021
"Com organização e tempo, acha-se o segredo de fazer tudo e bem feito." [Pitágoras]
Berlim estava realmente doente, não era apenas drama, como Rio havia sugerido dias antes, Amara sabia de seus tremores e não disse nada, e justamente esta sensação de culpa a fez passar a noite em claro, de olho no amigo, tinha uma bacia com água e um pano, que usava para enxugar o suor excessivo do norte-coreano. Ela se recusou a deixá-lo só, como o Hacker pediu, e o mandou ajudar Nairóbi, escrevendo que dava conta de cuidar do ex-líder.
Estava acostumada a cuidar de pessoas doentes, ou melhor, cuidar de Anne, sempre que a mais nova adoecia pulava para a cama da mais velha e pedia por ajuda. Assistiam a vários filmes de comédia, e passavam a noite rindo, entre medicamentos e rápidas consultas.
No entanto, cuidar de Berlim era diferente, ela não se importava de passar a noite em claro, transpirando naquela sala quente, sem comer ou beber algo. Mas estavam em meio a um assalto, com reféns que não os temiam e sem comunicação com o cérebro da operação, estavam perdidos, e ainda se preocupavam com um dos membros, a pauta do traidor quase esquecida aquela altura do campeonato.
O norte-coreano entrava e saia da inconsciência, as vezes se sentava desorientado, e deitava quando a garota o empurrava de volta, os olhos castanhos da Kim sempre atentos em qualquer piora dele, disposta a correr por ajuda se necessário.
—— Não sou uma criança, Amara.
Berlim reclamou pela terceira vez, desde que acordará, já que a outra tentava checar sua temperatura novamente. Sua mão gelada contra a testa dele.
"Deixa se ser teimoso! Só estou preocupada"
Berlim suspirou cansado, deixando que a menor se aproximasse, ele revirou os olhos quando ela sorriu contente, se perguntado como era tão fácil a deixar alegre.
—— Feliz agora?
"Vou estar assim que sairmos daqui :)"
O homem pensou em responder a garota com grosseria, mas foi impedido ao ouvir a porta se abrir, não precisava virar o corpo para saber de quem se tratava, principalmente quando a Kim se levantou contente, abraçando ao Rio e plantando um beijo em sua bochecha, antes que o rapaz saísse, deixando Tóquio e ela para trás.
Se tinha uma coisa, que Amara havia aprendido nos últimos dias, era como aquele grupo era único, especial e genial, não foi atoa quando Berlim começou a dar uma ideia, e a norte-coreana acenou completando o plano. A Kim se sentiu uma irmã orgulhosa, seus olhos atentos pegando todas as instruções passadas com rapidez, ela prometeu a si mesma que não falharia.
"Antes disso, tenho que dizer que suspeito de Nairóbi."
Os outros dois leram a frase antes de suspirarem em conjunto, eles iriam descobrir muito em breve o traidor do grupo, Tóquio sairia da casa da Moeda atrás de instruções e voltaria com uma resposta do professor, situações desesperadas, pede medidas desesperadas, e a mais nova sabia disso.
—— Tem gente do nosso time lá fora Amara, confie em mim, vamos sair bem daqui.
A sul-coreana acenou para as palavras de Berlim, e concordou em ser amarrada para que o plano ganhasse mais credibilidade. Logo o homem saiu arrastando Tóquio com ele, começando um alvoroço que traria a eles respostas, e muita ação.
O plano era fazer o traidor se sentir culpado, jogar sobre seus ombros não só a vida de Tóquio, como a de Amara também. As duas mulheres estavam amarradas a mesma mesa metálica, os pés da norte-coreana perto da cabeça da Kim, presas e amordaçadas como verdadeiras culpadas a serem julgadas. Ao lado delas Rio se desesperava a cada segundo, seus olhos visualizaram a garota que amava, e sua melhor amiga, presas, o medo o consumia.
Amara queria tê-lo incluído no plano, dizer a ele que nada daquilo era real, que ela nem corria risco de verdade. Mas confiava em Berlim, e se ele disse ser melhor que o garoto não soubesse, que assim fosse, de acordo com o norte-coreano, o pânico de Rio deveria ser real.
A Kim se sentia nas aulas de teatro novamente, seus olhos encheram de lágrimas quando o restante do grupo se uniu a eles no saguão principal, ela fingiu se debater contra as faixas cinzas, sentindo a amiga repetir o gesto, tinha que admitir que Berlim fazia um ótimo trabalho em parecer um louco disposto a mandar o trio para fora, ele retirou a fita da boca de Rio, enquanto Amara fazia sua parte em parecer assustada e negar com a cabeça.
Ela não sabia ao certo o que seu companheiro gritava, mas soube ser uma confissão mentirosa quando Denver e Moscou correram para o calar, enquanto a Kim continuava a parecer desesperada, aumentando sua força em debater seus braços e pernas quando Berlim empurrou a mesa, cuidando para não acertar a Tóquio no processo.
Mas o movimento parou, e ela fechou os olhos aliviada, o plano havia dado certo, ela não foi amarrada em vão e Nairóbi era a traidora.
Berlim a ajudou a tirar a fita da boca, e repetiu o gesto com Tóquio, enquanto Nairóbi jorrava sua confissão dolorosa, que a Kim notou ser completamente verdadeira.
—— Viu só? Eu disse que ia funcionar —— suspirou o ex-líder cansado, para a dupla feminina que o ajudou até ali, Amara acenou lentamente, se sentando quando sua amiga norte-coreana as livrou das faixas, a garota levantou da mesa no mesmo instante, a próxima fase do grupo começava.
O mundo exterior deveria pensar que os ladrões estavam encurralados e rendidos, fingir uma briga interna e descontrole do plano do professor daria tempo a eles, isso, se o gênio por trás de tudo seguisse seus ideais e ajudasse Tóquio, como o esperado.
Rio parecia magoado, e Amara sabia que levaria um tempo para ele entender, que não havia sido traído por eles e sim poupado de uma parte, se dependesse do Hacker, a Kim nem teria sido amarrada, e a norte-coreana não teria sido jogada para os policiais minutos depois.
Não tinham para onde correr, o grupo, de agora oito integrantes, dependia da sorte e, principalmente, da inteligência do professor.
—— Amara —— chamou Berlim, poucos minutos depois que o portão se fechou, o mais velho parecia realmente esperar algo dela. —— se importa, que sua irmã, seja usada como escudo humano?
A garota apenas deu de ombros despreocupada, seus olhos parando em Rio, que também a encarava, uma mistura de descrença e mágoa transparente em seu rosto.
A Kim seguiu Moscou e Denver, esperando que Rio estivesse mais calmo antes de iniciar um diálogo com o mesmo, a dupla de pai e filho era engraçada de se ver, eles se entendiam através de tapas e abraços, Amara não pode conter a risada quando o mais velho bateu no outro com força.
—— Do que você tá rindo hein? —— perguntou o ladrão de cabelos longos confuso, parecendo indignado. —— só não te coloco pra cavar porque Berlim e Rio iriam me matar —— suspirou colocando ambas mãos na cintura, ganhando uma careta de deboche da garota, o fazendo abrir a boca descrente. —— Olha que abusada.
Amara riu alto, também colocando as mãos na cintura, fazendo Moscou revirar os olhos para os dois.
—— Deixa a menina e vem cavar!
•
De qualquer forma, ela acabou por entrar no túnel logo atrás de Denver, carregando um balde para encher com a terra escavada, o lugar abafado a fazia suar novamente, e agradecer não ter problema com lugares apertados.
—— Você é realmente maluca —— negou Moscou minutos depois, quando Amara saiu do túnel com terra pela terceira vez, ela franziu o cenho para a frase —— uma garota de boa família, provavelmente nem terminou a faculdade ainda, se metendo no meio de um bando de criminosos, jogando sua vida no lixo.
Fosse apenas um dia antes, tais palavras teriam a feito correr atrás de Anne e topar uma fuga, mas nada a faria desistir daquele grupo.
"Que vida? Uma em que até meus amigos são escolhidos a dedo? Ou a que meu pai e minha madrasta me lembram o tempo inteiro que sou um problema? Que não sirvo para escolher um bom curso e me dizem que não vou me casar, porque ninguém vai ter paciência para mim. Está família? Por que, eu não acho ela boa, e me recuso a continuar sobrevivendo nela."
A garota nem deu tempo para que o senhor pensasse, voltando ao túnel decidida a ajudar, ela quase riu ao notar que Denver se escorou nas paredes em busca de ar, estendendo a ele uma garrafinha de água.
—— Valeu —— agradeceu o mais alto, observando com estranheza quando a menor agarrou uma picareta. Ele gargalhou quando o corpo dela cambaleou com o peso —— Não é assim que se levanta, deixa que eu te ensino...
A notícia de que Tóquio estava livre, dava início a outra parte do plano e significava que em breve teriam notícias, o encontro que Berlim pediu com Jeon Yongsu estava mais perto do que nunca, e todos os assaltantes, incluindo Amara, se preparava para o momento.
A garota se encontrava no banheiro, Denver tinha a deixado ali fazia alguns minutos, e ela tentava, de forma desajustada, se limpar o máximo possível. Esfregando as maiores manchas da blusa cinza e tirando todo o pó do macacão.
A Amara que refletia no enorme espelho estava diferente, o corte de cabelo do mesmo jeito, mas a própria não se reconheceu a encarar a si mesma. Seus olhos começavam a ficar vermelhos, devido a privação de sono que se submeterá, pálida pela falta de sol, e ainda mais desequilibrada, ela se perguntou o que Rio havia visto nela, se ele realmente a amava, como ela o amava.
A porta do banheiro se abriu, e a Kim suspirou quando notou ser sua irmã que adentrava o local, Anne estava magoada com a clara escolha da mais velha, que não se arrependia de trocar de lado. Ela deixou a camisa cinza para secar, subindo o zíper do tecido vermelho tentando sair do lugar o mais rápido possível, jogou água no rosto uma última vez, antes de se retirar rapidamente. Seus olhos castanhos pararam em Nairóbi, que ao que parecia, era responsável pela refém, a mulher mudou a postura ao notar Amara, ela queria dizer algo, mas a Kim não precisava de uma explicação.
Ela apenas apertou o corpo da amiga contra o seu, tentando demonstrar que não estava magoada e que não a culpava, suas mãos acariciando os cabelos de Nairóbi quando a sentiu chorar. Amara não poderia a culpar, não tinha esse direito, sabia que não há limites do que se fazer por amor, nunca iria virar as costas a isso.
As duas se afastaram quando a caçula Kim saiu do banheiro, e Amara deixou-as para trás, enquanto Nairóbi tentava se recompor e Anne não entendia seu papel naquele plano maluco.
Em poucos minutos, as portas se abririam, um grande e perigoso show daria início.
Estão sentindo falta de algo???
Por que eu estou deixando de lado de propósito.
Até Breve 🤍
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