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"Nunca é uma despedida real."
Amara acordou uma bela manhã, sem ouvir nada como seu normal, uma missão em mente e preparação para um dia exaustivo, porém, divertido ao lado de sua menina predileta. Seu quarto tinha diversos desenhos pendurados, um espaço dedicado a polaroides, uma mesa com tintas das mais diversas cores, e uma lousa com anotações para os dias seguintes.
1° Entregar um novo quadro ao Senhor Woo.
2° Comprar um presente para a senhorita Lee Mali, seu aniversário é na sexta-feira seguinte.
3° Lembrar Anne de fazer suas atividades.
4° Comprar um novo caderno de comunicação.
Amara sorriu levemente para seu trabalho, orgulhosa de como mantinha tudo organizado, tentando ao máximo não dar motivos para que seu pai surtasse com algo. Aprendeu desde nova, a se manter no centro da perfeição, até onde conseguia ao menos, não seria o maior orgulho da família, mas se dedicava a ideia de não os decepcionar.
Vestiu seu vestido branco predileto, batia pouco acima do joelho, uma jaqueta jeans, comprada com o dinheiro do seu último quadro vendido e seu tênis mais confortável, se sentindo pronta para seu dia de irmã mais velha, onde iria acompanhar Anne e sua turma, a uma excursão a Casa da Moeda das Coreias Unificadas. Se um grupo de assaltantes não tivesse se metido no caminho, Amara não teria torcido o pé, ou sequer brigado com sua irmã. A visita estaria encerrada ao fim do dia, voltaria a sua casa, terminaria seu trabalho, seguiria sua lista com louvor e continuaria sua vida comum.
Porém, se aquele grupo não houvesse se metido em um plano ousado, ela estaria condenada a uma vida triste e pacata, sem liberdade ou amor, este que lhe foi apresentado por aqueles que agora são sua família.
Sentada ao lado de Rio, quem não conhecia até uma semana antes, sua cabeça escorada no ombro do rapaz que usava a dela como travesseiro, Amara se perguntou o que aconteceria, caso tudo estivesse dado errado, aquela pequena possibilidade de não ser realmente feliz, de dormir e acordar em sua cama fria, ter de lidar com sua prisão em formato de vida feliz, sem as risadas ou amores reais, não gostava da ideia, nunca amou uma versão sua como amava aquela, vestida de azul, pronta para viver.
Amara esticou a mão esquerda para unir a de Misun, plantada ao seu lado, junto de Denver que sorria aliviado. O grupo todo compartilhava de uma única sensação, a da eminente vitória.
Berlim estava vivo, e eles saíram com vida. Perderam alguns de seus amigos, família, e agora iriam enfrentar o mais difícil, continuar vivos e seguros com tanto dinheiro e atenção focada neles, a polícia iria até os confins da terra atrás de quem os tornou uma piada mundial.
Não poderiam ficar todos juntos, era claro que cada um tinha suas obrigações e sonhos, estavam seguindo em frente, prontos para viver suas escolhas, arcar com consequências de seus atos. Seus nomes estariam na lista dos mais procurados do mundo, e por mais que fosse seu maior desejo no momento, ela sabia que era apenas o começo.
Amara estava novamente no hospital, que parecia ser sua segunda casa, desta vez era apenas um exame de rotina, um médico amigo de seu pai estava ali com sua família, apenas um dia, mas o tão honrado Embaixador havia convidado alguém com quem tinha uma margem de conversa. A na época criança tinha cinco anos, recém completos, queria atenção de alguém, e seus pais estavam ocupados com a caçula doente.
Anne estava com febre a três dias seguidos, os médicos dos Estados Unidos afirmaram a família Kim que estava tudo bem com a pequena menina, que logo iria estar bem. Porém, o patriarca decidiu ter suas próprias respostas, foi assim que o Doutor Han chegou ao país Americano, com sua esposa e filho.
Seria uma rápida passada, esquecida pelas mentes jovens e infantis, que não se lembrariam daquela tarde que compartilharam quando novos.
—— Quer brincar comigo? —— o menino perguntou em coreano, a menina no entanto apenas franziu o cenho, não familiarizada com a língua materna.
Uma babá logo se apressou até a pequena dupla, pronta para auxiliar na conversa infantil e inocente.
—— Querido, ela não o entende, que tal assistirem algum filme da Disney?
Foi assim que Amara e Rio se conheceram quando novos, uma tarde repleta de filmes dublados em coreano para que ele entendesse e legendados em inglês, para que ela compreendesse. Não tiveram uma única conversa decente, esqueceram-se de seus rostos em poucas semanas, uma vaga memória de assistir a filmes infantis quando novos, em uma sala de espera no grande hospital.
Anne consequentemente melhorou, e a pequena dupla estava destinada a se encontrar novamente, anos depois, com pensamentos e objetivos distintos.
Junto de seus amigos, Amara trocava de roupa como o instruído pelo professor, a ideia era não chamar a atenção de câmeras quando parassem na estação, todos iriam se separar brevemente.
Ela havia retirado a bota imobilizadora, e enfaixado com a ajuda de Misun, antes de colocar em uma bota de salto e amarrar com cuidado. Tudo para não ser reconhecida.
A dona dos cabelos castanhos e franjinha curta sorriu para seu reflexo vestido de forma elegante, treinando sua melhor expressão de quem não tinha nada a temer. Atrás de seu corpo, Rio apareceu sorridente e já pronto, usando de roupas informais, que combinavam com sua personalidade livre e alegre.
O rapaz virou o corpo da namorada para a encarar, observando com atenção como as roupas dela pareciam combinar com seu novo mundo. Ele sorriu antes de se inclinar para a beijar, suspirando quando alegremente a sentiu puxar seus cabelos levemente.
Rio a amava, tanto quanto ela o amava.
—— Estamos chegando —— explicou quando se separaram segundos depois —— queria te beijar antes de me separar de você —— contou revirando os olhos, acariciando as bochechas dela com suas mãos —— Eu te amo.
—— Te amo —— sussurrou, sinalizou a mulher contente, os lábios avermelhados pelo contanto anterior.
Rio pareceu gostar de ouvir sua voz, e prometeu a si mesmo que iria fazer de tudo para que sua mulher se sentisse confiante de voltar a médicos e usar a voz.
O casal encontrou os outros em seguida, de mãos dadas até o último segundo, quando iriam se misturar com o restante do trem, e por consequência com todos ao descer na estação.
Amara observou a todos por alguns segundos, deixando sua cabeça cair no ombro do namorado novamente, que passou um braço ao redor de sua cintura. Sua família e o amor de sua vida.
Entrou na casa da moeda uma jovem apaixonada pela ideia da vida, acostumada com a ideia de apenas aceitar sua realidade, uma breve lembrança da criança de cinco anos que assistia filmes da Disney com legendas em inglês. Saiu do mesmo lugar, uma mulher que tinha como pretensão maior viver, metas e histórias.
O brilho no olhar de quem estava obviamente apaixonada, fosse pelo assalto ou o dinheiro que carregava, mas principalmente pelo Hacker bonito que saiu antes dela, sorrindo de forma maliciosa para o mundo.
As mechas temporadas em seu cabelo lhe deram um ar jovial, em contraste com o look preto e branco que usava, um blaizer a mantinha com ar de seriedade, que combinava com a personagem que escolheu interpretar em sua saída triunfal. Fingiu ignorar a todos ao redor, até mesmo o olhar brevemente orgulhoso que o professor projetava na equipe.
Ela estava contente com sua escolha, sabia que não era uma despedida real, sentia que sua família iria se unir no futuro.
Amara, uma assaltante que abraçou a possibilidade de viver, e aceitou o amor em sua forma mais agitada e repleta de ação.
Ela estava enfim livre. E o mundo não poderia tirar isso dela.
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