012

O medo nos impede de realizar grandes feitos.

Quando menor Amara se perguntou o porque do Coelho ser símbolo da Páscoa, se são as galinhas a colocarem ovos, nunca lhe responderam com sinceridade, levando em consideração que seu pai e a esposa não eram cristãos, e que Anne não demonstrava nenhum sinal de querer seguir por aquele caminho. Uma determinada tarde de seus quatorze anos, sua professora de artes a colocou em um grupo, o projeto deveria demonstrar algo que realmente poderia fazer sentido, mas que ninguém cogitou. Foi quando conheceu Cole, o rapaz foi o único a não rir quando a Kim demonstrou sua dúvida e o primeiro a a apoiar na ideia, de fazer a galinha como símbolo daquela data comemorativa por um dia.

Cole também a explicou que eram os coelhos pelo enorme número de reprodução, que significa vida nova, e portanto a resolução do que significa Jesus, e todo seu sacrifício pelos pecadores ainda em terra. Amara achou apaixonante, a ideia de alguém a amar mesmo com todos seus pecados e falhas, acreditar em seu potencial mesmo quando ainda era um pequeno bebê, e notando isso Hastings a levou para a igreja que sua família frequentava, nos Estados Unidos a parte majoritária da população é cristã, em principal o cristianismo protestante, e ela amou, quando o pastor do lugar passou todo o culto de forma escrita para que pudesse acompanhar, quando Cole e a família a buscavam para que fosse junto deles aos acampamentos e retiros espirituais, quando se sentiu amada por alguém fora a irmã, e foi livre.

Amara foi batizada aos dezesseis anos de idade, indo contra a princípio do pai, que dizia que aquela era a primeira vez em que a decepcionou, não era a maior das dores que causaria a ele, mas nem mesmo ela sabia disso ainda.

Ela ainda se recusaria a cursar direito, ou usar aparelho auditivo, entraria para o curso de Artes, negaria um casamento arranjado, e estaria se apaixonando em meio a um assalto.

Se sentia um nojo enquanto usava água para enxaguar a boca pela quinta vez em minutos, o gosto amargo do vômito se fazendo presente, queria a todo custo escovar os dentes o mais rápido possível, mas suspirou ao se dar conta de que sua necesserie estava junto a de Rio, na sala de supervisão. Virou o corpo confusa ao sentir alguém passar por trás de si, seguindo a pessoa até a porta de outra cabine, onde observou como o hacker passava mal, igual a ela pouco antes.

Sentiu alguém tocar seu ombro de leve, a entregando uma toalha escura, e acentiu em agradecimento para Tóquio, que saiu do banheiro contendo um sorriso, tinha medo do relacionamento dos dois afetar ao plano, mas também achava muito fofo como os dois se protegiam.

Amara era amorosa e adorável com todos. Não havia um deles que não gostasse dela.

Rio levantou o olhar se sentindo mole, só para encontrar o rosto sorridente de Amara o encarando com uma pequena toalha em mãos, ele tentou sorrir de volta, fracassadamente, com vergonha de parecer patético na frente da garota que não parecia se importar com seu estado.

Ele se perguntou se ela errava em algo, porque em sua mente, Amara Kim era inegavelmente perfeita.

"Também tem nojo a sangue?"

A caligrafia bonita e rápida de Amara fez Rio sorrir enquanto acenava em concordância. Havia uma careta em seu rosto, mas ainda sim, não conseguia evitar sorrir.

"E seu pai não sabe?"

—— Sabe sim —— disse aborrecido, ele quis encostar a cabeça no azulejo, sendo impedido pela garota que indicou que não o entenderia, ela precisava ler sua fala, então ele disse mais devagar em seguida.—— ele é um idiota Amara, não se importa com isso, sempre me lembrando que sou fraco...

Ela acentiu entendendo a situação, conseguia se ver no lugar do rapaz com perfeição, se lembrando das diversas vezes em que recebia uma bronca dolorida por não agir de acordo com o nome da família, e a vontade de ser livre gritando enquanto se mantinha presa em uma gaiola invisível.

"Não é fraco! Infrentou um enorme medo pela vida de alguém e está em um dos assaltos mais genias da história"

Rio sorriu realmente animado para ela, se sentindo bem de a ter por perto, Amara não o fazia se sentir errado. Ela era como uma fogueira quente e confortável em seu coração, tirando os momentos frios e solitários.

—— Agora acho que devo ter o decepcionado de verdade. —— zombou, seus olhos encarando os dela.

"Imagina quando ele ver seu rosto em todos os jornais? Nossa que grande orgulho"

Ela tinha um sorriso suave nos lábios, observando ele tentar puxar o ar enquanto gargalhava ao pensar na cena, do momento em que se veria livre da influência da família e que deixaria de parecer apenas uma criança birrenta.

—— Você tá mais do que certa Amara Kim —— ele se inclinou em direção a ela, que se afastou rapidamente, ganhando uma careta confusa dele —— o que eu fiz?

"Acabamos de vomitar até as tripas aqui. Não vou te beijar até escovar os dentes!"

Havia uma careta de nojo evidente no rosto dela, o que Rio achou adorável, afastando a franja dela do rosto.

—— Você quem manda —— disse concordando, segurando o rosto dela, para que deixasse um pequeno beijo em sua testa, a maior demonstração de amor que ela deixaria que houvesse ali. —— Mas então do que falaremos?

"Dos nossos pais embecis e controladores ou de planos para o futuro"

—— Não sabia o que queria até poucos dias, descobri aqui mesmo —— sorriu com a ideia —— Quero deixar de ser uma criança, parar de fugir, comprar e viver em uma ilha —— parou de falar para observar a garota de testa franzida, que tentava o imaginar cercado de água, sem tecnologia em volta —— com você...

Amara engasgou com a saliva, tossindo levemente, pensando se havia entendido errado ou se ele tinha mesmo dito aquilo.

—— Respira Amara —— pediu afastando a franja do rosto da menor novamente, com um sorriso suave. —— Temos que imaginar nosso futuro com que amamos, certo? —— ganhou acenar em resposta, a Kim ainda com os olhos arregalados —— Posso sonhar com isso?

Ele sabia que poderia estar a assustando, a fazendo fugir para outro lado, e teve medo de não ser correspondido, afinal, porque ela fugiria com um bandido se poderia ter tudo o que mais queria nas mãos.

Amara escreveu com as mãos tremendo, com tanto nervosismo que temeu que sua letra não fosse legível, um sorriso grande surgindo em seus lábios, enquanto levantava o caderno para que Rio pudesse ler.

"Gosto de você"

Ele sorriu tanto quanto ela, puxando a caneta e o caderno para si, com uma resposta na ponta da língua, marcando logo abaixo para eternizar.

"Também gosto de você"

Eles não se importavam na condição de sequestrador e refém, apenas com o acenar de Amara para a pergunta anterior, e a confirmação de que ele estava liberado para a imaginar consigo, em um futuro breve e promissor.

E ficaram ali, sentados no chão do banheiro masculino, com o corpo escorado na parede gelada, enquanto se inclinavam para que pudessem ficar se encarando fixamente, presos na bolha de amor instalada ali.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top