Epílogo

"Casa comigo."

Cartas


[ Pouco depois do assalto| Anne ]

"Ainda me lembro de não entender seu choro de bebê, de achar nojento as papinhas e odiar quando aprendeu a puxar meus cabelos. Nossas noites de filmes, em que você ficava tentando chamar minha atenção e eu a ignorava para conseguir entender, as vezes que tentamos fazer pipoca sozinhas ou nos ajudar com atividades escolares.

Lembro de ter dez anos, e estar muito brava com você. Tinha cortado os cabelos das minhas bonecas, porque não brinquei da forma certa na noite anterior, chorei durante dois dias, papai me comprou novas no mesmo dia, mas o que havia me magoado não eram elas e sim sua atitude, sempre te amei e não estava esperando aquela ação. Me pediu desculpas uma semana depois, invadiu meu quarto e me acordou aos prantos, sinalizando que sentia muito. Dormimos abraçadas e nossa babá nos encontrou na manhã seguinte, assistindo desenhos no sofá juntas.

Consigo me sentir da mesma forma que me senti na noite do meu primeiro beijo, me ajudou a passar uma hora a mais fora de casa, mantendo papai ocupado com seus dramas. Sinto a euforia do momento, as minhas bochechas esquentando e toda a alegria em detalhar a noite para você, horas depois na sua cama, foi uma das nossas noites de irmãs. Alguns anos depois foi sua vez, me senti muito sortuda, sabendo que confiava em mim para tudo.

Odeio e também me divirto com as lembranças das suas idiotices, me fazer te buscar durante as madrugadas dos Estados Unidos, cuidar de uma versão sua bêbada e limpar seu vômito do banheiro para evitar castigos. Sempre acabo rindo das suas dores de cabeça, e mal humor na manhã seguinte.

Não se esqueça de mim, nem deixe de viver. Ignora as regras idiotas da sociedade e principalmente do nosso pai, escolha seu curso e seu futuro.

E Anne, se precisar de mim, mas apenas se precisar. Faça o seguinte: apareça publicamente nas redes ou jornais, usando roupas totalmente chamativas e diga que pensou em tirar férias de tudo. Vou rir muito, mas chego até você em poucos dias.

Não mostre esta carta a ninguém, saberei se me entregar e então poderá me esquecer.

Agora sua vida está em suas mãos. Viva.

Com amor, da sua e sempre sua irmã mais velha...

Ama "

                            [Família]

"Devem estar me odiando agora, e esta tudo bem. Porque estou ótima.

Agradeço os anos de estudos pagos, a melhor educação que puderam me dar e a irmã que me deram. Mas não sou grata a pressão psicológica, que fui forçada a viver durante todos estes 22 anos, pensando que minha vida não era nada longe de vocês, tenho ódio da opressão vivida e todas as regras exageradas das quais segui, achando ser o correto, quando na verdade o que importava era sua imagem de perfeição.

Não me arrependo de deixá-los agora, fico triste em não ter feito antes.

Espero que fiquem bem, com amor, sua ladra da família: Amara"

Meses depois 

Amara amava sua nova vida. Sua tão sonhada liberdade, agora mais real do que nunca, tinha tudo aquilo com o que sonhava.

Nos meses seguintes ao assalto, Rio e ela montaram sua ilha dos sonhos, as vezes os dois passeavam aos arredores, sempre demonstrando ser um casal repleto de paixão e cumplicidade. O Hacker se esforçou para aprender a linguagem de sinais, ao mesmo tempo em que ensinava sua garota a falar por conta própria.

Passaram por um médico novamente, pois Rio queria ter a certeza de que fizeram tudo por ela, em relação a sua audição, receberam a notícia de que poderiam fazer um implante de aparelho auditivo.

Eles saiam da ilha uma vez a cada quinze dias, indo a um fonaudiologo especialista, aposentado, que se dispôs a ajudar o casal com descrição. A garota havia decido que queria falar, Amara era uma aluna aplicada, ela ignorou a estranheza que sentiu na garganta, a coceira devido a falta de utilização de sua voz.

As vezes, a mulher se sentava no chão, observando as estrelas, enquanto pensava com muita saudade em sua irmã e também todos do bando. Por mais que ela e Misun estivessem realmente animadas em manter seus planos de visitas. Duas mulheres são mais espertas do que muitos homens, elas dariam um jeito de se manterem perto uma da outra.

Pensar em Anne a deixava nostálgica, as vezes a sensação de culpa a preenchia, pensando ser egoísta com a irmã em ter a deixado. Conseguia lembrar da carta escrita, em que se despedia minutos antes de se separar da caçula.

Aprendeu a amar mais detalhes em Rio naquele ano, como por exemplo os diferentes tipos de sorrisos que dava, quando nervoso, alegre e bobo. A mania dele de colocar a mão no bolso quando se sentia ansioso ou coçar a nuca ao esconder algo. Amara sempre sabia quando o namorado planejava algo, por mais que ele tentasse a todo custo não demonstrar.

Já Rio continuava a observar tudo na namorada, sempre tirando fotos dela nos momentos mais bobos e únicos. O Hacker estava junto quando ela decidiu cortar o cabelo acima dos ombros e tingir para ruivo, partiu dele a ideia de manter a franja, que segundo sua fala a tornava mais angelical, Amara havia zoado tal termo durante dias, mas atendeu o pedido.

Ele também adorava a ver pintar, haviam montado um estúdio para que a mulher conseguisse toda a liberdade e concentração desejada, não importava quanto tempo a sul-coreana ficasse desenhando, o namorado sempre se mantinha por perto.

Haviam algumas regras para seguir, estas que seguiam de uma básica premissa, a de que eles deveriam se manter as escondidas de olhos curiosos.

Amara havia decorado todas, e sabia todos os números que mandaram também, tinha uma ideia de onde Misun e Denver estariam, por mais que não tivesse contado a Rio. Eles gostavam de seus dias como uma dupla solitária, mas precisavam de um pouco de adrenalina de vez em quando. Com muito planejamento, conseguiam fazer pequenos passeios por lugares listados como seguros, mas nunca esbanjando dinheiro ou chamando atenção, passavam poucos dias nestes locais e logo voltavam a sua rotina, leve e amorosa, onde se sentiam livres.

Nos últimos dias, o casal discutia de forma amigável, o próximo destino, um lugar que fosse simples e romântico. Se aproximava da época em que tentariam ver os amigos, algo que desejavam que o professor nem imaginasse.

Amara queria que todos pudessem estar juntos, sonhava em tê-los por perto, em vê-los como se fosse uma rotina comum, queria saber como Berlim estava, se Misun e Denver planejavam casar ou ter bebês, queria que seus futuros filhos fossem amigos e ser uma família unida.

Ela mesma se pegava pensando em pequenas crianças correndo pela ilha, em ensiná-las linguagem de sinal, ver elas invadindo programas de software, e depois sair para nadar com eles, antes de poder se sentar a varanda e ver o mar, de encontro com a lua.

Amara pulou sobre Misun no primeiro segundo, as amigas rindo da quase queda, evitada por seus namorados risonhos e atentos. Seria apenas um fim de semana em Paris. As mulheres dominaram as lojas mais diversas, a sul-coreana tomando a frente de tudo.

—— Roxo combina com você —— disse a sul-coreana, indicando um vestido de seda que carregava.

—— Você acha?

—— Tenho certeza —— afirmou sincera, passando a nova compra para a amiga, antes de seguirem para o caixa, com várias roupas consigo.

Enquanto a dupla se encarregava de gastar pelas ruas parisienses, os homens apenas as seguiam entediados, comprando cervejas e reclamando de tanto andar. As vezes os dois sorriam para as mulheres, fingindo que estavam prestando atenção no que compravam.

—— Cara eu amo aquela mulher —— Denver disse com um sorriso grande no rosto, vendo Misun experimentar um vestido azul, enquanto desfilava para uma Amara sorridente que batia palmas.

—— Cara, quero me casar com ela —— suspirou Rio, mandando um pequeno beijo para a namorada, que buscava a aprovação dele, usando um vestido vermelho longo.

—— Estamos perdidos, meu irmão —— riu o norte-coreano, abrindo mais uma cerveja para os dois —— Estamos presos em coleiras.

Ele sorriu de volta, mesmo que no escuro de onde se encontrava, havia uma mulher ao seu lado, que nem se moveu apesar de acenar.

O norte-coreano abriu os braços, cambaleando quando a ruiva se jogou sobre ele com força. Berlim estava abatido, mas continuava com o mesmo sorriso cínico e olhar aguçado, o homem conseguia se fingir de frio, mas realmente havia sentido falta da menor, sempre olhando o desenho que recebeu em meio ao assalto, presente que orgulhosamente emoldurou, com a ajuda de sua parceira.

—— Também senti sua falta, pequena Amara —— disse o mais velho, sinalizando. Sorrindo ainda mais quando a menor o abraçou novamente, antes de puxar Seul para junto deles.

—— Amo vocês —— a voz da Amara soou baixa, observando a surpresa no rosto dos amigos.

—— Você está falando —— Seul comentou assimilando a situação, Amara a sua frente acenou orgulhosa, sentindo o namorado a abraçar por atrás, também feliz. —— Isso é incrível.

—— Ela é incrível —— completou o Hacker deixando um pequeno beijo na testa da menor.

—— Vejo que está cuidando muito bem da nossa menina —— Berlim comentou, antes de cumprimentar o restante do grupo com acenos. —— é bom vê-los. —— os quatro franziram o cenho —— Mentira, só vim por Amara.

Até mesmo Denver havia estudado alguns sinais, especialmente piadas sem graça e palavrões. Os seis jantaram juntos, atualizando brevemente o que acontecia em suas vidas, e como sentiam falta um dos outros.

—— Então —— começou Rio pouco depois da sobremesa, com um sorriso convencido nos lábios, enquanto passava o braço direito por cima da cadeira da namorada, que se enclinou contra ele, atenta a conversa que se seguiria. —— Vocês tem algum bebezinho a caminho?

—— Rio! —— a sul-coreana bateu no peito do amado com força, os olhos arregalados pelo assunto.

—— Isso aí, irmãzinha, bata nele!

Denver zombou sorrindo para o casal, também abraçando sua agora esposa, com carinho. Berlim ao lado deles olhou para o relógio pela quinta vez na noite, sabendo que deveria se despedir em breve, mas ficou ansioso pelo que se seguiria, unindo sua mão a de sua mulher.

—— Você não pede a nossa Amara em casamento, mas quer saber dos nossos relacionamentos —— brincou Misun erguendo as sobrancelhas e piscando para a amiga.

Amara ergueu os ombros, fazendo um biquinho falso.

—— Vá rápido, garotinho —— comentou Seul olhando para o céu, um sorriso irônico no rosto. —— ou Berlim e eu a levaremos conosco.

—— Me levem!

Os cinco acabaram rindo da expressão assustada no rosto do rapaz, que engoliu em seco, apalpando algo no bolso do casado. Berlim parou de rir com uma pequena tosse, observando o movimento do Hacker, quando os dois homens se encararam, o mais velho acenou aprovando a iniciativa.

Rio respirou fundo, encarando a mulher que amava ainda rir, ela estava distraída no meio dos amigos, por mais que desejasse Tóquio e os demais por perto.

Amara se acalmou em seguida, olhando para o namorado com seus olhos curiosos, uma batida em seu coração falhou, quando seus olhos pararam na caixinha nas mãos do homem que sempre amaria.

Os dois outros casais se encararam com expectativa, arrumando suas posturas nas cadeiras. Denver puxou uma câmera antiga da bolsa da esposa, apontando para eles.

—— Amara, sempre digo o quanto te amo e mudou minha vida. Falo sobre como é linda e perfeita para mim, que adoro sua empatia e coragem. Mas agora tenho que falar sobre nosso futuro, um em que estamos casados, em uma casa confortável com dois filhos, nossas viagens em família, quando iriamos visitar esses idiotas-

—— EI!

—— Cale a boca!

O Hacker sorriu, fingindo não ser interrompido.

—— Já pedi antes, mas foi no meio de um assalto e nem foi da maneira certa. —— lembrou soltando um riso nervoso —— Amara. Case comigo. Vamos ter nosso novo capítulo juntos, colocar uma aliança cara nos dedos e causar inveja nos pobres de plantão. —— abriu a caixinha, um anel de pedra azul brilhando —— Quer casar comigo?

Amara sentiu os olhos se encher de lágrimas, estas que se recusou a derramar enquanto acenava com alegria, segurando o rosto do noivo entre suas mãos, para o beijar com carinho.

—— Eu aceito. Quero. Me caso com você, hoje se quiser.

Os dois se casaram na mesma cidade em que Denver e Misun moravam, uma semana depois, os amigos servindo de padrinhos e testemunhas. Berlim e Seul enviaram as chaves de um conversível caro de presente, se desculpando por não estarem lá no momento.

Amara usou um vestido branco de camponesa, sem decotes ou pedraria, tão leve que mal sentia no corpo, combinava com o terno claro do marido, que chorou quando assinaram o papel, com nomes falsos, mas aquele detalhe não importava, e sim que ainda se amariam, em qualquer lugar que estivessem, sobre qualquer dificuldade e usando um nome aleatória que fosse. Seria eterno, puro e lindo.

Ela sentiu falta de seus outros amigos, queria ter Nairóbi ali fazendo besteiras, oferecendo bebida para ela, Tóquio iria balançar a cabeça a cada piada da amiga e se ofereceria para ajudar nos preparativos.

Sabia que Berlim iria se fazer de sério, junto de Seul, ambos iriam ameaçar Rio um pouco, mas estariam sorrindo. Eram sua família afinal, Amara entraria em um novo assalto por eles, levaria um tiro pela segurança deles, amava cada um daqueles assaltantes.

Mesmo que não estivesse com eles, a ruiva se sentiu completa.

EAI!?

Olá pessoal. Quanto tempo, né?

Estou consumida pela vida universitária. Alguém por favor me doa um milhão de reais, aí eu largo minhas responsabilidades e vivo de escrever para vocês 😁 meme (ou não)

É isso. Até Breve, nos comentários, talvez um capítulo bônus ou alguma outra fanfic minha.

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