━━ FIRE & ASHES

FOGO & CINZAS


Amélia Foster observava a chama vacilante do isqueiro prateado em suas mãos com um fascínio quase infantil. Era um ritual que se tornará um hábito enraizado, algo que seus pais adotivos jamais compreenderam. Para eles, era apenas mais uma excentricidade de uma garota que sempre fora um enigma. Mas para Amélia, aquelas chamas pequenas e dançantes tinham um significado profundo, aquecendo de maneira tênue o vazio que sentia constantemente no peito. Toda vez que algo a incomodava, o isqueiro metálico era retirado do bolso e, ao sentir o frio do metal em sua pele, uma sensação de controle a tomava, acalmando-a mais do que qualquer sessão de terapia que seus pais a forçaram a frequentar uma vez por mês.

Fogo.

Para a maioria, o fogo era sinônimo de destruição e medo. Mas para Amélia, possuía uma beleza incomum, uma mistura de poder e serenidade. O ato de acender o isqueiro lhe proporciona uma sensação de euforia e poder, um sentimento perturbadoramente incomum para uma adolescente de dezessete anos. Era bizarro, diziam seus colegas, e até mesmo seus pais, às vezes.

Ela se lembrava das noites solitárias, sentada no parapeito da janela de seu quarto, iluminada apenas pela chama do isqueiro. Olhava fixamente para o fogo, tentando compreender sua fascinação. Havia algo no calor, na luz que emanava, que lhe dava uma sensação de segurança e poder, algo que lhe faltava na vida real. Era como se o fogo fosse uma extensão de sua própria alma, uma força destrutiva e bela ao mesmo tempo.

Na sala de terapia, o silêncio era denso, quase palpável. As paredes estavam adornadas com diplomas e certificados que a Dra. Pierce exibia com orgulho, mas para Amélia, tudo parecia uma farsa, uma tentativa desesperada de validar um método que jamais entenderia sua complexidade interna.

— Você continua com o mesmo hábito... — A voz monótona da Dra. Pierce interrompeu o devaneio de Amélia, trazendo-a de volta à realidade da sala de terapia.

Amélia desviou o olhar da chama, respondendo com a frase de sempre:

— Me acalma.

A Dra. Pierce, impassível como sempre, apenas anotou algo em seu caderno. Ninguém entendia o porquê daquele hábito, mas para Amélia, o isqueiro era uma âncora. As sessões de terapia, por outro lado, pareciam uma perda de tempo.

A psicóloga estava sentada atrás de uma mesa de madeira escura, suas mãos finas e bem-cuidadas segurando uma caneta dourada. Amélia sabia que aquelas mãos, tão delicadas e precisas, eram incapazes de alcançar a profundidade de sua alma.

— Como estão as aulas de balé? — perguntou a Dra. Pierce, tentando mudar de assunto. — Soube que iria fazer audição para uma companhia.

Amélia resistiu à vontade de revirar os olhos. As perguntas eram sempre as mesmas: como foi seu dia, as aulas de balé, como estava lidando com a morte dos pais. A verdade era que Amélia estava cansada dessas sessões. A morte dos pais adotivos ainda era recente — apenas três meses se passaram — e todos pareciam esperar que ela tivesse algum tipo de colapso emocional. Mas, ao contrário, Amélia mantinha-se fria e controlada, uma fachada que intrigava e perturbava aqueles ao seu redor.

Os olhos da Dra. Pierce eram claros, quase transparentes, e refletiam uma preocupação profissional que Amélia achava irritante. Era como se a psicóloga estivesse sempre tentando decifrá-la, como se Amélia fosse um quebra-cabeça que precisava ser resolvido.

— Por que não vai direto ao ponto, doutora? — perguntou Amélia, entediada, olhando diretamente para a psicóloga.

A Dra. Pierce desviou o olhar, incomodada. Ninguém conseguia sustentar o olhar de Amélia por muito tempo. Seus olhos eram frios, vazios, como um abismo negro que causava desconforto e medo.

— O que eu quero saber, Amélia? — A Dra. Pierce finalmente perguntou, sua voz tentando soar firme.

Amélia sentiu suas unhas curtas afundarem na poltrona de um azul escuro, um gesto para conter a irritação. As sessões a enfureciam, especialmente porque ela era a única testemunha do que realmente acontecera aos seus pais.

Queimados vivos.

A casa dos Foster pegara fogo misteriosamente, e Amélia fora a única sobrevivente. Os rumores circulavam, apontando a jovem Foster como a principal suspeita. Ela herdará uma fortuna considerável após a morte dos pais adotivos — Jonathan, um banqueiro renomado, e Karen, uma promotora bem-sucedida. Amélia, a órfã sortuda adotada pelo casal, não sentia nada além de um vazio profundo, algo que seus pais jamais preencheram completamente.

— Você quer uma confissão — disse Amélia, com a voz carregada de exasperação. — É o que todos desejam, mas eu já disse antes, eu não os matei!

Por um breve momento, sua fachada impassível quebrou, revelando dor e pesar genuínos. Ela não chorou no funeral, permanecendo estoica enquanto os "amigos" da família se debulhavam em lágrimas. A hipocrisia deles a enoja. Após o enterro, um incidente marcante ocorreu: Amélia riu descontroladamente ao ser esbofeteada por uma amiga de sua mãe, expulsando todos da casa em um surto de raiva.

A memória daquele dia era vívida em sua mente. Os rostos chocados, as lágrimas falsas, os sussurros e os olhares de pena. Amélia se sentia como um animal enjaulado, observado por predadores que esperavam que ela mostrasse alguma fraqueza. Mas ela se recusava a ceder. Manteve-se firme, impassível, observando com frieza a hipocrisia ao seu redor.

— Então, quem fez isso a eles? — perguntou a Dra. Pirce, sua voz finalmente mostrando alguma emoção.

Amélia deu de ombros, sua resposta sincera.

— Eu não faço a mínima ideia do porquê alguém faria mal a eles.

Seus pais eram boas pessoas, gentis e amorosos. Eles verdadeiramente amavam Amélia, mas a jovem Foster sempre soube, de alguma forma, que nunca poderia retribuir plenamente esse amor.

— Não acha… No mínimo… curioso a forma como seus pais morreram, Amélia? — Dra, Pierce retomou a conversa. — Queimados, Amélia, foi assim que morreram. Não se sente incomodada com o fogo depois disso?

Amélia parou de mexer com o isqueiro, um sorriso malicioso desenhando seus lábios.

— Oh, então por sempre estar com um isqueiro acha que esse é um motivo plausível para acreditar que matei meus pais, Doutora?

A Dra Pierce se remexeu na cadeira, incomodada com a frase dita.

— Não estou culpando-a de nada, Amélia. Quero apenas entender o que exatamente aconteceu naquela noite.

Enquanto Amélia tentava encontrar uma nova posição confortável naquele sofá, seus olhos se fecharam por um breve momento, tentando encontrar a calma necessária para não fazer algo que aumentaria ainda mais as suspeitas sobre si, foi então que as memórias daquela noite fatídica começaram a ressurgir das profundezas de sua mente. Tentou afastá-las, mas era inútil. Elas vinham como uma onda implacável, arrastando-a de volta para aquele momento de terror e confusão.

O relógio marcava duas da manhã quando Amélia despertou subitamente, sentindo algo errado. A princípio, foi um pressentimento, uma sensação de desconforto que a fez sentar-se na cama e olhar ao redor do quarto. O silêncio da casa era quase ensurdecedor, interrompido apenas pelo som distante de um carro passando na rua.

Foi então que sentiu o cheiro. Uma mistura de fumaça e queimado que a fez arregalar os olhos. Levantou-se rapidamente, os pés descalços tocando o chão frio, e abriu a porta do quarto com cautela. O corredor estava envolto em uma penumbra espessa, e a fumaça já começava a invadir o espaço, tornando a respiração difícil.

— Mãe? Pai? — chamou, a voz abafada pela garganta seca.

Desceu as escadas com pressa, a adrenalina correndo pelas veias. Cada passo parecia um esforço monumental, como se o ar estivesse se tornando cada vez mais denso. Quando alcançou o andar de baixo, a visão do inferno que se desenrolava diante de seus olhos a fez congelar por um momento.

A sala de estar estava em chamas, as cortinas e os móveis já consumidos pelo fogo. As chamas dançavam com uma beleza cruel, iluminando a noite com uma luz alaranjada e sinistra. O calor era insuportável, fazendo sua pele arder e seus olhos lacrimejarem. Apesar do caos, Amélia sentiu um estranho fascínio pelo espetáculo, como se uma parte dela fosse atraída irresistivelmente pelas chamas.

— Mãe! Pai! — gritou novamente, a voz agora carregada de pânico.

Correu para a cozinha, na esperança de encontrá-los lá, entretanto, o cenário que encontrou foi devastador. Jonathan e Karen Foster estavam caídos no chão, cercados pelo fogo que avançava rapidamente. Amélia sentiu um aperto no coração ao vê-los imóveis, e a necessidade desesperada de ajudá-los a impulsionou para a frente.

Tentou chegar até eles, mas o calor e a fumaça eram demais. Cada respiração era uma tortura, e seus olhos ardiam com a intensidade do incêndio. Em um último esforço, Amélia estendeu a mão para o pai, mas foi puxada de volta por uma força invisível. A sala parecia encolher, as paredes fechando-se ao seu redor.

Sentiu-se impotente, uma criança perdida em um pesadelo sem fim. As lágrimas misturavam-se ao suor em seu rosto, enquanto a visão de seus pais desaparecia sob o manto das chamas. Finalmente, quando já não podia suportar mais, Amélia recuou, correndo para fora da casa em busca de ar fresco.

No jardim, ela caiu de joelhos, ofegante e em estado de choque. As sirenes dos bombeiros soaram à distância, mas para Amélia, já era tarde demais.

De volta ao presente, Amélia voltou a só com um sobressalto, o coração disparado e a respiração ofegante, Dra. Pierce, a olhava com preocupação, a mão tocava a sua, algo que nunca tinha feito antes, pois sabia o quanto Amélia repelia o toque, ela se afastou de forma abrupta, no rosto jovem uma expressão de dor, a lembrança tinha sido tão vívido, tão real, que ela quase podia sentir o calor das chamas novamente. Olhou ao redor da sala, tentando reorientar-se. Estava segura, longe do incêndio, mas a sensação de perda e desespero persistia.

— Eu não sei quem fez aquilo. Mas não fui eu, Dra.

Naquele dia a sessão terminou mais cedo que o normal, a Dra. Pierce parecia confusa, um reflexo da própria confusão de Amélia. Saindo do prédio elegante numa área comercial de Londres, Amélia sorriu para o céu cinzento, sentindo o frio do outono londrino. Ela tentava colocar em ordem seus pensamentos enquanto caminhava em direção ao seu carro, estacionado a algumas quadras dali. As ruas estavam movimentadas, um frenesi típico do horário de pico, mas Amélia se sentia estranhamente isolada, alheia ao burburinho ao seu redor.

O isqueiro estava no bolso traseiro de sua calça jeans, um pequeno consolo. Amélia apertou o casaco quando o vento frio bagunçou seus cabelos longos e escuros. Procurando as chaves do carro, um presente do pai — apesar das objeções da mãe —, Amélia apreciava a liberdade que ele representava. Na verdade, seus pais confiavam nela, mesmo tão jovem, pois Amélia sempre fora responsável e séria, características incomuns para uma adolescente de dezessete anos. Talvez fosse uma "sequela" de ter sido abandonada tão jovem.

— Nenhum lugar é seguro agora! — murmurou um homem estranho ao esbarrar em Amélia, derrubando sua bolsa.

Os pertences espalharam-se pelo chão, e Amélia soltou um xingamento, procurando furiosa pelo homem, que já havia desaparecido. Alguns transeuntes riram, mas a maioria seguiu apressada, alheia ao incidente.

— Inferno! — praguejou Amélia, tentando recuperar suas chaves debaixo do carro.

Seu humor piorava à medida que se abaixava, imaginando mil formas de machucar a pessoa responsável por sua situação constrangedora.

— Ah, dane-se! — exclamou, levantando-se, pegou as chaves, mas escolheu voltar a pé, espairecer numa caminhada, parecia uma ideia agora. Evitaria surtar.

Ela só queria um banho quente e seu chá favorito. E que aquele homem sofresse um acidente.

(...)

De volta ao seu apartamento, um novo, pois o antigo agora era apenas escombros cobertos de cinza e memórias difíceis para Amélia. A Foster permitiu-se relaxar. A água quente do chuveiro lavava a sujeira e a irritação, proporcionando um momento raro de paz. Ela não conseguia parar de pensar no futuro incerto, nas decisões que precisava tomar. O balé, as sessões de terapia, a vida em Londres... nada parecia certo.

Apenas o Fogo era uma certeza.

— Ainda não está quente o bastante — murmurou, ajustando a torneira para um jato ainda mais quente, suportando a temperatura elevada que a maioria acharia insuportável. O desconforto físico era bem-vindo, uma forma de sentir algo, qualquer coisa que rompesse a apatia que sentia.

O vapor preenchia o banheiro, tornando o ambiente enevoado e indistinto. Amélia fechou os olhos, permitindo que a água quente escorresse por seu corpo, levando consigo a tensão e a frustração acumuladas. Por um momento, ela conseguiu esquecer a realidade ao seu redor, mergulhando em um estado de quase transe, onde a única coisa que importava era o calor penetrante.

Fogo.

Talvez devesse se sentir incomodada com as sombras depois do trauma que sofreu, essa era uma reação esperada, era o certo para o que passou, por outro lado, não havia incomodado, apenas uma estranha sensação de segurança inexplicável. A chama dentro dela sempre fora inextinguível, uma força que queimava constantemente, alimentada por emoções que ela mal conseguia compreender. Abriu os olhos e encarou seu reflexo no espelho embaçado. Os contornos de seu rosto eram indistintos, quase irreais, mas seus olhos... seus olhos eram como buracos negros, absorvendo toda a luz e devolvendo apenas escuridão. Havia algo de profundamente errado nela, algo que a separava das outras pessoas.

Desde criança, Amélia sabia que era diferente. Não havia apenas a frieza que emanava dela, mas uma escuridão latente que parecia crescer a cada dia. As pequenas peculiaridades que a definiam, como sua fascinação pelo fogo, eram apenas sintomas de algo muito mais profundo. Ela se perguntava se algum dia descobriria a verdade sobre si mesma, ou se estava condenada a ser um enigma para sempre.

Desligando o chuveiro, Amélia saiu do box e enrolou-se em uma toalha felpuda. A sensação do tecido contra sua pele quente era um conforto momentâneo. Secou-se rapidamente e vestiu um moletom velho, procurando se aquecer do frio que começava a invadir seu corpo novamente. Na cozinha, preparou uma xícara de chá de camomila, um hábito que herdara de sua mãe adotiva. Enquanto esperava a água ferver, seus pensamentos voltaram ao estranho que havia esbarrado nela mais cedo.

“Nenhum lugar é seguro agora!”

A frase ressoava em sua mente, uma advertência enigmática que a deixava inquieta. Londres sempre fora sua casa, mas ultimamente, algo parecia fora do lugar. Havia uma tensão no ar, uma sensação de perigo iminente que Amélia não conseguia ignorar. Talvez fosse apenas paranoia, uma resposta à perda recente de seus pais, mas a jovem não podia deixar de sentir que havia algo mais, algo que estava além de sua compreensão imediata.

Sentou-se à mesa da cozinha com sua xícara de chá, observando a fumaça subir em espirais lentas. O silêncio do apartamento era reconfortante, uma pausa bem-vinda do caos de seus pensamentos. Entretanto, a paz era ilusória, pois no fundo, Amélia sabia que estava apenas adiando o inevitável.

Precisava tomar decisões. A vida não esperaria que ela estivesse pronta.

Sua mente vagava para as audições de balé que se aproximavam. O balé sempre fora uma constante em sua vida, uma forma de expressão que lhe permitia canalizar suas emoções. Mas agora, a dança parecia insuficiente. Era como se sua alma estivesse pedindo algo mais, algo que ela ainda não conseguia identificar.

Levantou-se e caminhou até a sala de estar, onde uma pequena estante exibia fotografias de momentos passados. Olhou para uma foto dela com seus pais adotivos, tirada durante uma viagem à França. Estavam sorrindo, parecendo uma família perfeita. Mas Amélia sabia que a perfeição era uma ilusão, uma máscara que todos usavam para esconder suas verdadeiras naturezas.

Ela pegou a foto e sentou-se no sofá, estudando os rostos sorridentes. Sentiu uma pontada de saudade, mas também de culpa. Nunca conseguira amar seus pais como eles a amaram, e agora, eles estavam mortos. As chamas que consumiram a casa também levaram embora qualquer chance de redenção que ela poderia ter tido.

Amélia fechou os olhos, segurando a fotografia contra o peito. A dor era real, uma ferida que nunca parecia cicatrizar. Mas a culpa... a culpa era uma sombra constante, lembrando-a de sua incapacidade de sentir como os outros.

Fogo.

O pensamento surgiu novamente, e Amélia abriu os olhos, encarando o vazio da sala. A chama interior parecia crescer, uma força que exigia ser reconhecida. Levantou-se abruptamente, devolvendo a fotografia ao seu lugar na estante. Precisava sair, respirar ar fresco, encontrar uma distração.

Pegou seu casaco e saiu do apartamento, descendo rapidamente as escadas até a rua. O ar frio da noite a envolveu, uma lufada de vento que parecia cortar sua pele. Caminhou sem destino pelas ruas de Londres, perdida em seus pensamentos. A cidade ao seu redor era um contraste de luzes e sombras, vida e morte entrelaçadas de uma forma que apenas ela parecia notar.

Ao passar por um parque, decidiu sentar-se em um banco próximo a uma fonte. O som da água correndo era um antídoto bem-vindo para a tempestade dentro de sua mente. Observou as poucas pessoas que ainda caminhavam por ali, suas vidas aparentemente normais e descomplicadas. Sentia-se como uma observadora distante, incapaz de se conectar com aquelas realidades simples.

Uma risada estridente chamou sua atenção, e ela se virou para ver um grupo de adolescentes reunidos em um círculo, claramente se divertindo. Amélia sentiu uma pontada de inveja, uma emoção que raramente experimentava. Eles pareciam tão despreocupados, tão alheios às complexidades da vida que a consumiam diariamente.

Voltou a olhar para a fonte, perdida em pensamentos. A água refletia as luzes da cidade, criando um espetáculo de cores que contrastava com a escuridão que sentia. Era uma metáfora adequada para sua própria vida — um jogo constante de luz e sombras, onde a escuridão sempre parecia prevalecer.

Fogo.

A chama interna não era apenas uma fascinação. Era uma parte de quem ela era, uma força que definia suas ações e emoções. Sentiu a necessidade de compreender essa chama, de explorar suas origens. Havia algo mais, algo que estava à margem de sua consciência, algo que ela precisava descobrir.

Enquanto caminhava de volta para casa, o sentimento de inquietação apenas crescia. Havia perguntas sem respostas, mistérios que precisavam ser resolvidos. E, no fundo, Amélia sabia que a chave para entender seu próprio ser estava ligada ao fogo que tanto a fascinava.

Ao chegar ao apartamento, tudo parecia normal. A familiaridade do ambiente oferecia um conforto momentâneo, mas também um lembrete de que ela estava sozinha no mundo. Dirigiu-se ao quarto, desejando apenas trocar de roupa e dormir um pouco. Precisava descansar e organizar seus pensamentos, pois sabia que o dia seguinte traria novas decisões.

Tirou o moletom e vestiu um pijama confortável. Ao deitar-se na cama, o cansaço físico e emocional a envolveu como uma manta pesada. Fechou os olhos, esperando que o sono a encontrasse rapidamente. Sua mente, no entanto, continuava a girar com pensamentos confusos e fragmentados.

Fogo e cinzas.

A imagem das chamas dançando em seu isqueiro voltou à mente, acompanhada por lembranças fragmentadas de seus pais adotivos. Sabia que precisava encontrar um propósito, algo que preenchesse o vazio em seu peito. Mas, por enquanto, tudo o que podia fazer era dormir e esperar que o novo dia trouxesse alguma clareza.

A escuridão finalmente a envolveu, levando-a para um sono inquieto, onde sonhos de fogo e sombras se entrelaçavam, prometendo respostas que ainda estavam além de seu alcance.

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