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As vezes o silêncio pode fazer mais justiça do que os gritos jamais farão.

Há uma teoria de que quanto mais ocupados, menos pensamos em coisas irrelevantes. E uma outra, que dizia que em situações graves, nossa percepção de perigo modificava.

Amara tinha em mente, que uma união de ambas coisas era o que acontecia naquele banco.

Os reféns receberam tarefas, destinados a cantos diferentes e divididos em turnos, Tóquio se encarregou de manter a Kim mais velha sob sua supervisão, a direcionando para a sala de impressões, também conseguiu que a garota ficasse responsável por "guardar" as notas, então Amara se mantinha sentada a maior parte do tempo.

Ela não sabia onde Anne estava no momento, sabia que o turno de ambas eram os mesmos, só que em meio a divisão de trabalhos, ficaram separadas e não tinha ideia se era algum outro plano dos assaltantes ou pura coincidência, o que quase a irritava, já que manter todos os reféns ocupados parecia apenas mais uma tática.

Sua cabeça balançava como se fosse uma dança, as batidas de uma música de Taylor Swift ameaçando sua memória auditiva.

Ela liberou mais algumas notas, quando seus olhos pousaram em uma caneta, a alguns centímetros de onde sua mão estava parada, e se perguntou se alguém poderia a punir por tentar se comunicar, se bem que ainda precisaria de outro aliado, papel, de preferência sua caderneta perdida, seus pensamentos foram interrompidos no entanto, quando alguém tocou seus ombros, chamando sua atenção para Tóquio, que tentava se comunicar com ela, repetindo as palavras lentamente.

Amara achou adorável.

—— Sei do seu pé —— disse pela terceira vez, agachada para que seu rosto ficasse mais próximo do de Amara que pareceu surpresa ao entender a fala —— Quero saber se posso fazer algo por você —— explicou ainda devagar, apontando o dedo indicador para demonstrar que faria naquele mesmo momento, e sorriu quando a Kim acenou rápido.

Amara estava em êxtase, sua necessidade de comunicação quase esmagando seu coração com batidas frenéticas.

—— Ótimo —— a assaltante levantou os polegares contente em conseguir se comunicar com a garota —— Como posso ajudar?

Toda a alegria de Tóquio se transformou em confusão, quando Amara começou a sinalizar rapidamente, de forma que não a ajudava a entender.

—— Espera —— pediu calma, puxando um guardanapo do bolso de seu macacão, o sorriso voltando quando viu Amara já com uma caneta em mãos —— Isso aí garota!

A Kim quase gritou de alegria ao tocar um simples pedaço de papel, se contentando em soltar um suspiro de alívio, ganhando um aceno de incentivo de Tóquio.

"Está inchado, acho que preciso enfaixar e também seria ótimo um analgésico, se não for incomodar, por favor"

A norte-coreana tentou reprimir um pequeno sorriso ao ler o pedido, e acenou rapidamente se levantando, com o papel em mãos.

—— Tem algumas faixas aqui, vou buscar e te ajudo.

Amara resmugou de dor quando a mulher apertou o ponto mais dolorido de seu pé, quase puxando, só não o fez pois Tóquio tinha mãos firmes e não deixou, a encarando enquanto completava mais uma volta com a faixa.

A Kim sinalizou um "sinto muito", fazendo uma pequena careta.

A mais velha levou a garota para outro canto, se desculpando por não achar um remédio, mas logo se colocando a ajudar com o inchaço constante, ela ofegou quando notou o quanto Amara estava sofrendo em silêncio, mal tocava em umas regiões e ouvia os choramingar da mais nova, não conseguia entender como a Kim ainda se mantinha de pé, e silenciosamente agradecia ao Rio por não ter permitido que a fizessem correr noite passada.

Tóquio também deixou que ela mantivesse a caneta e o pequeno papel consigo, era como elas conseguiam manter um diálogo.

—— Tá legal Amara —— disse após terminar com o pé, a ajudando a amarrar a bota, de forma menos justa daquela vez —— Vamos evitar que você fique de pé —— ditou devagar, ganhando um aceno de entendimento —— nada de fazer muito esforço, ok?

—— Okay! —— sinalizou feliz, dando um tapinha na testa quando se lembrou que a mulher não entendia, mas Tóquio apenas repetiu o movimento, como se tivesse gostado de aprender aquilo.

—— Agora —— voltou a dizer, após repetir o gesto até aprender. ——Vamos achar um remédio para você e também te dar algo para comer.

"Muito obrigada".

—— Não precisa agradecer, não são prisioneiros, faça pelos outros o que gostaria que fosse feito por você, né?

A Kim se segurou para não abraçar a mulher ali mesmo, e Tóquio a ajudou a se levantar, a guiando para cima, o andar térreo, ambas andavam lentamente, já que a mais nova evitava forçar o pé, ordens recebidas pouco tempo antes, e pararam quando a dona da arma sentiu que tinha algo de errado, pedindo silêncio enquanto entrava no local de sua suspeita.

Ela voltou pouco tempo depois, trazendo um homem consigo, Amara o identificou como diretor do lugar, e ele junto delas, agora era levado para cima.

Rio sentiu o coração na boca, quando viu Tóquio entrar com não um, mas dois reféns, sendo um deles a própria Amara, que foi obrigada a sentar quando a mulher puxou uma cadeira, a poucos passos de onde a mesa dele se mantinha.

—— Vou resolver isso e depois resolvemos aquilo —— Ela dizia devagar para a Kim que acenou sorrindo.

O garoto se sentiu perdido, como se tivesse dormido por duas semanas e agora tudo estava mudado, sem entender bem quando foi que Tóquio e Amara começaram a conversar, e muito menos o que faziam ali.

Ele se manteve quieto, sem desejo algum de irritar Tóquio que parecia estressada, vez ou outra encarando Amara, que olhava para a o pé torcido com uma careta.

Pouco depois Berlim entrou na sala, confuso ao ver três pessoas que não deveriam estar ali, uma delas sentada com os olhos atentos e testa franzida.

—— O que é isso? Uma festinha?

—— Ela está machucada —— Tóquio disse séria, logo empurrando o diretor para a frente —— ele que é o problema.

Uma pequena confusão foi instalada no local, fazendo com que a garota, sentada quase que ao lado de onde Rio se mantinha de pé, ficasse mais confusa a cada segundo, principalmente quando mais um assaltante chegou, com outro refém ferido, a mão envolvida com uma faixa já ensanguentada, que fez Amara olhar para outro canto no mesmo segundo, enjoada com a visão.

Seus olhos pararam nos computadores, e nas inúmeras imagens que rodavam ali, moveu a cadeira para mais próxima da mesa, a procura de achar sua irmã em meio aos vários outros reféns vestindo da mesma roupa, seu movimento chamando a atenção de Rio rapidamente, que não se importou muito, julgando que não era um perigo, ambos voltaram a encarar a confusão quando o diretor pareceu se jogar sobre o funcionário ferido, de forma falsa aos olhos de Amara, que puxou o guardanapo e escreveu de forma corrida.

"Ele é um péssimo ator"

Ela cutucou Rio, que a olhou no mesmo instante atento, sorrindo quando a garota levou um papel para cima, tentando mostrar algo, que o fez segurar a gargalhada enquanto concordava com sua frase, puxando a caneta das mãos dela, para escrever de volta.

"Chega a dar dó"

Amara não segurou o sorriso gigante, feliz por conversar com mais outra pessoa fora Anne e Tóquio, ela iria escrever outra coisa, quando notou que Rio não a olhava mais, e também que o clima no ambiente havia mudado.

Olá 🤍 como estão?

Tóquio e Amara, amiguinhas sim!

Quero agradecer muito as mensagens de apoio que recebi, tanto aqui pelos comentários, quanto no pessoal, isso muda muito, me ajuda a lembrar que não estou sozinha 🤍

Até Breve 💫

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