• Capítulo 2
Olha quem voltou...
Boa leitura <3
Quem É Você?
• Por, Melissa...
Aos vinte e um anos, eu e meu pai fomos para zona de quarentena da FEDRA em Yutan. A promessa de que nossas vidas voltariam ao normal encheu os olhos de meu pai, que já estava de idade e precisava descansar.
Eu nunca mais acreditei em ninguém!
Após ter passado o que eu passei com o meu próprio irmão, jurei pra mim que nunca mais confiaria em ninguém! Eu sempre tive essa visão de que não foram só os monstros que se transformaram com o passar do tempo. As pessoas também se transformaram, elas perderam a sua humanidade, seu respeito... suas crenças!
Então não, eu não confiava naquelas pessoas que diziam que mudariam nossas vidas, nem um pouco. Mas pela situação que meu pai se encontrava, eu fui obrigada a ir, mas eu estava preparada para fazer o que fosse preciso caso as coisas dessem errado.
E eu fiz!
.••.
— Bom dia, pai! — o cumprimentei, assim que cheguei em nosso pequeno apartamento.
— Você fez de novo! — ele disse me encarando, estava sentado em sua poltrona com aquela carranca habitual.
— Agora não... — falei enquanto me jogava no sofá. — Por favor!
Já faziam quase cinco anos que vivíamos aqui, não por minha escolha claro, mas era o melhor para o meu pai. No início eles foram bons, nos deram tudo o que precisávamos... Remédios, comida, roupa e trabalho.
O que começou como um pedido de ajuda, logo se transformou em uma chantagem, por tudo aquilo que nós usamos desde em que chegamos. Eu tinha que pagar tudo aquilo com trabalho ou então...
Prefiro não dizer.
A questão é que já fazem quase cinco anos e eu continuo pagando essa maldita conta!
— Onde? — escutei a voz de meu pai perguntando, eu estava quase dormindo.
— Agora? — tiro a mão do rosto o olhando, e ele continuou com a mesma carranca. — Vigilância. — menti.
— De onde? — ele perguntou novamente.
— Portões. — respondi, mentindo novamente.
— Mentira! — sua voz ficou mais alta e eu me levantei, sentando no sofá. — Sinto o cheiro de merda vindo aqui, Melissa!
Além de ter que trabalhar quase o dia inteiro, ainda me colocavam para trabalhar no meio da merda, nos esgotos. As vezes fazendo a vigilância enquanto os outros limpam e as vezes eu sou uma das pessoas que limpam.
O que era o caso, e o motivo para meu pai estar daquele jeito.
— Está bem! Eu estava limpando merda! — admiti. — Satisfeito?
— Essa não é a vida que eu prometi a você! — ele disse, e pude sentir a decepção em sua voz. — Sei o que você tem feito para pagar aqueles malditos. Sei que vira noites e noites trabalhando para juntar cartões em troca dos meus remédios e comida. — dito aquilo, uma lágrima escorreu pelo seu rosto. — Essa não foi a vida que eu prometi a você, Melissa!
É difícil não se comover com essas palavras de meu pai. Sabe, eu sempre fui muito protegia por ele, sempre fui a princesinha do papai. Então eu sei exatamente que ver a filha dele fedendo de trabalhar na merda deve doer!
Mas essa é a nossa realidade agora.
A única coisa boa que ganhei morando aqui, foi a experiência e amadurecimento. Apesar de viver sozinha com meu pai, eu não tinha habilidade nenhuma que não fosse correr quando visse algo de ruim.
Eu só saia para buscar suprimentos e sempre corria quando escutava algo de diferente. Foi assim por anos, mas eu sabia que precisava melhorar para continuar sobrevivendo.
Então desde que cheguei aqui, aprendi a atirar (apesar de não gostar de armas), aprendi a caçar, ser silenciosa... até lutar, caso fosse preciso. A FEDRA nos preparava para trabalhar para eles, eles criavam os melhores dos melhores soldados para proteger esses lugares.
Eles só não sabiam que eu iria usar essas habilidades contra eles mesmos.
— Pai! — levanei do sofá e me sentei no chão, tocando em suas pernas. — O senhor me protegeu a vida toda! Não só me criou, como me manteve segura durante o fim do mundo... Isso é muito mais do que eu poderia esperar! — sorri para ele. — Agora é a minha vez de cuidar do senhor! De te proteger e garantir que o senhor tenha a melhor qualidade de vida possível!
— Eu sei querida, eu sei! — ele pegou minhas mãos e as segurou forte. — Mas você sempre vai ser a minha princesinha! — ele tocou meu rosto gentilmente e eu sorri, me sentindo tão leve.
— Sua princesinha já vai fazer vinte e seis anos, pai! — disse, soltando um sorriso.
— Queria que o Mike estivesse aqui para cuidar de você. — assim que eu ouvi seu nome, meu corpo inteiro congelou. — Nós dois sabemos que eu não tenho mais muito tempo. Melissa, você...
— Não! — o interrompi rapidamente, me levantando e correndo em direção ao meu quarto.
Já faz uns meses que a saúde de meu pai não vem estado das melhores. Não sabemos o que é, mas um dos médicos me disse que o coração dele estava fraco e por isso, ele não poderia mais trabalhar ou fazer muito esforço para não piorar seu estado.
O médico disse que infelizmente não existia nada que pudesse ser feito, a não ser um transplante, mas isso infelizmente não existe mais no mundo em que vivemos. Então ele deu ao meu pai apenas mais seis meses de vida, no máximo.
Não sei explicar o que senti ao ouvir aquelas palavras. Sei que já disse isso, mas foi como perder tudo mais uma vez em questão de segundos.
Novamente... Um dos piores dias da minha vida!
Mas o que mais dói é que isso, já faz cinco meses. Todos os dias eu acordo sem saber se vai ser o meu último dia com ele, e é horrível porque eu queria passar o dia inteiro com ele, mas sou obrigada a trabalhar para esses filhos da puta.
Que ódio!
— Você precisa fazer isso. — ao ouvir a voz de meu pai dentro do meu quarto, afundei mais ainda meu rosto no travesseiro.
Eu não deixava ele me ver chorando.
— Eu já não tenho muito tempo e não quero que você me veja piorar mais, meu amor! — senti seu peso na cama e sua mão fazer carinho no meu cabelo. — É o melhor para nós dois, filha!
Nós dois não sabíamos como lidar com a noticia, eu não suportava a ideia de perder o meu pai. Ele era única felicidade que ainda restava em mim.
Eu procurei centenas e centenas de médicos que pudessem nos ajudar, mas nenhum era capaz de nos dar uma outra solução. Os meses foram passando e eu ficando cada vez mais desesperada com medo de perdê-lo.
Então um dia, eu cheguei em casa e ele me mostrou aqueles comprimidos em cima da mesa. Disse que seria mais fácil, que não o causaria dor e eu não o veria sofrer.
Mas eu não podia aceitar aquilo.
Era demais pra mim!
— Não posso perder você! — confessei, ainda com o rosto no travesseiro. — Você é tudo o que eu tenho, pai! — finalmente soltei o travesseiro e o olhei.
Ele estava sorrindo.
O sorriso mais lindo e puro que eu vi em toda a minha vida!
— Eu sempre vou estar com você, filha! — ele se aproximou, depositando um beijo em minha testa. — Mas precisamos fazer isso. Por mim e por você! Para que você possa partir desse lugar e recomeçar, princesa!
Recomeçar?
O que eu iria recomeçar?
— Não existe recomeço sem o senhor! O mundo acabou papai. Não existe mais...
— Shh... — ele fez o som, me calando. — Você vai recomeçar! Você ainda é jovem. Vai se apaixonar, ter uma família!
— Pai, o mundo...
— O mundo não acabou! — ele me interrompeu mais uma vez. — Você ainda pode ter um futuro, Melissa! Você vai encontrar alguém que te ame e te proteja de todo o mal que estiver por aí... Eu sei que vai! — ele completou e eu notei que sua voz estava ficando mais... sonolenta?
— Pai? O que aconteceu? Você está bem? — me sentei na cama, começando a ficar nervosa e o puxei para o meu colo.
— Me prometa que você vai continuar e vai ser feliz! — dito aquilo, ele retira do bolso o plástico vazio e põe em cima da cama.
Não!
Não Não Não!
Ele não pode ter feito isso!
— Papai, não! — entrei em desespero, não conseguindo mais segurar as lágrimas. — Por que você fez isso? — eu o apertava com todas as minhas forças.
— Porque eu sabia que você jamais iria fazer, filha! — seus olhos começaram a ficar pesados.
— Não... Por favor! — eu não conseguia acreditar.
— Eu estou bem! — ele sorriu. — Agora eu vou descansar filha. É hora de você partir! — dito aquilo, seus olhos fecharam e eu não sabia mais o que fazer.
— Papai, não! — eu o balançava. — Não faz isso comigo! Eu não vou conseguir sem você... — eu chorava tanto, que minha visão começou a ficar embaçada.
— Eu te amo... Melissa!
Foi a última coisa que ele disse antes de partir.
E então ele se foi!
Levando uma grande parte de mim...
Para sempre!
E pela terceira vez na vida, eu vi o meu mundo acabar novamente. Não existia mais nada que me fizesse permanecer nesse mundo. Primeiro foi o meu irmão e agora o meu pai...
Eu não via mais motivo para viver!
Só existia mais uma coisa que ainda podia fazer, que era me vingar de todos os filhos da puta que ameaçaram a mim e meu pai por anos.
Eu iria me vingar da FEDRA!
Fiquei quase o dia todo agarrada com o corpo de meu pai no colo. Chorei até não ter mais forças, mas quanto mais eu chorava, mais eu sentia a raiva me consumir daquelas pessoas.
Minha vontade mesmo era de procurar outros comprimidos daquele e me deitar ao lado de meu pai para descansar também. Mas eu prometi que iria continuar, mesmo não querendo, mesmo não tendo forças.
Eu iria me vingar por ele!
Ao anoitecer, eu dei um último beijo em meu pai e o cobri na cama.
— Prometo fazer todos eles pagarem pelo o que nos fizeram, pai! — disse, depositando um último beijo em sua testa.
Levantei sentindo todo o meu corpo pesado, mas segui em frente. Peguei minha mochila e coloquei tudo o que precisava, até a arma que eu tinha, mesmo não gostando de armas.
Tinham apenas duas balas, mas para mim era o suficiente. Também peguei minha faca, colocando na cintura.
Olhei por todo o apartamento mais uma vez, me permitindo guardar uma última lembrança de todos os momentos em que vivi com o meu pai aqui.
Então eu parti!
Indo atrás daqueles que por anos me fizeram sofrer.
Eu só não imaginava que tudo fosse dar errado...
O primeiro foi fácil de encontrar, Roger estava de vigilância e eu o surpreendi chegando por trás com a faca em seu pescoço.
Eu não senti pena, nem remorso por aquilo.
Mas infelizmente as coisas não saíram como planejado e logo todos eles estavam atrás de mim dentro da Zona. Uma parte de mim dizia para eu fugir dali o mais rápido possível, enquanto a outra tinha sede de vingança e vontade de lutar até o último segundo que fosse possível.
O alerta havia sido dado, eu estava escondida observando eles me procurarem e decidindo se fugia ou não. Fechei os olhos e a primeira coisa que me apareceu foi meu pai, me fazendo prometer que iria recomeçar em outra lugar.
Com lágrimas pelo rosto, eu tomei coragem e deixei a zona de quarentena. Eu tentaria uma última vez, pelo meu pai.
E só por ele!
.••.
• Por, Joel...
— Você ouviu isso? — Tess me perguntou.
Estávamos voltando para o motel abandonado em que nos abrigamos, quando ela diz ter escutado algo.
— Ellie! — eu não pensei duas vezes e comecei a correr em direção ao som.
Chegamos ao estacionamento do motel e de longe pude ver a Ellie dentro de um carro quebrado.
— Ajudem ela! — ela gritou, conforme nos aproximavamos. — Infectados!
Ela?
Ajudar quem?
— Fica com ela! — disse a Tess, indo para o outro lado do estacionamento.
Então eu a vi!
Ela estava lutando contra um clicker. A vi dar um chute nele, que caiu no chão, logo recebendo um último golpe, acertando sua cabeça de uma vez com uma faca.
Ela se levantou e seus olhos encontraram com os meus. Ela não parecia ser muito mais velha do que a Ellie, mas eu não via nenhum sinal de que ela estava assustada.
Mal tive tempo de dizer algo, quando um segundo infectado surgiu do nada a fazendo correr para longe. Estava tudo escuro, ela corria daquela coisa que a perseguia e eu comecei a correr atrás dos dois.
Eu estava com a minha arma na mão, mas não conseguia ter uma visão clara daquela coisa. Só percebi que aquela pobre garota caiu do nada em buraco que provavelmente ela não viu que tinha ali, logo fazendo aquela coisa ir atrás.
Apressei meus passos e liguei a lanterna conforme corria na mesma direção. Cheguei próximo ao buraco e iluminei o local, vendo ela se arrastar pelo chão, provavelmente se machucou durante a queda.
O infectado foi para cima dela e eu pulei dentro do buraco, dando um tiro nele. Eu só acertei o joelho, o que fez com que ele começasse a se arrastar atrás dela enquanto ela fazia o mesmo para fugir.
Me aproximei mais perto agora, mirando na cabeça daquela coisa que ainda ia para cima dela.
— Deixa ele! — me assustei, ao ouvir sua voz falha.
Ela estava chorando?
— Pode ir! — ela disse me olhando e parou de se mexer. — Só me deixa aqui...
Ela era maluca?
Não dei uma importância para o que ela disse e atirei na direção daquela coisa que morreu na mesma hora.
Me aproximei agora com a lanterna em sua direção e pude ver um pedaço de ferro preso em seu tornozelo. Subi a lanterna para seu rosto e encontrei seus olhos me encarando.
Eu ainda não via um olhar assustado. Pelo contrário, ela parecia estar frustrada, com raiva?
— Por que você fez isso? — ela sussurrou, sua voz estava tão falha.
Como assim?
Eu salvei a sua vida.
Ela deveria estar aliviada, não?
— Quem diabos é você, garota? — perguntei confuso.
E então ela apagou, sem me dar nenhuma resposta.
O que eu iria fazer agora?
.••.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top