha familiaridade, ainda que não soubesse como. ─── Quer saber o seu problema, Hopper? Você é só mais uma vaca, igual à todas as garotas dessa merda de cidade.
─── E ainda assim, você vai atrás de cada uma delas. ─── ela murmurou, sem saber de onde havia tirado coragem ou imaginação para rebater. ─── Qual o seu problema, Hargrove? Precisa de validação via sexo ou algo do tipo, hm? Mamãe não diz que te ama o suficiente?
O aperto ao redor do braço dela se intensificou ao ponto de fazê-la soltar um suspiro de surpresa, ainda sem desviar o olhar dele. Andrea agora estava irritada, tendo seu braço agarrado por um adolescente estranho que acabou de conhecer em uma festa que deveria ser divertida, mas que a fez se meter em uma discussão onde não sabia o porquê de estar dizendo aquelas coisas. Ela havia acabado de conhecer ele.
─── Solta meu braço, Billy. ─── ela pediu, cuidadosa. Aparentemente, mencionar a mãe dele não havia sido a melhor ideia de seu subconsciente.
─── Ou o quê? Vai chamar o papai?
─── Acredite, esse não é o tipo de situação que o deixaria preocupado, eu sei me cuidar.
Ele riu, próximo do rosto dela, a fazendo sentir o hálito de cerveja e foi como reviver uma memória esquecida de Ohio, quando Walter ainda parecia ser inofensivo ao redor dela. Aquilo estava indo longe demais- Billy estava indo longe demais ao ficar bravo com algo que ela não sabia. Andy não sobreviveu à toda aquela merda no ano anterior pra ser humilhada por um rapazinho qualquer que é infeliz com a vida.
Ela pegou o copo de cerveja que ele havia entregado à ela minutos antes e bateu contra o rosto dele, usando toda a força e raiva que havia crescido nela de repente. O loiro se afastou em surpresa, tocando onde ela havia acertado enquanto as poucas pessoas, que não estavam tão chapadas ou bêbadas, pararam para observar o que estava acontecendo, mas nem isso havia sido o suficiente para fazer Andrea se afastar ou correr, o que teria acontecido anos antes.
Ela pegou um guardanapo qualquer na mesa para enxugar à mão enquanto ele parecia se recuperar do ataque, a fitando com fúria, provavelmente pela calma que ela exalava após tal ataque. O lado esquerdo da bochecha de Hargrove estava avermelhado e cerveja manchava sua jaqueta e peitoral, descendo por sua calça. Em qualquer outro dia, ela teria ficado aterrorizada com ele, mas ali, com tanta adrenalina em seu corpo, ela se sentia invencível.
─── Ei, ei, ei, o que tá rolando? ─── Tommy perguntou ao se aproximar dos dois, vendo a bagunça que Billy Hargrove estava por estar perto de Andrea. ─── Cara, eu te falei pra não mexer com essa maluca. ─── ele sussurrou, mas ela ainda foi capaz de o entender. Ele empurrou o loiro pelo peito, o afastando da morena. ─── Vem, vamo' pra outro lugar.
─── Vai ter volta, Hopper! ─── Billy gritou enquanto se afastava. ─── Pode esperar!
Apenas quando eles dois sumiram no meio da multidão ── que agora havia parado de prestar atenção nela e preferiram torcer por um cara bebendo cerveja do barril de cabeça para baixo ── foi que ela pôde respirar aliviada, sem ter idéia da confusão em que havia se metido.
─── Perfeito... era exatamente o que eu precisava.
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DEPOIS DE MUITO PROCURAR, ANDREA finalmente achou uma garrafa de água escondida no fundo da geladeira de Tina, que estava tão cheia de latas de cerveja que ela poderia facilmente dizer que funcionava uma república naquela casa.
Ela sentou na calçada, com as pernas esticadas na pista, enquanto bebia a água e tentava recarregar sua bateria social, que praticamente esgotou após a discussão e o breve encontro com Jonathan. Andy estranhou já que, de acordo com Jeff, o Byers mais velho também iria à caça aos doces, mas ela imaginou que ele também queria uma chance de descarregar toda a tensão acumulada de um ano inteiro de preocupação.
A Hopper queria poder ser mais próxima dele, principalmente por terem tantas coisas em comum, mas parecia estranho tentar uma amizade baseada em situações terríveis que aconteceram com ambos e, ainda que a dor dela nunca fosse se comparar com a de perder um irmão mais novo ou ainda ter que ver esse irmão sofrer durante um ano inteiro sem poder fazer nada, ela sentia que ambos teriam muito assunto para conversar.
Limpando o canto da boca, ela olhou por cima do ombro, na direção da garagem, para tentar ver se Billy ou Tommy apareceriam ali para terminar o que ela havia começado. Andy esperava que não porquê pedalava como uma merda quando estava nervosa e não sabia se conseguiria aguentar um segundo round contra ele... pelo menos naquela noite.
Mas, ao invés de Hargrove ou Hagan, ela foi presenteada com a infeliz imagem de Steve Harrington que estava sozinho, o que era muito estranho. A morena respirou fundo e tomou mais um gole da água antes de fechar a garrafa, voltando a fitar as casas com decorações de Halloween, implorando para que o namorado de sua amiga a ignorasse e passasse direto. Para seu azar, foi o contrário.
─── Não sabia que você bebia. ─── ela o ouviu falar, talvez querendo iniciar uma conversa.
─── É importante se manter hidratado, Harrington, sua mãe não te ensinou isso? ─── resmungou, mostrando a garrafa de água com um revirar de olhos. ─── Além do mais, pedalar uma bicicleta depois de beber álcool é a coisa mais estúpida que se pode fazer, principalmente quando já se é adulto, mas eu não espero que alguém como você saiba dessas coisas.
─── Você já fez dezoito, não é? Legal... meu aniversário é só no final de novembro. ─── ele comentou com um sorriso fraco, que logo caiu ao ver que a Hopper não respondeu, ou ao menos pareceu não ouvir. ─── Não tá mais aqui quem falou. ─── sussurrou, pondo as mãos no bolso da calça.
Lentamente, Andrea fitou ele, sem entender em qual momento daquela curta mas estranha conversa ela havia dado algum sinal de que queria conversar ── ou pior ainda, amigar ── com ele. Nancy não estava presente, ela não precisava manter seu tom educado.
─── Não somos amigos, Harrington. Se já terminou de puxar papo com um assunto tão idiota como você, pode ir embora. Por incrível que pareça, ficar sozinha no meio da rua é muito mais seguro do que ter você ao meu lado falando merda sem parar.
─── Uau, Hopper. ─── ele sussurrou chateado, se afastando na direção de seu carro antes de dar meia-volta e ir até ela novamente. ─── Se você não se importar, pode pelo menos dizer por que você é assim comigo?
─── Assim como? Arrogante com o cara que fez bullying comigo na infância? Vê se cresce, rei Steve, nem todo mundo vai lamber o chão que você anda. ─── ela levantou, limpando a calca e caminhando até sua bicicleta. ─── Principalmente quem sofreu na sua mão.
─── Desculpa, tá bem? ─── ele pediu, a seguindo. ─── Eu era um tremendo babaca, eu sei, mas eu mudei. Você saberia se não passasse tanto tempo evitando a Nancy.
Andrea pegou sua bolsa e a bicicleta, apertando os guidões com força e se virando para fitar ele. ─── Você tá tentando pedir desculpas ou pondo a culpa em mim, Harrington? Fica difícil de saber com esse seu tom.
Ele apertou os olhos antes de pôr as mãos na cintura, respirando fundo e olhando para a garota à sua frente, que agora parecia extremamente entretida com o que ele teria à dizer nos próximos segundos, o que, de alguma forma, o deixou ainda mais nervoso. Nos últimos meses, ele havia mesmo mudado e pedido desculpas para aqueles que ele machucou, mas aquela tarefa se tornava tão difícil quando se tratava de Andy e sua missão de evitá-lo sempre que podia.
─── Eu sinto muito, Andy. Por ter feito aquelas piadas idiotas quando éramos mais novos ou pôr não ter dado importância o suficiente quando a amiga de vocês desapareceu, ok? Eu sei que pedir desculpas não vai recompensar pelo o que eu fiz, mas eu só queria uma chance de mostrar que eu mudei.
─── Hm... ─── ela franziu as sobrancelhas, desviando o olhar por um momento. ─── Então, tipo... você quer ser meu amigo?
─── Se você quiser, sim.
A Hopper balançou a cabeça, apertando os lábios em um sorriso, o que fez Steve criar esperanças de que aquela rixa talvez fosse acabar de vez, mas ele percebeu que era uma idéia estúpida quando ela inclinou a cabeça e riu fraco, antes de fechar o rosto de repente.
─── Não. ─── ela disse simplista, subindo na bicicleta e pedalando alguns metros antes de parar e se virar para fitar ele. ─── Mas avisa pra sua mãe que a resposta pra ela é sempre sim. ─── gritou, antes de voltar à pedalar para a cabana de seu pai, sem muita vontade de ir para casa.
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