𝓞𝟐 # 𝒍𝒐𝒗𝒆𝒔 𝒂𝒍𝒍 𝒐𝒇 𝒚𝒐𝒖

Chega um momento em nossas vidas que a gente para e pensa o que estamos fazendo, se não gastamos tanto tempo com aquilo que não nos satisfaz em vez de ser outra coisa de sucesso, agradando pessoas, fazendo o que eles querem, achei que isso demoraria a chegar pra mim, mas com meus 28 anos isso já bate a porta.

Acontece que eu nunca havia pensado em ser outra coisa, nunca quis ser outra coisa, mesmo que meus pais tivessem uma lista seleta de coisas que eu e meus irmãos poderíamos ser, como Aegon era um irresponsável, Helaena é das artes e Daeron indeciso sobrou a mim o peso da responsabilidade. Salvar vidas é o faz o meu coração bater e ... Ela.

Desde que perdi aqueles três pacientes no ano passado, eu não era mais o mesmo, três crianças, por uma simples bobagem, acreditavam que eu era a solução pra doença que avançava sob eles e eu passei noites em claro, estudando casos, propondo coisas novas, no fim foi em vão, depois de ouvir de Otto por horas, ele quem encarou as famílias e eu ... Bom ... Posso dizer que a minha cabeça não era a mesma.

Porque eu estou contando isso? Bom ... Nesse momento novamente um filme está passando na minha cabeça, as últimas semanas difíceis, duas crises de ansiedade que quase me custou a reputação em meio a um procedimento  e a diretoria um pouco temerosa a minha pessoa, por mais que Viserys tivesse me dando tapinhas nas costas e sorrindo dizendo que tudo estava bem, que eu só precisava relaxar um pouco, nada mudava o fato de que eu estava mal, MUITO mal, e que só o esforço faria com que eu voltasse a um bom nível, mas quando se falha uma vez em um caso público, eles não são gentis, a minha família não era gentil, era o nosso nome que meus erros levavam a lama.

Mas as coisas mudam e ela me fez mudar, meu amor me fez mais forte quando eu achava que não conseguiria ser, ela e Daeron de certa forma foram pessoas importantes nesse momento em que eu queria encerrar a minha carreira antes isso me assombrasse mais , ela em casa e meu irmão quando tínhamos que lidar com nossos parentes.

Engraçado sobre quando a gente tenta pensar bem, as coisas começam a fazer bem pra gente, eu estava no hospital e terminava de analisar alguns exames, quando eu recebi um email do médico que eu costumava ir com minha amada, sobre assuntos que não cabiam aos médicos do hospital, quando eu queria afastar minha família de qualquer coisa sobre a minha saúde, até mesmo Helaena se consultava com o Dr. Martinez.

— E aí, tio, vamos embora? — Ouvi a voz de Jace na minha cabeça, chamando a minha atenção. — A reunião de pessoal foi cancelada, parece que a diretoria vai ter reunião.

— Você viu o Daeron? — Eu olhava para o celular sem perder a atenção de Eden. — Ele veio comigo e ia buscar uns exames pra Helaena.

— CHEGUEI, CHEGUEI. — Daeron se anunciou quase me derrubando no chão enquanto chegava mais desajeitado que um garoto de 8 anos, com um envelope em mãos. — Estavam falando mal de mim não é?

— Sempre. — Jace comentou com um sorriso sacana no rosto. — Espero vocês lá em casa para o jantar antes do Natal, vou indo, até amanhã.

— Até. — Nós dois falamos juntos, se eu soubesse que era uma das últimas vezes que eu via Jace pessoalmente ... Talvez tivesse o abraçado mais forte, talvez tivesse mandado algum recado pra minha irmã.

Eu e Daeron conversamos boa parte do caminho, como eu sempre fazia quando ele estava comigo no carro, até que ele me interrompeu para falar com o que parecia ser sua nova namorada no telefone, eu revirei os olhos tentando atrapalhar ele, mas a verdade era que eu mais me atrapalhava do que ele, já que o volante estava nas minhas mãos, por fim eu deixei-o falar com a amada, minha querida deveria estar trabalhando a aquela hora, então eu não a atrapalharia, em seu horário livre ela sempre me mandava uma mensagem para confirmar se podíamos falar, as vezes coincidia, outras não, na maioria não.

Meu irmão estava tão distraído que nem percebeu que eu guiei o carro até o hospital onde o Dr. Martinez atendia , pelo email da secretária dele, os exames da minha noiva estavam prontos para serem pegos, porém não tinham sido requisitados por ela, era coisa de rotina, como sempre ela esquecera disso. Daeron deu um salto ao perceber que tínhamos ido longe demais, nós morávamos em Kensington e agora estávamos em Soho, ele se limitou a olhar a janela, distraído como sempre e dizer algo baixo para o telefone, creio que se despedindo da namorada.

— Porque a gente está aqui? — Ele abriu a janela enquanto eu já estava de fora. — Eu tenho horário para estar em casa, sabia?

— Nossa, ele é adestradinho. — Caçoei da cara dele. — Auau! — Tentei de forma pífia imitar um cachorro.

— Idiota. — Daeron saiu do carro batendo a porta e recebendo um olhar torto meu. — Aconteceu alguma coisa?

— Só vim buscar alguns exames da minha noiva que ficaram prontos, a gente já vai pra casa. — Falei de forma descontraída enquanto ele resmungava sobre assuntos importantes e pessoais.

Aquele momento, exatamente aquele, eu e Daeron estávamos descontraídos em nosso ser mais natural, não costumava ser muito relaxado na frente dos outros, eu era Aemond, o médico sério e centrado, mas com ele eu era só o seu irmão, foram minutos antes da descoberta do que mudaria a minha vida até o momento em que estou contanto essa história.

Nós dois subimos e fomos até o consultório do Dr. Martinez, a secretária dele nos atendeu sorridente, pegou os exames e eu só estava assinando uns papéis para provar que eu tinha os recebido quando o médico surgiu um pouco pálido ao ver Daeron e eu por ali, como se fossemos fantasmas.

Ele acenou para a moça, ela confusa se afastou enquanto Daeron tomou os papéis da minha mão para ler interessado os exames da cunhada, eu prestava a atenção no olhar da mulher que divagava do médico pra mim e vice-versa, ela coçava a cabeça e olhava como se tivesse feito a merda do século, eu continuaria ali olhando a bifa que ela estava tomando, isso se Daeron não tivesse soltado um grito e deixado a pasta com os exames cair no chão.

— Que isso cara? — Eu perguntei e ele catava os exames. — Aconteceu alguma coisa?

— Aconteceu. — Ele estava com um sorriso que quase não cabia em seu rosto. — E como aconteceu, mas sinto que você não deveria saber disso, não dessa forma.

— É, não deveria, mas agora é meio sem volta. — Dr. Martinez pegou a pasta da mão de Daeron. — A minha secretária fez uma confusão com algo que descobrimos nos exames da sua noiva, ela já desconfiava e queria manter total segredo a você, mas infelizmente ...

— O que foi gente? — Eu peguei a pasta que ele esticava para mim. — Vocês estão em assustando.

— Leia. — Dr. Martinez pedia a mim. — Mas antes ... — Ele puxou a pasta antes dos meus dedos tocá-la. — Terá que me prometer que não contará nada, ela queria te fazer uma surpresa e ficaria muito chateada por termos estrago isso, promete?

Homem é bobo, né gente? E eu como ser humano idiota que sou nem liguei os pontos na hora que ele falou aquilo, a minha ansiedade de saber o que tinha nos exames da minha amada era muito maior, eu apenas acenei com a cabeça e tomei os papeis da mão dele. Eram algumas folhas, mas na primeira delas estava a resposta sobre minhas dúvidas, eu desci o dedo e na linha onde estava escrito " Teste de Gravidez", havia um enorme POSITIVO escrito e foi aí, naquele exato momento, que meu coração parou.

Antes de eu continuar a contar o que aconteceu eu tenho que deixar esse recado para essa criança que vai vir, eu não sei se é um menino ou menina, mas saiba que seu pai teve quase uma parada cardíaca por saber que você estava vindo, realmente ... AH! Se eu soubesse o que aconteceria em pouco tempo, talvez eu tivesse burlado toda a coisa que o Dr. Martinez pediu e tinha falado com ela logo, mas eu não sabia que tinha tão pouco tempo.

Filho ... Eu sei que eu nunca vou poder te pegar nos braços, olhar nos seus olhos e saber se você é menino ou menina, nem mesmo com quem seus olhos se parecem mais, te ver correr no jardim ou ler pra você antes de dormir. Ouvir suas primeiras palavras, escutar seus medos e incentivar seu amor pelo que quer que seja, limpar suas lágrimas.

Mas quero te pedir uma coisa, a sua mãe chora sozinha as vezes e você precisa ser uma pessoa forte para ela, pois ela é muito frágil, precisa do calor do seu amor por ela, precisa ser elogiada pela manhã e que seja mantida sempre sorrindo, mas olha ... Ela não sorri para qualquer pessoa, ela tenta se fazer de durona, mas sei que por você ela se derreterá todinha, ela vai sentir a minha falta em momentos como o meu aniversário ou fazendo coisas que prometemos fazer juntos, ela vai chorar sim, mas não se preocupe, eu sei que você vai estar lá me representando, o seus braços serão meus braços, seu sorriso será o meu sorriso, a sua voz será a minha e seu coração baterá junto a dela na mesma sincronia que o meu batia.

O seu tio Daeron, possivelmente seu padrinho, vai estar sempre lá, pois ele SEMPRE está, ele é como uma extensão minha, só que menos responsável, uma parte que fica, o abraço dele pode te ajudar a me sentir por perto, apesar dele ser mais baixo, mas tudo bem, ele vai te amar tanto quanto eu amaria.

Ele vai pegar no seu pé assim como pega no pé da sua tia Helaena até hoje, pedirá para ver suas notas, perguntará com quem está saindo e quem são os seus amigos, mas não fique bravo com ele, ele só quer que você esteja sempre bem, se você for uma garota vai investigar os seus namorados, diga a ele que eu pedi desculpas, não tivemos tempo de bancar os Sherlocks com os namorados de alguma filha dele ou de esperar a Jaehaera crescer o suficiente.

As pessoas vão falar muito de mim para você, vão dizer que nossos traços se parecem e se você for um médico vão nos comparar, mas escute um conselho do seu pai, eles vão te criticar e compará-lo, mas não tome isso como desvantagem, tome isso como incentivo para se superar, seja melhor do que eu fui ou poderia ser, eu sei que você consegue, não precisa ser necessariamente na medicina, mesmo que seu bisavô ache que é a única carreira adequada.

Não importa onde eu esteja ou o que esteja fazendo, eu sempre vou estar olhando para você, um grande abraço do seu pai e desculpa por não estar aí.

Sabe ... depois do que eu descobri eu fiquei muito feliz, queria falar com ela, mas não podia, aquilo me deixava um pouco ansioso demais, tive que deixar aquilo de lado enquanto as pessoas continuavam suas vidas, e foi o que fiz, continuei a minha até o dia em que nós dois pudéssemos vibrar de felicidade com isso. Eu andava um pouco para baixo devido as notícias que não paravam de aumentar sobre mim, as negativas, algumas me faziam ficar tão mal que eu pensava que tipo de pai eu seria se meu filho lê-se aquilo.

No dia daquele jantar, a última vez que comemos juntos, meu amor estava feliz, presumi que ela me contaria sobre o bebê, mas ela não o fez, talvez ainda não tivesse recebido os exames do Dr. Martinez ou estivesse planejando algo mais icônico ou incrível, ela era capaz. Eu tinha lido algumas péssimas coisas sobre mim e quando adormeci no sofá a única coisa que vinha a minha cabeça eram as vaias, gritos de mães desesperadas e choro.

Eu fui ao encontro dela, meu único acalento, a minha única calmaria, queria que Daeron estivesse lá também, nos últimos tempos eu dormia pouco, estudava muito, acordava assustado e me mexia pouco na cama, não queria que ela acordasse, ela também custava a dormir, era bom que fizesse isso por mais tempo na noite. Quando fomos pra cama eu fiquei a acariciando, ela não precisava saber dos meus medos, mas eu meio que presumia que ela soubesse, já que eu sentia sua respiração pesada, coisa de quem estava acordada, porém de olhos fechados.

Não conseguia ignorar os comentários nas minhas redes sociais, os olhares nos corredores e nem o palpitar do meu coração, as vaias e tudo que vinham junto daquilo, mesmo que eu soubesse que era mais meu do que real. Eu sempre ligava a luz ao ir ao banheiro, costume que eu adquiri depois de morar um tempo na casa de Rhaenyra a alguns anos, eu esbarrava em tudo, então para evitar eu sempre ligava a luz, quando eu apaguei o abajur e fui pro banheiro já eram mais de duas da manhã, sentei no chão e fechei a porta de forma silenciosa, foi ali que eu chorei tudo que eu tinha que chorar.

As pessoas me veem e acham que eu sou tão confiante quanto as fotos e as entrevistas fazem parecer, mas tudo aquilo é uma casca, montagem muito bem feita, ilusão.

Meu avô sempre quer passar a imagem do inteligente e fora da curva Aemond Targaryen, a muralha inabalável, o médico prodígio, Otto achou que fosse suficiente pra criar a imagem perfeita, mas não é de hoje que eu intercalo momentos de extrema euforia e bem estar com alguns momentos de tristeza avassaladora, perder aqueles pacientes só me colocou a beira do abismo.

Pensei em correr um pouco, dar algumas voltas no quarteirão silencioso da minha casa, mas não adiantaria nada, o silêncio, a calmaria, anda disso surtia efeito, era como um eco, um vácuo, que parecia piorar a propagação dos meus tormentos interiores, da pressão que isso exercia sobre mim. A melhor ideia foi dar uma volta na movimentada Londres, que mesmo na madrugada poderia ocupar minha mente mais do que ficar em casa ou tentar dormir, eu não dormiria nunca. Meu coração palpitava enquanto eu batucava o volante, na rádio passava uma música clássica, coisa da rádio para aquele horário em que só feras estavam acordadas e por aí, pois claro ... Só a música clássica acalma as feras.

Não havia um destino próprio, não havia nada, apenas e rodando com o meu carro e procurando um bom lugar parar estacionar, não havia uma rota ou algo determinado, era a sorte de encontrar algo que prendesse a minha atenção de uma forma que eu esquecesse aquilo, realmente ... Eu deveria ter ficado em casa com ela, pelo menos parte de mim dizia que sim, enquanto meu corpo tremia e via de longe um monumento brilhante perante a toda a cinza Londres, era o Monumento em Homenagem a Princesa Diana, eu iria estacionar e contemplá-lo por um tempo, quando o sol nascia e os seus raios de luz batiam na chama ficava algo muito bonito, mas algo aconteceu antes.

Eu não o vi chegar, isso foi a pior parte de tudo, logo eu que nunca era pego de surpresa, algo que Luke sempre reclamou por não conseguir me assustar quando éramos mais novos. A sensação de ter o seu carro jogado para o lado e capotado várias vezes não foi confortável, eu estava com o cinto preso, mas isso não impediu que meu corpo fosse chacoalhado e minha cabeça batesse duas vezes no volante antes do airbag ser acionado e diminuir a força da pancada, mas foi o suficiente para me fazer apagar por alguns minutos, o suficiente para o silencio pairar na minha mente de forma crucial para que eu refletisse novamente sobre minha vida, o que necessariamente não vem ao caso agora.

Eu apaguei geral, só via um grande escuro no qual estava preso e passei a pensar em uma só pessoa, ela. Sabe meu amor ... Você me encontrou em um momento da minha carreira que eu começava a pirar com o que chamamos de depois, que era encarar um fracasso que doía tanto, mas você me mostrou que isso era só uma tempestade, que eu não poderia abraçar o mundo.

Nós bolamos muitas coisas, tínhamos sonhos malucos como aprender a falar latim, queríamos conhecer pessoas e culturas, você queria me mostrar o mundo e eu queria estar com você agora, mas essa não é a melhor decisão, pois eu posso não estar aqui no momento seguinte, mas quero que você continue. É ... Você não sabe, mas eu já sabia do nosso filho, espero que você encontre a caixa no fundo do guarda roupa, tem muitas coisas que eu queria que nosso filho usasse e como se fosse destino uma carta minha também, mas se você não encontrar não se sinta mal, o Daeron está instruído a te contar na hora certa, incrível como tudo estava encaminhado e a gente nem ao menos percebeu.

Nós dois jantamos juntos, ficamos abraçados e compartilhamos juras de amor na última vez que nos vimos, você dormiu falando que me amava e eu sentia meu coração acelerar a cada palavra sua, a cada voz de sono pedindo para que eu me acalmasse, que dormisse, você vislumbrava o futuro com tanto amor, com tanta esperança, você me fez ver o futuro de uma forma melhor. Muito pouco se fala sobre doenças psicológicas que médicos podem ter, nosso físico é sempre tratado, mas quem trata nossa mente? Você foi a minha cura, evitou que eu fosse em um caminho sem volta e que ficasse doente da maneira que não teria volta.

Helaena não queria dizer, mas eu acabei vendo no celular dela a conversa sobre o vestido de noiva que você queria, tinha até mostrado a Jace e iria fazer o pedido a você na noite de ano novo, faríamos uma viagem relâmpago com alguns poucos amigos para algum lugar e nos casaríamos logo no primeiro dia do novo ano, seria o melhor ano, pois começou comigo e você nos unindo em um só coração, mas nossos planos foram interrompidos, não quero que aquele vestido e que a viajar pelo mundo sejam memórias ruins pra você do que não aconteceu, na verdade quero que você e nosso filho voem por aí assim que ele for grandinho o suficiente.

— Aemond? — Uma voz me chamava ao fundo e eu não sabia de quem era. — É o Aemond Targaryen! — A voz repetiu e eu não conseguia nem mesmo me mover.

— Senhor se afaste por favor! — Uma nova voz apareceu e quando você não está vendo nada as coisas acontecem numa velocidade muito estranha. — Senhor Targaryen não sei se pode nos escutar, mas eu sou paramédico, tudo vai ficar bem.

— Meu Deus. — Alguém falou perto dele, ouvi um shhhh, não era a mesma pessoa que me chamou primeiro. — Ele não vai mais ver direito, olha essa fratura, ali era o olho dele?

— Cala a boca! — O dito paramédico falou e eu senti meu coração disparar com aquilo, não sentia meu corpo no momento. — Senhores se afastem!

Nesse momento eu apaguei, fiquei nessa de ir e voltar, ir e voltar. Em uma das últimas vezes pareci permanecer por mais tempo, não abri os olhos, mas não precisava pois via a imagem dela nos meus pensamentos. Eu ouvia as vozes no que parecia ser a ambulância, meu corpo inerte não poderia pedir por socorro, não poderia chamar por ela. Minha garganta seca e meu corpo que aos poucos parecia doer tanto que eu queria gritar e não conseguia, mas em seguida parecia eliminar a dor aos poucos.

— Estamos perdendo ele! — A voz do paramédico ia e voltava, ficando distante e perto. — O choque, se afastem!

— Você não pode fazer isso! — Uma voz feminina, era nova, alertava o paramédico, foi então que senti o primeiro choque.

— Eu preciso fazer isso. — Então outro choque sacodiu o meu corpo. — Os batimentos não aumentam, droga!

— Samuel, ele não vai resistir! — A mulher me tocou, eu sabia que era ela pois o toque era delicado e dava para perceber que só os dois estavam ali. — Você sabe quem ele é?

— Ele operou o meu pai, salvou a vida dele e de várias crianças com o fundo médico que criou, eu não vou deixar ele morrer aqui. — Uma das lágrimas dele tocou em mim e eu ouvia sua voz longe. — Mais uma vez, calibre a máquina por favor Alicia.

As vozes de Samuel e Alicia ficavam cada vez mais longe, eles iam e voltavam, o rapaz parecia muito persistente com o meu corpo e a cada choque que me davam ele parecia se desesperar ainda mais, a cada choque mais lembranças vinham, mais momentos felizes que ficariam apenas na lembrança. Os choques surtiam menos e menos efeito, não sabia se Alicia estava calibrando para menos ou se meu corpo não estava reagindo com menos eficácia.

Eu percebia o que estava acontecendo ali, eu estava me acostumando com o fato, eu estava morrendo, partindo e aquilo era desesperador, mas eu não poderia fazer nada, a não ser sentir as dores e o nó na garganta. Agradeço a Samuel e Alicia por não desistirem de mim um só segundo, não sei quanto tempo mais depois que perderei a consciência eles ainda terão a vontade de me trazer de volta. Quero deixar claro para Daeron que ele é o melhor amigo que alguém poderia ter e por último ela ... Querida, meu amor, não importa onde eu esteja, sempre olharei por você, se sentir minha falta olhe para as estrelas, elas serão meus olhos olhando para você e cuidando da nossa família, nunca estará sozinha enquanto meu amor viver em você.

O sempre seu, Aemond

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