21. A Primeira Rachadura
"Bem, eu estou bem." Quantas vezes por semana repetia aquela frase? Depois de um tempo parece só... Hábito. Ninguém é sincero quando queremos impressionar, quando todos querem impressionar.
Sinceramente, não me dei o trabalho de indagá-la quando nos reencontramos no fim da noite, só queria ter a certeza que eles não deram muito pela minha falta. De tão distraídos que estavam a resposta se tornou bastante óbvia. E céus, como riam alto.
Acenei, interrompendo qualquer coisa extremamente engraçada que comentavam, não imagina o quão rápido aqueles dois se tornaram inseparáveis.
Joe não parecia disposta pra dirigir, então pedi a Tânia que lhe desse uma carona quando saísse, e já ia me despedindo quando fez questão de eu o levasse para casa. Vendo-os tão rápido e estranhamente íntimos, não pude dizer imediatamente se aquele pedido era feito pensando em, como eu deveria aproveitar melhor sua recente presença, ou para tentar desfazer aquela impressão que o roubara inteira e despretensiosamente para si. E que não, não era uma impressão.
Bem, ela não poderia saber que Patrick dava atenção pra literalmente qualquer um que fizesse o mesmo com ele, que não havia motivo nenhum para se preocupar, porém, não acho que fui convincente.
Como estava bêbado, o que não é nenhuma surpresa, falava o tempo todo, e nas dez frases que pronunciava por segundo, onze eram sobre Joe. Sobre o quanto era gentil e espontânea, e até mesmo que me elogiava muito... Então vendo que eu ria do seu estado, Patrick por um momento, durante todo seu trajeto, ficou em silêncio. Fechando com um mínimo e estranho sorriso, repetiu o que me dissera antes, e que aquela altura não pensava mais.
__Senti realmente a sua falta.
Ecoando, ecoando, no fosso de uma noite bagunçada. Por que precisava repetir? Naquele instante ele pensou que precisava revirar minhas descrença como um jovenzinho correndo pelos corredores pra te emprestar um guarda-chuva. Será que as pessoas realmente nunca mudam? Abri sua porta, perguntando por fim se precisava de ajuda para entrar, que ele rapidamente respondeu com um abano de cabeça.
No fim da noite quando cheguei em casa, percebi que minha cabeça ainda doía. Retirei lentamente a gravata, lembrando daquele fantasma desengonçado revirando todas as suas malas para achar um única e mísera gravata. Lembrei também de todos aqueles papéis e livros tão bagunçados como estiveram durante tantos anos, como se ainda fossem os mesmos e apenas retornassem para casa.
Havia sido um dia e tanto, pra dizer o mínimo. Embora eu ainda não soubesse, que aquele dia surreal seria apenas mais uma porta, apenas um começo; uma tempestade ou uma simples chuva?
Os dois, eu diria. Afinal, é de Patrick Kennedy que estamos falando.
Ali estava Patrick, como um penetra, um intruso no meu casulo, caminhando até os quadros empilhados na frente da janela, exclamando e espirrando clichês, apertando-me, sufocando-me com sorrisos, enterrando o tempo com terra rasa. "O que você faz aqui?", perguntei até sutil demais. O que ele respondeu, educado demais: "Tânia disse-me que estava aqui." Tânia era especialista em abrir portas, era uma verdade.
Ah, ela disse? Pensei comigo mesmo, sorrindo sem ver nenhuma graça. Não havia pior lugar, pior momento e pior pessoa para se unirem, era algo diabólico.
E logo ele sentava-se, silenciosamente ao meu lado, no gramado raso, nos inícios daquelas distantes manhãs, por horas e horas, apenas me vendo pintar. Tão feliz, tão genuinamente...
O nosso laço de silêncio foi se fortalecendo, algo entre quatorze ou quinze anos, dois colegiais vadiando depois da escola, e ali estávamos novamente, de alguma forma tão comum, revivendo o silêncio rotineiro, ou talvez suspeito. Ansioso demais.
Patrick estava cheio de nostalgias e paradoxalmente com a mente tão vazia, eu poderia ser facilmente contaminado com aquilo.
Entretanto, é claro que mantive o silêncio, não podia simplesmente mandá-lo embora, quando não nos víamos há tanto tempo, e como ele apenas inocentemente não fazia nada que já não tivesse feito centenas de vezes. Fique e faça silêncio. O que ele obedecia prontamente, cruzando as pernas, tal qual um advogado, misterioso, ali do mesmo lado da mesa, com as mãos cruzadas frente a face.
Não demorou muito tempo para notar. Tive certa impressão que aquela falta de palavras, de alguma forma, não era apenas pela obediência.
Estava incomodado, pensativo, decepcionado comigo, com Coven ou qualquer outra coisa, talvez? Corria o olhar por si tentando extrair uma gota perdida.
Claro, era estranho, nós éramos estranhos, o tempo não ajudaria muito. Mentiras e verdades passavam simplesmente sem filtro abaixo dos pés ou diante do nariz, sem que soubéssemos bem como dividi-los em suas caixas.
Geralmente não invadíamos, como disse antes. Mesmo com curiosidade, necessidade, perguntas rastejando nos dedos...
Nessa mesma época me permiti perguntar sobre Mercedes. Atravessando a galeria, dia após dia, com todos aqueles livros, resumos e rascunhos, seu jeito taciturno parecia impossível de penetrar. Qualquer um ficaria curioso, já que fazia muito que não mencionava ela. E tinha boas razões pra isso.
Me encarou com cima dos ombros, meditativo, resumindo o último ano como complicado. E foi irritante como ele achou que era só isso que precisava dizer, irritei-me, e a partir dali, resolvi seguir seu exemplo de perguntar aquilo que ele não se dignou primeiro a dizer.
Num dia livre, onde deixei quadros e dores de cabeça esparramados na mesa, deixamos os pés nos guiarem, retornando a velhos ares, hábitos e causas.
Uma das primeiras coisas que abertamente me pedira desde que chegara; quis caminhar pelas ruas aleatoriamente, e rever os lugares que lhe eram queridos, para ir apontando as mudanças, as fachadas e as permanências, rostos comuns em meio a multidão andante. Passado algum tempo ele já parecia rejuvenescido e revigorado, dispersando como num balançar de mãos a neblina que lhe rodeava. Num segundo, havia uma semelhança entre nossas facilidades de exprimir "eu estou bem", num suspiro enigmático.
Uma coisa era certa; ele tinha muito tempo livre. Quando menos esperava ele aparecia.
Como um fantasma. Surgindo detrás do armário, caminhando sem deixar rastros, a única coisa que faltava era falar lamentar pelos cantos.
Sendo franco, quando o via ali, observando através do vidro, deslizando porta adentro, tão atento, não sabia bem porquê mas, me fazia querer esperar. Era talvez algo no seu olhar, ou naquela sutileza que não parecia sua, algo diferente que grudara na sua sombra.
Então esse era o principal motivo, talvez, de não ter estranhado a princípio, quando aquela reaproximação toda deixou de ser apenas saudade, tornando-se claramente algo diferente. Ele nunca esteve tão fechado, ainda assim, prestativo. Podia contar com uma companhia noturna em muito tempo.
Porém, ter um Patrick vadiando dia e noite, grudando no meu pescoço, querendo fazer literalmente tudo, bagunçando, desmanchando e reinventando, enfim, sendo o Patrick... não era fácil. Não mesmo. Começando que, ao contrário dele, eu tinha muito o que fazer. E havia Joe.
Dividir o tempo para lidar com pessoas, trabalho e comigo mesmo sem ter certeza se estava fazendo tudo certo, como disse, sem tempo para parar respirar, repensar...
Não, não faltando. Mesmo excessivo, Patrick apenas sabia se encaixar, ele era como uma criança substituindo seu caixote de livros por brinquedos, se quer ter uma imagem melhor. Sim, brincando com minha rotina, paciência e noções de espaço.
A calma que um dia eu associei a sua presença se metamorfoseou para algum tipo de ansiedade, uma sede por companhia exagerada que precisava se alimentar, todo dia, periodicamente de um tempo já esticado mais. Mas bem, aprendi novamente que nunca se deve subestimar Patrick Kennedy.
Não subestimei seu esforço por adentrar cada mínima fresta, aquelas ações prestativas e tão prioritárias pareceram, até certo ponto, muito importantes pra ele. E mesmo que erguesse o olhar, vislumbrasse nossas diferenças, demarcasse casa passo, ele rodeava e simplificava ao redor com muito entusiasmo, enquanto eu dobrasse as mangas e preparasse a mente, ele faria aquilo.
É, aquilo que eu prometi em algum ponto que nunca, em hipótese alguma, sobre qualquer circunstância deixaria acontecer: ele tomou lugar.
Bem, quando falei que não deixaria nenhum fragmento do passado se tornar parte novamente, não é como se eu me referisse especificamente a... ele, claro. Mas no fim foi ele mesmo.
Isso não deixaria de parecer um grande e previsível clichê. Diria pra mim mesmo, redesenhando aquele semblante perdido em armários empoeirados.
O que é até engraçado... não era difícil de esperar que Patrick se esparramasse como o ar, aonde se dispusesse a tocar com os dedos, sem temor ou malícia, sorrindo no seu estado mais natural e com a maior das desenvolturas. Grande exemplo de sua extraordinária relação com Joe.
Ninguém no mundo poderia explicar como raios duas pessoas que se conheciam há poucos dias simplesmente passaram a viver e a morrer uma para a outra.
Joe não estava sendo apenas cortês, abria as portas de casa, lhe presenteava como a um rei, cantarolavam suas canções preferidas, insistia pela sua presença a cada jantar, o tratava como um ser soberano de uma pura e única essência, do qual eu tinha a maior das sortes por monopolizar.
Isso dizia com ciúme, já que a seus olhos Patrick me pertencia, pois não só o fazia me seguir para todos os lados, mas impregnava sua cabeça com minha total influência.
O que tinha sua lógica, via-o diariamente me consultando sobre tudo, aceitando qualquer palavra que lhe entregasse como verdade, e também sorria, levemente irônica, entre sinceridade e humor, dizendo-lhe que desejava que eu tivesse por ela uma confiança tão inabalável quanto o que ele tinha por mim.
Só não se engane com o quanto ele passou a considerar sua companhia a cada dia. Num estalar de dedos, e os dois sempre pareciam estar a altas risadas, se divertindo como duas crianças numa eterna festa do pijama. Saindo juntos, sempre compartilhando seus pensamentos secretos... Tão intimamente nas suas imaginações.
O que um dia fora pra mim. Como uma admiradora, ela timidamente se interligou com pessoas ao meu redor, digo, já que ela visitava meu atelier com bastante frequência e algumas vezes na mansão, Joe sabia como agradar e atrair admiradores. Enquanto não iniciava o noivado, nós fomos associados nos boatos de algumas falações, fazendo com que meus poucos conhecidos tomassem maior interesse por ela.
Num futuro, Patrick reconheceria a grandiosidade daquele olhar, fazia questão de mantê-la perto, a beira do piano, enquanto insistia para tocar alguma canção da infância. Assim no último mês, tive duas auras, de cada lado da janela, igualmente distintas e luminosas.
Separados ou juntos, eles podiam ser consideravelmente diferentes como pessoas, mas se fosse dizer algo que tinham em comum, isso seria aquele ar de ingenuidade gratuita. Joe não era do tipo que se interessava por qualquer coisa, mas como artista, tinha um olhar profundo e observador, atento e empolgado com detalhes, novidades, o velho coração pulsante de quem passou a vida viajando e estudando modas, gostos, realidades, ainda assim, uma eterna curiosidade de criança insaciável, sempre lançando-me centenas de perguntas, grudando no meu outro braço, apontando o dedo para tudo e muitas vezes atentava-se a detalhes que nem mesmo eu percebia.
Em mim, havia um oposto, enquanto encontrara em Patrick o que ele uma vez chamou de Entusiasta de emoções. Um exemplar mais humilde e nem por isso menos curioso.
Do lado esquerdo, tínhamos Joe, andando pelos corredores, correndo como um dia estive, sedenta por ideias, pronta para metamorfasear cada rotina em invenção, com um caderno e caneta em mãos, afundando em amontoados de tecidos, com ares de uma estudante zelosa, virando e revirando algum rascunho antigo que desvendara em alguma gaveta.
E quando penso que quer um segundo de descanso, ergue os olhos dóceis, aponta pra mim com ares de admiração e respeito, um pedido de companhia breve, ou uma longa conversa sobre porque não devemos não preocupar com rótulos, quando tudo o que fazíamos era rotular.
Do lado direito, tínhamos Patrick, inclinado sobre a janela de vidro, admirando, dia após dia a mesma paisagem.
Havia livros, tantos livros que um gostaria que outro lesse, comentasse, guardasse na escrivaninha. Joe era boa em recomendações, e muitos diriam que acumulava demais, eu seria um desses, mas em comparação, Patrick absorvia, apenas absorvia. Anotando em seu caderno, a sinceridade de uma crônica, um conselho jogado no ar, uma risada frouxa sobre como o tempo estava frio e por isso não podíamos passar todos os dias no jardim.
Uma dessas noites frias, Joe dizia, que não é como se nos conhecêssemos de verdade, ou nos preocupássemos com isso, todos tínhamos vidas e mundos diferentes que de alguma forma se cruzaram, fosse por sorte, acaso ou qualquer coisa, não precisávamos um dos outros, até ali, éramos inteiramente livres. E por isso estava bem assim, aquele simples e muito provavelmente momentâneo encontro ocasional, e o que é o acaso se não o destino brincando de tentar?
Mas num certo ponto, é claro, nós fomos nos dissipando, naturalmente, mesmo que eu lembre daquele mês em específico com especial nostalgia. Um ponto quase imperceptível foi um breve recortar na rotina.
Amei a música com cautela por tanto tempo que provavelmente demorei muito mais do que deveria para notar, seus sorrisos, e em um segundo, vi como o piano nos roubara Joe.
Assim, tão repentina e sutilmente, que ela não se dera nem o trabalho de levar os chapéus. As festas se faziam e seu talento floresceu, ainda mais abertamente quando Margaret aparecia, singela e maternal, como quem gosta de participar pelo prazer de estar onde todos estão, posso dizer que vê-las naquelas noites mais misteriosas que românticas, lado a lado no piano, enquanto Patrick insistia, ela reiniciava continuamente a mesma canção, a única que decorara. A mansão se encheu com o apreço pela criatividade, o barulho e as tardes dançantes, como se de alguma forma, estivéssemos prendendo algo entre os dedos inconscientemente.
Nessa época de criancices, Patrick costumava infantilizá-la, chamá-la de Doce Joe. Dizia que uma vez escrevera sobre alguém assim, brincando que ela parecia ter saído diretamente da sua imaginação.
Uma garota curiosa com estrelas brilhantes e rosas que não murchavam.
Qualquer coisa, qualquer pessoa, brilharia aos seus olhos. Nesses dias, pintei como um adolescente, sobrecarregado, apertado e encurralado... Havia algo que eu queria descobrir, em muito tempo, podia ver alguma coisa.
Ainda irritado, confesso, com ele aparecendo ainda mais vezes na minha porta, inventando cada vez mais desculpas para seguir-me em todos os lugares, mas no fim daquele mês, virando o espelho mágico e abrindo a fechadura, eu já parecia estar tão vencido... Tão exausto que a presença onipresente de Patrick me secou as últimas gotas d'água.
Tudo começou quando Joe retornou a Paris naquele fim de semana.
A brincadeira do acaso se tornou séria de novo, e a poção nos tornou adultos caminhando por direções estranhas, como adultos costumam fazer.
Exausto... Parece estranho mesmo relembrando, mas, não há uma forma diferente de descrever o que se sucedeu.
Era como um sono profundo.
Acho que devo começar dizendo isso.
Não era só o cansaço, era como se minha pele estivesse a ponto de descascar e cair em pedaços. Acordava numa manhã qualquer, era o finzinho da madrugada, ia em direção ao banheiro e me olhava no espelho, ainda sem colocar os óculos, dei-me com um olhar extremamente calmo.
Senti como se, se o mundo esfarelasse e sumisse diante dos meus olhos, se tornando uma torrente de poeira, eu ainda manteria aquela mesma expressão. A água caia na minha mão e eu mal sentia, era como estar preso acordado dentro de um sonho.
Você sabe que está lá, mas nada ao seu redor é realístico o suficiente para acreditar nele. Então eu tento me lembrar onde exatamente eu comecei a me sentir assim. Mas é claro que minha memória sequer dá sinal de vida. Só o que tenho para me guiar são instintos rotineiros, que me fazem andar e agir como se alguma outra pessoa tomasse posse do meu corpo. Tudo o que falo e penso parece tão irreal que até sinto falta das coisas que dizia sem sequer acreditar nelas, pois o engraçado era escolher ser o esnobe mesquinho e não agir como um zumbi involuntariamente.
A pele parecia elástica o suficiente, mas ela rachou.
Não tem tanto impacto dizer algo assim quando começamos já sabendo que nada poderia dar certo. Enfim, nós finalmente chegamos a um ponto; que eu posso definir agora como revelador. Impactante, decisivo, explosivo? Todos, provavelmente. Mas acima de tudo... doloroso.
Disse anteriormente que para seguir o caminho que eu achava que estava destinado a seguir, eu tive que enfrentar os meus desejos, e isso doeu como poucas coisas são capazes de doer.
Disse isso tendo em mente que quando ele retornou, com todos seus abraços quentes e cinismos, tão facilmente que não pareceria comigo se surpreender com nada daquilo, tudo já estava fadado a uma conclusão obviamente dolorosa.
Entretanto, ao contrário da renúncia passada, a união futura não foi decisão minha.
"O que diabos você está fazendo aqui?", ao contrário nosso distanciamento juvenil, onde essa frase aparecia constantemente na minha cabeça, não podia simplesmente agir como uma criança mimada, não é?
Mesmo que esse pergunta pudesse se tornar muito mais impactante no momento.
Foi um susto. Um choque, como acordar; não de um sono longo porém anestésico, mas de um coma que endurece articulações te deixa desnorteado e imóvel por algumas horas.
Toquei minha face quebradiça, e naquela manhã eu notei que me sentia culpado. Me perguntando, mas afinal onde foi que eu errei? Esses sentimentos não são meus, por favor alguém apenas leve-os de volta. E então parece que não há saída, nem resposta e muito menos ar.
E ao contrário do que Tânia pudesse recomendar gentilmente, abrir as janelas ou caminhar ao ar livre não foram soluções muito úteis.
Então tudo parece uma merda e a culpa é minha. Claro, essa era uma boa saída, fechar os olhos para o que acontecia ao redor e focar em si mesmo.
Se querem algo em específico que ele tenha feito, como prova que eu não pirei tão de repente porque um dia simplesmente veio-me a mente, fiquemos com... um dia antes da noite no atelier. Sim.. Patrick implorava para que levássemos um certo vinho para o atelier, não que eu quisesse beber com ele, foi só algo na sua exaltação espontânea que me cativou.
Nós estávamos no carro e ele pega a garrafa, colocando na minha mão, diz-me misteriosamente que "era o mesmo". Sem entender a princípio, fitei-o por alguns segundos completamente confuso, até Patrick finalmente explicar, era o mesmo daquela tarde, o da cabeceira.
Quando desviei os olhos para minhas mãos no volante notei que elas... tremiam. Apertei-as entre si com força, num riso estranho continuei sem olhá-lo, até murmurar algo sobre ele guardar coisas antigas e ser antiquado, sem jamais fitá-lo. Vi-o sair e ofeguei. Demorei um pouco até voltar a mim e então tateei enfim a garrafa; era verdade.
Imóvel e desnorteado, um susto daqueles não era a melhor maneira de acordar um moribundo.
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