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O silêncio é a virtude dos loucos.


Francis Bacon

—— Fiquem todos próximos, não deixem os colegas para trás...

A professora dizia a todos, enquanto o grupo se reunia para adentrar o prédio. Ela não precisava ouvir para saber que era uma série de coisas entediantes, já que Anne fazia questão de sinalizar aquilo, a fazendo sorrir.

Passou pela fila de inspeção logo depois da irmã, unindo suas mãos em seguida, mal passaram pelo detector de metal quando um representante apareceu para os cumprimentar brevemente, sorrindo para os alunos, especialmente as Kim.

Amara apenas acenou com um sorriso educado, como já era esperado. Ela não gostava de falar, havia sido ensinada a dizer algumas coisas, durante suas idas ao fonaudiologista, mas acabou se acostumando a não forçar a própria voz.

—— O presidente agradece a sua presença aqui —— ele dizia, de acordo com Anne era o vice-presidente do local —— aproveitem o passeio.

Alguém contava de forma monótona algo, provavelmente sobre a história da Casa da Moeda, não que Amara conseguisse entender algo dito, tirando os momentos em que a irmã sinalizava um detalhe ou outro, frustrada.

A mais velha também viu quando a professora pareceu dar uma bronca em Anne, e como a caçula parecia o pai ao ser contestada, sem esconder a superioridade no olhar.

"Relaxa. Em breve você se forma, e vai morar nos Estados Unidos, longe de todos."

—— Assim espero —— bufou descontente, sinalizando tão rápido que Amara fez um pequeno esforço para entender.

O grupo também seguiu para um outro corredor, repleto de fotos, antigos líderes políticos de ambas Coreias, de reuniões pouco antes da unificação da moeda, e ela, sendo alguém adulta, ignorou o que sabia ser proibido, e puxou seu celular para tirar uma pequena selfie do momento, capturando um biquinho sofrido nos lábios de Anne e um grande sorriso seu, salvando para que fosse para seu mural.

Amara nunca fez questão de redes sociais, não conseguia socializar nem com seus colegas de escola, porém, sempre que possível, tirava uma foto, disposta a imprimir e colocar em uma pequena exposição que mantinha em seu quarto, pouco acima da mesa onde estudava e pintava durante a maior parte de seus dias, outro motivo para não ter muitos amigos, era que ela não tinha tido permissão de o fazer, já que seu pai tinha pavor da ideia de alguém saber que sua filha, a primogênita, era surda.

Não que ela tenha culpa, ou alguém, até onde sabia a saúde de sua mãe biológica teria sido afetada durante a gravidez, algo como hipertensão, e então ela nasceu, Sul-coreana, frágil, pequena e surda, não se pode fazer muito. Amara acabou como uma boa parte de outros surdos acabavam também, por ser abandonada, para sua sorte, seu pai biológico, mesmo quem em outro país e casado, teve a decência de a assumir, levando a garota para os Estados Unidos, fazendo dela alguém naturalizada norte-americana.

Foi difícil para uma criança crescer dentro de casa, sabendo do mundo pelos olhos brilhantes e espertos da irmã mais nova, sem qualquer sinal de que em algum momento conseguiria viver por si mesma, a fez desenvolver medo, do momento em que Anne fosse adulta o suficiente para não ter mais paciência para ela, para suas conversas, um pequeno pavor ansioso do instante que a realidade decidisse por cair diante si, de que estava destinada a ficar sozinha em seu mundo silencioso para sempre.

De alguma forma ela sabia ser sua culpa também, a mulher que havia deixado de usar aparelhos auditivos por conta própria, que deixou de ir a fonaudiologa, e se apegou a sua própria voz interna.

—— Você é uma artista né? —— a professora de sua irmã perguntou animada, enquanto Amara fingia gostar dos quadros ali. A Kim acenou, torcendo para não ter que manter uma conversa. —— sua irmã diz a todos que é a melhor pintora de todas.

A jovem sorriu, tentando encontrar a caçula no grande grupo de alunos por ali, Anne havia ido ao banheiro, deixando a irmã entretida com outros quadros, um em específico, as bandeiras dos Estados Unidos e das Coreias juntas, se lembrou do dia em questão, sua quarta e última aparição pública como filha de quem é, e mais uma vez em que apenas ficou parada ao lado do pai, da madrasta e de sua irmã, as vezes sorrindo de forma ensaiada, e acenando para uma pessoa ou outra que passava.

Ela estava demorando muito, observou, puxando sua caderneta consigo a jovem deixou a professora da irmã para trás, sem se despedir, a procura da irmã.

Ela não ouviu os tiros, ou qualquer outra coisa, mas sentiu o chão tremer com a movimentação brusca e o coração acelerar de susto e medo, quando uma das colegas de classe da irmã a puxou para correr. Não tinha o costume de fazer exercícios físicos, mas não importava, porque mesmo com todo o pânico dentro de si, sem saber para onde ia ou com quem, ela só queria saber onde estava sua irmã.

Sentiu o coração bater tão forte, que doía em seu peito, a procura dos cabelos brilhantes da caçula, se culpando por não estar junto dela naquela momento.

▪︎▪︎▪︎

Ao virar em direção a saída, junto da adolescente que ainda não a soltará, Amara se deparou com uma mulher de peruca roxa e com uma grande arma em mãos, também sentiu o que poderia ser uma premonição de que coisas ruins viriam a acontecer, já que ao escorregar e cair no chão, Amara sentiu o tornozelo esquerdo doer com uma grande fisgada, uma torção e para completar a figura armada gritou algo desconhecido, parecendo irritada com a demora da garota para se levantar, a puxando com força para cima.

Chiando em dor ao ser colocada de pé, os dentes rangendo pela pressão dolorosa.

Nairóbi foi a segunda a notar que Amara estava machucada, e julgou que seu silêncio e demora a responder a ordens, era por puro medo da situação, então apenas deu de ombros, puxando a garota para onde os reféns ficariam, a deixando entre eles com uma venda vermelha nos olhos.

A Kim mais velha suprimia as caretas de dor, enquanto se mantinha de pé, assustada, sem sentir a irmã por perto e sem ouvir nada, tanto que saltou levemente alarmada quando sentiu alguém tocar seu braço novamente, para se sentir aliviada quando identificou Anne, tão temerosa quanto, já que tremia e suas mãos se mantinham geladas.

Silêncio.

Amara sabia que tinha alguma coisa acontecendo, alguém falando alto perto de si, só não sabia o que e muito menos quem, então tratou de acalmar a respiração ao máximo e trocar o peso do corpo de pés, tentando aliviar a dor latente que sentia no esquerdo.

Enquanto os bandidos pegavam os crachás e celulares de seus novos reféns, ela se mantinha alheia do que acontecia, sem qualquer forma de comunicação, e isso fez Rio a encarar confuso com a falta de reação da garota de cabelos escuros e franja, a única que não retirava os pertences pedidos.

—— O celular —— pediu baixinho de frente a Amara, que permanecia perdida e incomunicável —— seu celular!

A rapaz franziu o cenho, tentando entender a situação, enquanto Anne tentava sufocar o desespero para ajudar a irmã, e Nairóbi irritada com a demora se guiou até a cena criada ali, na intenção de resolver aquilo tudo o mais rápido possível.

—— Ele perdiu o celular garota —— repetiu alto, batendo os pés no chão enquanto puxava a arma, pensando que assustaria a Amara com o som, não obtendo nenhuma reação —— Tá surda princesinha?

Eles não sabiam. A teoria dizia que a Kim mais velha era apenas reservada, nenhum deles imaginaria aquilo.

Tóquio e Berlim andaram lado a lado para perto das irmãs Kim também, e quando Rio, que ainda se mantinha o mais calmo dos assaltantes, tocou Amara nos ombros, para verificar se ela estava bem, ou talvez em pânico.

Anne finalmente conseguiu dizer o que tanto queria, sua voz quebrada e alta, apertando as mãos da irmã mais forte. E era algo que explicava muito:

—— Ela é surda!

Olá povo 🤍

Sim essas migalhas são as primeiras interações deles, sinto muito, mas fãs de dorama nunca tiveram paz mesmo 🗣

Novamente pergunto, estão entendendo a dinâmica das interações e falas da Amara?

Até Breve 🤍

Beijinhos de luz para quem quiser ❤
By: BlackTurion

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