11. Conspiração cósmica.
3 de Junho, 2006
Desde a conversa com seu pai no dia anterior, Jacob não conseguiu mais do que ir da sala para seu próprio quarto, sem forças pelo resto das horas que se seguiram, ignorando todas as tentativas de contato da matilha, sua única fonte de distração sendo o diário traduzido de Ephraim. Página após página, ele emergiu tão profundamente na leitura nas palavras de seu bisavô que sentiu como se estivesse lá, no momento em que a matilha conheceu os Cullen, na primeira troca de palavras entre eles, o primeiro instante em que Ephraim olhou para Ashlyn e sentiu que havia algo sobre ela.
A manhã se tornou tarde, e a tarde logo virou noite, o sol desaparecendo atrás de sua casa conforme Jacob se perdia nos relatos. Isso quase o distraiu da dor crescente em suas entranhas, o arrepio gelado que corria em sua pele a cada vez que ele lia o nome de Ashlyn e sofria fisicamente as consequências de sua atitude impulsiva.
Que tipo de idiota corre de seu próprio imprinting quando acabou de conhecê-la?
Ephraim a descreveu em seus manuscritos como sendo inacreditavelmente humana, espirituosa e cheia de luz, apesar de pertencer à escuridão, tão cheia de vida que os fazia esquecer que já estava morta há décadas. Sua mera existência soava surreal, o tipo de coisa que era preciso ver para crer.
E ela estava bem ali, ao seu alcance, e ele jogou a oportunidade no lixo quando, ao invés de falar com ela, lhe deu as costas e desapareceu no escuro da floresta.
"Idiota!" ele continua ecoando para si mesmo, incapaz de pregar os olhos por um único segundo naquela noite.
E, na manhã seguinte, enquanto Jacob estava apenas uma bagunça de dor física e cansaço mental, olhos pesados e cabeça latejando, seu telefone começou a tocar outra vez sobre a mesa de cabeceira. Ao contrário do restante das vezes, esse era o toque personalizado de Isabella, o que o deixou curioso, porque eles já não se falavam desde a discussão de dois dias atrás.
— Bella? — Ele atende com a voz quase silenciosa, franzindo as sobrancelhas em confusão. — Olha, eu realmente não quis dizer aquilo, eu não prefiro que você morra e essa foi uma coisa estúpida de se dizer.
— Eu não estou com raiva. — Bella garante. — Você está perdoado.
— Obrigado. — Agradece genuinamente, arrependido da discussão com sua amiga.
Apenas amiga... estranho como pensar em Bella dessa forma forma alguns dias trás o teria feito estremecer de desgosto. Antes, ele achava que jamais superaria a sensação de não ter seu amor por ela correspondido. Mas tudo isso desapareceu no instante em que ele olhou para Ashlyn, pura e simplesmente, uma paixão soprada pelo vento como se pesasse tanto quanto um grão de poeira.
Ele se pergunta agora se algum dia realmente a amou dessa forma.
— Jacob, eu... — Bella murmura, hesitante de uma forma que faz o rosto de Jacob se contorcer.
— O que há de errado? — Ele pergunta.
— Jake, alguém esteve aqui. — A declaração leva um tempo para fazer sentido no estado confuso em que Jacob se encontra. — Uma das minhas camisetas desapareceu. Os Cullen tentaram seguir o invasor pela floresta, mas perderam o rastro.
— Quer dizer um vampiro? — Jacob se senta com dificuldade, mordendo um gemido de dor. — Os Cullen não reconheceram o cheiro?
— Ninguém que eles já tenham conhecido antes. — Ela explica. — A matilha não encontrou nada novo?
Como Jacob explicaria à Bella que não têm falado com o bando desde que teve um imprinting por uma vampira que, à propósito, fora casada com Edward Cullen? Não, não, ele não precisa de mais essa dor de cabeça agora.
— Eu estive ocupado. — Mente Jacob descaradamente. — Não falo com ninguém do bando há mais de um dia.
— Será que você poderia...?
— Eu vou perguntar ao Sam assim que possível, prometo. — É então que a ideia surge, praticamente sussurrada sobre seu ombro, tão estúpida que quase parece brilhante. Se para conseguir falar com Ashlyn ele precisava ter algo em comum com os Cullen, então o repentino visitante de Bella pode ter vindo no momento certo. — Se quiser, eu posso ir até aí, talvez encontro algo que eles deixaram passar.
— Você faria isso? Eu não quero te aborrecer, mas isso seria ótimo. — A emoção na voz de Bella o faz se sentir mal por usá-la dessa forma. Mas ele não é nada agora além de um homem desesperado, e tem certeza que ela seria capaz de perdoá-lo se soubesse o motivo.
Bem, talvez não.
— Não é sacrifício algum, Bella. — Uma mentirinha social poderia ser bem aceita, considerando que até mesmo respirar agora estava exigindo muito esforço de sua parte.
— Você pode vir depois das 13h? Charlie vai estar aqui pra almoçar e eu prefiro esperar até ele volte pra delegacia.
— Sem problemas. — Jacob murmura, conferindo o relógio. Ele teria mais de quatro horas para se recompor o bastante pra evitar suspeitas. — Te ligo quando estiver à caminho.
— Até logo, Jake.
Suspirando, ele joga o telefone de lado na cama e esfrega o rosto com a mãos. Esse dia seria dolorosamente longo.
✧
Que ideia horrível. É tudo em que Jacob consegue pensar enquanto se aproxima da residência dos Swan, avistando dois carros estacionados na frente da calçada, além da picape de Bella. Ele para sua moto logo atrás do mustang cabriolet vermelho, desligando o motor e chutando o descanso lateral no mesmo instante em que vê Bella descer as escadas da varanda com seu namorado vampiro à reboque.
"Oh, ótimo" ele fecha os olhos por um segundo para evitar revirá-los, tamanha sua frustração com a presença do leitor de mentes que, com toda honestidade, era a última pessoa que ele gostaria de ver agora. Ele mal pode lidar com sua própria confusão e não precisa de um vampiro intrometido cavucando seus pensamentos, muito obrigado.
— Jacob! — Bella o cumprimenta com um meio sorriso alegre, parando a meio metro enquanto ele se aproxima sem pressa, devagar o bastante para não forçar seu corpo a um limite que parece bem curto agora. — Você veio mesmo.
— Eu disse que viria. — Ele repuxa um sorriso que não chega aos olhos, mas Bella não parece notar a diferença. — Sam colocou a matilha pra patrulhar ao longo da fronteira, procurar por algo fora do comum.
— Nem precisava de tanto, Jake. — Bella balança a cabeça sem jeito, mordendo o interior da bochecha.
— Ele não se incomoda. — Edward, que Jacob honestamente queria esquecer que estava ali, afirma por cima do ombro dela, olhando-o diretamente nos olhos com uma expressão ilegível. — Está na natureza deles.
Em outra circunstância, a insinuação teria Jacob rosnando bem na cara de Edward, os dentes tão perto de seu rosto que um movimento errado poderia desfigurá-lo pelo resto de sua existência patética. Mas não hoje, não agora. Matá-lo faria uma ruptura no tratado que acabaria com qualquer chance que ele tinha de se acertar com seu imprinting.
Ele não estava disposto a sacrificar Ashlyn dessa forma, nem por um idiota como Edward, nem por mais nada.
No momento em que esse pensamento passou por ele, Jacob viu todo o rosto de Edward se transformar de forma impressionante, algo desconhecido brilhando por trás da máscara estóica que o vampiro exibia tão orgulhosamente. Ashlyn, Ashlyn, Ashlyn. Jacob ecoa ruidosamente, como um cântico sagrado, cada canto de sua mente tomado pelo pouco que tinha dela. Edward parecia repentinamente perturbado pela mente de Jacob, e o garoto quileute se viu na obrigação de sorrir arrogantemente com a compreensão.
Tudo isso aconteceu em apenas um milésimo de segundo, rápido demais para a percepção humana, e Bella estava felizmente ignorante quando interrompeu a troca calorosa:
— Então, você quer entrar?
— Claro. — Jacob responde, o sorriso nunca saindo de seu rosto. — Por onde eu começo?
— Bom, Edward diz que o cheiro é mais forte no meu quarto. — Bella explica, parecendo sem graça com a revelação enquanto coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Eu começo daí então. — Jacob decide, passando por ambos sem cerimônias e se dirigindo para dentro da casa sem esperar que qualquer um deles o siga. Ele tem quase certeza de que não o fariam, principalmente depois da pequena exibição de sua mente.
"Finalmente" ele pensa, "tenho algo pra mantê-lo longe da minha cabeça".
Jacob deixa o assunto de lado por enquanto, decidido a se focar na tarefa que tem em mãos, subindo direto pelas escadas e descendo até o fim do corredor. Antes mesmo de cheirar profundamente o ar, ele pode sentir que, além dos constantes cheiros de Bella e Charlie, também havia o pungente odor de vampiro que Edward parecia ter impregnado nas paredes do lugar, e acima de todos os outros, parecendo dançar sob suas narinas, um suave aroma de jasmins e baunilha que emanava principalmente do quarto de Bella.
"Esse definitivamente não poderia ser o cheiro do invasor" Jacob considera ao agarrar a maçaneta e abrir a porta sem um segundo de hesitação.
Ele sabia que esperava muitas coisas ao entrar ali, mas não isso.
Qualquer coisa, exceto por ela, parada a menos de três metros, de pé e inclinada contra a escrivaninha, tão inacreditavelmente linda quanto na noite em que ele a conheceu.
— Ashlyn. — Ele sopra, perfeitamente ciente de que ela foi capaz de ouvir, a mão escorregando da maçaneta e pousando ao lado do corpo frouxamente, vulnerável de formas que nunca esteve antes.
— Olá, Jacob. — Ela sorri timidamente, e Jacob sente que suas costelas poderiam rachar com a força que seu coração salta dentro do peito. — Achei que nunca fosse chegar. — Jacob sabe, quase intrinsecamente, que ela não falava apenas sobre hoje, tão pouco ontem ou a semana que se passou.
Um ano, uma década, ou talvez uma vida inteira.
— Eu não sabia que estava sendo esperado. — Ele confessa, soando quebrado, culpado até.
Ashlyn sorri um pouco mais forte, os olhos brilhando suavemente enquanto o observa, parecendo escolher as palavras certas para dizer.
— Você veio. — Ela diz por fim.
— Eu vim. — Jacob ecoa, parecendo finalmente capaz de respirar no ar denso que se formara entre eles.
Ele só desejava não estragar tudo dessa vez.
✧Avisos✧
Eu sei que vocês não aguentam mais esperar pra que Ashlyn e Jacob tenham a tão necessária conversa, mas eu queria antes dar o contexto do ponto de vista do Jacob. Tenham só mais um pouco de paciência e eu prometo que serão recompensados no próximo capítulo.
Agora, se puderem me ajudar com uma coisinha, eu ficarei muito agradecida.
Quero mudar a atriz que interpreta a Ashlyn porque está sendo muito difícil manter a estética da história, é simplesmente impossível ter gifs bons da Bárbara Palvin pra se encaixarem na história. Pela descrição da aparência da personagem, eu pensei em mudar pra Danielle Rose Russell, até mesmo porque ela tem uma boa quantidade de gifs como vampira também.
O que acham, honestamente? Alguma outra sugestão além da Danielle?
Desde já agradeço por tudo.
Beijinhos e até a próxima.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top